Meu colégio às vezes inventa uma coisa chamada de semana de interação. Aquela semana, infelizmente seria uma dessas. Nessa semana de interação, nós tínhamos que passar uma semana inteira com outra pessoa, de preferência que fizesse uma atividade complementar diferente da nossa. Depois dessa semana, nós teríamos que escrever uma carta para a outra pessoa falando o que aprendemos com ela.

Eu gostaria de fugir do clichê e dizer que minha dupla foi qualquer pessoa do colégio que não Regina, mas, até nisso, eu era azarada. O professor de luta me entregou o papelzinho com o nome da intercambista escrito e todo o sangue pareceu se esvair do meu corpo, simplesmente não era possível.

Ela já sabia que nós éramos a dupla uma da outra, então, quando eu entrei no carro na volta para casa, não me surpreendi com sua fala.

– Se você quiser, nós não precisamos fazer isso juntas.

Henry se intromete na conversa.

– Fazer o quê?

– Semana de integração. - respondemos em uníssono. Ele suspira alto, sabendo que o clima entre nós era dos piores.

– Eu vou pedir para me mudarem de casal.

– dupla.

– O quê?

– Nós faremos uma dupla, não um casal. - Corrijo ela, que havia confundido os significados das duas palavras. Seu inglês havia melhorado muito, mas Regina ainda cometia alguns erros.

Fazemos silêncio por alguns minutos.

– Enfim, eu posso pedir para trocarem.

– Não, vocês duas não vão trocar de dupla. - Henry interrompe mais uma vez. - Vocês precisam se acertar, eu já não aguento mais ter que dividir a cama com a Emma!

– Eu posso dormir no sofá.

– E vai explicar como isso para a mamãe e o papai, hein, espertinha? - Penso um pouco, Henry tinha razão. - Vocês precisam se acertar.

– Eu estou bem, sua irmã que é cabeça dura. - Regina interfere. - Eu já disse que posso muito bem pedir para mudar de família.

Nós chegamos em casa e eu estaciono.

– Você não precisa mudar de família. - Digo, saindo do carro.

– Quem quer mudar de família? - Ouço minha mãe perguntar e meu coração para por alguns segundos. Olho para Regina e Henry, e eles parecem tão atônitos quanto eu. - Vocês não vão me responder mesmo não?

– É que… - Coço a cabeça, buscando palavras.

– Ah, eu não aguento mais. - É a vez de meu irmão se pronunciar. - Emma e Regina não estão se falando, e Regina está pensando em mudar de família. Emma está dormindo comigo tem quase uma semana e eu simplesmente não aguento mais, eu preciso de minha privacidade. - Mary alterna o olhar entre nós duas. - Além disso, Emma está namorando e Regina também. E, para finalizar tudo, elas são a dupla uma da outra na semana de integração.

Eu olho para Henry com raiva, e percebo que Regina faz o mesmo. Olho para minha mãe, que se mostrava boquiaberta com tudo aquilo que havia acabado de ouvir.

– O que vocês duas tem a dizer sobre isso?

– Henry é um idiota. - Olho mais uma vez para ele. - E ele também está namorando! - acuso.

– Vocês não me contam mais as coisas não? - Mary parecia desapontada com as mentiras que nós havíamos contado. - Vocês vão tomar um banho, em meia hora quero os três aqui embaixo pois vamos ter uma conversinha.

Subo as escadas com vontade de dar um tiro em meu irmão e sei que, mesmo contida, Regina sente vontade de fazer o mesmo. Eu poderia namorar à vontade, mas ela, por ser intercambista, não poderia.

Tomo banho e lavo os cabelos na tentativa de clarear a minha mente. Eu precisaria explicar tudo, desde minha briga com o Robin até meu recente namoro com Ingrid. Fácil não seria, mas com certeza necessário.

Repasso, mentalmente, o que eu falaria para minha mãe, tentando não me comprometer nem comprometer Regina. Por mais que odiasse o namorado dela, não iria destruir o intercâmbio da menina.

Quando chego na sala, vejo que meu irmão e a intercambista já estavam lá e eu era a única que ainda não havia chegado. Minha mãe puxa uma cadeira e fica de frente para nós, limpando a garganta antes de começar a falar.

– Então… - Ela olha para cada um de nós. - Quem vai começar?

Eu respiro fundo e levanto a mão.

– Eu começo.

Regina olha para mim como se pedisse para eu não culpar ela de tudo e eu murmuro “calma”.

– Você quer começar de onde, Emma?

– Do começo. - Fecho os olhos e lembro onde tudo começou. - Lembra daquela festa que você praticamente me forçou a ir? - Ela faz que sim com a cabeça. - Então, eu não estava me sentindo bem, então sentei no meio fio e fiquei jogando conversa fora com uma menina. Até aí, tudo bem, mas teve uma hora que eu ouvi gritos e, quando eu fui olhar, um cara do colégio estava tentando agarrar Regina.

– Sério? - minha mãe pergunta para a intercambista.

– Sim, Mary. - ela responde num fio de voz.

– Posso continuar?

– Continue, Emma.

– Ele estava tentando agarrar ela, então eu parti para cima dele e quebrei seu nariz.

– Você fez o quê, Emma Swan? - Minha mãe se exalta. - Você é maluca?

– Eu precisava defender Regina! - respondo. - Eu iria deixar o cara estuprar ela?

– Eu não sou indefesa. - A morena se intromete.

Olho para ela e semicerro os olhos. Sério que ela iria me culpar agora?

–Enfim, eu quebrei o nariz dele. E quebraria de novo. - Falo a última frase um pouco mais baixo. - Nós voltamos para casa naquela noite, e tudo certo. Acontece que, algumas semanas depois, eu descobri que certa brasileira estava namorando.

– Regina, você sabe que é contra as regras namorar. - Mary alerta.

– Isso não é o pior! O pior é que o namorado dela é o idiota que tentou agarrar ela a força lá na festa.

– Ele se mostrou uma boa pessoa. - Regina defende o namorado. - Pior você, que está namorando a garota que se esforça para fazer da minha vida um inferno!

– Você está namorando uma garota? - Mary pergunta, completamente exaltada. Seu rosto já estava vermelho.

– Namorando não, estamos nos conhecendo melhor…

– Henry, vá pegar um copo de água para mim que eu sou cardíaca.

Meu irmão levanta e eu observo minha mãe tentar controlar a sua respiração. Ela alterna seus olhares entre eu e Regina, que nos encarávamos como se estivéssemos a ponto de matar uma a outra.

– Vocês duas tem mais algum problema para me contar? Além desses que vocês acabaram de despejar em cima de mim?

– Nós não contamos problema nenhum. - Digo. - Foi o Henry que começou isso tudo. - Acuso.

– Vocês planejavam esconder essa situação toda até quando?

– Até eu voltar para casa. - Regina dá de ombros.

– Minha querida, você sabe das regras… - Mary olha para ela. - Você não pode namorar, não pode se envolver em nenhum tipo de relacionamento.

– Eu sei, mas…

– Ela é idiota.

– Emma! - Minha mãe reclama. - Calma também, a gente não escolhe por quem vai se apaixonar.

– Isso é ridículo, esse relacionamento é ridículo.

– E você e a Ingrid são a Ellen DeGeneres e a Portia Di Rossi, não é? - Regina provoca.

– Meninas, parem de brigar! Emma, pare de ofender Regina. E, Regina, desista de trocar de família. Você vai ficar com a gente.

– Eu não quero ficar com ela. - A morena faz manha e eu reviro os olhos. - Mary, nada contra vocês, mas Emma está sendo completamente hostil comigo desde que descobriu sobre o meu relacionamento com o Robin.

– Eu não estou sendo hostil, apenas estou querendo fazer com que você abra os olhos.

Henry volta com o copo de água.

– Emma está com ciúme. - Diz.

– Cala a boca, imbecil. - Respondo. - Eu não estou com ciúme, eu estou com raiva.

– Você não tem que ficar com raiva, a vida é minha.

– Mas quem se arriscou na hora de bater no Robin fui eu.

– Eu não quero ter que dividir o quarto com Emma. - Henry repete.

– Henry, vá para o seu quarto. - Exige minha mãe. Ouço os passos pesados de meu irmão enquanto ele sobe as escadas. - Vocês duas vão se acertar agora.

– Eu não estou a fim. - digo.

– Ah, mas você está a fim. Se tem uma coisa que você está, é a fim. - Ela responde. - Pelo que eu ouvi, vocês são a dupla uma da outra na semana de integração, não é?

– É. - Regina responde com sua voz rouca e eu sinto um arrepio na espinha.

– Pois então, vocês vão fazer esse trabalho juntas.

– Mas… - Nós começamos a protestar, mas minha mãe nos corta.

– Sem mas.

– Mary, eu tenho certeza que podemos achar uma forma melhor de resolver isso.

– Querida, você e Emma tem tudo para se darem bem.

– Não temos não. - Eu digo.

– Regina, se você quiser, depois dessa semana você pode pedir para mudar de família, eu prometo que não ficarei chateada. - Mary me ignora. - Se deem essa chance, garotas… Vocês se deram tão bem no começo.

– Antes de eu perceber o quão falsa ela era.

– Emma, você não está ajudando. - Ela me lança um olhar matador. Regina suspira ao meu lado, percebendo que seria mesmo obrigada a passar uma semana inteira comigo. - Peça desculpas à Regina.

– Não.

– Emma, deixe de ser uma criança.

– Desculpa, Regina. - falo baixo, olhando para o chão.

– Agora, Regina, peça desculpas à Emma.

– Desculpa. - Ela rosna.

– Parecem duas crianças, meu Deus. - Minha mãe bebe o conteúdo do copo que meu irmão havia entregado. - Vocês duas vão continuar dormindo juntas, se Henry me disser que você dormiu no quarto dele, você está muito, muito encrencada, Emma.

Reviro meus olhos para ela.

– Ingrid iria dormir aqui hoje. - digo. - Eu chamei ela para assistir uns filmes.

– Quem é Ingrid?

– É a namoradinha dela… - O tom de Regina é de nojo.

– Ela pode vir, mas depois do filme você leva ela para casa. Não vou deixar vocês duas dormirem juntas, não sou idiota. - Vejo minha mãe respirar fundo. - Agora eu vou conversar com seu irmão sobre a namorada dele… É um problema atrás do outro, meu Deus. - Ela coloca a mão na cabeça e sobe as escadas resmungando sobre como era difícil ser mãe nos dias atuais.

Ingrid assistiu o filme em meus braços, enquanto Regina ficou na sala conversando com meus pais. O filme acaba e, antes que eu possa reagir, Ingrid me beija.

Agradeço mentalmente que a porta está fechada e me viro, desajeitadamente, por cima dela. Sua mão passeia por debaixo da minha blusa e eu tiro delicadamente.

– Ainda não. - Sorrio para ela.

– Puritana.

– Idiota.

– Sua idiota. - Ela responde, voltando a me beijar. Nós rolamos na cama e, dessa vez ela está por cima de mim.

Fecho os olhos.

Inspiro fundo.

Cabelos negros se misturam com os meus próprios cabelos loiros num beijo um tanto que desesperado.

Abro os olhos sem entender o que estava acontecendo.

Ingrid.

Fecho os olhos e, roboticamente, exercito minha língua, tentando sentir alguma coisa.

Regina.

Regina sorri para mim com seus dentes brancos como a neve, seus lábios carnudos convidativos e aquela cicatriz completamente sexy.

Abro os olhos mais uma vez.

Ingrid ataca o meu pescoço, suas mãos correm livremente pelo meu corpo, puxando-me mais para si.

Acabo deixando, sem entender o que estava acontecendo comigo naquele momento. A loira morde meu pescoço com força e eu sei que vai deixar marcas.

– Ingrid. - Interrompo nossa sessão de amassos. - Vamos com calma, alguém pode entrar. - Passo a mão no local que ela mordeu.

– Vai deixar marca. - A loira pisca para mim e eu balanço a cabeça.

– Eu sei… Você me paga. - Beijo seus lábios devagar. - Ah, precisava falar algo com você.

– O quê?

– Eu vou fazer a semana da integração com a Regina.

Observo seu rosto se contorcer numa careta.

– Sério?

– Sério, além de ter saído no sorteio, minha mãe nos obrigou.

– Que situação… - Ela revira os olhos. - Enfim, eu caí com a Elsa.

– A Rainha do Gelo 2.0?

Ela sorri.

– Ela mesma.

Levanto da cama e pego as chaves do carro em cima da escrivaninha.

– Vamos, o filme já acabou e eu não quero minha mãe supondo coisas sobre nós duas.

Estendo a mão e ela segura com força. Desço as escadas de mãos dadas com ela, mas minha mente martela uma questão muito maior:

Porque diabos eu estava pensando na Regina enquanto ela me beijava?