Annabeth estava apaixonada pelo seu melhor amigo.

Ou melhor, ex melhor amigo, ela não sabe dizer.

É constrangedor e ela tem total consciência disso, mas fora simplesmente inevitável! Até porque, se ela pudesse escolher por quem se apaixonar, com toda certeza, o desmiolado, má influência, sem personalidade e completamente errado Percy Jackson estaria no fim da sua lista. Lá mesmo, em último lugar!

Ela não acredita em como seu coração pode ser um idiota tão... Cego! Será que ele não via que Percy Jackson era simplesmente a pessoa errada? Não, não mesmo, não era possível que dentre todas as 7 bilhões de pessoas no mundo - estar apaixonada por uma garota seria uma opção muito mais viável - tivesse que se apaixonar justo por ele!

Tinha tanta raiva de si mesma que sentia vontade de se bater, se isso não fosse a deixar com um olho roxo no dia seguinte. E por mais que ela nunca fosse admitir isso em voz alta, pior do que a dor do próprio ato, seria Percy ver aquele hematoma. Em hipótese nenhuma!

O mundo seria tão melhor e a vida tão mais fácil se todos nascessem e recebessem um manual de instruções:

"Não esqueça de nunca se apaixonar pelo seu ex melhor amigo encrenqueiro, festeiro, mulherengo, má influência e completamente errado pra você! Lembre-se das consequências que isso pode causar!"

Mas não, às vezes você tem que passar pelas coisas e aprender por conta própria pelo simples fato que a vida é uma filha da puta. Ops, desculpe o palavreado!

O segredo sobre estar apaixonada é que não importa quantas vezes você diga pra si mesma "Não, eu não estou apaixonada por ele! Apaixonada? Eu? Por ele? Não mesmo! De jeito nenhum!", isso não vai mudar em nada o fato que você está linda e terrivelmente apaixonada, por quem? Quem? Ele mesmo!

Eu sei, falando assim não parece ser tão ruim, mas se você nunca se apaixonou por ninguém, nunca vai entender o drama de uma garota apaixonada.

Principalmente se o cara for um canalha, babaca, ridículo, egocêntrico e, por mais que eu já tenha dito isso várias outras vezes, completamente errado! Ou pior, se além disso tudo, o cara for seu melhor amigo (ex! (tanto faz!!)).

Annabeth já havia gostado de outros caras. Claro que já havia! Como aquele cara da primeira série que tinha uma cicatriz no rosto. Ou aquele garçom da sorveteria quando ela tinha onze anos. Ou mesmo Justin Bieber. Também tinha Will Solace, seu ex namorado completamente gato. Mas estar apaixonada era diferente. Terrivelmente diferente.

Era arrebatador, estranho e cruel. Fazia você se iludir e sofrer de todas as formas possíveis. Tão agradável quanto bater a cabeça na parede repetidas vezes. Ou machucar o dedinho do pé no canto da porta!

Não havia nada de legal, bonitinho e fofo como aquelas musicas que ela costumava escutar. Estar apaixonada era uma merda. Uma merda bem grande. Tão ruim quanto sopa de legumes.

Não sabia como havia chegado a esse ponto. Fala sério, ela era inteligente! Não podia ter usado todo o seu QI pra se apaixonar por alguém mais legal, divertido e menos egocêntrico e, de novo, errado?

Havia sido seduzida pelo charme, ombros largos, cabelo macio (e estiloso!) e olhos verdes. Logo ela. Teria sido muito mais fácil resistir se ele ainda fosse o garotinho magrelo e irritante de alguns anos atrás. Mas o fato é que Percy Jackson havia crescido juntamente com toda a sua implicância, poder de persuasão e beleza...

- Senhorita Chase?

Se apaixonar por um poste teria sido mais fácil.

- Senhorita Chase?

E muito mais saudável para a sua sanidade.

- Senhorita Chase??

Chase... Por Deus, ela era a única Chase ali!!

- Sim senhora! - respondeu rapidamente, piscando os olhos e focalizando na imagem do professor química

Ele não pareceu gostar muito de ter sido chamado de senhora.

- Vejo que estava tão concentrada nas fórmulas que acabou se distraindo do mundo ao seu redor. - o bigode do senhor Derulo, o professor de química, era grande e enrolado nas pontas. Quando ele falava acabava por morder alguns pelos. Nojento

- Desculpe, senhor. - Annabeth disse, ajeitando a postura na cadeira e tirando o cabelo de trás da orelha

- Receio que da próxima vez terei de... - Annabeth nunca agradeceu tanto pelo sinal do almoço ter tocado

Sorriu sem graça para o professor enquanto a sala era rapidamente esvaziada pelos alunos esfomeados. Juntou o material e correu para fora da classe.

Ela suspirou aliviada enquanto caminhava distraidamente até o seu armário, no térreo. Os corredores já estavam quase vazios, todo mundo estava no refeitório ou por aí almoçando.

Depositou os cadernos no armário, colocou o telefone no bolso traseiro da calça jeans justa e... Antes que pudesse bater a porta, alguém a bateu por ela.

Contou de um até três. E depois de três até um. De olhos fechados.

- Que susto! - disse, colocando as mãos no peito para sentir o coração batendo acelerado

Percy Jackson sorriu o seu sorriso errado parecendo contente. O coração de Annabeth acelerou um pouco mais.

- Oi. - ele falou depois de um tempo

Annabeth jura que tentou não prestar muita atenção nos músculos de seus braços quando ele os cruzou.

- Que honra! Percy Jackson falando comigo? Uau, voltamos para o ano passado quando você não era um idiota bossal?! - ela ironizou, tentando não parecer muito desesperada

Ele revirou os olhos (os lindos olhos verde esmeralda) e a abraçou de lado enquanto caminhavam.

- É você quem passa por mim no corredor e finge que não me vê só pra não falar comigo. - ele disse, bagunçando os fios loiros de Annabeth

Talvez ela tenha omitido o fato de que ele não era mais seu melhor amigo porque ela havia o excluído da sua lista de melhores amigos.

- Até porque, com certeza, vou me meter no meio de todos os brutamontes e líderes de torcidas que te cercam só pra falar "E aí Percy? Como foi a aula de trigonometria?". - disse - Ou melhor "Ainda está de ressaca? Posso te arranjar um analgésico?".

Percy fechou a cara, Annabeth sorriu contente por isso.

Desde que Percy entrara para o time de basquete, no início do ano letivo, e começara a sair com os outros caras do time, eles dois haviam se distanciado. No início era a mesma coisa, eles sentavam juntos no almoço e faziam dupla nas aulas que compartilhavam. Na escola Percy nunca havia a trocado por ninguém, o problema era fora dela.

Em um sábado no meio de outubro ele aparecera de madrugada em sua casa. Jogara pedras em sua janela. Completamente bêbado.

Annabeth não podia acreditar em o que o seu melhor amigo havia se tornado.

- Já te falei que eu não gosto de falar sobre isso. - ele disse, Annabeth podia sentir os seus músculos tensos

- E eu já te falei o que eu acho de você beber e tudo mais. - ela disse, cruzando os braços e olhando para cima

Annabeth não era baixa, longe disso, mas sempre tinha de inclinar a cabeça para trás para encarar Percy.

- Não fale como se você fosse a grande santa, Oh Virgem Maria. - ele ironizou

- Admito que não sou santa. Mas pelo menos eu não bebo até cair e não faço nada sem consciência. Ou pior, acordo em algum lugar desconhecido sem fazer ideia do que aconteceu na noite passada.

- Não há nada demais em se divertir! - ele exclamou e, contra a vontade de Annabeth, tirou o braço de suas costas

- Desde quando você precisa de drogas pra se divertir? - Annabeth arqueou a sobrancelha

- Eu não uso drogas!! - a essa altura ele parecia extremamente nervoso - Por Deus, é isso que você acha de mim? Drogas? Sério, Annabeth? Você sabe que eu nunca faria isso!

- Sinceramente, não sei mais se te conheço tanto assim. - ela disse, sua voz soou amarga - Talvez alguma das suas amiguinhas possa te responder melhor.

Percy passou a mão pelos cabelos - macios - escuros os deixando mais despenteados. Ele segurou o seu pulso com força, mas não o suficiente para a machucar.

- A final do campeonato de basquete é esse fim de semana. - sua voz parecia contida - Eu tenho um ingresso extra, pensei que fosse querer.

- Sua mãe não vai querer ficar?

- Ela provavelmente vai preferir comprar em um lugar junto do marido e de Tyson. - disse, tirando um papel pequeno e verde do bolso do jeans e a entregando - Você vai?

Por mais que quisesse mais que tudo ignorar o seu coração, o efeito que Percy causava em si e os seus olhos verdes, Annabeth sabia que nunca conseguiria.

- Eu vou sentar sozinha!

Percy sorriu sabendo que aquilo era um sim.

- Mas a namorada do Bill e do...

- Ótimo, eu e as namoradas dos outros jogadores, realmente, muito melhor. - ironizou

- Te vejo lá!

Percy beijou a sua bochecha e a apertou rapidamente em um abraço antes de sair correndo no caminho da mesa do time de basquete.

Annabeth suspirou enquanto caminhava para perto dos amigos.

Estar apaixonada pelo ex melhor amigo seria ruim. Mas estar apaixonada pelo seu atual melhor amigo jogador do time de basquete e popular era terrivelmente pior.

*****

A velha camiseta do time de basquete da escola de Annabeth ainda cabia. Estava um tanto quanto apertada no busto e mostrava um pouco da sua barriga branca, mas ainda cabia.

Ela se espremeu por entre a multidão para entregar aquela droga de bilhete e entrar no ginásio. Os seus amigos sentariam a terríveis e inúmeras cadeiras de distância, e Annabeth estaria sozinha, perdida entre o grupo de "namoradas que não são líderes de torcida" dos outros jogadores. Realmente, muito agradável.

Ela sequer se lembrava porque aceitara. Seria muito mais fácil se ele tivesse dado o ingresso para qualquer uma das suas namoradas (ou ficantes, seja lá como ele as chame). Ah, claro! Ela nunca conseguiria dizer um não para Percy Jackson, já que era uma idiota apaixonada.

Sentou no acento C33, e esperou enquanto o ambiente aos poucos lotava. Pegou o celular e deu uma rápida olhada nas redes sociais, mandou algumas mensagens para avisar a sua mãe que já havia chegado e conversou um pouco com várias pessoas.

Quando levantou novamente a cabeça, o time da escola já havia entrado e estava se aquecendo. Annabeth entendia de basquete mas, com certeza, não entendia por que eles precisavam jogar de camisa. O jogo seria muito mais interessante sem elas mesmo.

Seus olhos vagaram pela quadra até encontrarem Percy. Ele sorriu e foi até a grade, acenou para que ela se aproximasse. Annabeth guardou o celular no bolso da saia jeans e tentou regularizar os seus batimentos cardíacos enquanto caminhava até ele.

- Você veio!

Ela desviou o olhar para não encarar a gota de suor que descia de sua testa pelo seu pescoço até dentro da camisa...

- Pois é, não tinha nada de melhor pra fazer. - disse, sorrindo

Percy revirou os olhos.

- Até parece, você me ama! - ele riu

Annabeth se apoiou apreensiva na grade, comprimindo os lábios. Percy a abraçou.

- Percy! Eca! - ela o empurrou, se afastando, e deu alguns tapinhas em seu braço - Eca! Você ta todo suado! Que nojo.

Percy riu, bagunçando os cabelos molhados.

- Vai ter uma festa de comemoração lá em casa depois.

- Festa de comemoração? E se vocês perderem? - ela cruzou os braços

- Não vamos perder.

- E a tia Sally deixou? - Annabeth arqueou as sobrancelhas, lembrando da mãe de Percy

- "Tudo pelo basquete", palavras dela. - Percy disse, e depois completou - Enfim, você vai, não é?

Annabeth pensou um pouco sobre o assunto.

- Pra ficar sozinha o tempo inteiro e depois cuidar de você quando estiver muito bêbado? Não mesmo, odeio limpar vômito.

Percy revirou os olhos.

- Eu não vou ficar bêbado.

Annabeth arqueou uma sobrancelha, o encarando cética.

- Não vou ficar bêbado, juro. - ele suspirou - Ta legal, se você for, juro que não bebo nada!

- Nem uma gota de álcool?

Percy pareceu pensar duas vezes antes de responder.

- Nem uma.

Annabeth sorriu, pensando que se ao menos fosse pra fazer ele não beber, talvez valesse a pena ficar algumas horas trancada sozinha no quarto dele assistindo Netxflix. Tecnicamente, ela estaria na festa.

- Quem sabe eu apareça por lá. - disse, colocando as mãos nos bolsos

Percy sorriu o seu sorriso errado e Annabeth se segurou para não suspirar. Ela já estava pronta para virar as costas e voltar para a sua cadeira quando ele a chamou:

- Annabeth.

- Oi.

- Acho que você me deve um beijo.

Annabeth ficou estagnada o encarando.

- Como? - perguntou

Percy se inclinou sobre a grade.

- Eu não estava tão bêbado assim.

Annabeth sentiu a própria pele empalidecer. Também sentiu as suas bochechas ficarem quentes ao lembrar do que ele estava falando.

Em uma festa alguns meses atrás, na época em que Percy não costumava tomar tantos porres assim, na qual ele acabou bebendo um pouco mais do que o planejado, Annabeth estava tranquila conversando com alguns amigos. Percy a puxou e, alterado pelos efeitos do álcool e parecendo extremamente leve e feliz, a fez dançar com ele. Havia muita gente ao redor e Annabeth agradeceu a Deus que todos estivessem bêbados o suficiente para não lembrar daquilo no dia seguinte.

"- Você está tão bonita hoje Annabeth. - ele riu - Você é tão bonita.

Annabeth revirou os olhos.

- E você está tão bêbado.

- Eu não estou bêbado!

- Está sim.

- Não estou não. - ele riu - Eu estou sóbrio o suficiente para saber que quero te beijar.

Annabeth corou o que o fez rir ainda mais.

- Você está bêbado. - ela constatou

- O que você faria se eu te beijasse agora?

- Você não vai me beijar, Percy.

- Tem razão, eu devo estar com um bafo horrível, você não merece isso. - ele riu - Mas um dia eu vou. Um dia eu vou."

- Eu não me lembro de nada disso. - ela disse, mordendo a parte de dentro da bochecha. Seu coração parecia prestes a pular do peito.

Ela odiava estar apaixonada.

Percy riu, balançando a cabeça.

- Se eu estava bêbado e lembro, tenho certeza que você também.

- Já falei, não lembro. - ela jogou os cabelos sobre o ombro - Sua mente de bêbado deve ter te feito imaginar coisas.

Percy a encarou sorrindo.

Respira, Annabeth, respira.

- Talvez agora fosse uma boa hora para pagar a sua dívida. - ele falou sorrindo - Não mereço um beijo de boa sorte?

Maldito coração! Maldito! Maldito! Maldito!

- Bom jogo, Percy. - foi tudo o que ela disse, contendo a respiração - Faça algumas cestas pra mim e veremos.

Sentiu Percy a observar enquanto subia as escadas de volta para o seu lugar.

O juiz apitou para o jogo começar.

Annabeth estava nervosa.

Estar apaixonada é uma merda.

*****

Quando o apito final soou, o ginásio virou um caos. Todos gritavam e comemoravam, muita gente invadiu a quadra, e Annabeth perdeu a conta de quantas migalhas de pipoca encontrou em seu cabelo. Ela até pensou em ir cumprimentar Percy, mas havia tanta gente ao seu redor que ela achou que ele já estava sendo o parabenizado o suficiente.

Ficou mais alguns minutos esperando o local esvaziar um pouco e depois encontrou com os amigos.

- Vocês vão pra festa? - perguntou, desviando de uma poça de refrigerante no chão

- Bebida de graça? Já estou lá! - Nico di Ângelo, o namorado de sua melhor amiga, gritou

- Fazer o que né? É dia de comemorar! - Thalia, disse

Era difícil de imaginar sua melhor amiga empolgada com uma festa, então Annabeth simplesmente decidiu ignorar tudo e aproveitar também.

O carro de Nico era preto e antigo, Annabeth detestava andar nele pois por ser conversível sempre acabava ficando toda descabelada. A rua de Percy estava lotada de carros estacionados, então acabaram estacionando a algumas quadras de distância da casa. Annabeth agradeceu a Deus por não usar salto, ao contrário de Thalia, que estava com botas com saltos altos e finos.

Ela ficou surpresa com a quantidade de gente que já estava bêbada assim que colocou o pé no gramado verde do jardim da casa dos Jackson's. Havia uma garota com quem fazia aula de trigonometria que estava vomitando em alguns arbustos, muitos casais dando alguns amassos em todos os lados e se aquilo não era Megan Tunder transando com o professor gato de educação física na velha casa na árvore de Percy, Annabeth não sabia o que era.

Ela desviou de manchar o seu tênis branco em algumas poças de resíduos estomacais e entrou na casa geralmente espaçosa e organizada. Agora, tudo estava um caos. A bela sala de estar estava mais lotada do que Annabeth achou que seria possível, o lustre estava cheio de sutiãs pendurados - ela não queria imaginar a falta que eles podiam estar fazendo -, a cozinha havia virado uma espécie de bar e Annabeth pôde ver pela porta de vidro que dava para o quintal que este não estava em uma situação muito melhor.

Nico logo tratou de arranjar algo para beber e Thalia o acompanhou, Annabeth se separou dos dois alegando que não gostaria de estar por perto quando a bebida começasse a fazer efeito. Seguiu pelo corredor estreito até a escada que dava para o andar de cima, pronta para se trancar no quarto do amigo e seguir com os seus planos, mas ao chegar lá a porta estava entreaberta e pelos sons que vinham de dentro Annabeth não se sentiu muito impelida a entrar.

Suspirou, metade dos seus planos para aquela noite já haviam se frustrado e, por mais que seu coração doesse só de imaginar algo do tipo, Annabeth não pôde deixar de se perguntar se seria Percy naquele quarto. Deu de cara com um espelho e verificou que sua aparência continuava relativamente ok: a maquiagem ainda estava ótima, a saia jeans e a blusa do time com o tênis branco pareciam a roupa ideal para a ocasião e o seu cabelo estava a mesma bagunça ondulada de sempre.

Acabou por aceitar uma lata de energético e saiu para tomar um ar. Apesar de lotado, o quintal era grande e Annabeth se sentiu impelida a caminhar até a área da piscina e deitar em alguma das espreguiçadeiras.

Mesmo que não fosse muito mais reconfortante, ver Percy conversando com outros jogadores do time e algumas líderes de torcida praticamente pulando em seu colo fez o seu coração ficar um pouco mais tranquilo. Ela fingiu não o ver e continuou cumprimentando alguns conhecidos enquanto caminhava até a piscina. Foi puxada para algumas rodas mas já estava ficando sufocada em meio a tanta gente e acabou dizendo que não estava se sentindo muito bem apenas para se livrar das companhias.

A área da piscina estava mais tranquila, apenas um ou outro casal e pessoas conversando, e Annabeth se sentiu mais confortável apenas por se sentar, aproveitar a bebida gelada e observar as estrelas. Não demorou muito, no entanto, para ter companhia.

- Então você veio mesmo.

Annabeth sorriu mesmo antes de se virar e encarar os seus olhos verdes.

- Não perderia a chance de lhe poupar de um porre. - disse - Espero que esteja cumprindo a promessa.

- Estou. E veja bem, está sendo um grande sacrifício, espero que valha a pena. - disse, fazendo uma expressão de dor

Annabeth revirou os olhos.

- Como se estar aqui fosse o melhor dos programas.

- Assim você me magoa. - Percy colocou as mãos sobre o peito - Além de não ter ido me dar os parabéns e agradecer pelas cestas que fiz pra você mais cedo, ainda despreza a minha companhia?

Annabeth riu e bebeu mais alguns goles do energético em suas mãos. Não conseguia passar muito tempo o encarando, ao contrário dele que parecia extremamente confortável a observando.

- O que foi? Minha cara ta suja? - perguntou passando as mãos pelo rosto

Percy sorriu o seu sorriso errado e o estômago de Annabeth pareceu pesar uns cem quilos. Desviou o olhar para a piscina de água transparente, suas pernas estavam cruzadas sobre a espreguiçadeira. Ele saiu de sua cadeira e sentou na ponta da de Annabeth, que se encolheu para o dar mais espaço. Percy se aproximou, colocando o braço sobre os seus ombros.

Tão próximo.

Ela podia sentir os músculos de seu peito em suas costas, sua mão fazia um carinho em seu ombro.

Tão próximo.

Annabeth o observou pelo canto do olho. Seus cabelos ainda estavam molhados, seus olhos verdes se destacavam em sua pele morena. Ele usava uma camisa polo azul e bermudas brancas; as pernas dos dois estavam entrelaçadas como costumavam ficar quando assistiam maratonas de séries.

Mas por que agora parecia que o coração de Annabeth estava prestes a saltar de seu peito e sair quicando por aí como uma bola de basquete?

Percy segurou o seu queixo e, lentamente, virou o seu rosto até que ela o encarasse. Seus olhos estavam de um verde brilhante e límpido como esmeralda e Annabeth sentiu sua boca entreabrir enquanto o olhava. Ele empurrou suas costas levemente, até que os dois estivessem tão próximos a ponto de Annabeth temer que ele pudesse sentir os seus batimentos acelerados.

Tão próximos.

- Você sabe o que vou fazer agora, não sabe? - ele perguntou, seu hálito tão próximo fez os pêlos de Annabeth se arrepiarem

- Acho que não. - sua voz soou normal, ao contrário da forma como ela se sentia

Percy sorriu, mais uma vez, o seu sorriso errado. Seus olhos pareciam divertidos. Ele brincou com uma mecha do seu cabelo loiro e colocou a mão em sua nuca, seu polegar acariciou a bochecha de Annabeth por um tempo. Sua outra mão foi até a sua cintura, e depois até a sua lombar.

Ela sentiu Percy se aproximar, seu olhos chegando cada vez mais perto, até que se fecharam. Assim como os de Annabeth.

O seu coração parecia dançar música eletrônica em seu peito e os seus ossos pareciam ter derretido e virado gelatina. Os lábios de Percy eram macios e salgados e a mente de Annabeth não conseguia processar tudo o que estava acontecendo.

Sua língua era quente contra a sua, e por mais que ela tivesse certa experiência no assunto, tinha de admitir o quão bem Percy sabia fazer aquilo. Ela nem sequer se preocupou com o quão bagunçado o seu cabelo ia ficar se ele continuasse a segurando daquele jeito ou com a forma como suas roupas iam ficar amarrotadas. Percy estava ali, a beijando!

As mãos de Annabeth estavam nos cabelos escuros do garoto, finalmente sentindo a textura macia. Por Deus! Aquilo era real?

Seus lábios se separaram lentamente. Annabeth respirou fundo, só então se dando conta da falta de ar. Ela ainda podia sentir o nariz de Percy tocando o seu, o seu hálito de menta. Teve medo de abrir os olhos, o que aquilo poderia ter significado?

Percy jogou o longo cabelo de Annabeth sobre seu ombro e ela abriu os olhos lentamente, os lábios comprimidos. Ele ainda estava lá, tão próximo. Seus dedos brincaram com sua orelha e com os seus poucos cachos. Nenhum dos dois sabia muito bem o que falar.

O que eles tinham feito??

Percy olhou para os lábios provavelmente inchados de Annabeth, suspirou e depois desviou o olhar para os seus olhos. Ele a encarou tão profundamente que ela achou que ele podia ler todo o seu medo e insegurança.

Ele sorriu o seu sorriso errado.

Annabeth odiava amar aquele sorriso.

- Acho que você pagou a dívida. - ele disse, depois de um tempo

- Pelo menos você não estava com hálito de bebida. - ela disse, desviando o olhar envergonhada

Percy riu.

- Isso foi bom. - falou

- É, acho que sim. - Annabeth não queria soar tão desesperada então optou por omitir o quão incrível aquilo realmente havia sido

Percy segurou uma de suas mãos e brincou com os seus dedos. O clima não chegava a ser desconfortável. Ele passou a mão lentamente pelo seu braço até chegar novamente a sua nuca, olhou em seus olhos - Annabeth esperava que eles não demonstrassem o quão desesperada por mais (ou respostas) ela estava - e sorriu de novo. Ela se perguntava por que ele parecia achar a situação tão divertida.

- Seria muito estranho se eu te beijasse de novo? - perguntou

- Mais estranho do que você perguntar se seria estranho? - Annabeth perguntou

Ele ainda estava sorrindo.

Annabeth mordeu o lábio, desviando o olhar. Percy a beijou no canto da boca antes de a beijar novamente, como se para ter certeza de que ela não desviaria. Annabeth, no entanto, não conseguiria fugir de seus lábios nem que quisesse.

Sua mão apertava a sua lombar enquanto a outra, na nuca, a puxava mais para perto. Annabeth abraçou os seus ombros, sentindo sua língua explorar a sua boca.

Percy se separou, sorrindo como se soubesse de uma piada que Annabeth não sabia.

- Você tem razão. - disse

Annabeth o encarou sem entender.

- Ainda bem que estou sóbrio. - falou, tranquilamente - Vou querer lembrar disso amanhã.

Annabeth riu, se aproximando mais uma vez até que suas testa estivessem coladas. Ela olhou fundo nas íris verdes do garoto, sorrindo.

- Só pra garantir que não vai esquecer. - falou, antes de selar os lábios com os dele

Percy também sorria, aquele seu sorriso errado. Annabeth sabia que nunca conseguiria não amar esse sorriso.