Jinyoung estava no corredor a tentar prestar atenção ao que a sua mãe dizia. Tal como acontecia sempre, ele começava a ouvir tudo com muita atenção e medo, mas logo se distraia com alguma coisa. Neste momento o que não lhe saía da cabeça era o facto da sua irmã estar sozinha com o seu namorado. “Ehehe namorado…” Pensou com um sorriso aluado. A mãe não percebeu aquele riso idiota e bateu no filho, fazendo-o voltar à realidade.

– Estás a ouvir o que eu estou a dizer Park Jinyoung!? - Gritou a mulher ficando vermelha.

– Eu não o posso deixar na rua, mãe! - Explicou com certo desespero. Sim, não tinha ouvido nada, mas não era difícil de imaginar o que a sua mãe queria.

– Jinyoung… Sabes que eu não vou conseguir alimentar três bocas por muito tempo… Tu sabes que por mim podias trazer para aqui toda a aldeia! Mas se o canalha do teu pai não vos manda dinheiro… Filho, eu não faço milagres! - Explica a senhora tentando consolar o filho.

– Eu arranjo um emprego!

A senhora Park arregala os olhos ao ouvir isso. Há anos que pedia ao filho para arranjar algum part-time mas ele sempre ignorava, dizendo que o seu único emprego seria a banda.

– Ele é assim tão importante para ti…? - Perguntou com carinho, acariciando a bochecha do filho.

– Muito! Por favor, mãe… Não o mandes embora! - Implorou abraçando a mulher.

– Eu não mando… - Antes que a senhora acabasse a frase, Jinyoung começou a saltar e a beijar repetidas vezes a bochecha da mãe. - Mas eu vou precisar de dinheiro, Jinyoung! Essa é a condição.

– És a melhor mãe do mundo! - Sorriu abertamente sem largar a senhora.

– Só quando te interessa… - Resmungou mas rindo e retribuindo o abraço do filho.

As trocas de afeto fraternais não duraram muito pois Junior queria ir dar logo a notícia ao namorado. Largou a mãe, que ainda ria, e correu para a cozinha, parando logo na porta e perdendo o seu enorme sorriso. A sua irmã e Mark estavam a conversar e a rir animados, sentados à mesa onde almoçaram, nem deram pela sua presença. Junior, sentindo-se possessivo, andou rapidamente até ao namorado e sentou-se ao seu colo, rodeando-lhe o pescoço com os braços e encostando a cabeça no seu ombro.

– Que estás a fazer? - Riu o cantor, contornando a cintura do mais novo para retribuir o abraço.

– O quê? Estou só a abraçar o MEU namorado. Não posso? - Resmungou, olhando de esguelha para a irmã que apenas revirou os olhos com um resmungo.

– Então crianças, está um dia tão bonito… - Começou a mãe de Junior, entrando na cozinha. - Vão lá para fora! Vão passear antes que o verão acabe.

– Vamos comer um gelado! - Sugeriu a irmã e o namorado de Jinyoung ao mesmo tempo animados. Quem não achou piada nenhum àquilo foi precisamente Junior que encarou os dois rabugento.

J❦B

Na casa dos Choi, as coisas corriam muito mais calmamente do que na noite anterior. Youngjae já não estava amuado pela ideia de beber do seu pai e Jaebum já não parecia tão tenso para agradar aos pais do namorado. Estava um ambiente calmo e tranquilo.

Isso até dois telemóveis terem tocado, anunciando uma nova mensagem. Exactamente a mesma mensagem nos dois telemóveis e da mesma pessoa.

“Reunião urgente na garagem. Agora. Jackson”

Youngjae e Jaebum trocaram um olhar preocupado e logo explicaram aos senhores Choi que precisavam de sair urgentemente.

A mesma mensagem também foi enviada para mais quatro números de telefone diferentes. Yuri e Yugyeom quase que saltaram ao ver a mensagem, esperando logo o pior. Junior e Mark tiveram que arrastar a irmã do rapaz e Coco com eles para a garagem, pois já tinham saído de casa. O gelado teria que ficar para outra hora.

Chegaram todos ofegantes e preocupados ao local de encontro. Estavam todos lá menos as pessoas que faziam falta. Bambam e Jackson estavam atrasados.

Começaram todos a especular o que tinha acontecido para uma reunião urgente tão repentina até Yuri e Yugyeom contarem as novidades, sobre o pai de Bambam ter sido preso e sobre o encontro dos dois rapazes com a senhora Bhuwakul.

– O Bambam vai-se embora? - Perguntou Junior com um semblante triste e preocupado.

– Será que o Jackson vai com ele? - Perguntou Jaebum, também preocupado.

– Como assim o meu tio foi preso!? O que se passa?! - Gritou Mark de repente chamando a atenção de todos. Ainda ninguém tinha explicado ao rapaz o que se passava. A culpa disso era em parte de Jinyoung por ter fugido no dia em que Mark chegou, como o cantor ficou tão afetado e tinha tantas novidades para dar, ninguém o quis preocupar com a história do pai de Bambam. Mark tinha avisado o primo que falariam “depois”, mas esse depois nunca veio.

Jinyoung agarrou na mão do namorado e começou a explicar-lhe calmamente o que tinha acontecido. Desde que Bambam fugiu de casa até Jackson ter sido preso. Yugyeom também se meteu na conversa e contou cuidadosamente que o seu tio esteve envolvido no incêndio. O cantor apenas começou a empalidecer até não ter mais cor no rosto.“Como assim todas as pessoas que eu achava de confiança de repente são os maus da história? Primeiro os meus fãs, o meu chefe, agora aos meus tios…”

Mark afastou-se da mão de Junior e do grupo que o olhava preocupado. O rapaz sentia-se a sufocar. Precisava de ar e aquelas pessoas todas reunidas a olha-lo estavam a enlouquece-lo. Apoiou-se na parede da garagem e tentou absorver toda aquela informação repentina. Estava a ser cada vez mais difícil respirar e a sua visão já estava a desfocar. Conseguiu ver um rosto aproximar-se mas ficou tudo negro quando sentiu os lábios que tanto amava serem pressionados sobre os seus. Não sabia se estava escuro por ter perdido os sentidos ou se simplesmente tinha fechado os olhos com aquele toque tão macio.

O beijo foi rápido mas reconfortante. Junior afastou-se logo e abraçou Mark calmamente, acariciando-lhe as costas.

– Respira… Vai tudo ficar bem… - Sussurrou só para o rapaz ouvir.

Mark obedeceu e respirou fundo, sentindo-se mais calmo. Talvez apenas o abraço de Jinyoung fosse o suficiente para o acalmar. Ele era o seu medicamento e Yi-En estava a ficar viciado de tanto consumo.

– Mais calmo? - Perguntou Jinyoung, sem o largar.

O cantor respondeu com um acento de cabeça e apertou fortemente o mais novo nos seus braços. Ainda estava chocado com tudo o que ouvira, mas já não se sentia tão em pânico.

O restante do grupo apenas ficou a olhar a cena com atenção. Ninguém comentou nada para não estragar o clima do casal e todos pensavam o mesmo. Era melhor deixa-los sozinhos por um tempo.

Todos menos Youngjae, esse estava demasiado ocupado a manter a irmã de Junior debaixo de olho e a segurar fortemente a mão de Jaebum que tentava soltar-se com um resmungo de dor.

A jovem a perceber isso e sorriu para o casal.

– Eu já não vos quero beijar, fiquem descansados.

Yuri e Yugyeom deixaram de olhar para o casal para ver a cena que se passava ao seu lado.

– Quem é a tua vitima agora? - Perguntou Youngjae com olhar desconfiado mas recebeu logo uma pancada do namorado. Afinal, era apenas uma criança. Uma criança perturbada, mas uma criança.

– Jinyoung! - Respondeu a menina sorridente, sem hesitar.

Todos arregalaram os olhos com a declaração da criança. Inclusive o mencionado que quase que virou a cabeça em 180º graus para encarar a irmã. Mark apenas começou a rir.

– EU SOU TEU IRMÃO! - Gritou o rapaz chocado. As coisas estavam bem piores do que ele pensava…

– Não és tu! Idiota. - Resmungou a jovem, mostrando-lhe a língua. - Quero alguém que saiba a Jinyoung e não a comida! É o melhor sabor do mundo. - Sorriu.

Mark ria tanto que já estava com dificuldade em respirar. Junior olhou de lado para o rapaz mas antes que pudesse dizer alguma coisa, Yuri falou primeiro.

– Quem te disse isso?

– O Mark! - O cantor parou imediatamente de rir e ficou vermelho. - Ele disse que só posso beijar pessoas quando elas souberem bem. E ele disse que o Jinyoung sabe bem!

Agora todos riam menos o cantor que estava completamente corado a olhar para a rapariga que lhe sorriu de forma matreira. Ela sabia bem o que estava a dizer e que estava a envergonhar Mark. Mas era demasiado divertido para ficar calada. Além do mais, não tinha gostado de ver o cantor e o seu irmão a sofrer então achou melhor faze-los rir. Pelo menos agora todos estavam felizes e mais descontraídos.

A descontração durou pouco porque Bambam e Jackson finalmente deram as caras e aproximaram-se do grupo que já os esperava. Todos ficaram sérios de repente e procuram alguma coisa nos rapazes que denunciasse o assunto da reunião, mas ninguém teve sucesso.

Bambam tinha a sua melhor poker face e Jackson parecia que tinha tido uma aula intensiva para manter a sua expressão fechada e apagada. Chegaram junto do grupo e entraram na garagem para estarem mais confortáveis, sendo seguidos por todos os outros.

– O que se passa…? Porque estão todos tão estranhos? - Perguntou a irmã de Jinyoung a Mark. O rapaz apenas encolheu os ombros e sentou-se no sofá ao lado de Junior, sendo imitado pela rapariga.

– Diz de uma vez o que aconteceu! - Pediu Yuri assim que acaba de se sentar. Todo o seu corpo gritava de nervos.

– Fomos falar com a minha mãe… - Começou Bambam.

– Sim, sim. Já sabemos. Vai logo ao que interessa. - Interrompeu Mark, sendo apoiado por todos.

– Como eu estava a dizer… - Continua apático, ignorando por completo o comentário de Mark fazendo com que o cantor o olhasse torto. - Daqui a duas semanas, mais ou menos, a minha família vai voltar para a Tailândia…

– NÃO! - Gritou Junior. Largou a mão de Mark e agarrou fortemente o braço do apático Bambam. - Tu não podes ir!

Mark franziu as sobrancelhas e olhou para o namorado. “Desde quando ele e Bambam são amigos?! O que raio eu perdi enquanto estive fora?!”

– Tem que haver uma maneira de cá ficares! - Interrompe Yuri, já à beira das lágrimas. - Não podes ir agora!

– Como consegues estar tão calmo, Jackson?! - Pergunta Jaebum sentindo-se irritado. Ele não simpatizava com Bambam, nunca escondeu isso, mas era o namorado de um dos seus melhores amigos e não estava a gostar de ver o Jackson tão apático sobre aquela situação toda. Alguma coisa ali não batia certo…

Várias perguntas e reclamações continuaram. Jackson e Bambam mantinham-se sérios e isso estava a irritar bastante Jaebum, até que ele se lembrou de uma coisa. Tirou a carteira do bolso das calças e encontrou a fotografia que tinha encontrado na casa de Jackson. A fotografia montada de Bambam a dormir e umas panquecas com um pedido de namoro escrito.

– Então e isto?! - Gritou Jaebum mostrando a fotografia.

– Oh! - Exclamou Yuri, surpresa. - A montagem que eu fiz! Porque tinhas isso?

– Montagem…? - Jackson agarra na fotografia confuso e olha com atenção. Rapidamente sente o seu rosto ficar vermelho ao ver Bambam encarar a fotografia. Ele nunca tinha chegado a ver o pedido de namoro nas panquecas…

– Isto foi naquele dia…? - Murmura confuso.

– Foi.

Bambam sorri com lágrimas nos olhos. Abraça fortemente o namorado enquanto sorria. Pensava que se não tivesse sido ele, Jackson nunca o iria pedir em namoro, muito menos de uma forma tão adorável como aquela.

– Mas sabes que elas sabiam mesmo mal. - Comenta risonho, fazendo Jackson rir também.

– Jackson. - Chama Jaebum fazendo com que o abraço entre o casal seja desfeito. - Nunca te vi pedires ninguém em namoro, muito menos de maneira tão romântica. Vais mesmo deixar que ele vá embora depois de tudo?

Todos pareciam tristes com a noticia mas Jaebum estava fora de si. Estava mesmo irritado. Ele não se imaginava a agir tão calmamente se os pais de Youngjae o quisessem levar embora. Não mesmo!

– Vais mesmo, Jackson? - Pergunta Bambam, ainda com os olhos lacrimejados, mas agora um beicinho triste no rosto.

– Ok, ok. Já chega! - Interrompe Jackson, beijando rapidamente aqueles lábios que o provocavam. - Acho que já os assustamos o suficiente.

O chinês começa a rir assim como Bambam e as expressão desesperadas começam a ficar furiosas ao perceber a situação. Afinal aquilo era tudo uma encenação?

– Eu não disse que ia embora. Apenas a minha mãe vai. - Sorri divertido mas encolhe-se contra Jackson ao ver que Junior queria bater-lhe se Mark não o tivesse puxado para se sentar.

– Como conseguiram isso? - Pergunta Yugyeom. Ao contrário dos outros, ele não parecia nada surpreendido por estarem a ser enganados. Tinha um sorriso de lado, como se soubesse desde o principio o que se passava.

– Eu não faço falta. - Sorriu minimamente. Yugyeom retribuiu o pequeno sorriso percebendo o que o amigo queria dizer. - Vou ter três novos irmãos que podem perfeitamente ficar com as empresas e eu continuou com a herança.

– Isso quer dizer… Que vais ser o rapper da nossa banda?! - Exclama Jaebum levantando-se do chão onde estava sentado, por não haver lugares suficientes para todos.

Jackson começou a rir ao imaginar o Bambam ser rapper, JB era bem preexistente mas puxava o assunto sempre nas piores alturas fazendo com que todos o encarassem com caras assustadas.

– O que é que lhe deste de beber? - Perguntou Junior para Youngjae.

– Acredita, ele não bebeu nada. - Responde simplesmente. Quem lhe dera que JB ficasse assim quando bebesse.

– Ok… - Continua Bambam, piscando os olhos ligeiramente assustado. - Eu vou ficar cá, sim. - Enormes sorrisos preencheram aqueles rostos, assim como felicitações preencheram o ar.

– Calma! Há mais! - Exclamou Jackson animado, quase saltando no lugar e sufocando Bambam num abraço.

– O que me diziam se fossemos todos viver para a mansão Bhuwakul? Há espaço suficiente para todos nós! - Sorriu.

– Há espaço suficiente para a aldeia toda! - Continuou Jackson feliz.

– Como assim viver em tua casa? - Perguntou Youngjae descrente.

– Por muito que pareça irreal, foi ideia da minha mãe. Ela concordou que eu cá ficasse e até nem se importa que eu fique com o Jackson. Mas vai levar os empregados com ela, obviamente. Com isso, muitos quartos ficam livres e ela disse para eu chamar os meus amigos para viverem lá.

– Não vamos viver às tuas custas… - Respondeu Jaebum desconfortável. Por muito que a oferta fosse tentadora, parecia errado aceitar as coisas assim.

Jackson riu com a resposta.

– Espera. É para sermos teus empregados? - Perguntou Junior confuso e irritado.

Jackson riu ainda mais e negou com a cabeça.

– Claro que não vão ser empregados! É como se fosse uma… ah… um apartamento? Uma residência? - Disse confuso, tentando arranjar nome para a casa. - E Jaebum, ele disse que foi a mãe dele que teve a ideia. Achas mesmo que ia ser de graça? Tem uma renda obviamente! Mas o preço é exactamente o que eu pago pela minha casa. Ela perguntou-me quanto eu pagava e fez disso o preço por quarto.

Após as palavras de Jackson, ninguém soube bem o que dizer. Todos trocaram olhares preocupados e pensativos.

– Eu também posso viver com vocês? - Perguntou a irmã de Junior, tentando aliviar a tensão do ambiente.

– Quando cresceres. - Resmungou Jinyoung, empurrando a testa da jovem.

– E se fossemos jantar a minha casa para pensarem sobre o assunto e verem o local? - Sugeriu Bambam. - Podem pensar calmamente sobre isso o tempo que quiserem.

– Antes de aceitar seja o que for, preciso de falar com a minha mãe. - Murmura Jinyoung e Youngjae concordou. Eram os únicos que viviam com os pais e não podiam tomar aquela decisão tão livremente.

– Tragam os vossos pais também! - Sorriu o loiro.

Ninguém conseguiu argumentar contra isso e no final acabaram todos por concordar. A mãe de Bambam juntou-se ao jantar e foi a pessoa mais simpática e social do mundo, fazendo com que os pais de Youngjae e a mãe de Jinyoung se sentissem confortáveis em deixar ali os filhos. Todos adoraram a enorme casa e ficaram ainda mais encantados ao descobrir que tinha piscina e campo de basquete.

Bambam mostrou-lhes uma pequena sala com sofás e estantes de livros. Explicou que com algumas mudanças, era o local perfeito para a banda ensaiar pois a sala era afastada de todos os quartos e tinha uma boa acústica.

Não havia nada naquela casa que fizesse os rapazes querem negar o convite. Mark tinha logo puxado Jinyoung para lhe mostrar o seu quarto e, escusado será dizer, que desapareceram a noite toda. Só havia uma coisa que perturbava o herdeiro. O seu quarto.

Ele mal conseguia se aproximar da porta sem tremer e foi uma grande surpresa quando a sua mãe se ofereceu para reformular o quarto todo, para o filho não ter mais lembranças daquele incidente. Bambam ficou tocado com esse comentário mas a senhor começou a dizer que não era bom que ele ficasse traumatizado e as suas amigas soubessem disso. Apesar do comentário, Bambam ignorou e focou-se apenas na parte em que a sua mãe se preocupou com ele.

Ele só queria ser amado.

Pelo menos, sabia que Jackson sempre estaria ali para ele quando a sua mãe falhasse na sua missão de mãe. Jackson estava ali agora para o consolar e arrastar para um dos quartos, para comemorar a nova casa. Quem precisava de um falso amor quando podia ter um tão puro e verdadeiro?

Fim