Mark olhava fixamente para o telemóvel enquanto lia e relia a última mensagem de Jackson:

“Vem ter a minha casa primeiro. Não avises ninguém que estás aqui.”

“Já sabem que eu estou cá? Andam à minha procura…?” Pensava em pânico. Tenta normalizar a respiração e acalmar-se, permitindo-se fechar os olhos por uns breves segundos. Nesse momento não pensava no motorista do táxi como alguém perigoso, na verdade, nem se lembrava mais que ele estava ali. Apenas se lembrou do homem quando teve um ideia para amenizar aquela situação.

– Ah… Desculpe, quero parar num sitio primeiro. - Diz firmemente, mesmo que a sua voz rouca falhasse.

O condutor concorda e segue as indicações de Mark até pararem em frente a um pequeno e simples cabeleireiro. Não era nada parecido com aqueles salões de beleza onde Mark costumava ir arranjar o cabelo, mas era o sitio perfeito para Yi-En “matar” uma parte do ídolo americano que costumava ser.

Pediu para o taxista esperar um pouco, e obviamente que teve que pagar mais por isso, mas agora que confiava naquele homem, não queria ter que passar pelo pânico de entrar num carro com um desconhecido outra vez.

Entrou no cabeleireiro e uma senhora de cabelos ruivos encaracolados pela altura dos ombros veio atende-lo com um sorriso simpático no rosto. Aparentava ter uns quarenta anos, e, pelo que Yi-En pode presumir, a senhora trabalhava sozinha naquele local pequeno com apenas duas cadeiras para os cortes de cabelo.

Yi-En devolveu o sorriso sentindo-se seguro naquele lugar. Realmente era muito mais confortável estar numa aldeia pacata na Coreia do que numa cidade agitada na América. Sentia-se mais seguro, sentia-se em casa.

Explicou à senhora o que queria fazer ao cabelo enquanto a mesma o lavava com alguma brusquidão, mas Mark não reclamou, apenas explicava o que queria enquanto sentia a sua cabeça ser balançada debaixo da torneira, quase que podia jurar que iria ficar careca depois dessa lavagem, mas felizmente os seus cabelos estavam lá todos quando a senhora o sentou na cadeira de corte, virada para um enorme espelho.

J❦B

Yuri estava entretida na cozinha a preparar um jantar digno de reis. Felizmente, tinha uma pequena mercearia ao fundo da rua e pode ir comprar - mandar o Yugyeom ir comprar - os ingredientes necessários para a refeição que tinha em mente. O noivo estava sentando na mesa da cozinha rodeado de papelada, poderia ter ido para o quarto de hospedes onde estavam a dormir, ou para a sala, ou até mesmo para a casa de banho se fosse preciso, mas preferia ficar próximo da noiva, e, mesmo que Yuri reclamasse que ele estava a ocupar espaço, queria-o ali com ela. Apesar de ambos estarem ocupados com as suas tarefas e basicamente não falarem um com o outro para não se desconcentrarem, sentiam-se bem na presença um do outro.

Enquanto isso, Jackson estava no quarto a tentar acordar o seu namorado dorminhoco. Nem Yuri nem Yugyeom queriam interrompe-los, nem quando a campainha tocou quiseram ir avisa-los que as visitas tinham chegado.

Jackson tinha dito que tinha convidado Junior, mas avisou logo a irmã que provavelmente JB e Youngjae iam-se colar ao amigo, por isso a jovem nem estranhou quando viu os três rapazes entrarem em casa descontraidamente. Estranhou sim quando viu uma pequena cachorrinha no colo de Junior.

Fez um gritinho adorável e pegou na cachorrinha nos braços de Junior.

– Que fofa! É tua? - Pergunta enquanto abraça a cachorrinha, quase a esmagando.

– Sim. Chama-se Coco. - Responde sorrindo, mas com um olhar apreensivo sobre a força com que Yuri apertava o animal.

– E ainda queres tu ter um monte de filhos! - Reclama Yugyeom tirando a cachorrinha do colo da noiva e pousando-a no chão para que pudesse correr à vontade. - Ias mata-los de asfixia!

Junior sorri ao ver o casal, mas logo afasta-se e junta-se aos amigos que já estavam sentados no sofá a ver televisão.

Yuri abraça Yugyeom, rodeando o pescoço do rapaz com os seus braços. Pente-a-lhe os cabelos da nuca com a ponta dos dedos, sabendo que essa zona era sensível e que arrepiava o jovem. Yugyeom contorcesse um pouco com o toque mas não faz intenções de sair ou de desviar o olhar da rapariga à sua frente. Yuri esboça um pequeno sorriso de lado e aproxima o rosto da orelha do noivo, sussurrando com voz rouca, outro ponto sensível do rapaz.

– Tem cuidado. Também te posso asfixiar… - Afasta-se ligeiramente e olha para Yugyeom, mantendo os rostos bastante próximos. Quase que junta os lábios aos do rapaz, mas no último segundo afasta-se e volta a correr para a cozinha enquanto ria.

Yugyeom estava fixo como uma estatua. Tinha os olhos arregalados e escuros, sentia que o coração lhe ia romper o peito se continuasse a bater tão forte. Piscou os olhos duas vezes para voltar a si e não hesito mais em correr atrás da noiva.

Jaebum, Youngjae e Junior que observavam a cena com curiosidade tinham pequenos sorrisos nos rostos. Quase que gargalharam mesmo quando viram Yugyeom correr atrás da noiva, completamente alterado. Mas esses sorrisos desapareceram quando ouviram um pequeno grito de Yuri vindo da cozinha e o barulho de algo a bater no móvel. Poderiam ter pensado que Yugyeom estava a ser agressivo ou algo assim devido aos barulhos, mas logo mudaram de ideias quando ouviram risos dos dois e um “Seu pervertido!” vindo de Yuri. Os três rapazes arregalaram os olhos e afastaram logo o olhar da porta da cozinha. Não queriam saber de mais.

Enquanto isso acontecia na sala, Yuri e Yugyeom estavam a ter um momento quente contra o móvel da cozinha. Yuri sabia bem quais eram os pontos fracos do noivo e sabia que o estava a provocar quando fez aquilo, mas de certa forma, foi uma vingança por ele ter insinuado que ela era violenta. No final, quem se mostrou “violento”, foi Yugyeom que entrou a correr na cozinha e prendeu a jovem contra o móvel roubando-lhe um beijo violento e faminto. Normalmente era um rapaz calmo, mas não se conseguiu controlar naquele momento e Yuri ria internamente por isso. Gostava bastante quando conseguia descontrolar o noivo.

Aos poucos, os beijos foram perdendo a intensidade e tornando-se em momentos carinhosos. Agora estavam apenas abraçados e a sorrir um para o outro. Quem visse acharia aquilo bem idiota mas nenhum deles queria saber, estavam demasiado perdidos nos olhos alheiros. Tão perdidos, que mal ouviram a campainha tocar pela segunda vez.

Yuri tentou recompor-se e foi abri a porta, sendo seguida por Yugyeom e pelos olhares curiosos dos três rapazes que brincavam com a Coco.

Quando abriu a porta, encontrou um rapaz estranho. Era um jovem loiro com o cabelo levantado para cima devido ao gel. Vestia um camisola simples preta, umas calças de ganga largas e um casaco também preto e largo. Tinha uns óculos de sol a esconder-lhe os olhos e uma máscara à frente da boca. Em ambas as mãos, tinha malas de viagem e isso só fez com que Yuri e Yugyeom ficassem mais confusos.

“É esta a “surpresa” do Jackson? Quem é este? Porque está com bagagem atrás? Vai-se mudar para cá?!” Pensava Yuri, começando a fazer filmes na cabeça.

– Posso entrar? - Perguntou o rapaz loiro, com voz rouca. O que deu-lhe um ar ainda mais macabro do que Yuri tinha pensado.

A jovem ia recusar mas o rapaz entrou logo, como se fosse dono do local. Avançou até à sala e pousou as suas malas que já pesavam nas mãos. Nem sequer viu os rapaz sentados no sofá, em parte, isso era culpa dos óculos escuros, não via grande coisa dentro de casa com aqueles óculos. Agora que tinha as mãos livres poderia finalmente tira-los e afastar a máscara da cara.

– Hn… Desculpa. Mas… Quem és tu…? - Perguntou Yuri meio a medo, vendo o rapaz tirar os óculos de sol e a máscara.

Assim que o rapaz tem a cara completamente destapada, levanta o rosto e sorri para Yuri, ainda sem notar os rapaz sentados no sofá que ficava ao seu lado. A rapariga reconheceu-o pelo sorriso e não pode evitar rir, levando uma mão à boca e começando a lacrimejar.

– Tu… - Começa por dizer emocionada.

Junior tinha-se levantando bruscamente do sofá quando vê o sujeito loiro a rir. Ele conhecia aquele sorriso, conhecia aqueles destinos de vampiro. Era o sorriso mais bonito do mundo. Não havia hipóteses de estar enganado.

– MARK!? - Grita enquanto se mete à frente do rapaz para o olhar melhor.

Tanto Mark como Junior tinham os olhos arregalados e cheios de lágrimas que ambos se recusavam a derramar. Mark respondeu à pergunta do rapaz com um simples balançar positivo de cabeça e, numa atitude repentina e inesperada, Jinyoung salta para cima de Mark num abraço, quase o fazendo cair com a violência do ato.

Nesse mesmo momento, a porta do quarto de Jackson é aberta com violência e um Bambam semi coxo sai a correr para o centro da sala, apoiando-se nas paredes para não cair. Jackson tinha tentado ajuda-lo mas o rapaz parecia ter ficado fora de si quando ouviu Junior gritar o nome do primo.

Mark levanta o rosto e sorri para Bambam. O loiro ainda tinha um rosto confuso mas não demorou muito para abrir um enorme sorriso e também abraçar Mark. Apesar disso, Junior não se mexeu. Sentiu que Bambam também estava a abraçar Mark e a abraça-lo consequentemente, mas não se importou, apenas apertou mais o abraço de Mark e deixou que o seu rosto se escondesse na curva do pescoço de cantor americano.

– Bem vindo de volta. - Sorri Jackson, que era o único que não estava chocado ou a chorar naquele momento.

– Obrigado. - Respondeu rouco mas sorrindo radiante enquanto abraçava os dois rapazes nos seus braços. - É bom estar de volta.

– O que aconteceu à tua voz!? - Exclamou Bambam afastando-se de repente, e consequentemente saindo do abraço, para encarar o primo.

Mark desviou o olhar por um segundo, pensando em como explicar uma situação tão séria ao primo. Quando ia responder, o rosto machucado de Bambam chama-lhe a atenção. O rapaz ainda tinha um olho semi negro e vários cortes e arranhões espalhados pela cara, apesar de já estarem quase a cicatrizar, ainda eram visíveis.

– O que aconteceu à tua cara?! - Respondeu com uma pergunta, soando bastante preocupado. Automaticamente, deixou que um dos seus braços caíssem mas isso não fez com que Junior o soltasse. O guitarrista parecia estar colado a Mark, não mexia nem um único músculo, apenas abraçava o rapaz, agora loiro, com força. Mark ainda mantinha um dos braços a rodear a cintura de Junior mas não apertava o abraço com tanta força como Junior fazia.

– …O que aconteceu ao teu cabelo!? - Reclama Bambam desviando o assunto. Não queria responder àquela pergunta.

Mark lança-lhe um olhar feio mas Bambam apenas desvia o rosto com um beicinho amuado.

– Pensei que nunca mais te ia ver…

Todos param quando ouvem a voz quebrada de Jinyoung. Junior ainda abraçava o Mark e tinha o rosto escondido quando falou. Só nessa altura é que Mark se apercebeu que sentia o pescoço húmido e que o mais novo estava a chorar.

Mark olhou para as outras pessoas ali presentes sem saber bem o que fazer. Tinha demasiados olhos sobre si e isso estava a deixa-lo desconfortável e intimidado. Parecia que todos esperavam que ele fizesse alguma coisa ou que desse uma explicação de tudo o que estava a acontecer.

Sentia que o tempo tinha parado. Tinha a sensação que o estavam a encarar com rostos sérios e acusadores há horas. A sua cabeça começava a doer e não sabia mais o que fazer.

Aquela sensação de pânico estava a voltar e a apoderar-se de si.

A sua respiração começou a ficar irregular e já via tudo a andar a roda. Sentia-se sozinho novamente. Os rostos familiares começaram a ficar destorcidos e a ganhar formas assustadoras e o violentas. A sala confortável de Jackson foi substituída por um palco escuro onde o único foco de luz estava centrado em si.

Todas aquelas ameaças que lera na internet ou em cartas ganharam voz na sua cabeça e preencheram aquele cenário macabro fazendo ecos assustadores. Mas de repente algo aconteceu.

Ouviu um soluçar. Mas não era um soluçar qualquer. Era de Jinyoung. O rapaz que chorava nos seus braços com medo que nunca mais o fosse ver.

Ouvir aquele barulho foi como um botão reset na cabeça de Mark. Rapidamente voltou para a sala de Jackson e encontrou os rostos familiares que já não possuíam expressão agressivas mas sim preocupadas. Não teve tempo para se perder nesses detalhes porque instintivamente, levou o seu braço livre para os cabelos de Junior e retribuiu o abraço carinhosamente, apoiando o queixo nos cabelos negros do mais novo e fechando os olhos por uns instantes.

Ainda se sentia agitado pelo inicio de um ataque de pânico, mas estava ao mesmo tempo aliviado e confuso por ter voltado a si tão facilmente.

– Awww! - Exclamaram Yuri e Youngjae com sorrisinhos idiotas no rosto.

Mark deixou que um canto dos seus lábios se formassem num sorriso curto mas sincero. Não quis abrir os olhos porque assim podia sentir melhor o abraço calmante de Junior. Talvez todos pensassem que era Mark que acalmava o moreno que chorava, mas a verdade é que Mark sentia-se calmo naquele momento.

– Acho que estou a transformar-me numa vela… - Murmurou Jackson baixinho mas fazendo todos rir menos Junior, que mantinha o rosto escondido. No inicio tinha achado fofo mas agora estava a ficar desconfortável por ficar a observar um momento tão intimo dos dois amigos.

– Vamos comer! Devem estar todos cheios de fome, não? - Exclama Yuri sorridente. Agarra num braço de Bambam e num braço de Yugyeom e puxa-os para a cozinha sabendo que ia ser seguida pelos outros.

Não demorou muito para Jackson ir atrás deles, assim como Jaebum e Youngjae. Apesar de JB ter que puxar o namorado por um braço, que parecia bloqueado a ver o abraço de Jinyoung e Mark com um enorme sorriso nos lábios.

– Jinyoung. - Chama Mark quando percebe que estão sozinhos.

– Desculpa! - Exclama Junior, apertando mais o abraço. - Eu não queria que fosses embora… eu só…

– Eu não devia ter-te beijado. - Interrompe Mark. Levanta o rosto dos cabelos de Jinyoung mas o mais novo não desfaz o abraço e continua a esconder o rosto, impossibilitando que Mark se afastasse mais.

Junior fica em silêncio por um tempo, tentando organizar as ideias. Já não chorava mas não se queria afastar já. Não sabia quando teria a oportunidade de estar abraçado ao seu ídolo novamente.

– …Eu… não devia ter fugido…

– Não te preocupes. - Mark sorri fracamente e despenteia os cabelos de Junior. - Foi apenas uma coisa do momento. Não te quis assustar… - Mark quis continuar a falar mas a sua voz rouca tinha desaparecido. O cantor faz uma careta enquanto tenta completar a frase mas Junior não se apercebe disso. Tentou vezes e vezes sem conta forçar a voz mas nada saia. Apenas uma forte dor de garganta e um aperto nos pulmões. Sentiu lágrimas virem aos olhos com a dor que sentia por forçar a voz, mas mesmo assim insistia em tentar falar. Ele queria mesmo dizer uma coisa importante.

O guitarrista afasta-se do abraço de Mark mas mantém o rosto baixo, fazendo com que a sua franja tapasse os olhos.

Ouvir que Mark achou aquele beijo uma coisa insignificante e “coisa do momento” magoou-lhe mais do que podia imaginar. Logo agora que tinha aceitado que gostava mesmo de Mark e que estava disposto a tentar algo com ele… Pensava que ambos sentissem o mesmo mas pelos vistos enganou-se. Sentiu-se bastante idiota por isso. Era óbvio que um cantor famoso e lindo como o Mark não se ia interessar por um chorão e “fã fanático” como ele.

– Claro. - Disse Junior com uma voz fraca mas decisiva. - Foi apenas coisa do momento. Apenas… fiquei preocupado porque pensei que fosse minha culpa aquele escândalo com o Bambam. Mas ainda bem que não foi importante o suficiente para fazer tantos estragos, não é? - Riu sem graça. Ainda mantinha os olhos no chão por isso não via os gestos assustados de Mark, a tentar explicar que não conseguia falar.

Mark não estava a perceber o rumo da conversa de Jinyoung mas estava com um mau pressentimento sobre aquilo. Queria agarra-lo e força-lo a olhar para si, para entender de uma vez que ele não conseguia falar. Mas algo na postura de Junior o assustava. Ele parecia zangado e Mark tinha a sensação que seria agredido caso tentasse sequer tocar-lhe. Talvez fosse mais dos seus delírios, mas Junior parecia realmente assustador.

Enquanto Mark estava perdido nos seus dilemas, Junior apenas se convencia mais que o cantor não queria saber dos seus sentimentos. Ele não se manifestava de maneira nenhuma e aquele silêncio já se estava a tornar sufocante. Junior estava realmente irritado. Quer dizer que esteve aqueles dias todos preocupado e triste por uma pessoa que nem quer saber dele? Tinha vontade de o sufocar nesse momento. Sentia-se usado.

– Lembrei-me agora que preciso de voltar para casa. - Diz Junior passando por Mark até à porta, sempre com o olhar fixo no chão. Mark ganhou coragem e agarrou-lhe o pulso para tentar chama-lo mas recebeu um forte empurrão como resposta.

“Afinal, ele sempre queria agredir-me… mas… porquê…? Sou assim tão detestável para todos me odiarem…?” Pensava Mark assustado assim que Junior saiu fortemente e fechou a porta com brusquidão. “Nem consegui dizer o que queria… Eu não te quis assustar, mas eu gosto realmente de ti.”

Mark não teve tempo de se perder em pensamentos depressivos pois Jackson apareceu logo ao seu lado. Provavelmente tinha ouvido o som forte da porta a bater e veio ver o que aconteceu.

– O Junior? - Perguntou Jackson com uma expressão preocupada olhando à volta. Conseguiu ver Coco a tentar apanhar alguma coisa debaixo do sofá. Se ela estava ali é porque Junior não tinha ido embora. Não é?

Mark seguiu o olhar de Jackson para a cadela e sorriu com nostalgia. “Sempre que ele me deixa, esquecesse da Coco…” Aproximou-se da cachorrinha e apanhou-a, abraçando-a carinhosamente. Tinha tido saudades daquela bola de pelo adorável.

– Mark? - Insistiu Jackson. Ainda parado no mesmo sitio.

O cantor fez gestos para a garganta enquanto tentava falar, mostrando assim que não tinha voz. Felizmente, Jackson percebeu rápido e chamou-o para a cozinha, para Mark poder beber algum chá para aliviar a dor de garganta. O cantor pousou a cadela no chão que correu de novo para junto do sofá onde anteriormente estava.

Ao chegarem à cozinha, Jackson explicou que Mark estava afônico e que Junior tinha desaparecido. JB foi o primeiro a tirar o telemóvel do bolso e pedir licença enquanto saía da mesa e ia tentar ligar para o amigo noutra divisão da casa. Yuri ofereceu-se para fazer o chá para o cantor e obrigou-o a sentar-se a comer alguma coisa enquanto o chá não estava pronto. Jackson foi até ao seu quarto buscar um caderno e uma caneta para Mark poder comunicar-se enquanto Bambam enchia o rapaz de perguntas com respostas de “sim” ou “não”. Tentava perceber o que tinha acontecido mas não estava a ter muito sucesso na sua missão.

Quando Jackson voltou com o caderno, Mark escreveu quase três páginas a contar tudo o que tinha acontecido. Desde o momento em que se foi embora até à sua estranha conversa com Jinyoung.

Todos ficaram preocupados ao saber das ameaças e da tentativa de homicídio. Mark não contou sobre os seus ataques de pânico, não achou importante no momento, afinal eram só coisas da sua cabeça.

Jaebum voltou logo para a cozinha com Coco ao colo e um pedaço rasgado e amassado de papel na mão. Estava chateado por Junior ter desligado as suas chamadas e ignorado todas as mensagens. Não entendia qual poderia ter sido o problema para ele ter fugido daquela maneira. Aquele rapaz era mesmo de extremos… Via problemas onde eles não existiam.

Sentou-se no seu lugar na mesa ao lado de Youngjae e ficou atento ao caderno que Mark tinha escrito. Todos estavam agitados por isso guardou o papel que Coco tinha achado no bolso. Seria melhor entrega-lo mais tarde.

Yugyeom estava bastante atento e fazia imensas perguntas a Mark sobre o ataque. Apesar de ele não admitir, Yuri conseguiu perceber que Yugyeom estava desconfiado de alguma coisa. Ela ainda estava em pé, de costas para a bancada, há espera que o chá fervesse mas via perfeitamente na maneira em que o noivo ficava tenso e sério. Os seus olhos pequenos brilhavam entusiasmados e Yuri sorria com isso. Adorava ver o noivo feliz, mesmo que fosse com mistérios estranhos ou crimes.

Assim como Yugyeom, Bambam também fazia muitas perguntas preocupado. Não conseguia imaginar a sua vida sem o primo. Estava sentado ao seu lado e até se tinha esquecido de comer se não fosse Jackson a dar-lhe comida à boca regularmente.

No inicio, tinha-se assustado quando a meio de uma pergunta vê os hashis com comida pararem em frente à sua boca. Tinha tentado recusar mas Jackson deixou claro que não ia desistir até ele comer. Bambam, muito envergonhado por todos estarem a vê-los, acabou por comer e recebeu um rápido beijo estalado na bochecha seguido por um sorriso encantador do namorado. O loiro estava bastante corado e por momentos até se esqueceu de mastigar a comida enquanto se perdia naquele maravilhoso sorriso.

– Precisam de um quarto? - Alfinetou Yugyeom sorridente.

Bambam voltou a mastigar e desviou o olhar, voltando a encarar Mark e continuou a fazer perguntas. Os hashis com comida continuaram a aparecer à sua frente e Bambam começou a come-los quase que automaticamente, sem desviar a atenção de Mark, não se importando minimamente com o que Jackson fazia. Isso “aparentemente”. Porque debaixo da mesa, longe dos olhares curiosos, brincava com a mão do namorado e apertava-a em forma de agradecimento, sempre que este o alimentava.

Jackson acabou rapidamente a sua comida para poder passar o resto da refeição abraçado a Bambam, com a cabeça apoiada no ombro do mais novo. O loiro continuava a brincar com as mãos do chinês, fazendo desenhos imaginários ou contornando os seus dedos, mas quando Mark revelava algo mais sério sobre as ameaças que recebia, Bambam paralisava e era nesses momentos que Jackson “atacava” as mãos dos mais novo, retribuindo as brincadeiras para o animar.

Ninguém notou as brincadeiras estranhas do casal mas Bambam sentia-se realmente afortunado por ter alguém como Jackson que o conseguia entender e animar sem fazer grande esforço.

Assim que Mark acabou a sua refeição e o seu chá, escreveu algo apressado no caderno. Pousou o caderno sobre a mesa e levantou-se, deixando a frase virada para cima, para que todos pudessem ler.

“Estou muito cansado. Preciso de dormir.
Ps: Quando eu acordar vamos ter uma conversa séria Kunpimook.”

– Podes usar o nosso quarto. - Oferece Yuri. - Eu e o Yugy temos que ir provar bolos de casamento e devemos demorar. Vamos passar a noite em casa de uns amigos nossos já que ainda é longe.

Mark agradece com um manear de cabeça e abandona rapidamente o local. Já sentia os pés a arrastar pelo chão, estava bastante cansado e só agora é que reparava nisso. Há dias que não tinha uma noite de sono decente.

Assim que ouviram a porta do quarto de hóspedes se fechar, os quatro rapazes olharam para o caderno com o mesmo pensamento.

– Vamos ter com o Junior. - Jaebum verbalizou o pensamento de todos, fazendo sorrisos perversos surgirem nos rostos dos amigos.

Levantaram-se da mesa quase que em saltos e avançaram para a porta de saída. Jackson ainda tentou convencer Bambam a ficar em casa porque ainda coxeava um pouco mas o tailandês insistiu em ir. Afinal o pé só estava ligeiramente magoado, não era assim tão grave.

Não demoraram tempo nenhum para acharem Junior. Estava no sitio do costume a fazer o que sempre faz, escrever letras de músicas. JB revirou os olhos enquanto se aproximava a passos acelerados da berma do lago onde Junior estava sentado.

Jaebum apertou o caderno onde Mark tinha escrito a sua história fortemente na mão. Iria esfregar aquela história na cara do amigo para ver se o fazia acordar de vez. Aquelas birras já o estavam a irritar profundamente. Assim que se aproximava o suficiente, puxa o caderno atrás e acerta com força na cabeça do amigo, que ainda não tinha dado pela sua presença.

– Idiota! - Reclamou Jaebum.

Jinyoung tinha-se assustado com o ataque repentino. Sentiu a cabeça doer mas nada realmente grave. Apenas incomodava.

– Para que foi isso?! - Gritou enquanto se levantava meio zonzo.

Os restantes três aproximaram-se da dupla e Youngjae segurou o braço de Junior que estava meio zonzo por se ter levantado rápido de mais após ser agredido na cabeça.

– Porque tu és um idiota! Que ideia foi a tua de teres saído assim?! - Reclama JB voltando a acertar-lhe com o caderno, desta vez no peito.

O rapaz encolheu-se ligeiramente com a agressão do líder da banda. Não estava a perceber o motivo de tanta hostilidade.

– O que querias que eu fizesse!? Eu estava finalmente a aceitar esta coisa de gostar dele e ele diz que não me queria ter beijado e que foi “uma coisa do momento” e… - Antes que acabasse a frase, é interrompido pelo caderno que lhe acerta no braço. Bambam tinha tirado o caderno das mãos de JB violentamente e acertado no rapaz deixando todos surpreendidos.

Todos sabiam que Bambam e Junior tinham construído uma estranha amizade enquanto o loiro ficou em casa de Junior, mas ninguém esperava que tivessem aquelas confianças.

– AISH! O que foi agora?! - Reclamou Junior esfregando o braço que provavelmente ia ficar vermelho. Podia não parecer mas Bambam era bem bruto quando queria.

– Tu és realmente muito estúpido. - Diz Bambam sério.

– Pensando bem, acho que já não gosto de ti. - Resmunga Junior, cruzando os braços amuado. - Vocês uniram-se todos para me agredirem e chamarem nomes, foi? Afoguem-me logo no lago se vos incomodo assim tanto!

– Já acabas-te? - Continua Bambam, sem se abalar com a fala do amigo. Ao contrário dos outros três que se sentiam mal por Junior.

– Vais-me bater outra vez? - Responde com mágoa na voz.

– Tu ias bater-te a ti próprio quando percebesses a estupidez que fizeste. - Junior tentou falar mas Bambam foi mais rápido. - O Mark estava a falar contigo quando ficou sem voz! Ele queria dizer-te que se importa contigo e tudo mais mas não conseguiu e tu nem sequer olhavas para ele para perceber que ele não conseguia falar. Ele tentou chamar-te e tu empurras-o. - Novamente Junior tenta pronunciar-se mas Bambam estava a falar rápido de mais, deixando até que um pouco do seu sotaque tailandês aparecesse. - Após a noite do beijo em que tu fugiste ele ficou desolado e chorou a noite inteira por causa das coisas horríveis que tu lhe disseste! Mas ele não quer saber disso, sabes porquê? Porque viu os teus comentários na internet a defende-lo. Tu devias ter visto o sorriso na cara dele enquanto estavam abraçados. O Mark começava a achar que também estavas interessado nele até ao momento em que fugiste. - Junior estava em choque ao ouvir aquilo tudo. Tinha pensado mesmo que Mark não queria saber dele. - Enquanto almoçávamos ele não sorriu uma única vez. Ele precisa de ti Jinyoung! E eu sei bem que tu também queres estar com ele, deixa de ser idiota!

Após o longo monólogo de Bambam, Jinyoung estava sem palavras. Não sabia o que pensar nem o que fazer. Estava bloqueado. Será que se voltasse agora o Mark iria perdoa-lo?

Bambam entregou-lhe o caderno com a história de Mark e ficou a ver o amigo ler tudo com atenção e algum pânico, conforme se inteirava da situação.

– Sabes… - Chama JB, aproximando-se de Bambam. - A falares assim tão rápido, davas um óptimo rapper.

Bambam olhou-o confuso mas Jaebum estava bastante sério. Jackson e Youngjae também tinham um olhar confuso sobre JB. Depois de um momento tão tenso e serio com Junior, era estranho ele ter mudado de conversa tão repentinamente. Bambam tinha um olhar assustado, Youngjae as sobrancelhas franzidas e Jackson uma sobrancelha arqueada de maneira inquiridora.

– Não gostavas de experimentar ensaiar com a nossa banda ou assim? De certeza que o Junior tem umas letras maravilhosas que dariam raps excelentes!

– Vou pensar nisso… - Responde um pouco desconfortável. Nunca tinha tentado nada do género por isso não estava seguro se era bom rapper ou não.

– Ele ainda está em tua casa? - Pergunta Junior olhando fixamente para Jackson assim que acaba de ler.

O chinês fica sério e concorda com a cabeça enquanto vê Junior correr com o caderno na mão.

Continua...