Insurgent's Attack - Interativa escrita por MaryDuda2000


Capítulo 13
Invisível


Notas iniciais do capítulo

Mais um sábado e mais um capítulo para vocês e esse está maiorzinho!



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 Raven havia se sentado no chão, em posição reta, focando em algo a sua frente e não sabia deduzir exatamente o que fosse.

— Está me dizendo que você e a Hiendi eram irmãs do Josh? – a loira indagou, ainda incrédula com a possibilidade.

— Sim. Éramos três. Josh, o mais velho e favorito da minha mãe, Patrícia, a queridinha dos nossos pais, e Paula, eu, a garota que nasceu toda defeituosa. Josh foi para a Audácia assim que teve a oportunidade. Não aguentava mais ficar com Jeffrey espetando ele sempre que imaginasse a cura para algo.

— E Patrícia no caso seria a Hiendi, que mudou o nome assim que chegou a facção? – a outra assentiu. – Se as duas são gêmeas e se Jeffrey por acaso te torturava tanto, por que não foi embora? Afinal, a Cerimônia de Escolha foi no mesmo dia, certo?

— Você não está entendendo! – Paula curvou-se, apoiando os cotovelos nos joelhos. – Tudo que Jeff... Meu pai fez foi usar a maior parte da via Josh de cobaia, porque muitos dos seus experimentos eram deixados em segundo plano por Jeanine, a líder da Erudição, e Hayley, seu braço direito.

— Isso é uma maluquice tremenda... – Raven não retrucou ou discordou, somente comentou, absorvendo a ideia.

Josh poderia estar morto, mas seu pai ainda estava vivo e era um completo lunático. Para o brinde, veio o possível parentesco genético que ela poderia ter com Hiendi e uma gêmea toda esquisita. Nos tempos do acampamento, Raven não trocou muitas palavras com a garota, nunca achou realmente necessário. Entretanto, aquilo poderia realmente explicar o porque Josh a havia encontrado tão longe.

Hiendi era uma delatora de primeira categoria.

— Eu sei, seu sei... Parece uma grande bola de neve, mas... – respirou fundo e prosseguiu. – Minha mãe vivia dizendo que eu precisava continuar o acompanhamento e que meu pai precisa de eu ao lado dele para conseguir me curar, porque se eu fosse para qualquer outra facção, eu correria risco de ser rejeitada pelo meu problema.

— Mas que problema é esse? – Raven não resistiu me perguntar.

Apesar de não se preocupar exatamente com Paula, temia por Alyssa, afinal, elas possuíam alguma ligação familiar e se fosse possível passar esse tal “problema” para sua pequenina, gostaria de estar ciente para fazer de tudo e mais um pouco mais evitar.

— Eu realmente não sei. Passei boa parte da vida tomando remédios e... Fazendo exames. Não sei se a Jeanine iria aprovar coisas desse tipo, mas não é porque ela de fato é a chefe da facção que sabe de tudo. Se soubesse, teria controlado desde o início os próprios divergentes que a cercavam...

— Então realmente tem divergentes em torno de Jeanine? E ela realmente prefere matar todos nós ao invés de nos aceitar?

— Sabe, pode parecer uma loucura, mas no fundo, eu entendo o que ela quer. Sei que ela é uma líder e deveria dar um bom exemplo, mas também não deve ser nada fácil lidar com todas as necessidades das pessoas. – endireitou-se na poltrona. – Tudo que é desenvolvido para facilitar o nosso estilo de vida aqui dentro da cerca é planejado pela Erudição. Ela quem autoriza e prioriza. É um mal necessário.

— Espera um instante! – Raven se levantou de imediato.

Ela entendia muito bem o que era liderar uma equipe. No treinamento da bandeira, em sua iniciação, Raven acabou sendo nomeada para guiar o grupo em todo percurso junto com Josh. Foi então que se conheceram, criando táticas de batalha.

A pressão era muito menor, tudo bem, mas isso não justificaria nada se ela mandasse todos se jogarem no fosso ou matar aqueles a quem a Audácia deveria proteger. E foi isso que Jeanine fez!

— Você realmente está tentando me convencer que Jeanine só quer o melhor para todos nós, isso quando o futuro da minha filha está em jogo?

— Filha? – Paula se levantou também, em sobressalto, visivelmente surpresa.

Duas batidas na porta anunciaram a chegada de Peter. Raven não se moveu. Deixou que a morena fosse até a porta e a destrancasse, liberando a passagem para o outro.

— Então, meninas, conseguiram bater um papo bom enquanto eu estava fora?

O rapaz entrou, colocando uma mochila sobre a mesa. De dentro dela, pegou duas garrafinhas de água, jogando uma para cada garota. Em seguida, um sanduíche natural e um pacote de biscoito.

— Vocês escolhem! – colocou sobre a mesa.

— Certo. – Raven se aproximou, pegando o pequeno pacote de biscoitos e caminhando até a poltrona, que ficava pouco mais afastada dos outros, sentando-se e abrindo.

O pacote trazia seis peças de biscoito água e sal redondinhos. Não era nada que findasse a fome que realmente sentia, porém não tinha que pensar muito naquilo. Os biscoitos estavam lacrados, ao contrário dos dois sanduíches, um que Peter reservara para ele, e outro que colocou para a escolha. Pão com alguma pasta branca e o que parecia algum tipo de carne em seu interior. Não lhe parecia tão apetitoso assim, apesar de Paula parecer imensamente satisfeita enquanto devorava seu lanche.  

— Eu... Agradeço a ajuda de vocês dois, mas... – antes que Raven terminasse, Peter lhe lançou uma sacola plástica, que pousou com som ao impacto com o chão.

Pegou embrulho mole e tirou o que era um vestido de faia vertical tanto na parte da frente quanto na parte de trás, dividindo os lados em ambas às cores da facção do complexo.

— Ah, obrigada! – retrucou, levantando-se e notou o rapaz sorrindo de volta. Aquilo era quase gentil demais.

No banheiro, fez questão de tirar as peças que estavam molhadas e cheiravam fortemente a suor e talvez qualquer outra coisa que fora derrubada nelas antes que a vestisse. De recordação dos devaneios que tivera naquela mesa fria em companhia de Jeffrey, queria era ficar longe.

*******

Mia já conseguia caminhar pouco melhor sozinha, mesmo que ainda não estivesse completamente sã para caminhar em linha reta. Violet, em seu instinto natural de companheirismo, ficara ao lado da garota a todo instante, quase num abraço, o que com o passar do tempo acabou se tornando um tanto irritante.

— Não se preocupe com Luke. Nós vamos encontrá-lo logo. – disse Violet pela décima vez em menos de meia hora.

— Uhum... – era tudo que Mia retrucava.

O rosto da garota já não estava mais tão inchado, entretanto, seu ombro, por outro lado, parecia ter inflado como uma boia de piscina, de maneira que ela não conseguia sequer mexe-lo sem sentir uma dor agonizante.

Emily, que estava acostumada a trabalhar com os infinitos tipos de torções e deslocamentos de ossos em meio aos campos da Amizade, o que de fato não era algo muito raro já que era muita gente trabalhando de várias maneiras, fosse pegando água ou arando a terra para um novo plantio, tratou de prender uma das faixas que trazia na cintura ao braço de Mia, mantendo-o o mais imóvel possível.

— Precisamos só achar mais algum lugar para passar a noite... – continuou Violet.

Ela sabia muito bem o que era estar sozinha e afastada de quem amava. Quando aconteceu o ataque a Abnegação, estava perto do Complexo. Um dos companheiros de sua mãe a levou correndo para o primeiro trem e saíram o mais rápido possível ali de perto, porém tiveram que se afastar quando estavam chegando a cerca.

Depois daquele instante, foram perdas demais. Nada como Luke que pudesse ainda ser resgatado. Suas perdas eram reais e permanentes. Primeiro foi Isabela, a quem julgou ser uma grande amiga. Depois o pequeno Lucian. Nem mesmo tinha conseguido ninar o bebê quando ele se afogou. Em seguida, Lena.

Violet sabia qual era o verdadeiro significado de estar afastado de alguém. Agora sentia enorme falta de estar em companhia de Sarah, que até então sabia estar viva, pelo menos, era o que torcia de todo coração. Ainda tinha Raven, Dean e Alyssa. Eles foram se tornando sua família.

Não era muito diferente com Mia e Luke. Gostava, apesar do perigo, de quando estavam cercados de árvores e não de casas e prédios, caminhando de rua em rua sem saber exatamente em que complexo estavam porque, fora da “cerca”, mesmo que falsa, estar perdido não fazia tanta diferença, até porque, foi lá que conseguiu ter seu contato direto a Tobias, seu verdadeiro irmão.

— Violet, como você sabia daquela saída no armário da despensa da Audácia? – Emily quebrou o silêncio.

O Complexo da Audácia ficava em lado oposto da cidade em relação ao da Abnegação, porém andaram tão sem rumo nas últimas horas que, mesmo sem pegar trem algum, chegaram antes do que esperavam até ali, ainda que não fosse o destino que tinham em mente.

— Tori! – respondeu sem mais delongas.

— Tori? – Mia virou rapidamente a cabeça em direção a garota, focando nela com seu olho que permanecia bom ainda. – A mulher de olhos meio puxados que fazia tatuagens?

— Sim!

— Mas como você a conhecia? – indagou Mia, arqueando um pouco a sobrancelha boa.

— Meu irmão era da Audácia, esqueceu? E Tori o ajudava assim como minha mãe a tinha ajudado uma vez. Mesmo a Audácia tendo enormes guardas e serem cheios de armas, eles nunca ligam para onde o lixo vai.

— Espera! A gente rolou pelo lixo? – Emily comentou, estregando os punhos do vestido nas mãos, numa tentativa frustrada de limpar-se.

— Por que você acha que foi tão macia a aterrissagem? – Mia sorriu meio torto, afastou-se de Violet e quebrou a maçaneta da porta dos fundos de uma casa.

— Parece que ainda está bem para a brutalidade... Mas deveria ainda assim ter cuidado com o braço. Já basta um machucado. – Emily alertou, esperando a duas entrarem para segui-las e fechar as portas.

Não foi tão difícil achar um kit de primeiros socorros em meio a casa da Abnegação, já que não desfrutava de tantos móveis. Assim que Emily abriu a pequena caixinha, viu a simplicidade que ali trazia: um pequeno frasco com comprimidos para dores de cabeça, duas agulhas e um rolo de linhas, tendo ainda uma pomada para ferimentos leves.

— Precisamos colocar primeiro o seu braço de volto no lugar. Depois nós... – a garota se virou, mas não avistou nenhum resquício dos cabelos azuis rebeldes de Mia.

— Fala sério! Eles realmente são muito caretas. – pôde escutar a voz da garota vinda do andar superior. – Não tem um espelho sequer nessa casa?

— A Abnegação tem como ideia ser altruísta. Eles dispensam qualquer tipo de vaidade ou amor próprio para se dedicarem aos... – Violet a seguida de cômodo a cômodo.

— Eu já conheço esse discurso. Falando nisso, será que dá para parar de me seguir de um lado para o outro? Já não basta ter enchido meu saco o dia todo com as suas reclamações? – repudiou Mia, sem conter as palavras.

— Eu estava tentando te ajudar. Eu sei o quanto está se sentindo ferida por ter perdido Luke e eu... – Mia novamente a interrompeu.

— Eu estou mesmo bem ferida. Não sei se você está percebendo, mas o meu rosto está todo inchado. A minha boca está cheia de cortes e meu braço está ferrado, sem contar as outras partes do meu corpo que estão doloridas. O que eu mais quero agora é tomar um remédio, testar se aqui nessa porcaria tem água pelo menos para o banho e ter uma boa noite de sono.

— Não pode fazer isso! Você está muito machucada. Primeiro tem que limpar as feridas e... – dessa vez, Violet se perdeu nas próprias palavras.

— Ela está certa! – advertiu Emily, enquanto subia a escada. – Se você fizer tudo de qualquer jeito, pode acabar infeccionando ou acontecendo coisa pior.

— Queridinha, sei que o seu talento é da Amizade, mas posso te dizer uma coisa? Não se mete!

— Ela só está tentando ajudar, assim como eu. – Violet quase gritou, fazendo com que o olhar de Mia se focalizasse sobre si, raivoso.

— Então para de tentar! Eu já tomei surras muito piores na Audácia. Eu sei me virar sozinha. Não me importa o que você ache que eu estou passando, nunca vai saber realmente o que é. Aliás, Luke não está aqui para te aturar nem a pirralha loirinha, então por que não me deixa em paz.

Mia entrou no primeiro quarto a esquerda, batendo fortemente a porta. Violet permaneceu ali, parada, sendo abraçada em seguida por Emily.

— Ela só está chateada. Não é verdade tudo isso. – tentou consolá-la.

— Eu sei... Mas isso não significa que doa menos. – a voz de Violet saiu afetada, evidenciando sua enorme luta em conter o choro.

*******

Para a arrumação, Lucy só permitiu a ajuda de duas pessoas: Caroline, que tinha passado seus últimos anos na Franqueza e saberia lhe alertar sobre as mudanças que tinham sido feitas, e Katherine, que apesar de não ser a pessoa com quem mais simpatizasse, era de fato uma ótima atriz e com dicas para vestimentas.

O tempo que passara desde o ataque a tinha afetado em cheio. Estava mais magra do que quando entrou na facção e as roupas de Caroline não se ajustavam muito bem ao seu corpo. Alguns toques de Katherine, tendo que frear de vez em quando suas ações para não lhe transformar num centro de vulgaridade, resultaram num look mais ou menos aceitável.

Os sapatos escarpa de veludo preto com as pontas arredondas brancas, assim como o salto baixo. Uma bermuda justa de tecido levemente brilhoso ia até o meio de sua panturrilha e uma camisa comprida de manga até pouco antes dos cotovelos, listrada de maneira horizontal em branco e preto, faziam Lucy parecer um tanto anoréxica.

— Pois é! Ficou melhor do que imaginei. – Katherine falou, observando-a e mandando dar uma voltinha.

— Amanhã vamos ter que sair daqui cedo. Vou te levar direto para a minha área de trabalho, depois você tenta procurar sua tia no refeitório, na hora do café da manhã.

— O problema agora é esse seu cabelo. – Katherine se aproximou, soltando o mesmo e balançando um pouco. – Ele é bonito, mas está bem mal cuidado.

— Até porque nessas últimas semanas eu tenho tido tempo de sobra para cuidar de mim, não é?! – ironizou Lucy, juntando o cabelo, enrolando e colocando sobre o ombro esquerdo.

— Nisso eu não posso te ajudar. – Caroline mordeu um tanto o lábio inferior. – Não faço a mínima ideia de como se mexe em cabelo liso.

— Eu até posso ajudar, mas... – Lucy interrompeu Katherine.

— Não precisa. Pode deixar que com meu cabelo, eu sei lidar.

— Como preferir! – a ruiva deu de ombros, saindo do quarto.

Uma batida simples anunciou a entrada de Sarah, trazendo uma escova nas mãos.

— Eu queria ajudar e... Bom, meu cabelo é liso. Sem contar que é horrível ter que pentear o cabelo sozinha, principalmente quando ele tem que ficar bem certinho para a Franqueza. É quase o mesmo perfeccionismo da Erudição.

Lucy sorriu de lado, fazendo sinal para que Sarah se aproximasse. Sentou na cadeira que havia ali, virando-se de frente para o espelho. Por mais que detestasse concordar com Katherine, ela realmente não se parecia com alguém da Franqueza.

Seu cabelo estava até mais claro, como se o sol com o passar dos dias tivesse queimado e modificado sua cor. O preto estava menos vivo, mesmo que continuasse a se destacar em contraste aos olhos claros.

Sarah soube manejar seu cabelo com todo cuidado do mundo. Em alguns instantes, Lucy teve que lutar terrivelmente com o sono, pois sentir a escova passando calmamente era extremamente relaxante.

Um estalar de dedos a fez despertar. Seu cabelo estava perfeitamente alinhado a um coque alto e grande. Nunca sequer tinha imaginado ter cabelo tão cumprido para aquilo. Nas laterais do rosto, pendiam dois cachos feitos a escova.

— Até que a loirinha tem jeito para a coisa. – Caroline se aproximou, ficando lado a lado de Lucy, que deu somente um sorriso de lado ouvir falar sobre Sarah.

A garota estava perfeitamente arrumada. Para completar, Lucy colocou óculos de armação grande e lentes de grau tão leve que nem mesmo era notável a variação.

— Pena que quando eu dormir vai bagunçar tudo. – lamentou, virando-se para puxar Sarah para seu colo, fazendo cócega na mesma.

— Sem problemas. Eu refaço pela manhã. – retrucou a garota em meio a gargalhadas. – Sei que ninguém vai deixar de reparar em você. Até que essa roupa combina contigo!

Sarah se afastou, ficando atrás da colega, vendo seus reflexos.

— Mas é o que eu preciso. Estar bem parecida com eles para passar quase despercebida.

— Detesto isso! Faço uma verdadeira obra de arte e as pessoas vão fingir que não notam? – Sarah se fingiu indignada. – Detesto esse modo invisível!

*******

Nicolai já havia saído de casa fazia algum tempo para acompanhar Caroline e Lucy até a casa garota da Franqueza, aparentemente para fazer parecer tudo mais comum. Tanner, Miguel, Dean e Josie conversavam sobre alguma maneira de saírem do Complexo de modo que não fossem pegos, o que quero algo bastante difícil.

Josie não dizia basicamente nada, somente assentia em confirmação ou negação quando lhes convinha alguma ideia ilógica. Dean também fazia sua parte, aproveitando que Alyssa estava dormindo, deixou-a com Sarah.

Alice, por sua vez, visualizava a movimentação diminuindo cada vez mais. Já tinha prendido os cachos loiros no topo da cabeça num rabo de cavalo alto. Tirou da mochila um vestido comprido da mochila, aproveitando que no quarto só havia a irmã e a bebê.

— O que está fazendo? – Sarah a encarou, vendo ela terminar de colocar a roupa.

— Vou sair para encontrar um amigo. – Alice virou-se para a irmã e sorriu de lado. – O que acha? Ainda fico bem de preto?

— É perigoso demais! Já basta Lucy que vai se meter no meio daquele pessoal todo da Franqueza, você não pode simplesmente sair por aí sem saber onde vai. – repreendeu a mais nova.

Os últimos dias, talvez até mesmo o tempo no qual ficaram afastadas, fez com que ela crescesse e Alice se orgulhava do que a menina estava se tornando, mesmo que temesse por esse amadurecimento tão rápido e forçado.

— Eu sei disso, mas eu garanto que não vai acontecer nada.

— Quem é esse amigo? – Sarah se aproximou, arqueando a sobrancelha e pegando uma fita branca de dentro da cômoda, colocando em torno da cintura da irmã e fechando um laço.

— Ninguém que você conheça.

— Eu vivi com você a vida toda. – a caçula voltou a encará-la, notando que estava já quase da mesma altura e conteve o riso. – Maior parte dela! Sei que não faz amigos tão fácil assim.

— Eu sei, mas não vem ao caso agora. Você tem Violet e está com saudades dela. Bom, talvez esse meu amigo possa nos ajudar a encontrá-la.

— Por acaso Scott faz ideia do que está querendo fazer? – interveio novamente.

Sarah era três anos e alguns meses mais jovem que a irmã, contudo, em certas horas, sentia-se como a mais responsável. Sabia que estavam a procura dos fugitivos, principalmente daqueles que fossem divergentes, como sua irmã. Ela nunca tinha feito teste de aptidão, não tinha idade para isso, mas também nunca se imaginou tendo algum divergente na família.

— Sei o que? – o rapaz adentrou com uma abordagem clássica de surpresa, desviando o olhar de Sarah para Alice, visualizando esta de cima a baixo. – Nossa! Está bem bonita!

— Obrigada! – Alice fez de tudo para não corar, em vão.

— Vai sair por acaso? – fechou a porta do quarto atrás de si novamente. – Por que estão cochichando tanto?

— Scott, me ajuda a colocar um pingo de juízo na cabeça dela, por favor. Ela quer meter a cara a tapa e sair daqui.

— Sarah! – a voz de Alice se alterou ligeiramente, estava mais grossa, alta e um tanto enfurecida. – Ficar aqui parada não vai trazer ninguém de volta, muito menos nos ajudar. Alguma hora vamos ter que sair daqui.

— Mas não precisa ser agora.

— Ela está certa! – Scott interveio, colocando as mãos nos bolsos e deslizando a mão pela cabeça.

Ainda não havia se acostumado com a cabeça raspada, muito menos com a ausência dos óculos, mesmo que já não precisasse mais deles.

— Eu realmente achei que você fosse capaz de ajudar a cuidar da minha irmã maluca! – Sarah o olhou de maneira quase infantil, fazendo uma careta da qual o rapaz não conteve o riso. – Eu estou falando sério!

Alyssa começou a soltar algum gemido, rolando pela cama. Indício de um possível choro. A loira pegou a bebê no colo, sem querer interromper a reunião dos maiores no andar de baixo.

— Eu realmente entendo o que estamos passando e ao mesmo tempo não entendo nada. Só não quero que ela saía e corra risco de ser pega por... Alice...

O cabelo loiro em coque e o vestido preto com laço já não estavam mais marcando presença assim como a pessoa que os usava. Scott e Sarah se encararam por alguns segundos.

— Acho que devo ir atrás dela, não é mesmo?! – arqueou um tanto a sobrancelha e a loira assentiu, apática. – Sabe por acaso aonde ela queria ir?

Falar com um amigo. – ironizou. – Se não mostra a cara e nem vem até aqui sem armas nem nada, não é amigo. – murmurou a última parte, dando as costas.

No segundo seguinte, Scott já não estava mais lá e Alyssa tinha voltado a dormir, porém Sarah simplesmente não conseguia se afastar. Parecia que seu mundo estava fechando cada vez mais, querendo sufoca-la. Sentia falta de Violet e não fazia a mínima ideia de onde a garota podia estar. Para completar, sua irmã tinha resolvido fazer um passeio sem destino.

Pela fresta da janela, conseguiu ver Scott usando o que parecia um sobretudo preto e grande demais para ele, provavelmente tinha pego a peça no armário de Nicolai. Colocou Alyssa sobre a cada e um cadeira ao lado, para se certificar que não cairia.

Saiu do quarto com calma, vendo de alguns corpos se mexendo de lado a outro. Estava para tocar a maçaneta da porta do banheiro quando viu Alek, deu instintivamente um passo para trás.

Não tinha visto a garota desde que ela saíra dois dias antes para ir a algum lugar sem destino. Seu rosto estava ligeiramente abatido, os lábios rachados, o cabelo castanho escuro precisando urgentemente ser penteado e lado esquerdo pouco maior que o direito. Seu primeiro palpite seria um belo soco que resultou no inchaço.

— Às vezes esqueço que você está do nosso lado.

— Eu nunca disse que estava do seu lado. – a morena molhou os lábios e saiu do caminho. – Onde a pirralha pensa que vai?

—Não sei se percebeu, mas estamos na porta do banheiro. – retrucou Sarah nem tanto convencida da própria resposta.

— Tudo bem. Se quiser dar um passeio que nem a sua irmãzinha, tem um cartigã bem interessante no armário.

— Por que está falando isso? – Sarah respirou fundo, encarando firmemente os olhos da garota, o que exigia que levantasse um tanto o rosto já que ela era assustadoramente mais alta. Nunca tinha percebido isso.

— Porque eu não ligo! – deu de ombros, desceu as escadas e logo o papo que estava ali cessou.

Aquela casa estava pequena demais para todo mundo. Sabia que nunca deveria deixar uma criança sozinha no quarto ou a irmã sair por impulso, mas... Simplesmente vestiu a peça, entrou no banheiro, encolhendo-se pela pequena janela e caindo num salto, agachada.

Estava escurecendo e podia ver a lua se revelar, mesmo que o céu ainda fosse cortado por alguns riscos alaranjados. A questão agora era: para onde iria?


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Notas finais do capítulo

Quem deu um lida no capítulo anterior, mas não deixou sua opinião, saiba que eu adoraria responder seu comentário nesse para saber o que estão achando da narrativa.
Tem algum personagem na história? Ele já estreou?
Se quiser tratar esse assunto, pode entrar em contato por mensagem privada ou aqui mesmo pela história!
Falando nisso, o que estão achando de toda essa história da Paula e do Peter terem se aproximado de Raven assim, do nada? Acreditam no que eles dizem? Não? Por que? Agora deixarei várias questões no ar porque amo ver teorias da conspiração.



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