Insurgent's Attack - Interativa escrita por MaryDuda2000


Capítulo 11
Desapegue


Notas iniciais do capítulo

Um excelente 2017 para todos meus queridos leitores. Sejam fantasmas, sejam presentes ou aqueles que chegaram depois.
Boa leitura!



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Seus olhos estavam extremamente pesados e sentia seu corpo pesar mais que o normal. As dores no rosto e o inchaço dos olhos impediam que conseguisse ver algo realmente. Ao fundo, conseguia escutar um som de água quebrando em rochas. Tocou as próprias palmas uma na outra antes de tentar mexer o pescoço e ser atingida por uma enorme dor no maxilar e nuca.

Aquele era o lugar dos covardes, pelo menos, para a Audácia, sempre seria. Não havia ninguém na passarela que ligava um lado a outro e conseguia ver a distância que estava entre as pedras, contudo a vertigem não lhe permitia se mover tanto.

Gritar seria quase a mesma coisa que suicídio. Iria chamar atenção demais e, se por ventura, vissem ela ali, não moveriam um músculo sequer. Tinha saudades de quando a umidade do ar era somente proveniente de seus atos de coragem e rebeldia.

Vozes se aproximavam cada vez mais. Ao longe, conseguiu distinguir o que seria de Eric. Nunca se deram exatamente bem, nem antes e muito menos depois de sua formação e incorporação na facção. Talvez fosse o senso dele de Erudição ainda apitando, talvez ele fosse até amiguinho da mulher que levara Luke e os tivesse entregue...

Luke! Aquele estúpido tinha tentado fazer novamente tudo sozinho. Nunca o vira mais determinado. Não estava mais sorrindo com frequência ou fazendo brincadeira por tudo. Ele sequer se moveu para intervir quando Clarissa a atacou no carro.

Ainda assim, precisava descobrir o que estava acontecendo. Estavam juntos a tempo demais para deixa-lo na mão sem pensar duas vezes. Aquela mulher o tinha levado embora. Ele a chamou de mãe. A mesma mãe que o havia deixado de lado por anos juntamente a irmã, sempre entre brigas com o pai.

Por outro lado, o brutamontes que a bateu, não foi nomeado de pai. Mas como ela conseguiu simplesmente apagar aquilo de sua mente? Tinha acontecido coisa demais para que se apagasse com tanta facilidade. Eram dois anos e um pouco mais. Deveria ter importado algo.

— Ai meu Deus! – a voz de Violet se vez, rouca.

Mia sentiu uma enorme pontada quando os braços da garota agarraram seu pulso, amordaçado pela corda que ali a prendia.

— Fica quieta! Vai acabar chamando a atenção. – comentou Emily, soltando o nó calmamente, debruçou-se no chão rochoso, agarrando Mia por baixo dos braços e a puxando para cima.

Assim que atingiu o chão, acabou gemendo de dor.

— Não... – foi tudo que conseguiu dizer.

— Vamos sair logo daqui. Depois eu cuido do seu ombro ferido.

Violet que não era tão mais baixa que Mia, envolveu sua cintura, enquanto Emily fazia o mesmo do outro lado, tomando parte do peso da colega, que estava imensamente afetada e desnorteada, cambaleando a cada dois metros e quase indo ao chão e as levando junto.

— Como vamos sair daqui? Você era da Audácia. Tem alguma ideia?

— O plano é...

Fez-se silêncio. Alguns passos em retorno foram possíveis escutar. Violet e Emily se espremeram num corredor, entre uma pilastra e outra. Por sorte, a iluminação estava péssima e Eric passou, dobrando ao corredor oposto sem nem nota-las. Parecia muito mais interessado em outra coisa, mas que elas não podiam se dar ao luxo de descobrir.

— Onde está o loirinho? – Emily indagou, olhando a sua volta.

— Vamos embora! – grunhiu Mia, tossindo em seguida.

Um feixe rubro de luz se ressaltou ao que estava anterior mente seco em seu rosto. Violet se virou para ela e viu um simples e reconhecível brilho sendo eliminado do olho inchado e quase fechado.

— Ele iria querer que saíssemos daqui. – a ruiva saiu, caminhando rapidamente até o corredor, dobrando a esquerda.

— Nossa... – foi tudo que Emily conseguiu sussurrar ao encarar o lugar.

Luzes azuis ainda se faziam nas junções das paredes e teto assim como finas e compridas lâmpadas de LED em coloração azul. Cinco cadeiras se dispunham  lado a lado e, ao lado delas, canetas de tatuagens. Nas paredes, painéis luminosos faziam as diversas formas de desenhos espalhados.

Emily sentiu o peso de Mia maior. Violet caminhou até uma pequena porta, revelando um armário bem organizado com agulhas e materiais típicos de quem vivia na facção como variados tipos de piercing.

Uma espécie de música pictórica, alta e repleta de gritos e acordes instrumentais (rock) começou a tocar. A garota se sentiu levemente desconfortada, porém conseguiu escutar a voz baixa de Mia cantarolando.

— Vem logo! – Violet a repreendeu, puxando Mia para o pequeno alçapão.

— Onde isso vai dar? – perguntou a garota da Amizade.

— Deslize primeiro, pergunte depois.

Antes que pudesse falar algo a mais, Violet deslizou pela abertura. Emily encarou a abertura, mas estava escuro demais para que encontrasse algum vestígio dele. Respirou fundo, envolvendo a cintura de Mia com as próprias pernas, puxando a porta do armário e o fechando.

Não conseguiria trazer a caixa enormemente pesada novamente para cima do alçapão, nem mesmo viu como Violet conseguiu movê-la, mas a porta fechada as daria mais alguns minutos. Mia tratou de acabar com sua demora, soltando-se e se atirando, ainda levando Emily consigo, em desequilíbrio.

— Violet! – Emily comentou submersa em meio aos poucos feixes de luz que deslizavam pelas paredes do lugar.

A mão pequenina da garota a puxou para perto de uma das paredes. Uma portinhola se abriu, fazendo um clarão se evidenciar. Mia sorria, encarando pouco mais a frente, jogando seu corpo para o lado de fora.

*******

Os corredores pareciam os mesmos. As pessoas pareciam às mesmas apesar dos rostos que iam e vinham. O prédio permanecia em seu branco, detalhado enormemente com tons de azul variados, do claro ao marinho. Ao centro do roll, conseguia ver um enorme quadro de uma mulher loira, usando óculos, com expressão severa.

— Jeanine também sentiu sua falta, querido. – Hayley deu-lhe um beijo ao topo da cabeça, tendo que ficar em ponta de pé para realizar o ato.

— Onde está Candice? Quero ver minha irmã!

Luke não havia dito nada do trajeto entre o Complexo da Audácia até o da Erudição. Ficou somente observando as ruas, as pessoas indo e vindo, vendo suas roupas azuis fazerem quase uma festa. Encarou por alguns segundos a enorme curiosidade em que se encontrava.

Hayley se despediu, afastando-se de “Stan”, pelo menos era assim que sua mãe o havia chamado durante todo o caminho.

Primeira rua a direita do prédio Hancock, quarta casa, uma com pequeno jarro de samambaia ao lado da porta. A planta estava mortificada. As folhas estavam em tom marrom, quase cinza, queimadas pelo sol intensivo e a falta de água eminente.

Assim que Hayley abriu a porta, um cheiro de luvas de látex e cominho invadiu os pulmões do rapaz. Seu estômago reclamou desesperadamente por comida ou alguma bebida, porém Luke não quis dizer nada.

Andou em direção ao quarto, como reflexo involuntário, afinal, era sempre isso que fazia. Chegava da escola, preparava o almoço para ele e a irmã, esperava que Candice dormisse, levando-a até seu quarto, saindo em seguida para uma breve visita ao pai.

— Onde Candice está?

— Ah, querido! Candice está na escola há essa hora e vai ficar todo o restante da semana da casa de uma coleguinha. Estão fazendo um experimento de observação natural entre espécies desenvolvidas em ajuda laboratorial e sem ela.

Quando estudava, não se recordava de ter feito algum experimento do tipo ou que dormisse na casa de algum colega por motivos bem firmes. Primeiro, sua mãe era terminantemente contra a ideia dele dormir fora de casa. Todas as noites deveriam ser em seu quarto. Eram raras as vezes que conseguia passar a noite na casa de seu pai e mesmo assim resultava em grande discussão entre os dois.

— Parece que ficou bastante bem mais flexível depois que fui para a Audácia... – sua voz saiu um tanto ácida.

Hayley se aproximou, envolvendo a cintura do filho, ignorando completamente o tom de sua voz. Apertou propositalmente a ferida, fazendo-o urrar, desculpando-se em seguida.

— Você precisa descansar! Depois vejo se consigo falar com Richard e ver se ele pode trazer Candice para casa. Tenho certeza que ela ficará extremamente feliz em vê-lo de novo.

— Quem é esse?

Já estavam no topo da escada. Hayley abriu a porta ao lado, trazendo o filho e o jogando sobre a cama. Puxou O lençol branco logo ficou com coloração rosada pelo sangue úmido na camisa do rapaz.

— Por sorte, guardei suas roupas de quando saiu de casa. Sei que agora está mais encorpado de tanto socar a cara de idiotas e sacos de areia na área de treino da Audácia, – diz com certo desprezo – mas acho que ainda dá para se cobrir. Qualquer coisa, pego roupas novas para você mais tarde.

— Obrigado! – suspirou, sentindo o abdômen ainda doendo pela ferida.

— Se cuide, Luke. Tenho que voltar para o trabalho. Parece que aconteceram algumas coisas e Jeanine vai acabar ficando completamente maluca sem a minha ajuda. – caminhou até ele, dando um rápido beijo em sua testa. – Não precisa se preocupar em ficar sozinho. Só tome um banho, vista algo limpo que mandarei um de meus assistentes aqui para ver como você está em menos de duas horas.

Hayley saiu do quarto, arrumando o blaiser do terninho azul escuro, tocando calmamente os cachos escuros. O rapaz conseguiu escutar o barulho dos saltos batendo contra o assoalho de madeira.

— Tchau, querido!

Em seguida, a porta da sala se fechou. Luke estava novamente sozinho. De fato, aquela era sua mãe. Polar, como sempre. Seu pai ainda se dedicava a dar o que se assemelhava a alguma afetividade, entretanto, para Hayley, o mundo girava basicamente na ciência e em suas tentativas frustradas de fazer soros e algo mais dar certo.

Com um pouco de esforço, o rapaz se levantou, encarando seu reflexo no espelho. Apresentava olheiras. Não fundas ou roxas, mas ainda apresentava um pouco, o que era novidade. Seu cabelo estava completamente desengrenado e desconforme. Passou de leve a mão ao lado direito, sentindo algo grudento que poderia ser considerado chiclete. Estava suado e sujo.

Sua camisa era amarela, manchada de vermelho e rasgada à altura da ferida. Tinha um corte próximo à sobrancelha também. A calça estava cinza de tanta poeira e a altura dos joelhos estava incrivelmente desgastada.

Como em sã consciência a Audácia estava vestindo porcarias como aquela? Se fosse visto naquela situação, qualquer um poderia considera-lo um mero e nojento Sem-facção. Era vergonhoso, sem sombra de dúvidas!

*******

Dean não soltava Alyssa um minuto sequer. Não tinha plano algum para buscar Raven, nem mesmo fazia ideia de onde ela poderia estar, mas tinha toda certeza que seu maior desejo seria que ele não largasse nenhum segundo a pequenina e era isso que ele estava fazendo.

— Ele vai acabar surtando com tudo isso. Temos que achar Raven logo. – Sarah comentou, olhando o rapaz com seu tique de ninar a bebê mesmo dormindo. – Ele está com medo. Na verdade, eu também estou.

— Precisamos encontrar algum modo de achar Raven. Se ela estiver em perigo, pode ser que possamos ajudar a escapar. – Alice puxou a irmã para um abraço, encarando Scott, como se estivesse fazendo requerimento imediato de uma saída.

— E estamos completamente desarmados. – Katherine se meteu, sentando no braço da poltrona onde o rapaz estava, jogando suas longas pernas torneadas pelo couro justo da calça sobre seu colo, fazendo Alice encará-la com repreensão. – Esse muquinho da Franqueza não vai funcionar muito tempo para nos escondermos.

— Ei! Minha casa é uma das melhores em espaço e decoração de toda a vila. – Nicolai se aproximou, arrumando o colarinho branco da camisa preta listrada com as cores da facção. – Mas acho que Katherine tem razão. Não podem ficar aqui por muito tempo. Patrulhas da Audácia serão enviadas para nosso complexo para fazer uma espécie de teste...

— Traidores, no caso! – comentou Lucy, escorada na porta, prendendo os longos cabelos lisos num coque firme ao topo da cabeça. – Já fui da Franqueza e sei muito bem que não vão fazer muito mistério para discordar de Jeanine. O que nós temos que fazer é rastrear Raven e arrumar um lugar para ficarmos.

— O máximo que podemos fazer é conseguir um mapa da cidade e ver os possíveis pontos para onde ela conheça. – interveio Tanner.

Lucy, por sua vez, sorriu de lado, desviando o olhar de Nicolai para Caroline.

— Não sei se mudou muito, mas depois da simulação que a Jeanine fez com o pessoal da Audácia para destruirmos todo o território da Abnegação, ela também cortou o sistema vigilante de câmera da cidade que a Franqueza tinha acesso?

— Claro que não. Jeanine é líder da Erudição, não da cidade toda. É de nosso sumo direito ter acesso às provas dos males que são realizados. Como pretende que realizemos os julgamentos assim? – disse Nicolai.

— Eu entendi o que ela quis dizer, mas, Lucy, isso levariam horas e mais horas revirando cada rua da cidade para ver se ela passou por aqui, sem contar que eu nem mesmo vi essa garota na vida e... – Caroline explicou.

— Os sistemas de vigilância não se encaixam em nosso departamento de trabalho. – interveio Nicolai, gostando do modo como as ideias estavam começando a fluir. – Eu, por exemplo, fico nas pequenas causas, entrevistando os novatos que se apresentaram recentemente a facção.

— Bom... Eu já fui da Franqueza. Sei que saí faz um bom tempo, mas tenho uma tia que está lá no meio. Eu só preciso de um banho, um uniforme branco e preto, coque e óculos sem grau para entrar despercebida e conseguir falar com ela.

— Não seria mais fácil trazer a sua tia até aqui...? – especulou Sarah.

— Melhor não! – Katherine se levantou, batendo fortemente o salto da bota contra o assoalho. – Ela pode ter algum tipo de compaixão pela princesinha da família, mas se visse todos nós, não pensaria duas vezes em nos denunciar.

— Não acho que seja uma boa ideia. Podem acabar te reconhecendo nesse meio tempo e... – Tanner foi interrompido pela própria.

— Eu não sou divergente. – Lucy deu de ombros, encarando de leve o reflexo na prataria sobre a mesa, desviando em seguida o olhar para a enorme balança nas cores preta e branca, desenhada na parede. – O máximo que poderão fazer é me colocar para fora e me chamarem de Sem-facção.

— Ainda assim, não acho que seja algo seguro. – retrucou o rapaz, cruzando os braços em frente ao peito.

— Pode ir, Lucy! Você tem meu total apoio. Se não fosse por Alyssa, eu iria com você, até porque, ainda sou um membro da Franqueza. – apoio Dean.

— Achei que fosse da Amizade. – comentou Scott, arqueando levemente a sobrancelha.

— Ele se transferiu, jegue! – Katherine não perdeu a oportunidade.

— Exato! – Dean desviou o olhar para Lucy.

Pela primeira vez, ela o via tão sério. Era como se estivesse vestindo uma armadura, um disfarce impenetrável e irreconhecível, bolando qualquer espécie de plano. Saber que ele tinha trabalhado na Franqueza nos últimos anos seria bom. De fato, nunca o tinha visto pelo prédio, porém tinham participado na mesma Cerimônia de Escolha.

Dean devia uma para Raven. Lucy devia uma para seu pai.


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Notas finais do capítulo

Quarta-feira teremos outro capítulo, já agendado aqui no site para às 10 horas e meia (horário de Brasília).



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