Destino. Será essa a palavra chave que une duas pessoas? Será que esse destino, nada mais é que um amor programado?

Eu meio que esperava que ela ficasse. Na verdade, eu sempre espero muitas coisas das pessoas, então deve ser por isso que eu sempre acabo me decepcionando. Mas também seria egoísmo querer todos disponíveis para mim. Só não é egoísmo, porque, pelo visto, eu não tenho mais ninguém.

O corredor era como um hall da fama. Se as pessoas lhe abriam caminho; você era alguém. Se não, provavelmente você iria se lamuriar no banheiro para o resto da sua vida. Bom, era isso que eu pensava. E agora, que ninguém mais me nota, só consigo enxergar o quão infantil eu era em me importar com essas coisas.

Será possível as pessoas se tornarem outras em poucos dias?

Na sexta-feira me vejo encostada em meu armário, beijando Ben, e rodeada de amigas. Humilhando e rindo de outras garotas. Sendo uma pessoa que não tenho mais orgulho. Sendo um rótulo. Eu só era mais uma dele. Eu não era ninguém, e me achava muito. Eu era a garota que trocava salivas por fama. Claro que eu não pensava assim, eu amava muito o Ben, e ele também me amava. Mas infelizmente, aquela era eu.

Então segunda-feira, essa sou. A verdadeira Audrey. Eu acho.

***

“ Senhorita Bouchard, mais uma vez atrasada “, reclamou o professor de química, com a minha chegada.

“ Desculpa, senhor Oconell “, retirei a minha mochila das costas, a jogando na bancada que costumo fazer seminários com a Sarah.

“ As duplas mudaram, Bouchard. Você agora está com a senhorita Rasley “, avisou o professor, apontando para uma garota no fundo da sala. A garota do beco.

Pov Samantha.

“ Sentimentos confusos. Como alguém pode gostar de uma pessoa que nem sabe da sua existência? Ou que pelo menos, sabe sobre você, mas não dá a mínima. Como duas pessoas podem se amar? Qual o sentimento que brota dentro delas que as estimula a amar? Será gradativamente, ou algum tipo de destino? Destino. Será essa a palavra chave que une duas pessoas? Será que esse destino, nada mais é que um amor programado? Será que... “

A caneta caiu de minha mão quando vi a ruiva por quem sempre fui apaixonada, caminhar em minha direção. As palavras do professor foram processadas pausadamente em minha cabeça. O sorriso de Audrey era triunfante. O melhor sorriso que já vi em minha vida, pertencia a ela. Por quê ela? De todas as garotas lésbicas que tem nesse planeta, ou pelo menos nessa escola, porque justamente fui me apaixonar por uma garota heterossexual? Por quê Deus não coloca pessoas fáceis de ter para você, em sua frente? Por que as coisas têm que soar tão impossíveis? Por que tenho a sensação que nunca vou ter a chance de amar alguém que eu já ame?

“ Ponto para mim. Já sei o seu sobrenome “, disse a ruiva, sentando ao meu lado, e sorrindo radiantemente para mim. “ Então, qual é o seu nome? “

Você não. Por favor, saia daqui. Prefiro ficar longe de uma coisa que nunca vou poder ter.

“ Rasley? Você está aí? “, ela me chamou novamente.

Os meus olhos estavam conectados aos seus. Eu mergulhava dentro deles e me sentia presa. O seu cabelo movimentava em câmera lenta, e as palavras deixavam a minha boca aos poucos.

“ Sa-Samantha “, minha voz baixa estava preenchida de medo.

“ Certo, Sam. Sou sua nova parceira para os seminários “, ela apoiava os seus cotovelos em cima da bancada e esmagava o meu coração.

De todas as pessoas dessa escola, você não. Por mais que eu goste de você, nunca seremos mais do que colegas de química. Não quero me prender em outra ilusão e me machucar. E levando em conta o que faz com as outras garotas, eu seria seu alvo fácil de bullying, se admitisse que a amo desde do primeiro dia do ensino médio.

Em outra vida talvez eu possa ser a sua garota. Em outra vida talvez possa ser mais fácil.

***

No momento Samantha parecia ser a garota mais legal da escola. Ela tinha conversado comigo, mesmo que tenha sido trocado poucas palavras. Ela sorria para mim sempre que me via. E parecia extremamente nervosa ao meu lado. Talvez seja por causa das coisas que eu fazia com as outras garotas: humilhava-as. Felizmente não me vejo mais assim.

E se há no dicionário o contrário de ‘ felizmente ‘, o infelizmente veio depois disso.

“ Sem apelidos. Apelidos são para pessoas intimas. E eu nem te conheço “, rígida, calculista, fria, e mais um tiro foi disparado contra a minha cabeça.

As palavras deixavam a boca de Samantha e perfuravam cada pedacinho de mim que ainda acreditava que pessoas boas existiam. O estranho sabor de rejeição voltava a minha boca. Prendi-o contra a minha língua, mas a minha insatisfação foi mais forte eu. Eu precisava de um momento para colocar tudo que sentia para fora.

“ Dá para você parar? “, comecei eliminando qualquer sorriso da minha cara, “ Eu tive um dia realmente difícil. Então para com esse seu teatrinho de quem não se importa com os sentimentos dos outros! “

Gritei. Esvaziei tudo o que eu quis dizer o dia inteiro. Não só para a garota do beco, mas também para Ben, Santanda, April, Claire e todas as pessoas que eu gostava e me descartaram. Estou cansada desses jogos de pessoas falsas que em um momento se importam, e no outro não sabem nem o seu nome. Eu já perdi muitas coisas em uma semana. Na verdade, eu também acabei me perdendo. Talvez tenha sido a melhor coisa que me aconteceu. E se plantamos o que colhemos, e se fui uma pessoa boa o dia inteiro, aonde está o meu jardim cheio de felicidade?

Então mais um tiro foi disparado, e a minha pergunta respondida. O meu jardim ainda era comandado pela pessoa que eu era semana passada.

“ E você por acaso se importava quando humilhava as pessoas dessa escola? “.