Heroes. escrita por Lord


Capítulo 1
Eu deveria estar mais surpreso?


Notas iniciais do capítulo

E aí galera aqui é o Lord (voz da Melody.)
Espero que vocês gostem.



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O emaranhado castanho, mais conhecido como o cabelo de Max, era tranquilamente balançado pelo vento que entrava pela janela da picape velha que ele herdara do pai assim que ele alcançou seus dezoito anos, ou seja, doze horas atrás.

Eu ainda estava sonolento no banco do carona, minha cabeça doía um pouco e o calor não me ajudava muito. Dezembro é considerado por mim o pior mês do ano todos os anos desde quando eu nasci. Não só porque é quente, mas temos duas festas gigantes, pegamos férias de dois meses, diferente dos nossos pais, isso tudo sem falar que surge o dobro dos carros em qualquer rua que você ouse dirigir.

Fiquei observando Max batucar o volante enquanto cantava completamente desafinado, além de ser uma música completamente diferente da que tocava na rádio. O moreno abriu um sorriso de canto quando percebeu que eu havia acordado.

- Para onde estamos indo? – perguntei.

- Para onde estamos indo? – ele rebateu.

Max ainda tinha o rosto de um garoto de dezesseis anos que está andando na corda bamba entre a maturidade e adolescência problemática. Seus olhos são como buracos negros que sugam toda a sanidade das pessoas que estão por perto, seus lábios são labirintos e cada vez que são abertos soltam enigmas. A maior parte da minha vida eu passei ao lado dele e mesmo assim algumas vezes eu não consigo decifrar as coisas que ele deixa subentendidas.

Eu conheci Max quando tinha meus cinco anos, depois de ter mudado de casa pela terceira vez no mesmo ano, na época ele era apenas um garoto magrelo e sonhador que era o meu vizinho do lado, não muito diferente do que é hoje, e por mais que ele andasse com um macaco de pelúcia de um lado para o outro até completar oito anos ele me cativou de uma maneira tão poderosa que era impossível que eu ficasse longe dele. Não tenho nenhuma grande lembrança longe dele. Max estava lá quando eu ganhei a minha primeira bicicleta grande, também estava lá quando caí da minha bicicleta grande e quebrei o braço. Foi para ele que eu contei quando me apaixonei pela primeira vez. Max sempre estava lá.

- Sério, para onde estamos indo? – Perguntei.

- Bem, seus pais te mandaram para a faculdade, então você está indo para a faculdade. – ele disse sorrindo. – E eu, meu caro, eu estou indo para uma cidade qualquer viver um pouco lá, depois eu vou para outra cidade qualquer e depois outra e outra e outra, então daqui quatro anos eu passo no campus te pego, voltamos para casa e meus pais acham que eu estou formado, então eu consigo tirar uma grana deles e vou para a Finlândia, ou Islândia, eu gosto de coisas que tem Lândia no nome.

- Você não vai para a faculdade? – perguntei surpreso.

Max era completamente imprevisível. Eu não podia acreditar que ele estava fazendo algo assim. Primeiro ele surtou e ficou completamente paranoico para entrar na faculdade, tão paranoico que ficou em segundo lugar na colocação, ficando algumas posições na minha frente. Então do nada ele decide que não quer mais ir.

- Vou, algum dia. – ele deu de ombros. – Theo, eu tenho dezoito anos, ainda é meu aniversário e eu definitivamente não quero ir para a faculdade faltando dois meses para as aulas começarem.

- As aulas começam semana que vem. – argumentei.

- Aulas de verão. – ele revirou os olhos. – Seu pai nos odeia tanto que ele não ficou contente em te mandar sozinho para esse inferno, ele teve que convencer o meu pai a me mandar junto. Acho que eles tem um caso gay-idoso e estão escondendo isso da gente.

Não pude deixar de rir. Max é a pessoa com mais teorias da conspiração sobre pessoas mais velhas que existe.

- Eu só não quero ser igual ele. – Max me encarou. – Quer dizer, eu gosto desse papo de advocacia e tals, igual naquela série, mas eu não quero ficar relendo os casos quinhentas vezes pra ajudar alguém que eu tenho certeza que está errado só para ganhar dinheiro.

- Você parece muito maduro falando assim, nem parece que roubou dinheiro da igreja quando tinha quatorze anos. – Ri lembrando do acontecido.

- Você me desafiou. – ele rebateu rindo.

- Não posso ficar a minha vida inteira no mesmo lugar, fazendo as mesmas coisas, vivendo com as mesmas pessoas. – Max disse. – Mas eu não quero ficar longe de você.

Seguimos boa parte da viagem sob o sol escaldante com as janelas abertas e ouvindo as músicas antigas que tocavam no rádio do carro. Por algumas vezes Max relembrou diferente s histórias que nós passamos juntos, volta e meia ele soltava algum argumento dizendo que não era a hora de ele ir para a faculdade e seria muito chato ficar longe de mim, já que nós ficamos praticamente grudados depois que nos conhecemos.

Agora estamos indo em direção ao centro do país de carro, porque Max se recusou a entrar em um avião. Não me surpreendia o garoto não querer ir para a faculdade, era completamente diferente dos princípios dele, ficar preso por quatro anos estudando alguma coisa que ele não queria. Por mais que as notas de Max fossem perfeitas ele era o maior vadio da história desse planeta. Mas nunca achei que ele chegaria ao topo pra depois desistir.

- Você lembra do seu macaco? – Perguntei.

- Sim, o nome dele era Sr. Coelho.

- Mas ele era um macaco. – falei confuso. – Tanto faz, o que aconteceu com ele?

- Eu substituí por você. – Ele bocejou. – Sua vez de dirigir.

Max acabou por estacionar em um pequeno posto de gasolina, enquanto eu abastecia o carro ele foi até a loja de conveniências. Pude ver pela janela que Max conversava sorridente com a moça do caixa, ele ainda parecia o mesmo garoto que eu conheci quando era criança.

- Seu irmão? – alguém perguntou.

Uma garota um pouco menor que eu estava enchendo o tanque de uma scooter azul. Ela era magra e esbelta, seus cabelos eram vermelhos como fogo e seus olhos eram grandes esmeraldas, devia ter uns vinte ou vinte e um anos.

- Não, meu amigo. – respondi sorrindo.

A verdade era que Max e eu nos parecíamos muito, tínhamos o mesmo cabelo castanho escuro, a mesma pele clara e o mesmo nariz levemente empinado. Só que eu era alguns centímetros mais alto e aparentava ser um pouco mais magro que ele.

- Vocês são parecidos. – ela sorriu. – Sou Aimée.

- Theo, e aquele é o Max. – apontei para o menor que saia rindo da loja. – Estamos indo para o centro-oeste, para a faculdade.

- Pronto para cair na estrada? – Max perguntou se aproximando. – Olá.

- Oi, sou Aimée, e como moradora daqui eu não acho que seja uma boa vocês pegarem a estrada durante a noite. – a garota disse apertando a mão de Max. – Vocês estão em uma cidade no meio do deserto, ninguém passa por aqui hoje em dia, essa rodovia é horrível e vocês não vão querer dirigir por aqui durante a noite. Tem um hotel cerca de vinte quilômetros ao norte.

- Obrigado por avisar. –falei um pouco surpreso.

- Eu já fui como vocês e já perdi alguns amigos nessa rodovia. – ela deu de ombros. – Então eu espero ver vocês por aí.

Aimée subiu na scooter buzinou duas vezes e se foi. Max e eu decidimos por ir para o hotel e continuar a viagem ao amanhecer.

O quarto do hotel tinha duas camas pouco confortáveis, um banheiro pequeno, uma televisão velha e uma pequena geladeira barulhenta, mas apesar de tudo isso, era um quarto muito acolhedor e não foi tão difícil assim pegar no sono após comer.

Acordei assustado quando Max fez a maior barulheira.

- Theo, você acordou? Pode me ajudar? – Ele perguntou do banheiro.

- O que você está fazendo? – perguntei sonolento.

A cabeça de Max surgiu na porta.

- Eu estava sem sono então resolvi pintar o cabelo. – Ele respondeu como se fosse óbvio. – Eu sem querer deixei a tinta cair e agora eu estou limpando, mas você pode continuar dormindo, eu só não prometo fazer silêncio.

Levantei-me e fui até o banheiro que estava completamente coberto por tinta azul, assim como as roupas de Max que estavam jogadas em um canto do banheiro.

- Eu não queria sujar as toalhas, então eu sequei o cabelo com a minha blusa. – Ele deu de ombros. – Não sei se a tinta pegou direito, mas acho que ele está um pouco azul, está vendo?

- O que eu vou fazer com você, Max? – perguntei sorrindo.

Max retribuiu o sorriso.

- Espero que você desista de ir para a faculdade e fique por aqui comigo. – ele disse mostrando os dedos pintados de azul.

Eu não pude deixar de rir, assim como eu não podia deixar de ficar perto dele.


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