O Eremita escrita por Victor Doyle


Capítulo 1
Capítulo 1: Um Novo Mundo


Notas iniciais do capítulo

Treant: Arvore humanoide, possui capacidade de fala, movimentação livre, etc.
Yggdrasil(Jogo): Nome do jogo onde se começa a estória de Overlord.



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Cernnunos abriu os olhos e percebeu surpreso que não estava em seu quarto. Ele estava numa grande sala circular, haviam três belos e ornamentados tronos em pontos equidistantes, o que ele estava sentado era de uma pedra negra, o da sua esquerda era de um cristal branco e opaco e o terceiro era de prata. Os três tinham a forma de árvores com os galhos se trançando no teto abobadado.

Aquela era a Sala dos Tronos Vivos, a sala mais importante da Torre de Babel, a sede da guilda Trinity Heaven. Em Yggdrasil (um DMMORPG famoso por sua grande liberdade de criação), Trinity Heaven era originalmente uma aliança de três guildas, com o tempo elas se uniram e formaram a maior e mais poderosa guilda do servidor americano. Cernnunos era um dos membros originais, ele sempre ajudou seus companheiros, gostava de explorar e se divertir com eles. Com a popularidade cada vez menor de Yggdrasil, os membros da guilda foram embora aos poucos, simplesmente pararam de jogar. Cernnunos ficou cada vez mais sozinho, vazio. Depois de implorar para os três que governavam Babel para não fecharem a guilda, ele foi nomeado Líder da Guilda, sendo o único membro. No último dia da existência de Yggdrasil, Cernnunos engoliu toda a sua dor e caminhou até a Sala dos Tronos Vivos, enquanto suas memórias desmoronavam ao seu redor. Porém, nada acabou. Yggdrasil ainda estava lá.

Cernnunos moveu sua mão, tentando contatar o GM (Game Master). Foi inútil. Olhando de forma mais precisa, não havia mais nada que denunciasse que ele ainda estava em um jogo. Nenhuma barra, quadro ou dados. Ele realmente estava em um jogo? Ele sentia cheiros doces, sentia frio, nada disso era possível em Yggdrasil.

— Algum problema, Senhor?

A voz gentil e grave ressoou por toda a sala até Cernnunos, que ficou surpreso. A origem dela era a figura que estava a sua frente. No jogo, era possível colocar NPC’s para guardar certos lugares em guildas. No centro da sala, havia um homem de faces gentis e belas, vestindo uma armadura negra com detalhes verdes e carregando uma enorme montante negra com o cabo dourado nas costas. Grael era seu nome. Grael, Senhor dos Répteis. Ele tinha perguntado algo. Ele tinha uma expressão preocupada. Nada daquilo era possível no jogo.

— Hã... Não sei...Eh, Desculpe-me, mas... você é Grael, certo?

— Sim, sou eu, Senhor— ele respondeu, sorrindo— Grael, Senhor dos Repteis. Guardião do Oitavo Andar, a Selva dos Dragões e Líder dos Guardiões de Andar.

“Como?” Cernnunos pensou. “Sempre acreditei em mundos paralelos, fenômenos sobrenaturais e coisas do gênero, mas isso está muito além de qualquer coisa que já imaginei. Não, espere. Isso ainda pode ser um jogo, um jogo muito mais avançado, como uma continuação surpresa de Yggdrasil. Será mesmo? Se fosse, como e por que Grael consegue responder coisas simples? Se isto fosse um jogo, precisaria colocar tanta complexidade num NPC?”

— Grael, pode me fazer um favor?— perguntou Cernnunos, com um aceno afirmativo de Grael, ele continuou— Poderia trazer aqui qualquer um que se encontre em Babel? Seja um membro ou não da Trinity Heaven.

— Como desejar.

Ele reverenciou e se virou para os portões para poder realizar sua missão. Antes dele ir, Cernnunos ordenou: [Copiar Item Menor] uma habilidade exclusiva para o Líder da Guilda que permitia copiar um item menor próprio da guilda. Ele escolheu copiar o Anel de Babel que permitia uma movimentação mais rápida pela guilda a partir do teletransporte. Na mão de Cernnunos, dez anéis com o brasão de três árvores cujos galhos e raízes se entrelaçavam, surgiram. Ele os jogou para Grael com o pedido de que os entregassem para todos os Guardiões de Andares, inclusive ele, menos os do quarto andar. Depois de poucos protestos e um pouco mais de insistência, ele cedeu e colocou o anel, num instante ele sumiu.

Os motivos daquelas ações eram simples experiências. Daquilo, Cernnunos deduziu muitas coisas. Primeiro, NPC’s estavam mais vivos. Eles podiam entender comandos complexos, podiam usar itens que normalmente não seria possível e possuíam personalidades. Quanto a esse último ponto, ele pensou: “Fui eu que criou Grael, minha obra prima, diria. Eu criei Grael para ser extremamente leal e obediente aos membros da Guilda. Além de ser um ‘trapaceiro travesso’. Ele agiu de acordo com a personalidade que programei para ele, o que me leva ao segundo ponto.”

Ele seria: Configurações se tornaram realidade. Começando com a já citada personalidade dos NPC’s, a habilidade do anel além de feitiços, pelo menos os exclusivos. Além da parte mais importante, Cernnunos não estava nervoso. Ele estava com medo mas não nervoso. Em Yggdrasil, haviam cerca de 300 raças (básicas e avançadas) e 2000 classes (básicas e avançadas) para montar seu personagem, com o nível máximo de 100 para o personagem e, normalmente, 15 para a classe ou raça, era quase impossível encontrar um personagem igual ao seu. Cernnunos possuía as seguintes Raças:

Treant, nível 15; Life king, nível 5

Espírito da floresta, nível 10;

E as seguintes classes:

Druida, nível 15; Metamorfo, nível 15; Outros, nível 5;

Arquidruida, nível 10; Monge, nível 15; Eremita, nível 10.

Segundo a descrição do jogo, Treants são uma raça de árvores que ganharam vida por causa de algum evento mágico, eles são calmos e serenos, são sábios e protetores. Cernnunos estava com medo, claro, mas não estava nervoso. Ele estava anormalmente cauteloso, calmo, como um Treant ficaria. Mas para confirmar todas essas deduções, ele precisava de uma confirmação.

Cernnunos se concentrou no anel que usava na mão direita, um Anel de Babel. Num instante, todo o espaço ao redor dele tremeu e mudou, o vento soprou pelo seu rosto, trazendo os aromas daquele cenário. Agora ele estava no alto da Torre de Babel, num enorme e bem cuidado jardim com flores e ervas exóticas de diferentes cores, árvores grandes e formosas. Aquele sempre foi seu lugar preferido. À medida que ele andava, luzes flutuantes acendiam em certos pontos do caminho. Não havia cercas naquele jardim de forma que era possível ficar na beira da Torre e encarar sua altura. Cernnunos adorava fazer isso, na vida real tinha medo de altura, mas em Yggdrasil, pulava de alturas assustadoras. Mas, não importava quão calmos os Treants eram, ele ainda estava com medo, principalmente agora que todos os seus sentidos estavam ativos.

“Ai, droga. Pulo ou não pulo? Pulo ou não pulo? Porque fui inventar de fazer isso? Eu sei, eu sei. Preciso confirmar que isto não é mais um jogo... Maldita personalidade calculista. Porque fui escolher logo os Treants?”

—Ok! Aqui vamos nós— ele murmurou— vamos lá, avante...Droga, não consigo... Já sei, [Aumentar Resistência]. Esse feitiço vai ajudar. É agora ou nunca.

Houve um barulho no jardim, ele se assustou e escorregou. Agora, Cernnunos estava em queda livre, e “livre” era a perfeita definição para isso. Ele não podia deixar de rir. Quando atingiu 15 metros até o solo, ele acionou sua classe preferida. A classe Metamorfo permite a transformação de um personagem em uma criatura. Era uma classe que se diferenciava de suas outras, mas ele conseguia de alguma forma criar uma sinergia entre elas.

Ele usou a habilidade [Encarnação da Fera: O Devorador], seu corpo foi envolvido por uma forte luz que o rodeou, criando um casulo. Em um segundo, o casulo se desfez e Cernnunos surgiu numa outra forma. Agora tinha a forma de um enorme tubarão-baleia de seis metros de comprimento, oito longos bigodes parecidos com tentáculos, não tinha nadadeiras laterais e sim seis pernas pequenas e gorduchas com três pequenos e redondos dedos cada uma. Seus quatro olhos brancos e brilhantes encaravam o chão com superioridade. O Devorador era a mais rápida transformação do Metamorfo, além de poder flutuar a dois metros de uma superfície. Usando isso, Cernnunos flutuou sobre as paredes da Torre e fez uma curva brusca com o corpo, batendo a cauda fortemente no ar mudando a flutuação para o chão. Ele deslizou rapidamente por quilômetros ao redor da Torre de Babel. Parecia que estava nadando no ar, seu corpo se movia da forma que queria (até porque ele já tinha se acostumado com essa transformação no jogo.) Ele observou, usando seus bigodes sensíveis e seu amplo campo de visão, todo o terreno em um raio de 5 quilômetros ao redor de Babel e não viu vivalma. Tudo eram rochedos e pedregulhos (detalhe: a Torre de Babel em Yggdrasil era cercada por uma densa floresta). Cernnunos estranhou tudo aquilo e olhou para a sua tão familiar lua. Era diferente, não era do mundo real nem do jogo.

Ele deslizou lentamente até os portões frontais de Babel e admirou-a. A Torre de Babel foi construída pensando nas lendas de Yggdrasil (a da mitologia nórdica). Várias árvores cresciam na torre de pedra negra polida de 72 metros, dando a impressão de serem galhos, tornando Babel uma enorme árvore. Nos pesados portões de madeira escura havia uma imagem incrível, uma árvore no meio, quatro cervos comendo seus ramos, milhares de cobras comendo suas raízes, dois corvos observando tudo e um esquilo que parecia ansioso preso ao tronco. Enquanto Cernnunos admirava o belo trabalho feito por Lluna, uma grande amiga no jogo, os portões se abriram, deles saiu Grael que ficou surpreso com a criatura a sua frente. Logo ele assumiu uma posição de batalha e começou a atacar seu mestre.


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