- NÃO, NÃO E NÃO!!! VOCÊS NÃO PODEM FAZER ISSO!!! - berrei, batendo o pé varias vezes no chão e levando as mãos firmemente à cintura.

- Você não pode dizer o que eu e sua mãe devemos ou não devemos fazer, Belinda!!! - disse meu pai, com voz firme - Já fechamos tudo. Ele vem amanhã de manhã.

- VOCÊS VÃO VER! VÃO SE ARREPENDER DE TEREM TOMADO ESSA DECISÃO IDIOTA!

- Olhe aqui, menina! Somos seus pais e você não pode falar conosco desse jei... - começou minha mãe. Antes dela terminar a frase, porém, eu já estava enfiada dentro do meu quarto, com a porta trancada.

- BELINDA!!! ABRA A PORTA! - gritou meu pai, da sala -NÃO SEJA ATREVIDA, MOCINHA!!! VAI VOLTAR PRO PSICÓLOGO, HEIN?

Aiai. Lá vem o papai com essa ideia de psicólogo outra vez. Ele acha que terapeuta é o mesmo que Super Nanny! Toooda vez que me comporto mal, me levam para um psicólogo. Já visitei uns sete, mas nada adiantou. Mas também... é cada ideia maluca que meu pai tem... onde já se viu hospedar um estranho que vem lá do outro lado do mundo??? Nem português ele fala direito! Depois sou eu quem precisa de psicólogo.

Depois de mais cinco ou dez minutos ouvindo o mesmo blá bla blá dos meus pais, da sala, eles finalmente pararam.

Sentada na cama, peguei meus fones de ouvido e o conectei ao celular. Entrei na seção de músicas e escolhi um rock bem maneiro.

Apesar da música ser agitada, não conseguia parar de pensar na situação que meus pais me meteram. Há mais de um mês eles vêm tentando se tornar uma família hospedeira. Ou seja, eles querem hospedar pessoas que vêm de fora para estudarem aqui.

Todas as minhas amigas amaram a ideia. Na verdade, acho que só gostaram porque falei para elas que quem vai vir morar aqui é um menino mais velho. Eu não vejo graça nenhuma em garotos. As meninas da minha sala só faltam se derreter quando vêem um rapaz, e eu não consigo sentir nada de diferente quando vejo um. É só um... rapaz!

A agência de intercâmbio entrou em contato com meus pais duas semanas atrás. Estávamos na lista de espera no site de intercâmbios e eles finalmente - e infelizmente - vieram ver nossa casa e conversar com meus pais. Eles não mandam os estudantes para qualquer lugar. É preciso uma visita, sei la. E, por azar o meu, fomos aprovados.

O garoto que vai vir pra cá é da Espanha, e ele tem uns quinze anos. Na cidade dele, os jovens podem estudar fora a partir dos catorze, contanto que sejam autorizados pelos pais.

Papai e mamãe conversaram com ele via webcam, no skype. Eu não quis nem olhar pra cara daquele menino. Deve ser chato como todos os garotos da minha sala. Resisti, resisti... e acabei ficando de castigo, no final. Mas tudo bem... melhor ficar de castigo que fingir estar contente com a vinda de um estranho que fala espanhol.

Aiai... só de pensar que ele chega amanhã já me dá um frio na barriga. Tomara que ele não me mate de vergonha na frente dos outros.