Gabriela

Percebi que o sorriso de Carol se desfez num instante.
– Mas por que não tem coragem? Sabe que sempre foi o sonho de Miguel.
– Sim, eu sei. Mas você não me entende, Carol. - digo - Meu pai não pode desconfiar que eu namoro com o Miguel; senão fosse por você, pelo Junior e pela Valentina, nós não namoraríamos. Agora, se meu pai descobre que eu engravidei do Miguel, eu morro. Tenho medo do que ele possa fazer se souber que vai ser avô. Por isso, eu peço que você me apoie e não me julgue pela decisão que eu vou tomar.
Carol ficou pálida, talvez preocupada com o que iria sair da minha boca. Respirei fundo e continuei:
– Eu vou tirar esse bebê.
– Quê? Gabi, você não pode fazer isso. Essa criança que está dentro de você é fruto do seu amor pelo Miguel. Será que aquela amiga que eu tinha, preocupada em viver a vida, mudou? Não é mais a mesma? - questiona Carol.
– É justamente pelo bem dessa criança que eu vou tirá-la.

Carol

Não pude acreditar que ela queria abortar o meu sobrinho! Decidi deixá-la sozinha no quarto e voltei para a sala.
Passo por Junior, pego em sua mão e o levo para o jardim. Ele precisava saber.
– Aconteceu alguma coisa? - pergunta.
– Sim, sua irmã está grávida do Miguel.
– Meu Deus, isso é ótimo! - diz Junior e me dá um abraço.
– Talvez seria bom... Se a Gabi não quisesse abortar.
Ele me solta, seus olhos estavam arregalados, me encarando.
– E-ela quer tirar o bebê? - gagueja.
– Infelizmente sim, Junior. Nós precisamos fazer algo pra impedir isso.
– Será que nós podemos falar com ela?
– Claro; só não lhe garanto que vai adiantar alguma coisa.
(...)
Entramos no quarto, encontramos Gabi deitada sobre a cama, com a mão na barriga. Ela chorava muito. Junior lentamente se aproxima dela, senta-se na cama, ao seu lado.
– Minha irmã, a Carol me contou tudo.
Gabi me olha com repreensão.
– Carol! - diz.
– Desculpa. - é a única coisa que consigo sussurrar.
– Você tem certeza que quer abortar? - Junior pergunta numa voz calma, temendo a resposta da irmã.

Gabriela

– Sim, Junior. - respondo - Você sabe que nosso pai jamais permitiria isso.
Vejo Junior apenas suspirar e dizer:
– E daí? Gabi, você já é maior de idade, já pode responder pelos seus próprios atos. O que nosso pai acha ou deixa de achar não faz diferença na sua vida.
Abaixo a cabeça e choro. Talvez, não fosse mesmo necessário tirar aquela criança. Quem sabe meu pai até mesmo reagiria bem? Mas eu não sei. Não é bom ser muito otimista agora. Levanto a cabeça, e respondo:
– Vocês não têm a capacidade de sentir o que eu sinto. Não conseguem imaginar o que se passa na minha cabeça. - me exalto - Caramba, vocês não têm noção do que essa criança pode passar nas mãos do José Ricardo se ela nascer. Parem de querer mandar em mim, como Junior mesmo disse, já sou maior de idade. Então me deixem sozinha! Eu preciso pensar!
Apenas vejo Carol e Junior saírem, fecharem a porta e finalmente eu me encontro só. Deito-me novamente, solto os cabelos, passo a mão pela barriga.
"Desculpa, meu amor. Mamãe não vai poder deixar você nascer."– penso e sinto uma lágrima escorrer pelo meu rosto.