Bestas de Mármore escrita por Filipe


Capítulo 8
Eterna Alice




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Eu estava sentada e paciente, não esperava nada de especial naquele dia, era apenas meu aniversário, o que importa? Eu ficava mais velha todos os dias e aquele dia se tornou apenas uma data. Me deliciava com um pedaço de bolo de chocolate, o leite que lhe acompanhava descia gentilmente por minha garganta, a parede de minha cozinha coberta por blocos e eu estava sozinha, eu era alguém que ninguém iria notar se sumisse.

A sensação de ter tido um sonho estranho permanecia em minha mente, flutuante e estranho, por algum motivo era um sonho que eu não conseguia me lembrar. Algo muito distante para que meus dedos pudessem tocar, apenas meu alimento servia de inspiração para continuar sentada pensando no que se passou há pouco tempo, eu dormi e acordei, o tempo suficiente para algo existir e desaparecer para sempre dentro de mim.

Eu realmente pensava que eu era apenas uma garota perturbada, sendo eu era meio difícil não ser, estava ficando mais velha e nenhuma viva alma se lembrava, perdida no tempo e esquecimento, em um período que ninguém podia se questionar, vivendo apenas de pressentimentos.

Uma batida na minha porta interrompeu toda minha filosofia mental e inútil, eram fracas, porém, audíveis. Caminhei até a porta de madeira, abri e olhei para baixo, lá estava ele, seu pelo branco e seu relógio, sua primeira frase foi:

– Estou atrasado. - Ele parecia impaciente, mas nada tão impactante. - Está pronta?

Eu não senti estranheza, nenhum tipo de medo ao ver um coelho falante que não passava do tamanho do meu pé, ali em pé na frente da minha porta, parecia estar habituada e acesa naquela situação, sem nenhum tipo de questionamento, mesmo assim foi impossível não perguntar:

– Pronta?

– Sim, não vou perder tempo te explicando, você em pouco tempo vai lembrar…

Ele saiu pulando atravessando meu jardim, até seu canto mais nojento e escuro, apenas o segui como se não fosse suficientemente estranho estar atrás de um coelho. Outra visão que pode parecer estranha para você, mas tão familiar para mim, era a imagem de um buraco aberto em meu quintal, apenas tão profundo que eu conseguia ver a escuridão tomar até o lugar mais próximo de sua entrada, indo apenas para baixo e nenhuma outra direção.

– Pode ir primeiro se quiser… - Sua voz se parecia um disco arranhado, seu efeito era um estouro em minha mente.

Não sei por quanto tempo ficamos nos encarando ali, ele realmente esperava que eu tomasse uma atitude, apenas gaguejou algo e saltou no abismo, como se fosse parte de seu cotidiano. Meu coração me mandava pular, já minha mente dizia que não era uma boa ideia, porém, eu pulei, foi como uma queda muito rápida e muito profunda, como se o que demoraria horas acabasse em questão de segundos, senti a dor ao se chocar contra o chão, ouvindo a voz do coelho dizer:

– Ótima, está viva… Não falhamos nisso desta vez…

A sala estava repleta de portas e uma mesa central, eu já tinha ouvido isso em algum lugar. Na verdade, tudo estava flutuando sobre minha cabeça, eu disse:

– Eu já vi isso em uma história… - Logo pude me lembrar de algo que estava brevemente esquecido. - Ou em um sonho…

– Era o seu treinamento, você sabe disso, Alice…

– Meu nome não é Alice…

– Isso é tudo o que você vai ser, não se questione muito…

– Porque eu?

Ele não respondeu, apenas me ignorou enquanto apontava a porta pela qual eu deveria seguir, era como se uma nuvem encobrisse toda sala, dando lugar a luz apenas em lugares que eram de acesso para Alice, quer dizer, para mim.

– O motivo pelo qual está aqui não importa, você não é a primeira, mas reze para ser a última… - Ele suspirou antes de se virar de costas para mim. - A história deve continuar para sempre, é assim que as coisas são, mas é um pouco difícil que ocorram duas vezes da mesma maneira, até mesmo em uma história, de qualquer forma entramos em sua mente e mostramos tudo o que deveria aprender, você é uma nova Alice, se quer uma dica, não faça disso uma oportunidade para não seguir a história que você conhece…

Ele saiu pulando e sumiu na penumbra, minha questão não fora respondida do jeito que eu imaginava, apenas me sentei no chão e abracei meus joelhos.

– Ei, só não vá fazer como a última Alice e perder a cabeça… - Sua voz ecoou pelo salão vinda de lugar nenhum.

Apenas podia sentir uma fria lágrima escorrer, então por um segundo tudo fazia sentido em minha mente, o motivo de eu estar ali abandonada, sujeita ao medo. Como eu disse antes, sou apenas mais uma garota solitária, ninguém iria notar se eu sumisse.


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