Meu Psicopata de Estimação escrita por Felipe Araújo


Capítulo 6
Queime a Bruxa


Notas iniciais do capítulo

Olá meus queridos, desculpe a demora. Estou atolado de afazeres, entretanto aqui vai o capítulo.



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Os olhos do rapaz estão focados na tela de seu notebook. Lucas desde cedo não sai dos sites de emprego que encontra em sua cidade. No site “Bom emprego.com”, encontrou vaga de Auxiliar de serviços gerais, Auxiliar de escritório, Ajudante geral em empresa de papel e algumas outras vagas. Preenche todas e suspira forte. Parece desanimado, não controla a sua depressão por saber que nunca fez nada na vida e sem experiência, é claro, que não o chamariam. Fecha o notebook e afasta-o de seu peito. Pega um pote de macarrão instantâneo sobre a mesa da cozinha e um copo de suco de laranja. Olha o relógio e suspeita que seu irmão está para chegar da escola junto com sua mãe. Não demora em confirmar sua suspeita. Clara e Patrick entram em casa.

Clara vai até Lucas, beija a testa do rapaz e joga sua bolsa em cima da mesa. Sua pressa em voltar para o trabalho é evidente, atrapalhada pega o pote de macarrão de Lucas dando algumas garfadas. Clara veste uma roupa social de cor beje claro, um rabo de cavalo em seu penteado, este é o seu uniforme para vender imoveis na maior imobiliária da região. Com a boca cheia de macarrão, Clara tenta se comunicar com o filho.

— Ainda com esse computador? Já encontrou alguma coisa. — Ela abre a garrafa de suco e toma alguns goles no gargalo.

— Mãe, existem copos!

— Desculpe querido, estou atrasada.

— Então, encontrei, mas não tenho experiência em nada disso.

— Eu estava pensando, por que não trabalha comigo? Poderia ficar atendendo os meus telefonemas. — Lucas torce o lábio.

— Não, isso é a mesma coisa que eu desistir e cair nas suas. — Clara gargalha, deixa o pote na pia e a garrafa de suco, exclama.

— Tenha paciência com o seu irmão, ele está estranho desde ontem e não quer me contar o que aconteceu, tenta conversar com ele por mim. — Lucas ergue uma das sobrancelhas.

— Fazer, o que. Tudo bem, agora vá que já passou de sua hora. — Clara beija o filho, pega a bolsa e antes de sair avisa:

— Tem comida na geladeira, esquente e chame seu irmão para comer. — Clara some. E lucas dá um sorriso de canto.

No andar de cima da casa dos Oliveiras, um som de tiros e gritos saem do quarto de Patrick. Lucas segura um prato de comida. Arroz branco, salada de pepino, filé de frango e purê de batatas. Na sua outra mão um copo grande de aguá – Patrick não gosta de tomar nada que não seja aguá, enquanto come, - O rapaz entra no quarto e pega seu irmão mais novo jogando videogame. Arrisca em caçoar do menino para quebrar a tenção que está estampada no rosto redondo do irmão.

— Qualé seu xarope, trouxe seu almoço, coma antes que esfrie. — Patrick revira os olhos, não dá atenção. Lucas coloca o prato e o copo na escrivaninha do menino e continua — parece que aconteceu alguma coisa, me conte, apesar de tudo somos irmãos.

Patrick coloca o joystick do seu lado e fixa os olhos castanhos expressivos para o irmão mais velho parado em sua frente. Balança a cabeça, voltando a jogar, agora fala ironicamente.

— Você deveria se preocupar mais com você e não comigo. — Lucas não entende. Agacha ao encontro do pequeno, que para de jogar e presta atenção na pergunta do irmão.

— O que quer dizer com isso? Me diga. — Patrick frange a testa.

— Estou sendo motivo de chacota na escola, em apenas uma semana. Sabe, porquê?

— Você deve ser esse menino chato o tempo todo, esse é o motivo. Tem que socializar Patrick.

— Idiota, não é por isso, e sim, por que moramos do lado da casa da Ester. Descobriram que ela é nossa vizinha, e estão zoando com a minha cara, dizendo que sou amigo da “Estranha de Santa Monica”, da “Bruxa da rua Tulipa”. — Lucas arregala os olhos. Chega ainda mais perto do irmão, agora interessado na conversa.

— Mas, me diga tudo.

— Sabe, ontem escutei que ela estava aqui em casa, no seu quarto. Fiquei com medo e não sai do meu.

— Foi esse o motivo de não ter aparecido na hora que Ester estava em casa. Largue de ser bobo, eu também escutei coisas sobre ela, mas acho que não passam de mentiras.

— Não mano, é verdade. Dizem que muitos garotos já tentaram conversar com ela no passado, mas ela não podia. E sabe o motivo? — Lucas está apreensivo, — o irmão dela era louco e psicótico, depois que morreu Ester ficou pior, e me falaram que ela herdou a maldade do seu irmão. Lucas tenho medo dela, não traga mais ela aqui. Se meus novos amigos descobrirem que meu irmão gosta de uma doida, vou sofrer bullying o resto da vida. — Lucas não diz nada, levanta e aponta para o prato de Patrick.

— Coma sua comida. — Da de ombros e sai do quarto do irmão que fica com uma face desentendida.

**

O cheiro de maconha pode ser sentido em uma longa distância. O grande quarto respira a fumaça da droga, que queima em forma de cigarro no lábio preto da menina, pintado de um batom Agressivo. Samantha fuma tranquilamente. Revira os olhos em uma sensação suave, com seu cabelo longo castanho escuro solto sobre o colo de sua amiga. Todo peso de sua maquiagem ameniza sobre os olhos vermelhos e pequenos que quase somem pela briza do entorpecente. Com a cabeça apoiada nas coxas de Érica, a garota compartilha o cigarro de maconha com a negra de olhos expressivos, diferente de Samantha não usa nenhuma maquiagem, veste roupas cor pastel e pés descalços sobre o chão gelado. Anne está sentada na cama, pensativa não se mistura na corrente de loucura que as amigas desfrutam. Enquanto Vitor e George jogam videogame e tomam algumas cervejas sentados no chão.

Érica e George moram sozinhos, foram criados pela avó. Seus pais morreram em um trágico acidente de carro. Depois disso a velha senhora assumiu os dois, mas falecera há dois anos. Desde então passam o tempo fumando, bebendo e estudando. Estudar fica por último, gastam mais a herança da avó com bobagens. São conhecidos por fazerem festas e organizarem a maior farrá da cidade. A festa no galpão abandonado que este mês promete.

— Anne, convidou o seu novo amigo? — Érica pergunta, enquanto enrola uma mecha do cabelo encaracolado. Samantha ri. Anne responde.

— Chamei sim, mas não sabem o que ele quer.

— Te comer, sem antes um encontro? — Samantha ironiza. Anne revira os olhos enquanto todos dão risada.

— Você só pensa em sexo sua vadia.

— Se não pensar em sexo o que mais vou pensar? — Vitor vira mirando-se para a conversa, acrescenta.

— Realmente a Sam só pensa em sexo, ainda bem que estou aqui. Assim ela não só pensa como prática. — Samantha levanta do colo de Érica e gargalha.

— Por isso estou fazendo mais com mulher, vocês homens são tão nojentos.

— Vocês estão saindo da conversa, eu não terminei de falar, - Anne vocifera – Lucas quer levar a Ester para a festa de sábado. — Assim que fala o quarto fica em silêncio, um silêncio profundo e nítido. Érica chega a ficar boquiaberta e George balança o joystick, desligando o videogame. Vitor levanta do chão e estende os braços para cima gritando e gargalhando ao mesmo tempo.

— O puto se apaixonou pela esquisita? Não acredito. — Samantha vai até Anne e senta ao lado dela.

— O que ele disse?

— Estávamos conversando normal, ai ele perguntou se poderia levar a Ester. — Érica entra na conversa e questiona.

— E o que você falou?

— Eu disse que ele poderia chamar. — George vocifera

— Suicídio moral se aquela menina aparecer em uma festa minha o que vão falar de mim? — Todos estavam confusos, mas Anne deu de ombros.

— Ele vai chamar, mas ela não vai aceitar. Lembra Vitor que na oitava série tentou se aproximar dela, ela gritou e saiu chorando. — Vitor morde o lábio explicando.

— Ela é gata, mas não deu certo.

— Então, ela não vai... — Samantha olha para o nada e pensa, bola uma coisa insana na cabeça.

— Esperem e se ela for? — formou-se um coral

— Ficou louca?

— Gente e se pregarmos uma peça em Ester? Vamos fazer uma brincadeira, quem sabe ela não cai na real. Assim poderá ver que vive em um mundo sociável, onde existem pessoas.

— Que tipo de brincadeira Sam? — George pergunta.

— Érica sugeriu que o tema da festa deste mês fosse o dia das bruxas. Que tal queimarmos a bruxa! — Anne arregala os olhos e grita.

— Ficou maluca, quer matar a Ester na fogueira. — Sam ri, responde balançando o dedo para a amiga.

— Boba, claro que não vamos matar a nojentinha queimada. Bem que ela merece.

— Sam, fale logo – Érica resmunga, Sam continua.

— Vamos amarrar ela no palco como se fosse ser julgada. Vitor e George roubarão alguns sacos de tomates podres de alguma feira e vamos distribuir para que a maluca receba o que merece. Vamos inundar Ester de tomate para ela largar a mão de ser louca.

— Não! — Anne dá as costas.

— Anne larga a mão de ser careta — Vitor exclama, — vai ser legal, eu estou dentro.

— Eu também. — Os dois irmãos falam juntos. Todos olham para Anne, ela alerta.

— Como vão fazer para amarrar a Ester? Se ela não chega nem perto de nós.

Samantha parece animada, pode ser por estar drogada. Única explicação para as ideias que acabara de soltar. Mas está mais que decidida em continuar com os planos de uma brincadeira de mau gosto. A garota salta em direção a Anne, pega a mão da menina e a faz pegar o celular. Sorri, falando para todos prestarem atenção.

— Liga para o Lucas, agora.

— Mas o que está pensando?

— Liga e fala tudo o que eu vou falar para você.

— Droga Samantha! — Anne liga para Lucas, trêmula e sem entender o que a amiga pretende.

**

Lucas balança seu corpo sobre um pedaço de balanço velho e enferrujado atrás de sua casa. Está com um cigarro entre os lábios e observa distraído as nuvens brancas e o céu azul. Não entende o que se passa em sua cabeça. Sente uma forte vontade de estar com Ester, e ao menos tempo não quer vê-la. Quer acreditar em Anne e em seu irmãozinho, ambos falaram a mesma coisa da vizinha. Isso já passou de apenas um boato. Será mesmo que Ester é essa pessoa estranha que todos dizem? Mas se isso é verdade, o que explica suas ações com ele, se fosse este monstro não teria se aproximado... O celular vibra em seu bolso. Lucas pega e atende apagando seu cigarro.

— Alô.

— Lucas?

— Oi Anne.

— Então Lucas... — Lucas escuta conversas paralelas ao fundo da voz da menina.

— O que foi? Aconteceu alguma coisa?

— Não, só queria dizer que gostaríamos de Ester vir com você na festa. Vou mandar uma mensagem no seu celular e quero que mostre para ela. Acho que assim vai acreditar que queremos que vá.

— E qual o motivo de ajudar, já que não gostam dela? — Anne se cala novamente, mas logo volta a voz.

— Queremos dar uma chance para Ester, queremos conhecer o que se passa em sua cabeça.

— Acredita que abri essa questão, mas acho meio complicado entrarmos em sua cabeça. Fico feliz.

— Então está combinado, se puder, vá agora falar com ela. E quem sabe já temos uma resposta. Vou enviar a mensagem.

— Tudo bem, obrigado Anne.

— De... — A ligação se encerra.

Lucas levanta do balanço e vai até a cerca que separa o fundo de sua casa. Grita algumas vezes para a vizinha que não responde, em seguida recebe a mensagem. Abre a mesma e lá está o texto.

“Olá Ester Castrinni, aqui é a Anne Tavares, estudamos juntas por alguns anos. Fiquei sabendo que Lucas é seu amigo. Como sabe tem uma festa todo mês na floresta de pinheiros e gostaria muito que fosse, por favor, de uma chance para nós”

Lucas não consegue esconder a felicidade. E fica eufórico para mostrar a mensagem para Ester que não responde, entretanto Lucas sabe que ela está em casa, pois uma música de Jazz está saindo de dentro da residência. O rapaz se pendura na cerca e pula para dentro da casa vizinha. Caminha na grama verde cortada, se aproxima da porta dos fundos.

— Ester? — Ninguém responde. Lucas então decide entrar, sem saber o que realmente o aguarda dentro daquela casa.


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Notas finais do capítulo

Espero seus comentários para saber o que estão achando. Muito obrigado *-*