The Violet Hour escrita por Lelon Lancaster


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Olá. Espero que gostem.



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O rugido do despertador batia em todos os cantos das paredes brancas do meu quarto já vazio, avisando o universo que era a hora do meu despertar. Respirei fundo e apertei os olhos, tentando espantar a dor de cabeça que insistia em me visitar. Joguei meu cobertor verde de lado e pisei no chão frio. Meus pés congelaram por um milésimo de segundo, enquanto eu corria para o banheiro. O espelho sujo e quebrado nas beiradas me mostrava um reflexo que eu preferia ignorar.

Minha pele estava muito pálida, como sempre. Meu cabelo castanho avermelhado estava mais comprido do que me lembrava e se embaraçava em nós em algum ponto no meio das minhas costas. Eu estava magra. Os ossos da minha bochecha se sobressaiam e as roupas que ficavam certas em mim meses atrás, agora ficavam largas demais. Eu parecia mais um cadáver do que uma garota de 19 anos. Liguei o chuveiro quente e deixei que a água tentasse fazer um milagre na minha morbidez.

Meia hora depois, eu estava passando o meu casaco preferido nos meus braços e olhando o tempo pela janela. Estava frio e chovendo. Um dia cinza entre semanas e dias ensolarados da primavera.

Ajeitei a minha cama e dei uma olhada no lugar onde tinha passado boa parte da minha vida. A casa era relativamente pequena, com dois quartos, duas salas e três banheiros. Mas tinha sido boa o bastante para mim por dez anos.

Eu estava de mudança. Iria para a cidade grande. E no dia que finalmente faria isso, estava chovendo torrencialmente e abaixo de zero.

As minhas malas de roupas já estavam no carro, corri para a garagem enquanto tentava espantar os demônios que me assombravam há um tempo e não olhei para trás.

Quando eu era pequena, eu costumava fazer milhões de perguntas sobre o meu pai. Eu queria saber tudo sobre ele. Sua altura, a cor do seu cabelo, o formato de seus olhos, se ele forte, o que fazia, absolutamente cada detalhe. As respostas eram sempre as mesmas: ele era alto, louro, tinha olhos castanhos e era gentil. Mas a resposta da última pergunta era sempre diferente. Na primeira vez que perguntei, minha mãe havia me dito que ele era um pirata, e que eles se conheceram quando minha mãe quase fora sequestrada por sua tripulação. Eu tinha 4 anos quando ela me contou essa versão. Quando eu tinha 7 anos, ela me disse que ele era um astronauta que tinha se perdido no espaço. A cada ano que passava, as respostas ficavam mais complicadas e irrealistas, conforme minha curiosidade ia crescendo. Na adolescência, eu perdera o interesse em conhece – lo, mas no ano passado isso mudou drasticamente. Eu estava no último ano do colégio, quando minha mãe adoeceu. Ela tinha apenas alguns meses, os médicos alertaram. No começo, eu me recusei a ouvir, mas depois eu entrei em desespero. Procurei de todas as formas ajuda – la. O dinheiro que minha mãe tinha guardado para a minha faculdade tinha se esvaído nos tratamentos caros e nos remédios estranhos. Nós estávamos sem dinheiro algum, quando eu tive a ideia de procurar meu pai.

Minha mãe se recusara a falar comigo por dias, mas depois acabou revelando quem ele era. Acontece que ele era o primeiro ministro, uma das figuras mais importantes do pais e morava na cidade ao lado da nossa. Em meus dezoito anos, eu nunca imaginei que podia estar tão perto dele quanto estava.

Eu pesquisei tudo o que podia, então fiz de tudo para marcar uma reunião particular com ele. Coloquei meu melhor vestido e fui até seu escritório. Quando ele entrou na sala enorme e olhou para mim, eu vi apenas um pequeno vislumbre de reconhecimento em seu olhar. Ele de fato era louro, alto e tinha olhos castanhos. Rugas de expressão davam uma aparência severa e cansada a seu rosto e ele aparentava estar impaciente. Enquanto eu explicava quem era, ele me olhava com desconfiança. Quando terminei, ele apenas olhou para mim por o que me pareceu um longo tempo e suspirou. O primeiro ministro me contou que minha mãe nunca tinha mencionado a minha existência e que agora ele era casado e tinha três filhos. Ele também falou que colocaria seu melhor médico a disposição da minha mãe e que queira fazer o exame de DNA. Eu fiquei enfurecida com a sua desconfiança, mas aceitei assim mesmo.

Quatro meses depois a minha mãe tinha morrido e ele tinha aprova de que eu fazia parte de sua linhagem. Eu tinha 18 anos e não tinha mãe, nem dinheiro para a faculdade.

O primeiro ministro disse que pagaria a minha faculdade e o aluguel de um apartamento mim na cidade, mas com a condição de que ninguém ficasse sabendo sobre mim. As reeleições estavam se aproximando e ele não podia ter uma filha bastarda para manchar sua reputação. Como estava sem opções, eu aceitei. Eu vendi a casa que morava com a minha mãe e comprei um carro e guardei o restante do dinheiro.

Coloquei no GPS as instruções que ele havia me enviado por email e entrei na estrada chuvosa.

Depois de duas horas rondando a cidade em busca do endereço, me deparei com um prédio. O edifício era alto, largo e suas paredes eram inteiramente cobertas por vidro. Parecia um daqueles prédios futuristas que eu só tinha visto em filmes. Estacionei o carro na garagem coberta e tirei as minhas malas do compartimento. Enquanto esperava o elevador, olhei ao redor. A sala me lembrava o saguão de um hotel, ou de um edifício comercial. Duas mulheres estavam sentadas atrás de um balcão de mármore preto e digitavam ferozmente algo no computador, enquanto atendiam os telefones que não paravam de tocar. Um segurança alto e com cara fechada estava parado ao lado da enorme porta de entrada, observando todos que entravam ou saiam. Chequei duas vezes para ver se estava no endereço certo, quando o elevador fez um barulho e as portas se abriram.

Puxei o apoio da minha mala de rodinhas e mal percebi quando alguém tentou sair do elevador ao mesmo tempo que tentei entrar. A minha mala foi para o chão e eu quase fui também. O garoto me encarava confuso e como se eu tivesse alguém o seguindo. Ele me ajudou a levantar a mala e olhou ao redor, como se todos tivessem o observando.

Eu via vermelho. Olhei para o sujeito e enrubedeci. Ele era bonito, tipo muito bonito e parecia um tanto familiar. Não devia ser mais velho do que eu, talvez um ano ou dois. Seu cabelo castanho escuro estava jogado de lado, como se ele estivesse acordado assim. Seu nariz era levemente arrebitado e seus olhos cinzas me encaravam desconfiadamente. Ele estava todo de preto, desde sua jaqueta até seu tênis all star.

Me forcei a parar de encara – lo e entrei no elevador agora vazio, enquanto pensava o que me esperaria pela frente.


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Notas finais do capítulo

Comentem, por favor.



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