Contraposição escrita por Blue Butterfly


Capítulo 21
Capítulo XXI


Notas iniciais do capítulo

Ola leitoras lindas! Nao me esqueci de voces - ando em computador sem tempo. Vou continuar escrevendo a medida que as coisas forem se encaixando aqui. Esse final de semana posto outro cap ;)



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O parêntesis tinha se fechado no momento em que Maura soltou a mão de Amanda e entrou no carro. A despedida tinha sido longa - um almoço juntas, algumas horas de risadas e promessas de que continuariam em contato uma com a outra, e de que ela e Jane cumpriram a promessa de uma entrevista em conjunto. Agora no carro, a médica se sentia ansiosa. Sua mão descansava na coxa de Jane, e vez ou outra a morena lhe apertava carinhosamente osdedos como se para não deixar com que ela se perdesse em pensamentos obscuros do que poderia acontecer dali algumas horas. Curiosamente, a cada minuto que passava e quanto mais próximas de Boston elas se aproximavam, a loira sentia uma faísca de coragem brotar em si, condensado seu brilho à medida que Jane a lembrava de que não estava sozinha.

Não estar sozinha também se resumia ao mais novo status de sua relação. Jane não chegara a colocar um nome naquilo que elas iniciaram poucos dias atrás, mas a quem Maura queria enganar? O que quer que fosse, ela sentia que aquele laço seria o mais forte de toda sua vida. E o mais duradouro.

'Nós estamos quase lá.' A voz rouca de Jane chegou carinhosamente aos seus ouvidos. 'Você sabe o que tem que fazer. É rápido, e depois nós vamos para casa.'

Maura concordou silenciosamente com a cabeça. Ela esperava, com toda força, que Jane a acompanhasse pelo resto do dia. O que ela não sabia, entretanto, é que a detetive tinha telefonado para sua mãe para que a mesma retornasse para casa também, já prevendo que se fosse preciso deixar Maura por um minuto, que fosse então na companhia de alguém que a loira confiasse e se sentisse confortável ao redor.

Ela engoliu seco quando Jane estacionou o carro no estacionamento interno do prédio, o que não era de seu feitio. Fosse por medida de segurança ou não, a médica decidiu não perguntar. Era tão familiar está ali, pisar no mesmo chão que ela percorria todo o dia ate chegar ao seu escritório no andar superior. Com a diferença, agora, de que ela não sabia se ali era realmente um ambiente seguro e monitorado que ela uma vez pensava ser. Automaticamente ela colou ao lado de Jane ao descer do carro, a mão da morena encontrou suas costas num gesto de proteção e carinho. E era o toque que despertava o mínimo de coragem para que ela continuasse andando; naquela altura Maura estava apenas fazendo o que a lógica lhe mandava. Qualquer sentimento tinha desaparecido em baixo do manto da exigência da realidade.

Primeiro andar.

Segundo.

Terceiro.

Quando as portas do elevador se abriram, ela por puro instinto quis recuar para trás - exceto que suas costas já estavam na parede e não havia outra saída para fugir.

'Eu tô bem aqui do teu lado, Maur.' Jane disse baixinho e apertou sua mão, encorajando-na a andar para fora. Mais uma vez, mais uma inspiração lenta, a médica ignorou qualquer sensação e se forçou a pisar no andar.

A voz de Frankie se manifestou primeiro. Ele acenou um olá com a mão e ambas devolveram o cumprimento, uma com um sorriso educado, a outra com um simples balançar de mão.

'Jane. Dra. Isles.' Korsak apareceu em seguida, com alguns papéis nas mãos, depois de se levantar da cadeira. 'É bom tê-las de volta.' Ele deu dois tapinhas no ombro de Jane e suspirou antes de começar. 'Maura, eu entendo que você disse não ter visto o rosto de nenhum deles. Correto?'

'Exato.' Ela se ouviu dizendo, incapaz de controlar o tremor na voz.

'Eu sei que isso deve ser cansativo, uma tortura por causa da insistência. Mas enquanto um deles já confessou estar envolvido, a troco de uma pena mais leve, o outro continua negando qualquer envolvimento. E é você a única que possui a condição de indicar quem é. Você estava lá.' Korsak discursou em esperança de fazê-la se sentir capaz, segura e em controle da situação.

'Eu não sei... Eu não sei se posso ajudar.' Ela murmurou, os olhos recorrendo ajuda à Jane.

'Faça o melhor que puder, mas não se sinta pressionada.' Ele disse gentilmente, estudando-a. Se aquilo tinha sido uma tentativa de acalma-la, a falta de expressão da médica não lhe entregava nada.

Sabendo que não tinha muita escolha agora que já estava ali, Maura concordou com a cabeça e ela acompanhou os dois até uma pequena sala escura.

Do outro lado haviam apenas três homens. Ela observou-os atentamente, e enquanto seus olhos pairavam sobre as três figuras, os olhos de Jane e Korsak pairavam sobre ela. Ela balançou a cabeça lentamente de um lado para o outro. Ela não sabia. Ela não queria apontar para algum deles e arruinar a vida de qualquer um apenas porque estavam esperando que ela dissesse quem era o sujeito.

'Não sei. Eu não sei mesmo.' Ela disse se desculpando, sabendo o quanto aquilo era importante para Jane, para o caso, mas genuinamente impossibilitada de identificar alguem.

Jane lançou um olhar para Korsak. As sobrancelhas erguidas sugeriam um pequeno desafio. 'Não.' Ela disse secamente. Ela sabia o que ele estava pensando. Era algo que ela mesma iria sugerir... se não fosse Maura ali, ao seu lado.

'Jane, pense como a detetive que você é.' Ele rebateu com uma razão.

`O que é?` Maura perguntou, desviando a atenção da morena para o homem mais velho.

`Isso tá fora de cogitação.` Jane rebateu, ignorando a pergunta da loira.

`O quê?` Maura insistiu, mas mais uma vez foi ignorada.

`Ela trabalha para o departamento, Jane. Ela pode decidir por ela mesma.` Korsak argumentou, e contra isso Jane se calou e virou-se para a médica para estudá-la. O olhar sério, agora também emburrado, marcava seu rosto por ter sido contrariada. O silêncio se prolongou demais porque era difícil para o morena explicar a sugestão de uma forma que não fosse chocar a medica.

`Ele tá sugerindo que você entre na sala de interrogatório. Em cada uma das vezes. Com cada um deles.` Ela bateu o dedo três vezes no vidro, irritada, ao passo de que apontavacada homens.

Os olhos de Maura se arregalaram a princípio, mas depois num flash eles se estreitaram em concentração. `Tudo bem.` Ela disse, concordando com a cabeça e fixando o olhar com o de Korsak. Jane se remexeu sobre os pés, mas não disse nada. Ela cruzou os braços sobre o peito e lançou um olhar afiado para o homem mais velho, sua atitude entregando seu visível incômodo.

'Você não precisa fazer isso, Maura.' As palavras escaparam dos lábios, e o toque nos braços da médica foi quente o suficiente para motivá-la a seguir em frente.

'Eu só quero que isso acabe de uma vez.' Ela disse para Jane, e agora era quase um apelo para que fosse compreendida.

A morena ponderou por um tempo. Colocá-la numa pequena sala, cuja similaridade era a de um cativeiro, com um dos envolvidos... não parecia algo para terminar bem. Despertaria lembranças. Traria pesadelos. Mas de novo, lá estava Maura mostrando-se forte, disposta a lutar por ela mesma, por Jane. 'O que você decidir, Maura.' Mas eu vou estar lá.

E após uma pequena conversa entre as duas, Maura se sentia mais confiante. A razão pela qual tinha aceitado a proposta de Korsak era que a cada minuto que passava ali, ela se sentia tudo voltar com força imensurável para ela: as lembranças de todo trabalho duro e meticuloso que faziam para apreender um assassino; o espírito de equipe que conectava-os tão fortemente, razão pela qual a maior parte das resoluções de casos e apreensões eram bem-sucedidas.
Ela tinha mais motivos para acreditar que ganharam mais aquela batalha, do que para temê-la.

Ao entrar na sala de interrogatório, o primeiro suspeito estava já sentado na cadeira de metal.

Nem Jane e nem Maura fizeram menção de sentarem também.

'Eu não fiz nada, cara.' O jovem homem se defendeu. O sotaque arrastado, aquele tão comum entre os moradores de rua.

'Não é ele.' Maura disse afirmou depois de prestar atenção na voz, no vocabulário que ele usava. Ele soava como um jovem delinquente, o tipo que pichava paredes e propriedades, mas não que maltratava pessoas.

'Eu disse!' Ele virou o rosto para Korsak, parecendo bastante indignado por ser desacreditado anteriormente.

Suspirando, Jane abriu a porta e esperou pacientemente enquanto o homem era retirado de lá, vindo em substituição outro em seu lugar.

Um cheiro familiar invadiu a sala e pairou sobre o ar. Maura corrigiu a postura e piscou os olhos rapidamente.

Ela conhecia aquele cheiro.

Sentindo as mãos tremerem, ela segurou no antebraço de Jane e discretamente lhe lançou um olhar significativo através do vidro espelhado da sala. O homem de estatura média, pele clara e cabelo castanho escuro se sentou em frente delas e não disse nada. O olhar era um tanto quanto esnobe, tirano. Jane entendeu o recado de Maura e sem hesitar rosnou a pergunta.

'Quem é você? Qual seu nome?' Ela disparou. Se Maura não tinha visto suas feições, ela poderia identificá-lo pela voz. E claro, por algo mais - algo que a detetive não sabia o que era, mas a reação da médica levava a acreditar que ela já o tinha feito.

O homem abriu um sorriso de canto, como se apreciando a tentativa de comunicação. Ele optou por ignorar Jane, inclinou a cabeça para o lado e se dispôs a encarar Maura... como se decidindo a melhor maneira de castigá-la.

'O gato comeu tua língua?' Jane deu um passo à frente, numa fúria contida por ter sido ignorada - por ele ter ousado encarar Maura daquele jeito.

'É ele.' Maura disse balançando a cabeça de um lado para o outro. 'Você já sabe o que precisava saber.' Ela se virou para Korsak, apertou mais uma vez o braço de Jane e deixou a sala, fechando a porta atrás de si.

Acalmando as batidas do coração, a médica percorreu a passos apressados o chão até chegar e se acomodar na cadeira de Jane. Ela suspirou, sabendo que em poucos instantes a morena estaria atrás dela. Honestamente, tudo o que ela precisava agora era de ar fresco. Todos acontecimentos dos últimos dias continuavam rodopiando em sua frente, como se fosse uma neblina embaçando seu futuro - seu presente.

O que aconteceria agora? Ela iria para casa, voltaria para o trabalho, mas teria o mesmo senso de segurança como antes? Quantas vezes mais isso se repetiria? Quantas vezes ela e Jane seriam colocadas em situações de risco? Ela se sobressaltou quando a mão da morena pousou em seu ombro e apertou carinhosamente.

'Você tá bem?' A voz preocupada de Jane amoleceu seu coração. Ela abriu um sorriso fraco e balançou a cabeça em sim.

'Eu só...' Ela murmurou, os olhos caindo para baixo.

'Quer saber, Maura? Eu só quero ir para casa com você.' Ela acariciou o ombro da médica, ciente dos olhares sobre elas.

'E Korsak? Eu...'

'É como você já disse. Ele já tem o que precisa. Você pode me contar depois em casa.' Jane fez um sinal para que ela se levantasse e a acompanhasse.

E diante de todas as incertezas, no meio de uma névoa densa, Maura se sentia situada por conta de uma única razão: o zelo de Jane para consigo era o que acalmava as batidas de seu coração, tornando-a novamente centrada, sabendo que passo a passo elas enfrentariam juntas o nevoeiro de dúvidas, atravessando para um dia límpido de verão.


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