Contraposição escrita por Blue Butterfly


Capítulo 20
Capítulo XX




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/644989/chapter/20

Jane respirou fundo e descartou o celular em cima da cama balançando a cabeça de um lado para o outro. Ela acabara de trocar mensagens com Frankie pelo dispositivo, apenas para deixá-lo saber de que Maura não estava disposta a voltar para Boston naquele dia - e ela nem tinha certeza sobre os próximos. Fazia em torno de meia hora que ela estava sozinha, sabendo muito bem de que a médica estava ainda dentro de casa, provavelmente na sala ou na cozinha, considerando de que ela não estava vestida adequadamente para sair lá fora. O motivo de Jane não ter ido checá-la no momento em que deixara o quarto era óbvio: Maura precisava ficar um tempo sozinha. Irritada, ela e Jane embarcariam numa discussão que não chegaria a resultado nenhum, senão à dor e a sensação de solidão. Um brecha de palavras e de uma da outra eram tudo o que elas precisavam então.

E para Jane, seus minutos a sós já tinham sido absolutamente suficientes. Embora o tratamento de Maura tivesse sido frio, ela sabia que a reação era apenas um estratégia de auto-defesa. Convencida de que era hora de se certificar de que ela estava bem - ao menos mais calma, para ser mais preciso - ela suspirou e se levantou da cama. Elas teriam que conversar de novo, esclarecer tudo, chegar num acordo.

Jane cruzou a sala e localizou Maura sentada no chão, em frente à lareira. Não havia nenhum fogo aceso, mas a médica parecia concentrada em suas chamas invisíveis. A detetive caminhou até a cozinha e encheu um copo de água - mera desculpa para anunciar que estava por perto. Maura nem se mexeu, talvez ainda disposta a continuar ignorando-a.

Atrevida, Jane parou alguns passos atrás dela e suspirou mais uma vez. Por que tinha que ser tão difícil? As coisas deveriam ter sido diferentes essa manhã, deveriam ter sido a continuação do que começaram na noite anterior. Ela inclinou a cabeça para o lado e tentou uma piada - o único modo que conseguia lidar com uma situação tensa.

'Não adianta muito se você não acender o fogo. É ele que te esquenta.' Ela franziu o rosto com a observação ridícula, e viu Maura virar a cabeça para o lado, sem encará-la e depois abraçar as pernas dobradas no peito. O silêncio ainda permanecia entre elas, mas Jane tomou-o como uma forma de trégua - se Maura a quisesse fora dali ou não estivesse afim de conversar, ela deixaria claro. Ela pegou a coberta em cima do sofá com uma mão - o copo de água na outra - e voltou-se para a médica de novo.

Jane sabia que ela tinha chorado. O rosto estava levemente vermelho, a respiração pesada. Ela não queria pressionar Maura até seu limite e se sentiu terrível por vê-la ali, atingida e ferida pela pequena discussão de mais cedo. Com cuidado, ela colocou o copo e coberta no chão, sentou-se atrás da mulher e abraçou sua cintura temendo e esperando que ela fosse recuar. Contra expectativas, a loira se entregou ao gesto e se encolheu no abraço de Jane como um passarinho que se encolhe contra o ninho em busca de proteção.

'Eu sou uma idiota, me desculpa.' Ela murmurou com a voz carregada pelo choro, o corpo pressionando no de Jane, tremendo levemente de frio.

A detetive imediatamente enrolou-a na coberta, usando suas mãos para produzir calor ao esfregá-las com carinho nas pernas dela. 'Não, você não é. Eu te pressionei mesmo sabendo que você ainda não estava pronta.' Ela beijou o cabelo dourado e encostou a bochecha na cabeça dela. 'Eu sinto muito, eu não quis te chatear.'

Maura apertou sua cintura de leve com a mão e se remexeu em seus braços. 'Nós estamos bem?' A voz saiu falhada, carregada de incerteza e arrependimento. Jane a abraçou com um pouquinho mais de força e beijou seu rosto repetidas vezes.

'É claro que estamos, Maur, qual é.' Um minuto de silêncio. A médica fungou algumas vezes até que pareceu se acalmar. Jane não queria falar mais nada - agora era o momento da loira colocar para fora tudo o que sentia. Decidida a ser mais cautelosa, ela pegou o copo de água e ofereceu. 'Você quer um pouquinho?'

Maura mexeu a cabeça em sim, aceitou o copo e tomou metade do conteúdo e agradeceu em seguida. Ela segurava o objeto nas mãos de forma que parecia que ele lhe trazia toda a concentração que podia para reorganizar o pesamento. Jane acariciou seu cabelo e sorriu para ela em compaixão. Ela se sentia cansada por causa do desgaste emocional, do choro, e se inclinou novamente na morena.

'Eu acho que perdi minha cabeça.' Ela murmurou se sentindo estúpida após as palavras - aquilo era tão óbvio. 'Eu sei que isso aqui era provisório, um parenteses na nossa vida, mas eu estava me acostumando. Eu quase tinha me esquecido de tudo o que nos trouxe até aqui, mas isso não é real.'

Jane franziu o cenho e chacoalhou a cabeça em não ao compreender a linha de pensamento da médica. 'Maura, é claro que isso é real. Voltar para Boston não significa... Não significa que nós vamos perder Marley, Amanda; eu e você. E também não quer dizer que nós não vamos restaurar lá a mesma paz que encontramos aqui.' Ela disse calmamente, colocando uma mecha de cabelo dourado atrás da orelha dela.

A loira mordeu o lábio inferior e seus olhos estudaram a água dentro do copo. Ela não estava pronta para voltar para Boston - ela não sabia o que esperava por ela lá. Ela se sentia despreparada para trazer a tona detalhes do sequestro, e o fato de ter que identificar a pessoa que fizera isso com ela era o que lhe apertava o estômago terrivelmente. Aquela noite tinha sido uma das mais confusas e atormentadas que já vivera, e embora ela não tivesse sido machucada fisicamente, seu agressor lhe tirara o controle que tinha sobre si, sobre sua vida, deixando-a como uma mera expectadora passiva depois de alertá-la de que todo mal que ela presenciaria - Jane sendo torturada e, por sua culpa, morta.

'Eu estou com medo.' E de tudo o que ela poderia justificar, essas foram as simples palavras que deixaram seus lábios. Um resumo do redemoinho de sentimentos dentro de si. Medo de perder Jane, de ser atacada de novo. Medo de não poder ajudar na investigação, de se parecer como tantas outras vítimas que ela já tinha conhecido.

'Você pode contar comigo, você não vai estar sozinha. Eu quero te trazer de novo a segurança de antes, e Maura, eu não vou te decepcionar. Mas por favor, não se isole. Não me afaste. Eu preciso que você fique do meu lado para que eu possa cuidar de você.' Jane quase implorou. Ela sabia que se distanciar era a primeira reação que Maura tinha quando estava assustada - ela sempre estivera sozinha e aprendera a cuidar de si só, encasulando-se para se proteger do mundo, para lidar com sentimentos árduos que por vezes consumiam tanto de sua energia.

Ela escutou as palavras atentamente e apertou a mão sobre as mãos de Jane. Desde sempre a morena tinha tornado tudo em sua vida mais simples, mais prazeroso. Por que ela não confiaria nela agora, então? Ela chegara ali, naquela casa, tão mais ferida e apavorada do que agora e mesmo assim fora Jane quem a ajudara a se recompor. Ela respirou fundo e finalmente ergueu a cabeça para encarar a morena. Ela poderia fazer isso. Bem, ela poderia tentar fazer.

'Quando nós precisamos ir?' Ela precisou juntar cada migalha de coragem para consentir que as palavras saíssem - era quase como se fossem forçadas.

Jane sorriu para ela em reconhecimento da boa vontade que mostrava ter. Ao seus olhos ela parecia ainda tão frágil como um castelo de cartas que se destruiria apenas com um sopro forte. Se por um momento ela ficou dividida entre o bem-estar da médica e a obrigação que tinha em comparecer na delegacia, quando Maura piscou seus olhos verdes ainda marejados por lágrimas, ela sabia o que deveria ser feito. Ela já tinha dito para Frankie, de qualquer forma, de que elas não voltariam naquele dia. Só porque a médica estava cooperando agora, não significava que ela realmente estava preparada. Jane queria reafirmá-la, dizer-lhe tantas vezes que estaria - estava - ao seu lado que sua segurança se tornaria inabalável.

'Não hoje.' Ela disse, beijando sua cabeça demoradamente. 'Hoje eu vou te levar para a cama e esquentar você, porque você tá gelada. E eu vou te amar de novo e de novo. Eu posso fazer isso?' Ela entregou um beijo no pescoço da loira.

'Você pode.' Ela respondeu baixinho, respirando aliviada por poder ficar por ali por mais aquele dia.

'Ótimo, porque era isso que esperava desde que acordei. Vem, vamos sair daqui.' Jane disse e se desenroscou dela, se levantou e esticou a mão para ajudá-la. Uma vez que Maura se levantou, ela segurou o olhar de Jane antes de abraçá-la. A morena retribuiu o abraço e a balançou de leve. Maura era sempre tão dona de si que por vezes era difícil de acreditar que ela se tornava assim, tão vulnerável ao mundo. Jane nem se lembrava de qual fora a última vez que presenciara estado emocional similar à esse; provavelmente quando Dennis a engara e depois tentara matá-la, mas ela nem mesmo tinha certeza.

'Eu não quero que você fique em outro lugar, senão do meu lado.' Ela murmurou perto do ouvido de Jane, claramente num novo pedido de desculpas por tê-la afastado de si mais cedo.

Jane estalou a língua, não dando muita importância o comentário. 'Que tal... em cima de você?' A risada saiu contida depois de Maura ter beliscado sua cintura. 'Eu não vou deixar você. E nesse momento nós temos negócios a terminar, doutora.' Ela deu dois tapinhas do quadril da médica e, como se tivessem já combinado o gesto, Maura pulou e laçou a cintura dela com as pernas.

'Você quer aprender um pouco sobre anatomia?' Ela deu uma risadinha, ainda tentando se livrar da preocupação que tinha em mente.

'Me mostre tudo o que você sabe.' Jane beijou entre seus seios - com Maura obstruindo sua visão nesse momento ela não via nada e andava às cegas para a direção do quarto, confiando na memória do local que tinha em mente.

'Me diga por onde você quer começar.' A médica beijou o pé de seu ouvido em provocação - se agora a brincadeira apelava para o lado sexual, Maura tinha certeza que assim como na noite anterior Jane seria doce e carinhosa, e que dada a situação ela passaria a maior parte do tempo lhe mimando e, como de costume, provocando-a com o sarcasmo afiado que tinha. Ela se ajeitou na cama quando a morena a colocou ali, e em seguida Jane estava deitando-se sobre ela, um sorriso maroto nos lábios.

'Eu posso tocar em vez de só dizer?' Uma sobrancelha arqueada em malícia, uma coxa pressionada entre suas pernas.

'Jane!' Ela arfou, abrindo bem os olhos. Com toda certeza, baseado em seu último movimento, Jane não parecia mais incomodada assim para falar - reproduzir - assuntos sexuais.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!