Contraposição escrita por Blue Butterfly


Capítulo 10
Capítulo X


Notas iniciais do capítulo

Mil e oitocentas palavras - curto, mas amanhã ou depois já tem mais ;)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/644989/chapter/10

Maura se remexeu na cadeira para uma posição mais confortável e pousou seus olhos em Jane. A morena se mexia com determinação e rapidez, ainda assim com graciosidade. Ela parecia animada em ajudar a cozinhar a janta, e Amanda parecia estar desfrutando da companhia das duas, dado que parecia bem animada em compartilhar suas histórias e trocar risadas com Jane. A médica deslizou os dedos distraidamente em cima da toalha da mesa, roçando o bordado e contornando suas formas. Ela finalmente abaixou o olhar para descobrir flores pequenas e delicadas bordadas ali, e um sorriso brotou de seus lábios ao estudar a arte.

'Foi uma tia minha quem bordou.' Disse Amanda, certamente prestando atenção nela e tirando-a do transe. 'Ela está velha e não tem mais muito o que fazer, então ela decidiu bordar.'

'É muito bonito.' Maura disse, contornando uma última vez uma flor salmão. 'Me lembra das flores da minha antiga casa, de quando eu era pequena, quero dizer.'

'Tenho certeza de que titia ficaria feliz em bordar uma para você.' Ela disse e riu divertida. 'Mas é provável que ela te cobre os olhos da cara.'

Maura abriu a boca para responder que não, muito obrigada, mas se deteve ao escutar o grito de Jane. 'Au! quente, quente demais!' Ela dizia enquanto chacoalhava a mão e dava pequenos pulinhos do chão. Depois ela levou a mão na boca e virou os olhos para Maura. 'Acho que queimei minha língua.'

'Você acha?' Maura lançou-lhe um olhar em reprovação. 'É isso que dar ficar beliscando a comida antes da hora.' Ela balançou a cabeça em não ao passo de que Jane devolveu um olhar ofendido.

'Eu só estava provando o tempero!' Ela se defendeu, jogando a colher suja na pia.

'Maura, você toma vinho, certo?' Amanda interrompeu a troca das duas, esticando o braço ao oferecer uma taça para a médica.

'Sim, obrigada.' Ela aceitou e sorriu em agradecimento. Ela bebericou o vinho e lançou um olhar para Jane que ainda continuava entretida no cozinhar. Amanda tinha sugerido que elas cozinhassem uma receita tailandesa e o resultado dos ingredientes e temperos lançava ao ar um aroma agradável e despertava a fome em Maura.

'Falta algo... Um toque de limão, eu acho.' Jane disse do nada, aparentemente mais para si mesma do que para as duas.

Amanda trocou um olhar divertido com Maura e colocou a mão da cintura. Com a outra, segurando a própria taça de vinho, indicou o fundo da casa. 'Coincidentemente, tem um pequeno pé lá atrás. Se você realmente quiser se aventurar entre os espinhos.' Ela riu levemente, dando de ombros.

'Você quer dizer que não tem limões colhidos porque tá com medo de alguns espinhos?' Jane provocou e riu com desdém. 'Eu vou apanhar alguns. Vem Marley!' Ela disse tomando o desafio sem se dar conta de que nem mesmo onde a localização da árvore era.

Pouco disposta a sair de casa, Amanda apenas acompanhou com o olhar enquanto a morena desaparecia pela porta, Marley em sua cola, feliz o bastante por poder passear livre mais uma vez. Maura se levantou e espiou pela janela que exibia o quintal da casa, até que a forma de Jane apareceu e sumiu de vista. De repente ela se sentiu inconfortável. Era a primeira vez desde que chegara ali, desde que fora resgatada, de que Jane a deixava por alguns minutos. Ela respirou fundo tentando acalmar-se e lançou um olhar de soslaio para Amanda. A morena parecia não lhe prestar atenção, ainda assim Maura se sentia inconfortável perto dela. Talvez não fosse sua pessoa... Talvez fosse só o trauma pelo qual passara falando mais alto. Ela não queria ficar perto de desconhecidos. Ela não queria contato. Ela não conseguia se manter calma com a presença de um estranho no mesmo cômodo.

Ela se afastou da cozinha sutilmente, a fim de evitar a presença de Amanda ao seu lado. Ela sabia que não era educado perambular na casa de um estranho dessa forma, ainda mais sem permissão, mas nesse momento ela dispensou a educação para ceder espaço à chance de recuperar o equilíbrio. Seus olhos passearam pela instante que sustentava livros, souvenirs de partes do mundo e fotos. A primeira que viu era a de Marley, ainda filhote. Uma bola laranja estava presa em sua boca e olhos doces e serenos encaravam-na de volta. Ela sorriu com a similaridade com o cão agora maior, mas que ainda parecia tanto aquele cachorrinho. Na próxima foto ela descobriu uma Amanda mais nova, a paisagem dos prédios de Nova Iorque ao fundo, as árvores carregando as folhas queimadas do estação de outono. Um pouco mais em baixo, novos rostos sorriam para ela. Lá estava Amanda de novo, numa foto que parecia mais atual, o cabelo preso no alto da cabeça, roupa de verão, um abraço apertado em uma mulher jovem, mais nova do que a morena. Ela tinha olhos castanhos claros e felizes, e a semelhança com Amanda denunciava um grau de parentesco. As duas pareciam estar se divertindo no momento em que a foto fora tirada, e a serenidade no rosto das duas fez um sorriso brotar nos lábios de Maura.

'É minha irmã mais nova.' A voz de Amanda veio atrás dela e ela se sobressaltou. Envergonhada por ter sido pega estudando uma vida que não era dela, Maura sentiu as bochechas corarem e abaixou a cabeça.

'Ela tem traços parecidos com os seus.' Ela franziu o cenho com o comentário. Soava tão como ela. 'Ela é bonita.' Ela tentou consertar.

Amanda riu baixinho e caminhou em direção à foto, mas segurou o porta retrato seguinte. Ela o mostrou para Maura e explicou enquanto corria o dedo entre as pessoas. 'Essa é minha mãe. Essa sou eu, com quatorze anos. E essa é minha irmã, com quatro.' Ela esperou pacientemente enquanto Maura analisava a foto, agora segundo-a com as próprias mãos.

'A diferença de idade entre irmãos geralmente é o fator que mais influência no relacionamento deles. Vocês brigavam muito por conta disso?' A médica disse clinicamente, mas quando ela notou o sorriso e o olhar fixado de Amanda sobre ela, como se tivesse analisando-a e descobrindo seus segredos, ela mais uma vez abaixou a cabeça, recuando. 'Desculpa, eu não sou muito boa com...'

'Nós tiramos essa foto no dia do aniversário dela.' A morena disse, dispensando o comentário de Maura. Ela pareceu hesitar por um momento, depois de passar os olhos pela foto de novo. 'Nós morávamos num vilarejo perto de Nova Iorque. Eu sempre cuidei dela, e lá nós tínhamos um quintal grande e vizinhos legais. Você sabe, coisa de vilarejos. Todo mundo conhece todo mundo.' Ela recebeu de volta o porta-retrato e o devolveu no lugar. Os olhos de Maura piscaram para ela, interessados. 'Você tem irmãos?'

A médica balançou a cabeça em sim. 'Tenho, mas não... Não cresci com ela. Eu fui adotada, e... É complicado.' Ela disse apenas, e lambeu os lábios.

'Entendo. Bem... Você quer saber de algo, Maura?' Ela trocou o peso do pé e inclinou a cabeça para o lado, como se estudando a situação e ponderando se deveria lhe contar ou não.

Incerta, a loira balançou a cabeça em sim.

'Nós tiramos essa foto no dia do quarto aniversário dela.' Ela começou.

'Você me disse.' Maura adicionou baixinho, apenas para demonstrar seu interesse.

Com um meneio de cabeça, a outra continuou. 'Nós tínhamos uma vizinha de que gostávamos muito. Ela... Tinha algum problema neurológico, é o que minha mãe dizia. Algo assim. Um dia, nesse dia,' ela apontou para a foto, 'nós estávamos preparando uma festa para Cameron, esse é o nome da minha irmã, e em algumas horas iríamos receber as outras crianças da vizinhança. Bem... Não demorou muito tempo para gente descobrir que minha irmã tinha desaparecido.'

Maura arregalou os olhos e segurou a respiração. A reação dela fez com que Amanda sorrisse em compaixão. 'Foi exatamente isso que fiz quando soube. Nós a procuramos por horas, pareceu uma eternidade. Ela era minha única irmã, minha melhor amiga, apesar da idade.' Ela riu consigo mesma e deu de ombros. 'Foi desesperador. Eu chorei muito, achei que nunca mais a fosse ver. Meu pai tinha um primo que trabalhava como patrulha na época, e com ajuda dele e outros policiais, eles vasculharam a maior área possível. Eles encontraram minha irmã com essa vizinha que te falei. Ela disse que tinha levado Cameron para passear e tinha se perdido. Nós não ficamos bravas com ela, nem nada. Como a gente poderia? Não foi por mal. A pior parte foi que quando minha irmãzinha nos viu apavoradas, ela repetiu o comportamento sem nem saber o porquê. Isso foi traumatizante para ela. Ela se lembra desse dia.' Ela apontou para a foto de novo. 'Mas não foi por causa da festa de aniversário.'

Maura piscou os olhos e lançou um olhar para a foto de novo. Tinha sido tirada, certamente, antes do acontecido. Não era uma lembrança exatamente honesta sobre aquele dia. 'Eu sinto muito.' Ela murmurou, sem saber o que dizer.

Amanda deu de ombros. 'Coisas assim acontecem. Ela está bem agora. É uma lembrança apagada, para todas nós, devo dizer. E respondendo tua pergunta, nós nunca brigamos. Ela sempre foi minha boneca, era divertido.'

Maura riu baixinho e olhou para a pequena menininha na foto. A pele branca e o cabelo escuro fazia com que ela parecesse uma boneca de porcelana, realmente.

'Ah... Maura?' Amanda se virou para ela, mais uma vez, antes de deixá-la sozinha. 'Ela não se lembra da festa desse dia porque nunca aconteceu. E o que ela se lembra, a propósito, é do Amendoim.' A morena apontou para a foto de um gato peludo, todo marrom, no colo da menina. 'Foi o presente de aniversário que ela mais gostou, eu suspeito.'

'Amendoim?' Maura ergueu a sobrancelha em descrença.

'Ela tinha apenas quatro anos, dê um desconto.' Amanda riu divertida e se aproximou dela, levando uma mão em seu ombro. Se a primeira reação da médica foi querer se livrar do toque, a sensação de conforto que a invadiu em seguida relaxou seu corpo completamente. 'Eu espero que quando seu medo se apagar, você consiga se lembrar de algo mais importante do que aquilo.' Ela disse se referindo ao seu sequestro, apertando de leve a mão no ombro de Maura. Instantes depois ela saiu, deixando a médica paralisada, mais pelo fato de estar surpresa pela demonstração de afeto vindo da outra. Quando Maura ouviu Jane gritar uma ordem para Marley, ela já não se sentia tão exposta por estar ali naquela casa, com a companhia de outra pessoa que agora já nem lhe parecia tão estranha - nem ameaçadora.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!