O Segredo de Touro escrita por Lune Kuruta


Capítulo 1
Capítulo Único




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Quando se vê Áries perambulando pela casa soltando fogo pelas ventas, é sinal de que o dia está correndo normalmente.

E lá estava ele, elétrico e furioso naquele domingo, saindo da sala de TV após uma derrota de seu time de futebol. Havia gastado metade de todo o seu estoque de palavrões com o atacante pipoqueiro, o goleiro frangueiro, o juiz cego, o bandeirinha hipócrita, as mães do bandeirinha e do juiz, o comentarista babaca, o locutor que tomava partido…

Depois de entornar a tigela de pipoca na cabeça de um vibrante Sagitário — que torcia pelo time vencedor e obviamente não tinha medo de zoá-lo pela goleada acachapante (ou, numa hipótese mais plausível, não tinha tanto amor à vida) — e quase acertar a televisão com o tênis (esse "quase" se deveu mais à pontaria afetada por seu estado de fúria, na verdade), decidiu deixar o recinto antes que promovesse um assassinato ali mesmo. Seu destino era certo: somente uma pessoa naquela casa tinha o dom de aguentar os seus constantes acessos de fúria e ser suficientemente resistente para suportar as sacudidas, os gritos e o excesso de veemência do ariano. Então era o cara ideal para extravasar todas as suas frustrações, obviamente.

Quando se vê Touro cochilando (no quarto, já que os gritos na sala não o deixariam dormir) após uma boa refeição, é sinal de que o dia está correndo normalmente.

Só que Touro não estava lá.

Estranho… tinha certeza de o ter visto na cozinha mais cedo, será que estava comendo outra vez? Revirou os olhos, irritado por ter de procurar pelo terapeuta particular (ora, berrar no ouvido dele era realmente uma terapia!) e desceu rumo à cozinha.

Quando se vê Touro na cozinha (quando não está dormindo), é sinal de que o dia está correndo normalmente.

E ele estava lá. Mas não exatamente comendo.

— ... E a gente faz — Ia dizendo Câncer ao taurino, que parecia distraído futucando sua fatia de bolo de chocolate com o garfo.

Vejam bem: Touro estava brincando desinteressadamente com um pedaço particularmente avantajado de bolo de chocolate. E feito pelo Câncer, ainda por cima. Onde já se viu Touro enrolar pra comer algo que tanto amava? Áries franziu a testa ante a cena inédita: algo estava decididamente errado.

— ... Hum... — Murmurou o taurino, os olhos ainda fixos no próprio garfo — Se você diz...

— Mas não se esqueça, Touro: só nós dois. Dou meu jeito, pode deixar... assim poderemos ficar a sós e à vontade — Sorriu tranquilizador, e o taurino acabou por retribuir mansamente o sorriso.

... Mas que história era aquela?! Áries fechou os punhos com mais força, a segundos de invadir a cozinha e acabar com toda aquela palhaçada. O que diabos aqueles dois estavam tramando? Por que precisariam ficar sozinhos pra fazerem juntos sabe-se lá o quê? Por que Touro estava prestando mais atenção a Câncer do que àquele maldito pedaço de bolo?!

Aquilo não estava errado. Aquilo estava decididamente suspeito.

Mas a gota d'água foi...

— E o que eu faço com ele? — O taurino praticamente suspirou enquanto falava, parecendo um pouco mais desalentado que seu habitual.

— Ele não pode saber de jeito nenhum! — Câncer respondeu seriamente — Se o Áries ficar sabendo...

Conhecem a paciência ariana? Não? Pois é, ela não existe...

— Se eu ficar sabendo do quê?? — Áries invadiu a cozinha praticamente gritando com os conspiradores.

Ainda que estivesse enxergando tudo vermelho, não pôde deixar de reparar que Touro reagiu à sua entrada de uma forma bastante atípica, sobressaltando-se e deixando o garfo cair com estrépito sobre o prato. Aquilo, mais do que aquele papo todo, foi o que mais intrigou (e emputeceu, claro) o ariano. Touro sempre mantinha aquela expressão estoica com suas explosões repentinas, era o único a não se assustar caso iniciasse uma enxurrada de palavrões do nada. Reagir daquele jeito com sua chegada era praticamente uma confissão de que estava aprontando.

— Vamos, falem logo, caceta! O que eu não posso saber?!

— Whoa, calma, Áries! Não estávamos falando de nada grave, era só... — Câncer tentou contemporizar, sorrindo amarelo mas sem saber o que inventar para desviar o foco do assunto. Touro coçou a cabeça e completou:

— ... Que eu comi todo o chocolate que compraram hoje de manhã, inclusive o seu.

— Isso, ele só com... VOCÊ O QUÊ?! — Câncer não conseguiu sustentar a história, indignado.

Áries nem se ligou tanto na reação pra lá de suspeita de Câncer, ocupado que estava prestando atenção ao comportamento de Touro. Este finalmente levava um pedaço de bolo à boca, talvez com um pouco mais de ímpeto que o habitual… a voracidade de quando estava nervoso.

— Bah, que se dane o chocolate, você sabe que eu nem ligo pra essa droga e até te dou o meu! Se não mexerem na carne, tô nem aí!

Touro não respondeu, mas era impressão de Áries ou o rosto dele havia ficado ligeiramente rosado quando falou sobre seu hábito de dar o chocolate a ele?

Puxou Touro pela blusa azul, arrancando-o da cadeira e o encarando, nariz a nariz.

— Vai me dizer que porra tá acontecendo aqui ou vou ter de usar minha mão pra arrancar palavra por palavra direto da sua garganta?!

A respiração habitualmente tranquila de Touro (mesmo naquelas circunstâncias) parecia um pouco mais agitada, seu rosto se avermelhou um pouco mais e ele... desviou o olhar. O que raios estava acontecendo? Por que aquela situação tão corriqueira entre eles o estava afetando tanto? Ah, certeza que era consciência pesada! Estava aprontando e se sentiu perdido ao ser desmascarado!

A raiva de Áries acabou, bizarramente, se esvaindo diante de um comportamento tão fragilizado. Afrouxou o aperto, bufando.

— Ah, enfiem o chocolate no rabo!

Saiu furioso da cozinha, batendo a porta com tanta força que a casa toda pareceu estremecer. Não entendam mal, Áries não estava desistindo: apenas precisava encontrar uma outra forma de arrancar a verdade daqueles dois. E… a bem da verdade, aquele rosto corado o havia desestruturado ligeiramente, mas preferia não pensar naquilo no momento. O foco era descobrir o que eles estavam aprontando.

E Áries jamais foge de um desafio, certo?

—-

— Então você quer que eu consiga algumas informações do Touro e do Câncer pra você, é isso? — Escorpião mexia displicentemente em seu celular, lendo mensagens, enquanto ouvia Áries.

Áries é o tipo de cara que sempre quer resolver tudo sozinho, então realmente detestava pedir ajuda a quem quer que fosse. Contudo, aquela situação era tão atípica que tinha a sensação de que estragaria tudo se entrasse de chifre na história (como havia feito na cozinha sem sucesso algum). O jeito era engolir o orgulho e requisitar ajuda profissional.

— Isso… — Áries bufou — Ninguém consegue informação melhor que você, nem o Gêmeos. Quero que descubra o que aqueles dois estão aprontando pelas minhas costas. Filhos da…!

— Legal. Touro e caranguejo no rolete. Promissor…

— … NÃO É PRA BOTAR A MÃO NELE! Digo, neles! É pra espionar, sei lá! Eu queria muito fazer isso, mas não ia dar certo… — Detestava admitir, mas não tinha a paciência ou a perícia necessária pra observar as coisas antes de quebrar tudo.

Aguardou um pouco incerto. Sabia que o escorpiano não era de seguir ordem ou fazer favores por aí, a menos que fossem por um certo piscianinho meigo de cabelos azul-céu. Mas tivera de apelar para um cara discreto, eficiente e confiável — Gêmeos certamente sairia inventando coisas só pra ver o circo pegar fogo, não daria pra crer plenamente nas informações obtidas por ele.

Escorpião pareceu refletir por um momento, os olhos ainda cravados na tela do celular, antes de finalmente direcionar o olhar arguto a Áries. A expressão era insondável.

— Pois bem, está combinado.

Áries cruzou os braços, um tanto irritadiço por não poder agir sozinho, e soltou um grunhido à guisa de agradecimento. No fundo, porém, estava bastante confiante. Era questão de tempo até descobrir o que Touro (e aquele outro, completou mentalmente enquanto bufava) estava tramando que ele não poderia saber. E quando descobrisse… Touro ia ver só. Ninguém brincava com ele!

Escorpião continuava a observar o ariano, um sorrisinho discretamente divertido brincando em seus lábios enquanto embolsava o celular.

—-

À medida que a semana ia avançando, porém, aquela confiança toda ia se transformando em irritação.

Depois daquele fatídico domingo, todas as noites, após o jantar — e após Câncer levar a refeição ao escritório de um Capricórnio workaholic que sempre se esquecia de comer —, os dois se trancavam na cozinha. Por algumas vezes, Áries havia tentado se aproximar da porta para tentar ouvir algo, mas Escorpião estava sempre por ali e o impedia.

— Se quiser descobrir o que eles estão fazendo, vai ter de ficar quieto e esperar eu te levar a informação — Alertou o outro — Não estrague tudo, Áries!

A mão de socar gente atrevida chegou a tremer, mas Áries sabia que Escorpião estava certo. Precisaria ser paciente — leia-se, espancar o saco de areia em seu quarto até a exaustão — e aguardar que ele finalmente lhe trouxesse a informação que queria.

Mas Escorpião não parecia ter a menor pressa. Embora passasse noite após noite perambulando nas proximidades da cozinha até que Câncer e Touro saíssem de lá, ainda não lhe dera qualquer informação concreta. Segundo o próprio escorpiano, precisava ter certeza, decifrar alguns códigos próprios e outros detalhes misteriosos.

Áries passava tanto tempo pensando naquele mistério todo que passara a ter sonhos estranhos envolvendo Câncer, Touro, uma seita de adoração ao chocolate e rituais impróprios para menores (e pessoas inocentes como o Peixes). Nessa parte do sonho, invariavelmente, Áries acordava socando o travesseiro como se esperasse ver pinças de caranguejo brotando pela fronha.

Mas o pior não era a falta de notícias por parte de Escorpião, nem a curiosidade mórbida, nem os pesadelos regados a gastronomia erótica. Áries notou que Touro o estava evitando a todo custo durante aqueles dias. Sequer vinha até ele em busca de seu chocolate, e sempre inventava desculpas esfarrapadas para escapulir de sua presença e se juntar a Câncer ou Peixes.

Aquilo o enfurecia, mas também o magoava, por menos que quisesse admitir. Sempre achara que carência fosse coisa de gente frouxa, mas Touro era a pessoa mais próxima que sempre tivera, e seu afastamento parecia ter deixado um buraco. Com quem poderia externar seu mau humor? Com quem poderia compartilhar seus planos mirabolantes que jamais saíam do “papel”? Quem mais poderia se dispor a ser agarrado e sacudido de um lado pro outro sem se queixar ou tremer? Sentia-se mais sozinho do que nunca, o que se traduziu em um mau humor terrível que afastava ainda mais os demais moradores da casa.

Exigir paciência de um cara imediatista e ativo como Áries era praticamente uma tortura à parte. Já não estava aguentando mais.

Na noite de quinta-feira, conseguiu encurralar Touro no quarto dele antes que descesse para jantar. O taurino pareceu quase em pânico ao se ver a sós com o amigo em seus próprios aposentos, o que desconcertou Áries ainda mais. Mas não poderia deixar a oportunidade passar.

— Agora vai me dizer... — A voz firme, batendo a porta do quarto ao entrar e avançando até Touro — ... o que diabos tá rolando com você!

Touro recuou um passo e Áries viu os olhos escuros relancearem até a porta como se calculasse suas chances de fuga. Quase riu. Touro era lento demais, seria impossível escapar dali.

No afã de dominá-lo por completo, encurralou-o a um canto do recinto, prensando o rapaz de madeixas azuladas à parede. Viu-o arregalar os olhos, o rosto tornando a corar. Touro andava reagindo dessa forma peculiar com uma frequência absurda.

— Por que anda fugindo de mim? — Exigiu saber o ariano — O que anda aprontando?

— ... Eu não tô, eu só... eu ando ocupado, só isso...

— Ah, sim, ocupado com o seu querido amiguinho Câncer, né? — Áries bufou — E fugindo de mim como o Gêmeos foge do Escorpião, tá com tanto fogo assim pro seu amiguinho apagar?!

Touro pestanejou, confuso.

— Fogo...? Do que tá falando?

— Não se faça de sonso! — Nariz a nariz, os olhos vermelhos avidamente cravados nos olhar esquivo do menor… aquele olhar fundo que Áries conhecia tão bem — E eu pensando que rolava alguma coisa entre ele e o Capricórnio... isso se não rolar mesmo e vocês ficam se encontrando pelas costas dele igual fazem comigo!!

Touro arqueou uma sobrancelha.

— Você tá insinuando...?

— EU NÃO TÔ INSINUANDO PORRA NENHUMA QUE EU NÃO FICO DE PALHAÇADA, EU FALO MESMO! VOCÊ FICA SE PEGANDO COM O CÂNCER NA COZINHA E É POR ISSO QUE NEM FALA MAIS COMIGO, SEU TRAIDOR DE MER...!

A voz de Áries falhou ante os olhos arregalados de Touro. Estava tão pau da vida com aquela situação toda que a garganta travou. Bufou, fechando os olhos e passando uma mão trêmula de raiva pelos próprios cabelos prateados enquanto buscava um palavrão que pudesse traduzir perfeitamente o que sentia. Inspirou profundamente.

Aquele perfume.

Touro era o cara mais cheiroso da casa, Áries não tinha dúvida. Não era aquele cheiro de sabonete antisséptico impregnado em Virgem; nem aquela colônia imponente de Leão que deixava rastro por onde passasse; tampouco o perfume francês caríssimo e fino que Libra usava até pra ficar em casa, mas que mudava a cada estação (ou lançamento da moda). O cheiro de Touro era mais discreto, mas o agradava sobremaneira. Não entendia nada de perfumes, mas era uma fragrância suave, talvez um pouco floral, que se mesclava ao seu cheiro natural. Touro nunca mudava seu perfume. Aquele cheiro era típíco dele. dele.

Aquele perfume costumava acalmá-lo durante seus rompantes. Bem, pelo menos o suficiente para que a casa continuasse de pé.

Fazia dias que não sentia aquele cheiro tão de perto, e não tinha percebido direito o quanto lhe fazia falta.

Ao abrir a boca novamente, as palavras não saíram: um toque em seu braço — que ainda prensava o taurino — o surpreendeu. Abriu os olhos e teve o vislumbre de um Touro que finalmente o encarava, sério, a despeito das bochechas rosadas. Aqueles olhos quase negros que conhecia como ninguém mais…

Touro engoliu em seco como se tomasse coragem para alguma coisa, e o ariano só conseguiu aguardar ansioso por uma explicação, uma palavra, qualquer coisa.

— Áries... — A voz mansa peculiar ao rapaz de cabelos azuis — Eu preciso te dizer que...

— O que tá acontecendo aqui? — A voz preocupada de um terceiro invadiu o quarto — Ouvimos gritos lá da cozinha...

Filho da mãe.

Áries virou apenas o rosto para a porta recém-aberta, os olhos rubros se estreitando ameaçadoramente.

— Só tô levando um papo com o meu amigo, se manda, Câncer.

— Mas é hora de jantar! — O canceriano argumentou, as mãos na cintura. Atrás dele, Gêmeos e Sagitário espiavam curiosos — Não é hora de se exaltarem ou vão passar mal! Bem que eu tava estranhando a demora do Touro pra vir comer...

— Você deixa o Capricórnio no escritório dele, mas vem buscar o Touro pessoalmente pra comer, é? Que gracinha... — Áries praticamente rosnou.

A reação de Câncer, porém, foi bastante inesperada para um momento tão tenso: corou de leve e deu um ligeiro sorriso.

— Vamos, Áries, deixa ele... vocês podem perfeitamente conversar depois...

Áries teve a ligeira impressão de que Câncer estava direcionando a mensagem mais a Touro do que a ele próprio. De fato, o taurino fez um ligeiro aceno afirmativo com a cabeça como se quisesse mostrar que havia entendido, e se desvencilhou gentilmente dos braços do ariano.

— Sim, jantar… tô morrendo de fome… — Juntou-se a Câncer, que apenas lhe deu uma palmadinha cúmplice no ombro antes de seguir com o grupo para a cozinha.

À porta, porém, Touro apenas olhou por cima do ombro.

— Vem… seu bife vai esfriar.

Ante o chamado do outro, Áries socou a parede com força, frustrado. Não teve, porém, opção que não fosse segui-los, fitando os longos e macios fios azulados que se agitavam levemente à sua frente.

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Não conseguiu tornar a falar a sós com Touro depois do jantar — e novamente aqueles dois trancados na cozinha sozinhos, mesmo depois de tudo o que dissera a ele! Pensara em encurralá-lo novamente depois que saísse da cozinha, mas Escorpião o dissuadiu — , tampouco na sexta-feira que se seguiu. Seus punhos já estavam em carne viva de tanto descontar a raiva em seu saco de areia de estimação, em que havia desenhado garras de caranguejo.

A ligeira mudança desde a noite anterior havia sido no comportamento de Touro quando estavam no mesmo recinto, embora acompanhados de outros. Seu olhar já encontrava o dele com uma frequência um pouco maior que nos dias anteriores, e o taurino parecia indisfarçavelmente nervoso. Isso era visível durante as refeições, Touro devorando seus pratos em tempo recorde — logo ele, que nunca tinha pressa pra nada.

Aquela ansiedade do menor acabava se refletindo em Áries, que ficava nervoso também. Afinal, o que estava acontecendo? Tinha certeza de que Touro pretendia contar em seu quarto, mas a chegada de Câncer estragou tudo… e certamente havia sido o próprio Câncer a convencê-lo a não contar. Aquele cretino!

Na noite de sexta, Áries já passara a atirar dardos em seu alvo na parede — onde havia desenhado uma caricatura de Câncer — quando alguém bateu à porta do quarto. Poderia ser Touro? Abriu-a com ansiedade, mas suspirou ao se deparar com Escorpião.

Ok, não deveria se sentir decepcionado. Escorpião jamais viria a seu quarto apenas para jogar conversa fora… se estava ali àquela hora, significava que tinha informações a dar.

— E então?

— Vai ser amanhã à noite.

Escorpião se sentou na beirada da cama de Áries sem fazer muito caso enquanto o ariano, elétrico, mantinha-se em pé, empurrando repetidamente seu saco de areia.

— O que vai ser amanhã?

— O que eles estão planejando — Escorpião mexia distraidamente em sua trança — Seja lá o que for, Câncer vai nos levar pra jantar fora, provavelmente usando a desculpa de que Capricórnio precisa sair um pouco pra espairecer, e Touro vai ficar em casa.

— E o que diabos ele vai ficar fazendo aqui sozinho e perdendo a chance de comer? — Áries franziu a testa.

— Aí é que está. Pelo que eu entendi da conversa, ele não ficará sozinho

Áries se desnorteou de tal maneira que, esquecido do saco de areia balançando perto de si, foi golpeado no ombro, mas não se importou. Então era aquilo? Estavam combinando de deixar Touro ter alguma espécie de encontro com alguém ali, naquela casa, sob o mesmo teto em que Áries vivia? Mas era muita cara de pau!

— Quem é? — Quase agarrou Escorpião pela blusa, mas se refreou a tempo — Quem é o babaca? E por que diabos o Touro não me disse nada?! Ah, aquele Câncer alcoviteiro, vou quebrar ele todo e…!

— Não tenho como lhe passar essa informação — Escorpião, impassível, rendeu-se a um sorrisinho discreto — Está aborrecido porque seu amigo não lhe faz confidências amorosas?

— N-não é isso… — Áries estava completamente transtornado — Amor o cacete, aquele safado, eu…! Ora, ele é um frouxo, qualquer cara oferecendo bombons e ele cairia apaixonado, eu preciso abrir os olhos dele e defender aquele boi manso de algum canalha ou tarado!

— Oh, é um cara? Não sabia que Touro era abertamente gay…

— Hum…

Áries hesitou. A bem da verdade, jamais haviam conversado sobre aquele assunto. Poderia muito bem ser alguma garota. Mas não conseguia enxergar Touro com mulheres, de jeito nenhum. Na verdade, nunca havia enxergado Touro junto a mais ninguém além…

… além dele mesmo?

Não era como se ficasse pensando em Touro daquele jeito, claro que não! Apenas… tinha como certa a presença dele sempre ali, pronto pra aguentar seus desvarios e ser arrastado pra cima e pra baixo na casa enquanto ouvia suas ideias malucas para redecorar a casa, ganhar dinheiro, dominar o mundo ou coisas triviais do tipo. Era natural que Touro estivesse sempre ali com ele. Era natural ter aquela pele macia sob seus dedos, aquele perfume em suas narinas, aqueles olhos quase negros voltados para si.

Era normal estar bolado com um intruso tentando tirá-lo dele, certo?

— Se ele se apaixonasse por um cara que lhe oferecesse bombons, deveria estar louco de amor por você… — Escorpião parecia estar se divertindo, fitando o ariano confuso — Você sempre lhe dá seu chocolate, não é?

— Pfff… nada a ver, só não me interesso por essas coisas tanto quanto ele…

É, ele deveria estar louco por ele, Áries. Por que não estava? Por que tinha se afastado dele por causa de um qualquer? E por que aquela constatação fazia seu estômago se contorcer em indignação e frustração?

Não importava. Tinha de defender Touro do tal aproveitador. Nem que pra isso tivesse de sequestrar o taurino e o manter preso em seu quarto até o imbecil sumir (da face da Terra, preferencialmente, e se tivesse a oportunidade, através de seus próprios punhos furiosos). Não era como se a ideia de mantê-lo consigo o desagradasse, na verdade…

— Fique em casa amanhã — A voz macia de Escorpião o tirou de seus devaneios.

— Hã?

— Comporte-se amanhã, não fique perseguindo o Touro nem ameaçando o Câncer. Quando chegar a noite e Câncer falar em jantar fora, finja uma dor de estômago, qualquer coisa. Assim você vai poder descobrir a verdade e, se for o caso, proteger Touro do tal… tarado.

Os cantos dos lábios de Escorpião tremeram ligeiramente, mas Áries não fez caso.

— Então tá… amanhã… — Agitou os cabelos já despenteados, inquieto — Amanhã vou resolver isso de uma vez por todas.

Escorpião sorriu abertamente.

—-

Aquele maldito sábado parecia se arrastar apenas para deixar Áries ainda mais irritado.

Na tentativa de desanuviar a cabeça e não fazer besteira antes da hora, passou a maior parte do tempo se ocupando de alguma coisa: ora socando seu saco de areia, ora indo fazer jogging com Sagitário para espairecer e gastar energia, ora indo ajudar Escorpião a torturar Gêmeos para que ele revelasse onde tinha escondido o peixinho de pelúcia de um choroso Peixes.

Daquela vez, Touro passou a tarde trancado na cozinha com Câncer, saindo de lá apenas à tardinha e se fechando em seu quarto. Áries refreou seu instinto de ir até lá (já que Escorpião estava ocupado com Gêmeos), pois não poderia estragar o plano. Se ele se revelasse antes da hora, Touro poderia alertar o tal aproveitador, que poderia adiar a visita. E não conseguiria esperar mais um mísero dia.

Enfim chegava a noite e, com ela, a excitação. Finalmente descobriria tudo, protegeria Touro e detonaria seu rival… digo, o intruso. Tomou um banho para relaxar seus músculos; queria estar revigorado pra poder levar a cabo todos os duzentos e quarenta e seis métodos diferentes de punição que havia imaginado para o tal cara.

Como quem não queria nada, desceu até a sala de TV para aguardar o plano de Câncer. Dito e feito.

— E então, pessoal? — Dizia o canceriano aos demais — Que acham de comermos fora hoje? Tá uma noite tão bonita e confesso que estou com um pouco de preguiça de cozinhar.

— Você, com preguiça de cozinhar? — Sagitário se espantou — Nossa! Mas é sempre bom sair num sábado à noite, então bora!

— Não gosto de sair aos finais de semana, é tudo tão cheio, barulhento e confuso… — Virgem murmurou, queixoso.

— Pensa na louça que você não vai precisar lavar — Sagitário piscou para o virginiano, que pareceu reconsiderar a ideia ante aquele ponto de vista.

— Que seja, mas vou levar meu copo. Da última vez, o restaurante estava com a louça imunda!

— Vão vocês, preciso terminar de analisar uma planilha… — Capricórnio tinha os olhos fixos em um tablet. Câncer colocou as mãos na cintura.

— Nem pensar! É por você também que estamos saindo, você precisa tomar um pouco de ar ou vai mofar naquele escritório! Você vai nem que eu precise carregá-lo!

Agora que Áries sabia que Câncer não era o maldito amante de Touro, aquela cena já não o irritava tanto.

— Eu não quero ir — Aquário se levantou do sofá, rumando para as escadas. Ah, aquilo era mau! Com Aquário em casa, não poderia se dedicar livremente ao plano.

— Ah, que bom! — Escorpião sorriu de canto, falando em voz suficientemente audível para que Aquário escutasse — De fato, é melhor que fique cuidando da casa, mesmo. Parece ler pensamentos, não? Fique aqui, é uma ordem… — Destacou suavemente a última parte, e pareceu satisfeito ao ver Aquário dar meia-volta na mesma hora, bufando.

— Vá dar ordens à sua mãe, você não manda em mim! Bora pra pizzaria, gente!

— Abriu uma super badalada aqui perto — Leão parecia empolgado — Podíamos ir lá conferir…

E aparecer, Áries completou em pensamento enquanto revirava os olhos.

— Bem-frequentada, críticas excelentes, ambiente perfeito — Libra completou a sugestão de Leão com um sorriso — É alto nível, perfeita pra gente passar uma noite agradável.

— Se Sagitário, Gêmeos e Aqu… se os dois se comportarem… — Virgem revirou os olhos. Não poderia falar para Aquário se comportar, seria o incentivo perfeito para que o aquariano tocasse o terror no estabelecimento. Não queria pagar novamente pela louça quebrada.

— Ah, Gêmeos vai se comportar… não é? — Escorpião passou um braço pelo ombro de Peixes enquanto fitava o geminiano, que engoliu em seco. A lembrança daquela tarde ainda estava lá.

— Que bom, vamos todos! Oh, cadê o Touro? — Peixes finalmente se deu conta da ausência do morador normalmente mais interessado em assuntos como pizza.

— Hum… ele não vai — Câncer respondeu — Não se sente muito bem, vai ficar em casa.

Era sua deixa.

— Eu também não vou — Áries se manifestou — Não tô a fim.

Diferentemente do que esperava — frustração, susto ou preocupação —, Câncer abriu um sorriso, o que confundiu o ariano.

— Isso, cuide dele por favor!

Havia sido muito mais fácil do que esperara. Lançou um olhar aturdido a Escorpião, que apenas lhe devolveu um meio-sorriso enquanto seguia com o grupo, enlaçando Peixes protetoramente.

Vendo-se finalmente sozinho na sala, dirigiu-se às escadas. Pretendia ficar fechado em seu quarto, em silêncio, como se tivesse saído junto com o grupo, e ficar atento a qualquer toque da campainha. Havia apenas colocado o pé no primeiro degrau, porém, quando viu Touro aparecer no alto da escadaria.

— Eles já foram?

Áries, um pouco desconcertado por ter seus planos de espionagem frustrados, apenas assentiu com a cabeça, analisando-o. Touro estava… ainda mais bonito, pra dizer a verdade. Não estava vestindo nada muito elegante ou extravagante, mas parecia ter se arrumado com mais esmero do que seu habitual ao ficar em casa. Seu rosto estava mais rosado.

Touro desceu as escadas sem muita pressa, os olhos cravados no ariano. Parecia ligeiramente ansioso, embora estivesse se controlando razoavelmente bem. Áries recuou para que Touro chegasse ao térreo, postando-se diante dele.

Aquele. Perfume.

— Então acho que podemos… ficar mais à vontade. Vem…

Áries arregalou os olhos ao ser sumariamente puxado pela mão em direção à cozinha. O que raios estava acontecendo?!

—-

A grande mesa retangular onde faziam as refeições havia sido colocada a um canto fora de vista, e em seu lugar jazia uma mesa menor posta para dois. As luzes estavam apagadas, o recinto iluminado apenas por velas. A cozinha parecia realmente diferente do dia-a-dia.

Áries pestanejou, confuso, a princípio. Lembrou-se vagamente dos sonhos com rituais na cozinha e sacudiu a cabeça para afastar aquele pensamento bizarro. Em seguida, passou a esquadrinhar a cozinha, procurando. Abriu os armários, olhou embaixo da pia, dentro da geladeira, embaixo da mesa…

— O que você tá fazendo? — Touro arqueou a sobrancelha.

— Ele tá por aqui, né? — Áries prosseguia a busca — Seu namoradinho novo.

— Do que você tá falando? — Touro parecia decididamente confuso.

— É, eu achava que você tava com o Câncer, mas agora sei que você ia receber um outro cara aqui! Sou menos burro do que pensam, sabe? A CASA CAIU, CHAPA, APARECE SE FOR HOMEM!

Touro deu um longo suspiro, ajeitando uma mecha azulada atrás da orelha.

— Não tem nenhum “outro cara”, Áries. Esse jantar é pra você.

Áries se surpreendeu de tal maneira que bateu os chifres com força no tampo da mesa.

— Caralho! O… o que você disse…?

Levantou-se, enfim, e reparou melhor na mesa montada. Podia ver uma travessa de lasanha aos quatro queijos e uma garrafa de vinho, bem como uma terrina de morangos banhados em chocolate. Aquela era uma refeição dos sonhos para Touro, Áries sabia... mas também havia ali uma bela picanha mal-passada, no ponto exato de que mais gostava… e uma garrafa de sua cerveja favorita.

— Agora pode se sentar? Tô com fome, sabe… — Touro se permitiu um ligeiro sorriso enquanto se sentava à mesa e aguardava o amigo, que se uniu a ele ainda muito confuso.

Touro parecia um pouco mais à vontade em sua presença do que nos dias anteriores, talvez pelo fato de estar comendo uma bela lasanha. Já Áries se serviu da picanha, preferindo postergar as perguntas, já que o cheiro estava promissor.

— E eu puto com o Câncer… ele acertou a carne direitinho, aquele filho da mãe… — Falava de boca cheia sem muita cerimônia — Tá melhor que das últimas vezes.

— Você gostou? — Touro o olhou com ligeira apreensão.

— Pra cacete! Melhor carne que eu já comi na vida!

— … F-fui eu que fiz…

Áries arqueou a sobrancelha. À luz das velas, Touro parecia ainda mais corado, mas decididamente feliz. Touro havia preparado a carne? Se o menor, numa cozinha, só sabia comer…!

— Foi por isso que eu passava aquelas noites com o Câncer na cozinha… — Touro finalmente explicou, tomando um gole de seu vinho — Ele tava me ensinando a cozinhar. Digo, não que eu esteja fazendo de tudo, mas pelo menos a carne, e tal…

— Saquei, e então eu sou sua cobaia, é isso? — Áries bebeu um pouco de cerveja, quase rindo — Não se faça de bobo, vocês armaram de botar os outros pra fora porque você queria comer a lasanha sozinho, sabe que eu prefiro a carne...

Touro riu pelo nariz, tomando mais um pouco de vinho, mas nada disse. Então Touro estava apenas tomando aulas de culinária naqueles dias todos? Que palhaçada, e ele estressado daquele jeito… serviu-se de um pedaço da lasanha, esperando provocá-lo, mas viu o mesmo olhar ansioso tornar a brotar no amigo. Parecia que Touro realmente queria sua opinião… e é, a lasanha estava gostosa. Não tanto quanto sua preciosa picanha, mas gostosa. Estava bem mais tranquilo agora… assunto esclarecido.

… Ou não? Pensando bem, Touro não tinha por que agir daquela forma tão esquiva só por conta de uma meia dúzia de aulas de culinária! Sem contar que a conversa que entreouvira no domingo continuava estranha… por que justo ele não poderia ficar sabendo de uma coisa tão banal?

E Touro continuava um pouco apreensivo pela forma como bebia o vinho. Parecia estar querendo relaxar ou criar coragem para alguma coisa…

O jantar havia se passado em um clima um tanto apreensivo, pouca conversa. Quando finalmente terminou de comer, Áries suspirou.

— Tá, vai, agora fala.

— … Você não entendeu ainda, né…?

A resposta de Touro o surpreendeu. O que teria de entender?

— Do que você tá falando?

— Do jantar. Ora, Áries, por que acha que eu fiz tudo isso? — Touro parecia constrangido em ter de entrar no assunto — Olha pra isso aqui! As velas, veja…!

— Pensei que você tivesse aderido à ideia de jerico do Capricórnio sobre economizar energia… — Áries deu de ombros e Touro se deu um lento facepalm.

— Isso é um jantar à luz de velas, puxa! O que acha que significa?

— Você sabe que esses joguinhos de adivinhação me irritam, fala na lata!

Touro passou as mãos pelos cabelos azuis, exasperado.

— Áries, isso é um jantar romântico! Não entendeu ainda o que eu quero dizer?

— Já falei pra parar de adivinhação, caramba!

— Oh, céus… — Touro suspirou — Eu… eu quis te fazer um jantar porque… era o jeito mais adequado de te dizer que eu… eu sinto… eu gosto de você.

Um instante de silêncio.

— Pra que tudo isso? Era só falar! Não que fosse novidade…

— Áries, não é um “gostar” de amigo!

— FALA DIREITO, CACETA! — Áries se levantou da cadeira, irritado — Para de dar voltas! Fala aqui, na minha cara, sem frescura! — Eu quero ouvir… eu preciso ouvir, caramba!

Viu a mão do outro tremer e apenas aguardou o evento tão raro e especial de se testeminhar: a explosão do taurino.

— VOCÊ É BURRO OU O QUÊ?? — Touro se levantou também, furioso — PRECISA QUE EU COLE NA TESTA QUE TÔ APAIXONADO POR VOCÊ, SEU IDIOTA???

Um silêncio retumbante se seguiu àquela revelação. Áries com os olhos arregalados…

… e toda a trupe parada à porta da cozinha.

—-

— N-não era pra estarem na pizzaria…? — Touro, dando-se conta da presença dos outros, pareceu murchar de vergonha.

— Eu juro que tentei impedir que voltassem! — Câncer estava desalentado ao ver o plano ir por água abaixo — De novo Sagitário escolhendo as mesmas coisas que o Aquário, deu briga, foi um inferno, derrubaram uma pizza inteira na cabeça do Virgem…

— Tem calabresa aqui até agora… — Sagitário “pescava” comida nos cabelos do virginiano.

— Filmei a treta! — Gêmeos exibiu o celular, sorrindo de orelha a orelha — Mas agora… — Tirando fotos da cozinha.

— Mas precisavam tirar todo mundo da casa pro Touro se declarar? — Capricórnio resmungou — Era só dizer…

— Onde já se viu declaração sem um jantar decente? — Touro, ainda constrangido, respondeu ao outro — Isso é uma coisa que precisa ser feita direito! Quer melhor forma de demonstrar amor do que dando comida?!

Áries viu Câncer corar ligeiramente e olhar de canto para Capricórnio, que não notou nada.

— Ooh, que coisa mais romântica! — Os olhos de Libra brilhavam — Fez um jantar pra ele, Touro?

— Desde quando ele sabe cozinhar? — Leão parecia desconfiado.

— Câncer o ensinou! — Peixes informou, prestativo — Mas era surpresa, foi por isso que eu pedi pro Escorpião não deixar ninguém chegar perto da cozinha quando estavam lá…

Áries estreitou os olhos para Escorpião ao ouvir as palavras do pisciano.

— Agente duplo, é? — Cruzando os braços. Escorpião deu de ombros, um ligeiro sorriso.

— Foi por uma boa causa…

Áries tinha plena certeza de que o escorpiano se referia mais ao fato de ser um pedido de Peixes do que a um repentino “arroubo de Cupido”, mas preferiu não dizer nada.

— Bom, só sei que não deu pra comer muito… opa, picanha! — Sagitário se dirigiu todo sorridente à mesa, mas foi interceptado por um taurino com olhar em brasa.

— Essa picanha é dele, ninguém toca!

Touro tinha uma forma um tanto peculiar de demonstrar ciúmes.

— Mas agora queremos a resposta! — Gêmeos arqueou uma sobrancelha, sorrindo e instigando — Vai deixar o tourinho no vácuo? Qual a sua resposta, Áries?

Áries sentiu os olhares de todos sobre ele e se virou para Touro, franzindo a testa. O taurino aguardava em silêncio…

— Ah, vão se foder!

Ante os olhares espantados, o ariano simplesmente agarrou o braço de Touro com uma mão, apanhou a terrina de morangos ao chocolate com a outra, e abriu caminho cozinha afora, arrastando um aturdido taurino escada acima.

Áries tinha sua maneira própria de demonstrar amor, e preferia que fosse longe de olhares enxeridos.

—-

Tarde de domingo.

Gêmeos entrou na cozinha disposto a fazer um lanche e se deparou com um pisciano pálido e consternado, os olhos contornados por olheiras.

— Ué… que foi, Peixes?

— Eu tô preocupado com o Touro… — Peixes parecia à beira das lágrimas — Parece que ele e o Áries brigaram muito feio ontem e não o vi mais…

— Brigaram? — Gêmeos se sentou à mesa, interessado na fofoca — Não ouvi nada, dormi com os fones. O que rolou? O Áries deu o fora nele?

— A-acho que sim… e deve ter batido nele…

Peixes suspirou, tomou um gole d’água e passou a narrar a história:

— Ontem eu pedi pro Escorpião dormir no meu quarto porque eu ando tendo uns pesadelos… a gente chegou no meu quarto pra dormir e aí ouvi uns barulhos horríveis no quarto do Áries! Algo batendo na parede, a cama balançando, tecidos rasgados… a coisa foi feia!

Os lábios de Gêmeos tremeram ligeiramente, mas se conteve.

— Ah, é?

— Tava tão feio, Gêmeos, que o Touro tava até rezando! Eu ouvi direitinho ele gritando algo como “Ah, meu Deus!” várias vezes, e gritando o nome do Áries também…

— Pff… n-nossa, foi feia a coisa… — Contendo o riso a custo.

— E ele nem apareceu pro café e pro almoço… só vi o Áries levando uma bandeja de comida pro quarto, será que tá prendendo ele lá? Será que o Touro tá muito mal?

— I-imagino que sim, mfff…

— Eu quis ir até lá, mas o Escorpião não deixava… disse que tava tudo bem com eles e pra eu confiar nele. Mas não pude deixar de me preocupar… TOURO!

Touro adentrou a cozinha, andando calmamente e de uma forma um pouco estranha. Apanhou uma maçã na fruteira e se pôs a comer… em pé. Peixes o avaliou.

— Seus chifres estão no lugar, ufa! Mas… o que é isso no seu pescoço? São marcas… Áries te machucou muito?

— Hm? — Touro ajeitou melhor a gola da blusa — Ah, eu tô bem. Muito bem… — Um curioso sorriso satisfeito brotando em seu rosto.

— Mas eu não entendo!

— Se quiser posso te explicar, Peixes — Gêmeos sorriu de lado, inclinando-se para o pisciano — Vou te mostrar como essas marcas aparecem e…

O rapaz de cabelos bicolores se arrepiou por inteiro de repente.

— Er… o Esc-corpião… ele tá atrás de mim neste exato momento, não tá…?

— Tá, sim! — Peixes sorriu.

— Ah… ok… nossa, ouvi o Aquário me chamar e… — Saiu praticamente correndo da cozinha.

— Idiota… — Resmungou Escorpião, sentando-se onde o geminiano estivera instantes atrás. Áries veio junto, postando-se atrás de Touro e o enlaçando pela cintura, o queixo encaixado em seu ombro.

— Repondo as energias, é?

— Você é insaciável… — Touro lhe respondeu com um ligeiro sorriso.

— Viu só? — Escorpião tornou a Peixes — Não tinha que se preocupar, eles estão juntos. Eles se entendem à maneira deles.

— Pelo visto… — Peixes deu de ombros — Mas foi assustador de ouvir!

— Existem formas mais gentis de se fazer… — O escorpiano colocou uma mecha azul-clara do pisciano atrás da orelha.

— Melhor, né? Só queria entender exatamente o que eles estavam fazendo…

— Vai entender… — Escorpião o olhou intensamente — Um dia você vai entender.

Peixes apenas sorriu enquanto Áries, sem resistir, dava uma gostosa gargalhada.

É… quem sabe um dia não pudesse dar uma mãozinha a Câncer, Escorpião e Peixes? Afinal, graças aos três, Touro e ele estavam juntos.

Uma mãozinha direta e objetiva, porque romance para Áries não era de frescura.


FIM


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Notas finais do capítulo

É isso, galera! Espero que tenham gostado! Amei escrever com esses personagens e realmente gostaria de tornar a fazê-lo.

Tentei usar alguns outros estereótipos astrológicos (a coisa do perfume, por exemplo Touro é um signo bastante sensorial, ama perfumes XD). Espero que não tenha ficado muito meloso ou OOC, mas q

É isso. Até uma próxima, quem sabe? Agora que existe uma categoria Zoróscopo no Nyah, espero que surjam muitas outras fics do fandom, e quem sabe mais algumas minhas nesse bolo?

Kissus,

Lune Kuruta (08/09/2015)