Colecionador de sorriso escrita por Nate Turner


Capítulo 2
Quando minha mão tocou a sua




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Meia hora depois, saiu do quarto vestido com uma roupa mais casual. Uma blusa branca e uma calça jeans e chinelos, vejo alguns meninos fazendo fila para entrar no banheiro e então dou um sorriso sarcástico pensando que vão ter que esperar bastante ate a pessoinha que esta dentro do banheiro sair, porem para minha surpresa vejo um garoto sair de toalha e com uma escova de dente na boca, penso que a garota deveria ter saído enquanto eu me arrumava ou só foi uma criação da minha mente, mas acho isso impossível já que não tenho este tipo de problema e não uso drogas, então estou fora de problemas com alucinações.

Ao descer as escadas vejo pelas janelas que o ar da primavera esta deixando tudo bem agradável, olho para os garotos e garotas passando para um lado a outro, mas a maioria ia para o refeitório.

O internato não é tão grande assim, mas da para se perder caso seja um novato.

Olho para um rapaz pretinho usando uma camiseta laranja e uma bermuda, pelas canelas finas só pode ser uma pessoa.

–Joel meu amigo, pelas canelas finas ou seria você ou uma garça que caiu no balde de tinta preta.

Ele se vira para mim e da um grande sorriso, me cumprimenta com um aperto de mão que nos mesmo inventamos, se chama: “toque dos brodi”, eu sei que não me parece algo muito criativo quando se tem dezesseis anos, mas é sempre bom inovar, sabe aqui ninguém se importa com sua idade e sim quem da o soco mais forte.

–Henrique a cada momento se parecendo mais com sua mãe. –Diz Joel.

–Minha mãe esta morta.

–Por isso mesmo, vai estar como ela se não deixar de ser tão racista.

–Sim, muito racista, tendo um único amigo e ainda por cima negro, meu Deus chamem os cachorros menino negro nos corredores.

Joel tampa a minha boca e então começamos a rir como bêbados, vamos andando ate o refeitório, e então como numa conversa matinal o de sempre, como esta a vida? Alguma carta? E as namoradinhas? O ultimo me parece mais com aquelas conversas que tios fazem com seus sobrinhos, eu não sei bem, já que vi isso no facebook, então... dizem que é constrangedor.

Endireitamo-nos na fila e então começo a contar o que aconteceu hoje de manha.

–Tá, você foi tomar banho e então viu uma garota num dos banheiros do dormitório masculino? –Comenta Joel meio intrigado.

–Sim, nossa... parece loucura? –Pergunto meio pensativo.

–Você acha que parece loucura? Cara desde quando você toma banho?

Joel dana a rir, com uma risada fina e baixa chamando a atenção de somente uma garota que estava na nossa frente que então vira o cabelo num sinal de superioridade. Porem ate rio com o que a garota faz.

–Deixa de ser idiota, eu estou falando da garota. –Falo para voltar ao ponto.

–Sim, sim, mas a probabilidade de uma garota estar no banheiro masculino é minúscula e quem era?

–Não sei, nunca a vi aqui.

–Nossa... acho que esta pegando pesado com o café meu amigo, precisa abaixar as doses.

Damos outros risos ate que chega nossa vez, pegamos uma bandeja cada um e vamos caminhando enchendo a bandeja, realmente eu e Joel não temos quase nada parecido, eu sou vegetariano e ele um carnívoro de carteirinha. Mas é o que parece mais me entender por aqui.

–Olha deve ser uma louca, ou um menino estranho... sabe que já vimos vários garotos usando sutiã.

–Não, não é isso, tenho certeza que é uma garota.

–Ata... Olhou debaixo da saia dela?

Joel é do tipo que pensa besteira de tudo e mesmo sendo chato às vezes, ele é o cara mais debochado de todo o internato. Como sou grato e azarado ao mesmo tempo.

–Olha, é uma garota, disso eu tenho certeza, loira, usando uma pulseira no braço direito, tinha um sorriso lindo, serio... uma boca bem rosada e uma pele branca meio amarelada. Nossa...

–Desculpa interromper esta sua descrição poética da garota, mas não seria ela?

Joel aponta para uma garota sentada lá no fundo, revirando com o garfo um pedaço de maça num potinho branco. Henrique fica paralisado no momento, mas como Joel percebeu deu um empurrão no amigo.

–É ela cacete?

–Sim, é... –Engulo seco, segurando a bandeja com a boca entre aberta, fitando a garota sem um pingo de educação, mas ela estava muito longe para perceber.

–Olha... vamos andando, com calma, dai você pergunta o que aconteceu, hein?

–Espera ai.

Saiu andando ate a direção da garota, olho para ela quando estou próximo da mesa de madeira azul, aquelas largas e com os bancos presos na mesa, eu olho para ela e então vejo que esta só. Pergunto então com a voz baixa.

–O que estava fazendo no banheiro hoje de manha?

Ela não move nem mesmo o rosto, continua a remexer o pedacinho de maça no pote.

–Ei, estou falando com você! O que estava fazendo...

Logo sou interrompido pela garota que me olha serio, parecia ate mesmo assustada, com os olhos castanhos e grandes. Depois de se olharem por trinta e dois segundos pessoas das mesas do lado começaram a comentar sobre nos, parecíamos dois idiotas nos encarando, balanço a cabeça e então me sento na frente dela. Começo um dialogo e então ouço a voz de Joel ao fundo.

–Usem camisinha crianças.

Ela olha para Joel e então fala para mim.

–Conhece ele?

Pensei em mentir, mas isto seria idiota, falo depois de uma gaguejada...

–S-sim... é uma amigo.

Começo a comer e então acho ate estranho dois estranhos de repente começarem a conversar assim... do nada, a ultima vez que ouvi a voz dela é quando me expulsava do banheiro.

–Você estava fazendo oque naquele banheiro?

Olho para ela e então fixo meus olhos no dela. Ela então diz com extrema naturalidade.

–Esta nervoso, sinto sua respiração pela boca, seu peito inchar e se esvaziar a cada momento... sua perna direita esta tremendo, ou você tem um tique nervoso ou seu garfo esta fazendo sua mão bater contra este pudim sem que queira.

Quando ela diz, me engasgo por um tempo, olho para ela e então retruco o que diz com uma palavra direta.

–Você não mude de assunto, por que estava no banheiro?

–Não te devo explicação do que faço, garoto.

–Vou te dedurar para a direção.

–Não fara isso.

–Como pode ter tanta certeza disso?

Ela olha para mim e me projetei para frente para falar com ela que estava a centímetros de seu rosto, minha mão estava por cima da dela e então num susto eu tiro e meu rosto queima de vergonha ao ouvir das mesas de traz um: “Uuuuuhhh tão de namorico hein?”. Fico vermelho e ela fica neutra com isso, como se fosse normal, olho para ela e digo, mas sou sempre cortado.

–Desculpa, eu nã...

–Não se desculpe.

–Eu só...

–Não se desculpe.

–Mas eu...

–É surdo ou o que? Para de me olhar deste jeito caramba.

–Como assim, você é louca? Só quero uma explicação do que aconteceu hoje de manha, por que não me diz oras?

Eu bufo insatisfeito, e então começo a comer, penso em me retirar da mesa, mas acho que não seria o certo, vou esperar mais um pouco ate ver o que acontece.

–Cheguei ontem e... só precisava de um lugar para chorar... só...

–Por quê?

Ela olha para mim e então ela mesmo se retira, não me da explicação apenas sai... ouço então passos a traz de mim e Joel se sentando ao meu lado.

–E então tigrão, deu o bote?

–Eu... não, claro que não, só queria uma explicação.

–E então...

–Ela só disse que chegou ontem e precisava de um lugar para chorar.

–Ah... saquei.

–Sacou o que?

–Sabe Henrique você que chegou quando criança é fácil, porem ela chegou ontem... ela perdeu alguém para chegar aqui... ou nunca teve ninguém, isto tudo é novo para ela.

Ao ouvir o comentário de Joel ate que boa parte faz sentido, porem o porque do banheiro masculino, não pode chorar dentro de seu quarto, ou no quarto das meninas?

Somos interrompidos quando a supervisora Simone coloca a mão em meu ombro e com um leve sorriso diz.

–Henri, preciso falar com você. Ok?

–Hum... sobre o que?

–É, sobre o que? –Diz Joel intrometendo na conversa.

–Me desculpe senhor Joel, mas isto é somente entre a minha pessoa e Henrique.

Me levanto e falo com Joel para ficar “numa boa” que já voltaria, mas seria melhor ele esperar lá no campo.

Eu então vou andando sendo cercado de olhares da maioria das pessoas, porque eu era o garoto exemplar, dai ser chamado pela supervisora não seria uma boa coisa.

Ao reparar nos cabelos ruivos dela e seu rosto branco como a neve, caminho ate um canto do refeitório do qual eu abro primeiramente a boca para falar.

–Então...

–Henri. –Ela geralmente me chamava de Henri porque eu ia à sala dela ver se havia chegado uma carta quase todos os dias, então ela se acostumou tanto com meu rosto que me chama apenas pelo meu apelido.

–Sim.

–Você deve ter sido o primeiro a conversar com a senhorita Helena, são amigos?

–Helena? –Pergunto confuso.

–Sim, a garota da qual conversava na mesa.

–A sim... não sabia que se chamava Helena.

–Como não?

–Bem... é a primeira vez que eu converso com ela e ela não havia nem mesmo se apresentado.

–Interessante Henri, mas porque foi ate lá conversar com ela?

Pensei no mesmo momento em dedura-la, porem... quando eu perguntei para a tal Helena do porque eu não deduraria, eu lembrei exatamente da cena, comigo com a mão em cima da dela, nossos olhos pertos... eu balancei a cabeça e disse evitando demonstrar nervosismo.

–Não tinha muito lugar no refeitório então... eu pensei em me juntar a ela. –Dou um leve sorriso timidamente para não parecer tão mentiroso, porem em minha cabeça estava “Seu porco sujo, mentiroso, porque não contou? Parece uma galinha cega, esta com medo de que?”.

–Nossa, então tá bom... é que ela é novata, chegou ontem e os pais dela... bem... não vamos falar disso, você pode puxar assunto com ela, ela também é muito inteligente como você. Podem dar uma boa dupla, ou um casal. –Suzana pisca para mim, porem isto me provoca um sorriso tímido a ponto de abaixar a cabeça e ficar vermelho como um pimentão.

–Vou ver o que eu faço, porem... só amizade.

–Sim, senhor, só amizade. Agora só me deixe ir preciso voltar ao trabalho.

–Esta bem...

Despeço-me e vou andando com as mãos nos bolsos indo em direção do parque, coloco a mão na barriga e penso que não havia comido nada, porem deixo para lá, no almoço eu como melhor.

Vou andando vendo algumas pessoas sorrindo, jogando bola, rindo e eu aqui... Procurando meu amigo que parece ter sigo engolido pela quantidade de pessoas no campo... ate que vejo um garoto estranho fazendo gestos para mim, arqueio a sobrancelha e dou um sorriso ao ver que o garoto estranho é a cara do Joel.

Aproximo-me dele e então o mesmo diz bruscamente.

–Então o que você aprontou?

–Conheci uma novata.

–Só? Isso já sabia, o que mais?

–Ela é novata, seus pais devem ter morrido, veio para cá e não tem amigos, a supervisora disse que eu tinha que conversar com ela. –Eu sei que não foi isso que ela disse, mas na minha cabeça é a mesma coisa.

–Ata, que triste isto, mais uma solitária. Mas então onde ela esta?

–Quem?

–Hitler! – Joel me olha com sarcasmo. – Não a garota seu idiota.

–A garota... ela se chama Helena.

–A que nome legal, mas então sabe onde ela esta?

–Não, não sei. Espera, acho que sim. Pode ir jogar futebol e tals... vou indo.

–Esta bem, depois a gente se fala.


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