Mais Um Dia Em Segredo escrita por LaisaMiranda


Capítulo 9
Complicações


Notas iniciais do capítulo

Consegui mudar a capa. Finalmente. Minha irmã que fez, e aí gostaram???

Queria agradecer pelos comentários gente. Muito obrigada.

Esse capítulo está muito.... (sem spoiler) hahha

Boa leitura.



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Eu estou morrendo de medo de voltar para escola. Mas eu preciso. Evilyn está ao meu lado, mas ela não vai ficar o tempo todo comigo, não temos todas as aulas juntos. Sem contar que eu estou na mesma turma de matemática que Mike. Como vou fazer para estar no mesmo ambiente que ele depois de ter sido quase espancado até a morte? Talvez eu pudesse matar a aula. Não, eu não posso fazer isso.

— James? Você está bem? - pergunta Evilyn apertando minha mão.

— Estou - minto, ela me conhece muito bem para saber que não é verdade.

— Não vai acontecer nada. - ela parece muito convencida disso. Como se tivesse certeza de que nada de ruim realmente fosse acontecer.

Enquanto andamos pelo corredor, sinto algumas pessoas me observando. Alguns disfarçam, outros não. Aquilo está me deixando incomodado. Eu nunca tinha sido observado com tanta frequência. Meu rosto já não está tão ruim. Eu só tenho alguns avermelhados que nem aparecem direito, a menos que a pessoa esteja bem perto de mim. É verdade que meu olho ainda está roxo, na verdade, Evilyn passou um pouco do pó dela para disfarçar. Será que é por causa disso que eles estão me encarando?

— Evilyn, parece que estou usando maquiagem?

— Não.

— Então por que todo mundo está me olhando?

Ela abaixa a cabeça, não querendo responder.

— Eles já sabem, né? - pergunto, ela nem precisa responder. Eu já sei a resposta.

— Eles sabem que você apanhou, mas não acho que saibam o por quê.

Atenção! Mike Smith e James Farley, comparecer a sala da diretoria nesse instante. O diretor os aguarda. — anuncia a voz da secretária saindo pelo alto falante.

Olho espantado para Evilyn.

— Calma... - começa ela, mas eu já estou entrando em pânico.

— Como eu vou ter calma? Estão me chamando na diretoria. Eu nunca fui chamado na diretoria.

— Calma, vai ficar tudo bem. - de novo Evilyn parece ter certeza, eu estou achando isso muito estranho.

Sigo para a sala da diretoria com a cabeça baixa, sentindo os olhos dos outros em mim. Eu quero morrer a ter que passar por isso. Entro na secretária e a Senhorita Johnson pede que eu espere até que o diretor me chame. Fico sentado ali uns 30 minutos. Meu corpo todo treme, eu não sei o que fazer, o que esperar. Por que estão me chamando? Está claro que é por causa da briga (quer dizer, seria uma briga se eu também tivesse lutando), ainda mais pelo fato de terem anunciado o nome do Mike junto com o meu, mas como o diretor descobriu sobre isso?

De repente a porta da sala se abre e de lá surge Mike e o diretor Walter. Mike está muito zangado, quando ele me vê sua expressão fica ainda mais fria. Abaixo a cabeça para evitar encará-lo.

— Não se meta em mais confusões. Espero que tenha entendido. - diz o diretor Walter.

— Sim. Pode deixar. - mesmo com a concordância, Mike não parece estar sendo sincero. Assim como sua cara, sua voz é fria. Ele passa por mim e sai da diretoria.

— Farley. Pode entrar. - convida o diretor, e quando eu penso que não posso me tremer mais...

Aquele é o pior dia da minha vida, e olha que eu já apanhei há dois dias atrás.

Entro e me sento na cadeira depois que ele manda. Então espero ele começar a falar. O diretor Walter é calvo e usa óculos de grau quadrado. Seu rosto não é severo, mas só pelo fato de ele ser o diretor da escola isso me deixa apavorado.

— James, posso ter chamar de James?

— Sim. - respondo nervoso.

— Vejo que você é um dos alunos mais brilhantes de Herman. - começa ele, olhando para alguns papéis em cima da sua mesa. - Uma pena que uma coisa dessas tenha acontecido. Imagino que saiba do que estou falando.

Apenas aceno, envergonhado.

— Essa é uma situação muito complicada, veja bem, eu nunca estive numa posição como esta, e... Está sendo literalmente difícil. A senhorita Banks me contou o que aconteceu, e mesmo tendo acontecido fora de Herman, eu não pude ignorar. Afinal vocês são alunos daqui, o que as pessoas vão pensar da nossa escola?

Não respondo, eu não sei se ele está fazendo uma pergunta retorica, ou se é para eu responder. Tudo o que eu consigo pensar é em como Evilyn teve coragem de contar o que aconteceu para o diretor. Por que ela tinha feito isso?

— Conversei com o Smith e ele pareceu compreender o que quis dizer, mas você terá que colaborar também. É realmente uma situação muito complicada.

Ele parece estar tentando escolher as palavras certas para falar comigo. Estou me sentido muito envergonhado. Muito desconfortável nessa situação toda.

— James. - ele ajunta as mãos e coloca os cotovelos na mesa. - Eu não sei muito bem como te falar isso, mas... Para que não haja mais situações como esta em Herman, precisamos de uma solução. Smith foi severamente castigado pelo que fez, quase expulso, mas eu preciso que você colabore para que uma coisa dessa não volte a acontecer.

Meu coração está muito acelerado. Eu quase não consigo olhar para o rosto desse homem. Ele me encara de um jeito estranho. Como se eu fosse diferente dele. É horrível.

— Ele me disse que você... como eu posso dizer? - ele suspira, eu não quero ouvir o que ele tem para dizer. - Que você estava cercando ele...?

— Isso é mentira. - digo sem alterar minha voz, o diretor acena, porém seus olhos não parecem acreditar nas minhas palavras.

— Seja como for. Para que isso não volte a acontecer, nem com o Smith nem com outros garotos, acho que a melhor solução é você evitar ficar por perto, nos momentos onde, você sabe, onde os garotos estão todos juntos, quando vocês voltam da aula de educação física, por exemplo, no chuveiro e tudo mais.

Ele quer que eu me excluía. Eu não acredito.

— Então eu não posso tomar mais banho aqui na escola?

— Não, não é isso. Só estou dizendo para você escolher um horário melhor.

Aceno com acabeça, entendendo exatamente tudo.

— O único horário melhor é depois de todas aulas. Eu não posso ficar sem tomar banho depois da aula de educação física.

— É claro. - o diretor não sabe o que dizer. - Bem, outra solução, bem melhor, seria você não precisar mais ter as aulas de educação física, sendo assim, não precisando se banhar depois.

Eu não acredito que isso está acontecendo. Ele diz que está tentando me ajudar, mas não parece que é isso.

— E quantos as minhas notas na matéria?

— Posso dar um jeito nisso.

Apenas aceno. Meu estomago está embrulhado.

— Mais uma coisa - ele consegue minha atenção depois dessa frase, eu sinto que pode piorar. - Eu preciso conversar com seu pai. Assim como pedi para falar com os pais do Smith.

— Por quê? - é a única coisa que consigo dizer.

— Eu preciso conversar sobre o que aconteceu. É um assunto muito grave, e não posso deixar que os pais de vocês descubram de outra maneira. Depois a culpa caí em cima de mim. Você tem que entender o meu lado.

Mas eu não entendo. Para que envolver meu pai nisso? Meu Deus!

— Meu pai e minha abuela... Não sabem.

— Entendo. - ele assente. - Mas infelizmente eu preciso falar com um deles. Peça para comparecerem aqui amanhã, por favor.

Eu não consigo transmitir mais nenhuma palavra. Tudo o que eu consigo pensar é em meu pai. Tanto esforço que tive para que ele não descobrisse nada, e agora isso.

— James, pode ficar tranquilo. Ninguém mais vai mexer com você. É só uma questão de colaboração, das duas partes, é claro. Espero que você tenha entendido.

Eu só quero sair daqui.

— Eu já posso ir?

— Claro. Eu te levo na porta. - O diretor Walter se levanta e me acompanha. Ele abre a porta — Tudo está sob controle. Apenas avise seu pai, okay?

Saio da sala à cegas. Eu preciso me esconder.

***

— Eu já não aguento maisssssss. - resmungou Evilyn sentada ao meu lado no ônibus que nos levaria para mais um acampamento letivo. - Todo ano é a mesma coisa! Como eles ainda veem graça nisso?

— Por que veio então?

— Porque fui obrigada, ou você também não foi? As regras são bem claras. Você só não vem se estiver morrendo.

— Na verdade é se estiver doente no hospital.

— O que é a mesma coisa.

— Não vai ser tão ruim, Evilyn. E vamos fazer atividades para ganharmos notas.

— Nem isso me anima, sabia? - disse ela desanimada. - Você sabe que eu não gosto. Eles sempre nos separam. E eu fico lá sozinha com aquelas louras burras do outro lado.

— Para mim também nem sempre é bom, ano passado eu tive que dividir a barraca com o nojento do Will Morgan.

Todo ano temos que dividir a barraca com outro garoto e como ninguém me escolheu e ninguém escolheu o Will, tive que ficar com ele. O problema era que o Will vivia resfriado, e só por isso devo dizer que não foi uma experiência nem um pouco agradável.

Mas dessa vez seria diferente. Ste estava indo pela primeira vez, é claro que ele não ia me escolher, mas mesmo assim, com ele estando presente as coisas seriam bem melhores. Pelo menos eu achava.

Chegamos em cerca de duas horas. Desci do ônibus e fui esperar na fila para pegar minha mala. Então eu percebi ele descendo do ônibus, com aquele sorriso perfeito. Eu quase sorri também, mas antes vi Amanda descendo logo em seguida. Ela estava com as mãos no ombro de Ste.

— O que foi? - perguntou Evilyn percebendo minha expressão mal humorada.

— Nada. Acho que você tinha razão. Essa viagem não vai ser tão emocionante.

— Na hora que eu estava descendo do ônibus ouvi o professor Allen dizendo para um aluno que algumas coisas vão mudar. Quem sabe a gente possa ficar mais tempo juntos?

Eu não sabia a quê o professor de biologia estava se referindo, mas algo me dizia que não tinha nada a ver com o fato dos garotos poderem ficar perto das garotas.

Alguns minutos depois essa curiosidade foi revelada.

— Pessoal, todos vocês, venham aqui. Preciso anunciar algumas mudanças.

Todos se aproximaram do professor que estava parado no centro. Então esperamos ansiosos pela novidade.

— Esse ano faremos algumas coisas diferentes, devido ao que aconteceu ano passado. A bagunça que virou e alunos que sumiram sem o nosso consentimento, decidimos algo sobre as barracas, que só cabem duas pessoas, mas isso vocês já sabem. Vocês tinham a liberdade de escolherem com quem iriam dividir a barraca, mas esse ano vai ser diferente. Fiz a lista e escolhi as duplas.

Ouve um alvoroço depois que ele disse essa última parte. Ninguém gostou dessa ideia, era de se imaginar. Eu nunca tinha a opção de escolher mesmo, mas só de pensar que eu poderia cair com um cara como o Mike, já me deixava muito nervoso.

— Parem! Escutem! Ano passado tivemos muitos problemas com alguns grupos e por isso resolvemos tomar essa decisão. Eu vou dizer os nomes agora. Por favor. Quando eu disser os nomes de vocês se ajuntem com seu par do meu lado esquerdo. Meninas? A professora Parsons vai dizer os nomes do outro lado do acampamento, onde vocês vão dormir.

— Essa é minha deixa. - disse Evilyn desapontada. - Depois me diz com quem você caiu.

Depois que as garotas se afastaram, o professor Allen começou a ditar os nomes. Fui ficando nervoso a cada nome que ele anunciava. E se fosse Mike? E se fosse Ste? Será que seria bom? Não. Era melhor isso não acontecer. Eu nem conseguia imaginar o que ele era capaz de fazer se tivéssemos que passar a noite inteirinha juntos numa barraca.

— Stephen Reece e... - era agora. - Erick Hough.

Não era eu. Stephen olhou para mim disfarçadamente. Notei que estava desapontado. Erick não era nem um nerd, mas também não era tão popular. Digamos que ficar na mesma barraca que ele não seria ruim, então eu não sabia por que Stephen estava com aquela cara.

Mais alguns nomes foram anunciados antes do meu.

— James Farley e John Bandit.

Não. Não. Não.

John parecia inconformado tanto quanto eu. Ele não veio até mim como o professor tinha mandado. Ele não tinha gostado de ter caído comigo. Meu pensamento não era diferente do dele. O professor terminou de dizer todos os nomes. Alguns aprovaram, outros nem tanto. E vários foram tirar satisfação com o professor Allen. Inclusive John. Fiquei na minha. Não tinha nada que eu pudesse fazer.

Apenas fiquei observando e vi John se afastar. Ele ainda estava bravo, o que queria dizer que não tinha dado em nada sua reclamação. Mas isso não o fez vir até mim, ele foi para de perto dos amigos, Stephen e Mike, com seus pares, Erick e Edward. Eu não queria nem ver o que seria de mim a noite. Era capaz de John me expulsar da barraca depois que todo mundo já estivesse dormindo.

Evilyn tinha razão. Antes eu tivesse ficado em casa.

Todos começaram a pegar as peças para montar suas barracas. Fiz o mesmo, até porque eu sabia que John não viria me ajudar. Eu ia me ferrar sem a ajuda dele para montar tudo sozinho. Talvez o professor me ajudasse. Me virei para ir pedir a ajuda dele quando vi Ste se aproximando, tentando evitar um sorriso no rosto.

— Tudo bem, parceiro? - não entendi. - Troquei com o John.

— O quê? Você ficou louco? - tentei abaixar a voz o máximo que podia. - Por que fez isso? Não é você que tem medo de alguém suspeitar?

— Eu não pedi para trocar. Só dei um jeito de zombar com ele e ele ficar com raiva, mandando eu trocar, como se fosse um desafio. E parece que funcionou. - Ste pegou a vara da minha mão. - Vamos montar essa barraca.

— O professor não vai aprovar.

— Eu falo com ele depois. Não acho que terá problema, já que troquei com John e tudo fica na mesma.

Ele passou por mim depois disso e fiquei imóvel. Isso não ia dar certo. Não ia.

***

Não fui para as aulas depois que sai da sala do diretor, eu não tenho cabeça para nada. O que eu vou fazer? Meu pai vai me expulsar de casa, isso se não me matar antes. Como a Evilyn pôde fazer isso?

Depois do toque do intervalo ela vem ao meu encontro. Me encontrando na porta do seu armário, onde eu estou esperando-a.

— Como foi? - pergunta curiosa.

— Por que você fez isso? - pergunto zangado, sentindo meus olhos arderem.

— Eu precisava, James. - diz ela tentando se defender, vendo que eu estou zangado. - Foi muito grave o que aconteceu. Se eu não contasse para o diretor o Mike não ia parar nunca.

— Você não devia, não devia. - digo, encostando a cabeça no armário, tentando não chorar.

— James, me desculpa. Eu tinha que fazer alguma coisa. Eu prometi que não deixaria mais nada te acontecer.

— Você não entende, Evilyn - encaro ela de novo, já sentindo lágrimas em meus olhos. - Você piorou tudo. A escola toda vai descobrir.

— E você acha mesmo que o Mike não ia dizer nada para ninguém?

Eu sei que ela está certa, mas mesmo assim, meu pai pelo menos não precisaria saber.

— Eu podia aguentar isso - digo, em relação ao Mike.

— Mas eu não. James o que fizeram com você foi desumano. Isso estava muito além de nós, eu precisava fazer alguma coisa. Me desculpa. Eu fiz o que achei certo.

— O pior não é isso. - sinto um medo surreal.

— O quê? - ela percebe meu tom de voz.

— Meu pai. O diretor quer falar com ele.

— O quê? - ela coloca a mão na boca, assustada. - James... Me desculpa, desculpa.

Evilyn percebe a burrada que fez. Como o diretor não chamaria meu pai? Ela devia ter pensado nessa consequência.

— O que eu vou fazer? - pergunto, já com a voz trêmula. - Ao olhar para ela, percebo que está me escondendo alguma coisa. — O que foi?

— Aconteceu uma coisa. Eu não ia te falar, mas acho que é melhor eu falar. Eu já fiz muita merda. - Ela está me assustando. O que é agora? — O Stephen...

— Descobriram? - pergunto assustado.

— Não. Ele veio até em mim. Pediu, na verdade, suplicou que eu falasse com você. Ele quer te encontrar depois da última aula. James, você sabe que eu não gosto dele, ainda mais depois do que ele te fez, e eu não ia nem comentar nada, mas ele estava bem mal. Eu até fiquei com um pouco de pena. Mas mesmo assim não ia dizer. Só que acho que é melhor não me meter mais. Olha o que eu já fiz.

Evilyn está se culpando pelo que fez. Eu estou bravo com ela ainda, mas também sei que ela fez isso achando que era o certo para me ajudar. A última coisa que ia querer é me prejudicar.

— Então você vai? Ele não me disse o lugar, só que você ia saber.

Eu não sei se devo ir. As coisas estão muito complicadas agora. Olha já o que tinha acontecido! A escola toda logo descobrirá que eu sou gay e ficará muito mais arriscado que antes. Mas penso no que Evilyn disse. Que ele está mal. Deve ter descoberto sobre a surra que levei.

Resolvo ir para as aulas depois do intervalo. Ainda noto pessoas me observando, mas pelo menos não tenho o desprazer de ver Mike na aula de matemática. Pelo visto eu não sou o único evitando que nos víssemos. Talvez a punição do diretor tenha sido bem ruim, para ele não querer nem ver minha cara de novo.

Fico pensando em Ste e acho melhor aparecer no nosso esconderijo, nem que fosse a última vez. Precisamos conversar, eu já tinha adiado isso por muito tempo.

Eu mal entro no banheiro e Ste logo vem ao meu encontro.

— James - Ele chega perto e para me observando. - Olha para você. - ele passa a mão no meu rosto de leve, onde há os hematomas cobertos pela maquiagem. Observo ele com atenção. Achei que Evilyn estivesse exagerando ao dizer que Ste estava mal, mas ele realmente está abatido. Parece que ele que levou uma surra.

— Estou bem - digo, tentando confortá-lo.

— Me desculpe - diz Ste ao mesmo tempo, me encarando com dor nos olhos.

— Não foi culpa sua.

— Me desculpe por ter visto aquilo. Eu sou um idiota. Eu não sou forte, James. Não sou como você. Me perdoa, por favor? - Ste segura meu rosto com firmeza e cuidado ao mesmo tempo. Ele engole em seco. - Eu... - ele demora para continuar  e por um momento penso que ele vai dizer aquelas três palavras. - Eu gosto muito de você.

— Está tudo bem. Eu te perdoo. - digo por fim. Ele dá um leve sorriso. Não aquele sorriso que eu sempre estava acostumado a ver, mas um sorriso aliviado.

Ele se aproxima para me dar um beijo. Tiro suas mãos do meu rosto depressa e me afasto, indo para o outro lado.

— O quê? - pergunta ele confuso.

— Não podemos.

— Por quê?

— Ste, o diretor falou comigo e daqui a pouco todos da escola vão saber que sou gay. Eles podem descobrir sobre você também.

— Não me importo. - ele parece decidido.

— Está dizendo da boca para fora. Você não sabe como é. É horrível. Acabei de sair da sala do diretor e... o jeito que ele olhou para mim. Ele não disse nada, mas eu sabia o que ele estava pensando. E logo a escola toda vai me olhar assim. Eu não quero que passe por isso. Acho que agora entendi por que você tinha tanto medo, e você estava certo.

— James, eu não me importo. - ele se aproxima, segurando meu rosto de novo. - Eu só quero estar com você. Podemos nos ver fora da escola. Em casa se você achar mais seguro.

— É muito arriscado. A Amanda me disse que alguém contou para ela, eu nem sei quem foi. E se essa pessoa descobrir sobre você?

Ele tira as mãos do meu rosto e coloca na sua cabeça, andando desorientado. Está nervoso.

— É melhor esperarmos um tempo até a poeira baixar. - continuo.

Ste olha para mim.

— Quanto tempo?

— O último ano já está acabando. E logo estaremos fora da escola...

— O quê? James, isso são quase quatro meses.

— Ficamos juntos esse tempo, Ste. Passa rápido.

— Não. - Ste colocou a mão na testa - É muito tempo. Eu não vou aguentar todo esse tempo sem você. Não faz isso, James. A gente dá um jeito.

— Não tem outro jeito. Tem que ser assim. Eu estou com medo. Medo por você ter que passar por isso também.

Com ele seria muito pior. Se eu tenho que abrir mão da aula de educação física, que eu nem gosto tanto assim, imagina ele com o futebol? Será que o expulsariam do time?

— Por quê? Por que as coisas tem que ser assim? Por que a gente não pode gostar de quem a gente quer? - Ste diz isso mais para si mesmo do que para mim. Ele está inconformado.

Ele me encara de novo e se aproxima, pegando na minha mão logo em seguida. Ste olha para minha boca e me aproximo sem hesitação. Fecho os olhos e espero que ele me beije. Ele o faz e pensei que viria com tudo. Mas não. Ele segura meu rosto com firmeza e me dá um selinho demorado, depois outro e outro, então só assim pressiona a boca na minha. Sentir sua língua na minha fez meu coração acelerar. Retribui o beijo com fervor. Eu não sei até quando vamos ficar sem nos tocarmos de novo. E preciso aproveitar cada segundo.

De repente ele se afasta. Eu não queria que ele fizesse isso. Ste encosta na testa na minha e ainda está com os olhos fechados.

— Eu senti tanta a sua falta. Eu não vou aguentar, James. - ele abre os olhos e se afasta para me observar com mais atenção. - Eu vou dar um jeito. Não precisaremos esperar todo esse tempo.

Aceno com a cabeça. Se as coisas fossem tão simples. Eu só estou fazendo isso para protegê-lo. Nada mais me deixa pior do que estar longe de Ste. Mas é preciso. Infelizmente.


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Notas finais do capítulo

Drama, drama, drama... porque eu adoro um drama.

Me digam o que acharam? Pensaram que as coisas iam acontecer assim? O que esperam que está por vir???? Me digam se gostaram da capa nova!!!!!!!

Beijos, até Terça