Mais Um Dia Em Segredo escrita por LaisaMiranda


Capítulo 8
Recuperação


Notas iniciais do capítulo

Oii gente!

Boa noticia, consegui deixar esse capítulo maior. Estava achando eles muito pequenos. Vou tentar deixá-los bem grandes para durar mais tempo a leitura. Já que só posto duas vezes na semana.

Aviso: Estou percebendo que, talvez, para algumas pessoas fica muito confuso quando a narração vai para Ste. Mas eu não quero colocar [POV STE] ou de qualquer outro jeito. Para não haver mais confusões, vou avisar antes pelas notas quando for acontecer. Mas só para explicar, eu sempre vou colocar a narrativa de Ste quando achar necessário. E sempre será no INICIO, FLASHBACK ou NO FINAL. Nunca vou colocar o pensamento do Ste e logo em seguida vir o de James no mesmo "tempo", porque senão ai sim vai ficar confuso. Espero que vocês tenham entendido. Qualquer duvida só deixar nos comentários ou por mensagem privada.

Neste Flashback a narração será do Ste. (não é um exemplo, estou avisando mesmo)

Boa Leitura!



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Eu estou com Ste. Andando com ele pelo corredor de Herman de mãos dadas, sem medo de que alguém nos veja. Ele olha para mim como se não houvesse mais ninguém ao nosso redor. É bom estar ao lado dele sem medo. Sem vergonha. No entanto, isso é apenas um sonho. Um sonho onde logo acordo.

Abro os olhos devagar, quero dizer, um olho, porque o esquerdo não consigo. Com certeza está inchado após a surra que tomei. E o que exatamente eu estou vendo? É algo novo. Eu nunca tinha visto esse lugar. Eu sei que é um quarto. Não há muitas coisas, exceto os móveis que se tem em uma quarto e uma cômoda coberta de livros, um em cima do outro.

Tento me levantar de onde estou deitado e sinto uma imensa dor no meu corpo.

— Aii. — Volto a posição de antes, mas a dor ainda continua.

Então noto Nicholas entrando pela porta do quarto. Tudo está claro agora. O quarto é dele. A casa é dele. Pelo menos eu acho.

— Não se mexa. Você está muito machucado ainda.

— Não me diga. — Eu tento parecer engraçado, mas parece que até falar dói. Eu levei mesmo uma bela surra.

Nicholas senta na cama, me observando atentamente.

— Que horas são? — pergunto, percebendo que está escuro lá fora.

— São oito horas.

— O quê? Eu fiquei inconsciente esse tempo todo?

— Não. Na verdade você acordou, mas estava com muita dor, então eu lhe dei um remédio para descansar. Não se lembra?

— Não.

— Sua amiga me contou o que aconteceu, mas ela não conseguiu explicar por que você pediu que ela fosse à lanchonete.

— Evelyn? Onde ela está?

— Ela ficou aqui o tempo todo, apenas disse que precisava ir até a casa dela, mas sem antes me dizer que sabia onde eu morava e que memorizou meu rosto, e que se eu desaparecesse com você, ela iria ao polícia sem hesitação. — Eu sorrio. Não duvido que ela tenha dito tudo isso e muito mais. — Você tem uma boa amiga.

— Eu sei.

— Então, por que você decidiu vir até mim?

— Eu não poderia ir para o hospital. Eles fariam perguntas e meu pai descobria tudo. Da pior maneira. Eu não poderia deixar isso acontecer.

— Compreendo. Mas você se arriscou muito, James.

— Desculpe. — Tento colocar a mão no olho que está latejante, onde só consigo ver metade das coisas.

— Não mexa. — Nicholas me para a tempo.

— Está muito feio?

— Não vou mentir. — ele faz uma careta.

— Eu sempre pensei que seria difícil quando as pessoas soubessem, mas foi pior do que eu imaginava.

— Infelizmente ainda existem pessoas ignorantes.

De repente me lembro que já é noite. Minha abuela deve estar preocupada, não apareci em casa desde que saí da escola.

— Minha abuela. Como vou chegar em casa assim? 

Meu rosto deve estar todo desfigurado. Como vou explicar isso ao meu pai? Ele definitivamente vai querer saber a razão de eu ter apanhado e de quem eu apanhei. 

— Meu pai vai me matar se eu não aparecer hoje em casa.

— Não se preocupe. Sua amiga parecia saber o que fazer. Por isso ela teve que ir. Mas ela prometeu que voltaria em breve. — Eu respiro um pouco mais aliviado. Evelyn, sempre pensando em tudo. — Agora, você não quer comer alguma coisa? Você deve estar faminto.

No momento em que ele diz isso, sinto meu estômago roncar. Estou com muita fome.

 

***

 

James estava estudando para algum exame, eu simplesmente não me lembrava qual era. Quero dizer, eu sempre me esquecia das coisas, especialmente quando eu estava tão ocupado pensando nele o tempo todo. Aquele garoto tímido não saia da minha cabeça. E depois que fizemos o que fizemos, eu o queria para mim, a todo momento.

James parou de ler e olhou para mim com aqueles grandes olhos verdes, a pele branca, com bochechas rosadas.

“O que é foi?” ele perguntou, do seu jeito tímido. Acho que se você me perguntasse o que eu mais gosto em James, eu responderia a maneira que ele diz as coisas.

“Nada, só estou observando você.” Eu queria saber mais e mais sobre ele.

Coloquei minha mão em seu rosto, ele continuou a me olhar com aquela cara de não entendi nada. Era estranho pensar em quando comecei a virar isso. Essa pessoa que se importa com outra pessoa. Passei meus dedos pelos lábios dele, depois me aproximei. No entanto, James virou o rosto.

“Por que está se afastando?”

“Eu não estou me afastando.”

“Você está definitivamente se afastando.” Eu não consegui dizer isso sem um sorriso aparecer no meu rosto.

“Eu não estou. É só que eu realmente preciso estudar para essa prova. Se começarmos a nos beijar, não vamos parar e eu realmente preciso estudar.”

Eu balancei a cabeça, pegando sua mão. Toda vez que eu o tocava, toda vez que eu me aproximava, eu me sentia ansioso.

“ Vai demorar muito?” perguntei, entrelaçando meus dedos nos dele.

“Não.”

Eu esperei ansiosamente que James terminasse. No entanto, parecia que o tempo não queria colaborar. Eu me aconcheguei perto dele e beijei seu ombro. Ele olhou para mim novamente.

"O que foi?"

"Ste, você está me distraindo."

"Estou?" perguntei sorrindo. Ele respirou fundo. "Eu só quero um beijo."

Ele virou o rosto para que eu pudesse beijá-lo. Eu segurei seu queixo e ele me deu um beijo leve e se afastou. Eu sorri como se dissesse: Sério? Só isso? Ele ficou parado, aproveitei a oportunidade para beijá-lo novamente. Desta vez, segurei seu rosto com mais firmeza, não dando a ele chance de se afastar. E ele não se afastou. Ele respondeu ao beijo do jeito que eu queria. Eu adorava quando James me beijava assim. De uma maneira que me fazia querer mais e mais. Era doce, mas não deixava de ser ardente. Agarrei sua cintura, enquanto aproveitava que suas mãos foram parar na minha cabeça e deitei na cama. James parou de me beijar assim que percebeu que estávamos deitados.

"Só um beijo, não é?" James tentou se levantar, mas eu o parei, segurando sua nuca.

"Estou com saudades de você." James corou. Era tão fofo.

"Eu realmente preciso estudar."

"Está bem", eu fingi concordar. E em sua distração ingênua, pensando que eu estava de acordo, eu o virei, fazendo com que eu ficasse por cima dessa vez. "Só mais um beijo."

Não dei a ele a chance de responder, beijando-o imediatamente. Puxei sua camisa, alisando seu corpo até atingir a área de seu mamilo. Ele estremeceu e virou o rosto, respirando com dificuldade.

"Por favor, Ste. Agora não."

"Agora sim." Eu respondi com decisão. Eu precisava sentir essa sensação novamente. James estava tentando impedir que isso acontecesse desde a nossa primeira vez. Ele nunca me deixava continuar, ele sempre deu uma desculpa. Mas desta vez, eu não o deixaria ir. Não sem primeiro tê-lo novamente só para mim.

 

***

 

A sopa está deliciosa. É a única coisa que posso engolir, pois só de falar sinto dor. Imagine se eu tivesse que mastigar algo mais grosso?

— Está é bom? — Nicholas pergunta, sentado em uma cadeira, também comendo a sopa para me fazer companhia — Eu geralmente não faço muita sopa. Mas acho que é a única coisa que você pode comer.

— Está ótimo, Nicholas.

— Nick, você pode me chamar de Nick.

Eu olho para ele. Nick. Um apelido. É realmente sensato chamá-lo assim de maneira tão íntima?

— Então eles descobriram sobre você na escola. E o seu ex-namorado? Ele estuda lá também?

Eu já tinha pensado nisso. Eu não acho que ele poderia ter algo a ver com isso. Ele nunca me trairia dessa maneira. Também não acho que alguém possa descobrir sobre ele, especialmente agora que estamos separados.

— Acho que não é possível. Ele é bem popular.

— Popular. Sem bem como é. — Nick diz isso de maneira simples. É claro que  ele deveria ser da turma dos populares na escola. Bonito do jeito que é, não o vejo de  outra maneira.

Com isso em mente, penso em quanto Nick deve ser mais velho que eu. Estou muito curioso para saber quantos anos ele tem. Será que agora que ele me conhece melhor e até me deixa chamá-lo pelo apelido, ele me diria?

— Posso te perguntar uma coisa? — Eu tento.

— Claro.

— Quantos anos você tem? — Ele me observa com cuidado. Aproveito que meu rosto está todo arrebentado e que talvez ele sinta pena, para continuar. — É só uma curiosidade.

— Vinte e cinco. — Abaixo a cabeça para tomar o resto da sopa. Eu disse que era velho.

— Não te acho velho — digo apenas para não fazê-lo se sentir mal, mas a verdade é que ele é velho. Não é tão velho, mas muito mais velho que eu.

Ele ri. Tento colocar a sopa de lado, não consigo mais comer. Nick se apressa para pegar o prato e colocá-lo sobre a mesa com os livros empilhados ao lado.

— Posso te perguntar outra coisa? — Aproveito que ele levou a primeira pergunta numa boa, para desvendar outros segredos que ele deixou trancado a sete chaves naquele dia em que conversamos na lanchonete.

— O quê? — ele parece curioso. Ele vê que essa pergunta será mais séria.

— Não sei se você vai querer responder, mas ... — Não olho para o rosto dele por medo de perder a coragem. — Você deu a entender, no dia em que conversamos, que seus pais sabem sobre você. Então, eu realmente queria saber como é a relação entre vocês agora.

Nick para de comer e coloca o prato em cima do meu. Eu já estou começando a me arrepender de fazer uma pergunta tão pessoal. Eu não tenho esse direito.

— Foi difícil. É difícil até hoje. Meu pai não fala mais comigo, e minha mãe ... ela tenta, mas eu sei que ela não olha para mim como antes.

Respiro fundo. Como ele quer que eu diga a verdade, se não tinha sido bom com ele? Como isso pode me fazer bem se minha família não ficaria bem?

— Olha James, eu poderia ter mentido para você, dizer que as coisas ficaram a mil maravilhas, mas não ficaram. A vida é complicada. Na minha época, era muito mais difícil do que é hoje e acredito que as coisas podem ficar mais fáceis mais para frente. O mundo pode mudar, e não seremos mais vistos como pecadores ou...

—  Seres incompreensíveis.

— Exatamente. Contar a verdade aos meus pais foi uma decisão muito difícil, mas foi minha. Você é dono da sua própria vida e acho que você já tem uma idade em que pode decidir o que quer. Eu não quis te pressionar. É que, por experiência, acho melhor assim. Viver escondido é muito ruim.

— Como você se sentiu quando disse a verdade?

— Aliviado. Quero dizer, eu não precisava mais esconder nada. Esconder quem eu era, quem eu sou.

Eu quero dizer alguma coisa. Por um lado, acho que ele está certo e admiro sua coragem, mas não sei se ainda tenho essa coragem dentro de mim. Ainda mais depois de tudo o que aconteceu, estou mais aterrorizada do que antes.

A campainha toca, me livrando de uma resposta para dar a ele.

— Deve ser sua amiga.

Um minuto depois, Evelyn entra na sala. Ela olha para mim com uma careta.

— Você está horrível.

— Ah, obrigada pela sutileza. — ela vem e me dá um abraço. Aii.

— Eu sinto Muito. Eu só precisava fazer isso, você me matou de preocupação. — ela olha para Nick, em pé na frente da porta. — Aparentemente você não é masoquista.

 — Masoquista? — ele pergunta, intrigado.

— Longa história — respondo antes que Evelyn decida explicar.

— Liguei para sua casa e disse à sua avó que você iria dormir em casa. Que vamos estudar juntos para uma prova.

— Obrigada. Não sei o que faria sem você.

— Você não faria nada. Você não existiria sem mim.

— Só não sei se você já pensou em como vai me levar nesse estado para sua casa. Quero dizer, o que seus pais vão dizer?

— Quem disse que você vai para minha casa? — Estou confuso. Evelyn olha para Nick. — Você não disse pra ele?

— Disse o quê? — pergunto, olhando de Evelyn para Nick.

— Você vai dormir aqui. Eu acho melhor. Assim se recupera mais rápido. — Nick responde, sem mostrar nenhum problema.

Aceno com a cabeça. Não gosto de incomodar ninguém, mas também não teria forças para sair dessa cama hoje. Evelyn me olha animada.

— E eu vou dormir com você. Não com você. Mas aqui com você.

— O quê? — Nick e eu dissemos ao mesmo tempo.

— Você realmente acha que vou deixar você sozinho com ele? — Depois de dizer isso para mim, ela se vira para Nick — Você realmente acha que eu deixaria meu melhor amigo sozinha aqui com você?

— Acho que não — diz Nick com um leve sorriso, cruzando os braços. Ele já começa a entender o jeito de Evelyn. — Vou preparar o sofá para dormir. Fiquem à vontade. — Ele nos deixa sozinhos.

— Não acredito que você falou assim com ele. Depois de tudo o que ele fez, Evelyn.

— Eu estava brincando. Até parece que não me conhece.

— Eu conheço você. Ele não.

Ela sorri radiante.

— Ele é bonito. E parece mesmo o tio Jesse.

— Eu não falei?

— Acho que ele gosta de você — ela menciona, sentando na cama ao meu lado.

— Claro — confirmo ironicamente. Isso nunca seria possível. Além dele ser mais velho, não tenho nada de interessante que possa atraí-lo. Ele apenas me ajudou como igual. — E o que seus pais vão pensar sobre você dormir fora de casa?

— James, olha com quem você está falando. Eu disse que iria dormir na sua casa. — Claro que ela disse.

— É melhor irmos dormir, ainda estou com dor.

— Mas não são nem dez horas.

— Evelyn, não seja chata, você queria dormir aqui e é isso que vamos fazer. Me ajude a deitar.

— Viu? Você não faz nada sem mim. Nada.

Nos deitamos e ela se vira olhando para mim. Não é estranho. Quando éramos pequenos, costumávamos dormir assim. Meu pai sempre pensou que eu tivesse alguma coisa com Evelyn e acho que é por isso que ele a ignora. Claro que ele preferiria que eu namorasse uma garota como Amanda Jones. Que horror. Imagine se ele soubesse que eu não gosto de nenhum tipo de mulher?

— Eu estava pensando. E amanhã? — ela pergunta preocupada.

Evelyn não precisa ser direta para eu saber do que ela está falando. Escola. Eu ainda não tinha pensado nisso. Claro que não vou, acho que ainda não estarei disposto, mas como seria as coisas daqui para frente? As notícias de que sou gay e de que fui espancado já se espalharam?

— Eu não sei. Estou com medo. — Evelyn pega minha mão.

— Não vou deixar que mais nada aconteça com você. Eu prometo.

— É melhor irmos dormir.

Eu não quero falar sobre isso. Evelyn nem sempre poderá me defender. Nem mesmo se eu quisesse. Essa batalha é minha, e vou viver com ela pelo resto da minha vida.

Eu acordo no outro dia e Evelyn não está mais na cama ou na casa de Nick. Ela foi para a escola. Levanto-me com cuidado, já me sentindo muito melhor. A dor não é tão forte e já consigo enxergar com os dois olhos. Vou até a porta do quarto e vejo um pequeno corredor. Vejo a sala e eu caminho devagar até lá.

— James. — Nick se levanta do sofá depois que percebe que eu estou ali. Ele deixa o livro que está lendo no sofá. — Pensei que você ainda estivesse dormindo. Não deveria ter se levantado.

— Eu não aguentava mais ficar naquela cama. — Ele quer me sentar no sofá, mas eu o paro. — Eu realmente queria ver o estado do meu rosto.

— Está muito melhor — Nick parece ser sincero.

— Ainda sim, quero ver.

Avisto um espelho do outro lado da parede. Está pendurado horizontalmente. Com algum esforço, eu ando até lá.

— Meu Deus. Isso é muito melhor? — pergunto, encarando meu reflexo no espelho, só que agora não me reconheço. Meu olho esquerdo não está mais inchado, mas por outro lado, há uma bola roxa ao redor, minha testa e bochechas também estão vermelhas. E meus lábios estão um pouco inchados. — Eu estava pior que isso? — Eu me viro para encarar Nick. Ele apenas assente.

Volto para o sofá, ele me ajuda a sentar. Nick pega o controle remoto e liga a televisão. E pela primeira vez, percebo o que estou vestindo. Esta camiseta não é minha. Nick me trocou. Ou foi Evelyn? Eu estava vestido assim ontem? Não me lembro.

— Estranhando a camiseta? — ele pergunta.

— Não me lembro de ter uma camiseta do Green Day —  respondo. — Você é fã? — pergunto, ainda olhando para a camiseta preta com a foto da banda estampada.

— Não, na verdade não escuto muito. Eu prefiro algo mais leve.

— Então, por que você tem uma camiseta de uma banda de rock?

— Meu ex esqueceu, nós fomos ao último show deles aqui em Little Rock.

Nick tinha colocado a camiseta do ex-namorado em mim? Eu não queria perguntar o porquê, então pergunto o seguinte:

— Você foi ao show deles? — pergunto um pouco animado.

— Você curte?

— Eu ouço algumas músicas. — Tento não mostrar muita admiração. — Eu até queria ter ido a esse show, mas nem fiz questão de perguntar ao meu pai. Além de não me dar dinheiro, ele ia dizer que essas bandas são uma má influência e que esses caras são drogados, e que só haveria pessoas drogadas no show, esse tipo de coisa.

— Você pode ficar com a camiseta, se quiser. Eu nem uso, não serve em mim.

— Mas é a camiseta do seu ex.

— Exatamente. É bom não ter mais nada para lembrar dele.

Nick volta sua atenção para a televisão, ele parece não querer falar sobre isso. No entanto, estou curioso demais para ficar de boca fechada. E por alguma razão, me sinto confortável com ele. Não sou tão tímido, é como se estivesse conversando com um amigo, assim como Evelyn.

— Vocês não terminaram bem? — pergunto, de cabeça baixa. Ele leva muito tempo para responder. Eu nem achei que iria.

— Acho que nenhum relacionamento termina bem. O seu, por exemplo, terminou? — Nick joga a pergunta para mim e no mesmo momento a imagem de Stephen beijando Amanda entra em minha mente. — Está vendo? — ele fala de novo, mas não olha para mim; em vez disso, muda aleatoriamente os canais de televisão. — Acho que encontrar uma pessoa como nós é muito mais difícil do que acontece com um casal normal. Quero dizer, nem todo mundo tem coragem de se assumir, não digo publicamente, mas para si mesmo, então quando você conhece uma pessoa, você pensa que é a pessoa certa, então se joga de cabeça e depois que tudo acaba, apenas resta dor.

Não tenho ideia do que aconteceu com o relacionamento de Nick, mas não deve ter sido bom. Ele parece entender essas coisas. Claro, ele deve ter tido mais de um namorado.

— Nick ... — começo, preciso perguntar. Isso está na minha cabeça há algum tempo. — Você acha que uma pessoa pode ser homossexual, mas ainda assim se sentir atraída por mulheres?

Nick me observa com cuidado, como se estivesse tentando descobrir por que eu fiz essa pergunta. Eu sei que Ste é gay, mas e se ele também gosta de mulheres, e por esse motivo, estava se agarrando com Amanda?

— Você? Você se sente atraído por mulheres? — ele pergunta.

Penso um pouco antes de responder. Eu já tinha beijado duas garotas. A primeira foi Rebecca, uma garota da minha turma do ensino fundamental. Eu tinha quatorze anos quando ela descobriu que eu nunca tinha beijado ninguém, então ela me beijou de surpresa. Lembro-me de achar sua língua estranha na minha, mas não tinha sido ruim. Naquela época, eu já sabia que era gay, mas como poderia ter certeza se nunca havia beijado alguém? A segunda vez foi diferente. Eu estava em uma festa da família de Evelyn, quando a prima dela (mais tarada de todas) pulou em mim e me agarrou no quarto da minha melhor amiga. Não consegui afastá-la, mas lembro de não gostar do beijo. Não sei se foi porque ela era prima de Evelyn, mas não gostei.

— Não. Acho que não. — eu finalmente respondo.

— Então não. Se você é gay, você é gay. Pelo menos eu acho isso. — O assunto morre ali.

De repente, lembro que ainda não tinha agradecido a Nick por ter me ajudado. Que bonito, James. Cadê sua educação?

— Nick? —  Ele olha para mim. — Ainda não te agradeci por tudo o que você fez. Obrigado.

— Eu nunca negaria ajuda. De nada.

Nós não conversamos mais. Um programa matinal começa na televisão. E nós assistimos em silêncio.


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Notas finais do capítulo

Esse capítulo foi um pouco diferente, eu pelo menos achei. Teve pouco Ste, e alguns (tenho certeza) sentiram falta dele, mas prometo que ele logo aparecerá.

Espero que vocês tenham gostado. Deixe as suas opiniões, dúvidas, críticas nos comentários. Responderei com todo prazer.

Até Sexta!