Nova fase' escrita por HungerGames


Capítulo 24
Mudanças!




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Poucas vezes eu vi a Keyse tão animada com alguma coisa do jeito que ela está nesse projeto com o tal Stuart, eles tiveram uma reunião mês passado logo depois do desfile da Pérola, onde ele separou uma equipe para algumas gravações que ele irá fazer nesse fim de semana, pra minha sorte ele não passou o mês inteiro por aqui, veio apenas algumas vezes pra ver o andamento de tudo e logo ia embora, eu já estava praticamente comemorando isso até ontem quando Keyse chegou em casa praticamente dando saltos de alegria por todos os elogios que recebeu e dizendo que hoje eles terão um jantar com todos da equipe e o próprio Stuart para decidirem os últimos detalhes de tudo, eu tentei ser o cara maneiro e não me importar muito com isso, mas confesso que agora parado na porta do banheiro olhando ela terminando de se maquiar a ideia dela num jantar com esse cara mesmo com outras pessoas, incluindo a Pérola, juntos, não me parece muito agradável.
— Será que você pode desfazer essa cara, por favor? – seus olhos me encontram pelo espelho, ela para de fazer o que estava fazendo e apenas continuam me encarando pelo espelho, dou de ombros e faço uma cara de quem não entendeu – Não se faz de bobo, nem combina com você – ela me dá um sorriso e eu forço outro.
— Você tá linda! – eu falo deixando meus olhos escorregarem por ela mais uma vez, ela está com um vestido verde escuro, até seus joelhos, de manga comprida, liso, sem detalhe nenhum, o único detalhe é o corpo dela perfeitamente desenhado por ele e um colar que eu dei a ela no nosso terceiro aniversário de casamento, seu cabelo está solto, acima dos ombros e como sempre ela está incrível, então me lembro pra onde ela vai e meu sorriso diminui, viro as costas e saio do banheiro.
— Pyter! – ela me chama e eu paro no meio do quarto e me viro pra ela que agora está parada na porta do banheiro onde eu estava antes – Você sabe que se eu pudesse te levar, eu levaria, mas não vai ter mais ninguém de fora lá, nem o Ian não vai...
— É, tô sabendo...
— Então desfaz essa cara, sua irmã também vai sozinha e nem por isso o Ian tá com cara de quem comeu e não gostou...
— Por que não é na mulher dele que estão de olho! – ela deixa um pequeno riso escapar, mas logo se controla, anda até a mim e encaixa as mãos nos meus ombros.
— Você fica tão gostoso com ciúmes – ela me dá um sorriso que mesmo irritado acaba me fazendo rir, eu coloco minhas mãos na sua cintura e olho nos seus olhos.
— Promete que se ele chegar perto de você, você chuta entre as pernas dele? – ela solta uma risada alta e divertida – Ei, eu tô falando sério! – ela encosta a testa na minha ainda rindo.
— Eu amo você!
— A palavra certa é: Eu prometo! – ela ri e me dá um beijo rápido.
— Nenhum outro homem vai encostar em mim, ok? – ela afirma me olhando diretamente nos olhos – Esse é um privilégio seu! – ela me dá outro beijo e então ia se afastar, mas eu a puxo pela cintura, juntando ela o máximo possível em mim e lhe beijo, com paixão e desejo, seus dedos logo vão pro meu cabelo e ela corresponde com a mesma vontade, mas quando minha mão sobe por baixo do seu vestido, ela a segura e para o beijo, quando olho pra ela, seu olhar diz que ela não vai mudar de ideia, então solto-a e levanto minhas mãos – Ótimo, agora só preciso refazer meu batom – ela tenta parecer reprovar mas antes de se virar ela acaba sorrindo, ela entra no banheiro e eu me jogo na cama.
— Ô pai, Ô pai!
— Pai, pai, pai....
Theo e Lucca entram correndo pelo quarto, sobem pulando em cima da cama e quase caem os dois em cima de mim.
— Onde é o incêndio? – pergunto enquanto eles se ajeitam meio ajoelhados, meio sentados na minha frente.
— Se eu e o Theo ficasse preso em uma arvore, quem você ia salvar primeiro? – Lucca pergunta ansioso assim como Theo, eu acabo rindo, eles sempre fazem essas disputas.
— Bom, eu cortaria a arvore e então os dois estariam no chão no mesmo tempo – dou de ombros e eles riem e dizem que não vale – Mas é o que eu faria, ué!
— A gente podia se machucar quando caísse da arvore...
— Não iam não, por que antes eu ia colocar vários colchões e almofadas em volta...
— AHHHHH você sempre rouba! – Lucca reclama mas está rindo.
— Você tem que escolher um. Eu ou o Lucca – Theo explica como se eu não entendesse a brincadeira.
— Tá e se a gente tivesse perdido na floresta, separados, atrás de quem você ia primeiro?
— Nenhum dos dois! Eu iria fugir pra outro planeta ou a mãe de você ia me matar por ter perdido vocês dois! – eles riem mas colocam as mãos no rosto como se eu tivesse feito tudo errado de novo.
— Não vale assim!
— Mas ele tá certo, eu mataria ele mesmo! – Keyse fala saindo do banheiro, eles se viram pra ela.
— Viu, eu disse!
— Mas quem você ia querer achar primeiro? – Theo pergunta.
— Hummm... – ela finge pensar numa resposta – Não posso falar um nome mas... Ia ser aquele que tem os olhos azuis... – ela dá uma piscada e eles reclama e se jogam na cama com cara de exaustos.
— A gente é igual! – eles falam juntos.
— Xiiiiii... Então eu acho que ia querer achar os dois!
— Vocês não sabem brincar – Lucca fala saindo da cama e balançando a cabeça inconformado.
— Você tá bonitona – Theo fala parando em frente a ela.
— Bom, obrigada! – ela sorri e dá uma voltinha.
— Você vai jantar com o babacão? – ele pergunta naturalmente e imediatamente Keyse me olha.
— Theo! Não pode falar isso das pessoas – eu tento parecer bravo e surpreso, mas pelo jeito que ela me olha não consegui nem chegar perto disso.
— Você não deve sair repetindo tudo que seu pai fala, ele tem um cérebro desse tamaninho – ela fala fazendo um sinal bem pequeno com os dedos, Theo e Lucca riem.
— Só o cérebro!
— PYTER! – ela me repreende mas vejo a sombra de um sorriso, então antes que ele desapareça, eu pulo da cama e chego até ela, seguro sua cintura e toco seu rosto.
— Te amo! – ela revira os olhos mas me libera um pequeno sorriso.
— Eu tenho que ir, tenta controlar seu vocabulário perto deles... – eu também sorrio.
— Vou tentar! – dou um beijo rápido nela e a solto.
— E vocês dois, nada de pegar chocolate escondido, o pai de vocês podem não perceber, mas eu sim, então não tentem me enganar – ela avisa e depois beija a testa de cada um – Eu amo vocês! – ela repete enquanto desce as escadas, nós três ficamos no topo olhando até que ela sai e a porta se fecha.
— Melhor de 3, quem perder lava a louça da janta! – eu falo e eles correm na minha frente pro quarto, então ligamos o vídeo game e começamos a disputa – Fala sério, vocês roubaram! Eu nunca perdi esse jogo pro Ryan! – eles riem.
— Pai, você tá velho! – Theo fala implicando comigo.
— Eu tô o quê? – ele se levanta e corre antes que eu o alcance, desce as escadas e eu vou atrás dele, ele ainda estava no corredor quando o alcanço, pego ele sem muita dificuldade e o jogo por cima do meu ombro, ele grita e depois ri alto demais, então quase como um flash Boldo está na minha frente latindo e rosnando pra mim, ele sempre faz isso quando acha que um deles está com problemas, basta um grito deles e ele sempre aparece imediatamente e só para de latir quando eu coloco Theo no chão, ele ri com a vitória e Boldo fica pulando e cheirando ele.
— Em pensar que eu votei pra você vir com a gente – eu falo fazendo uma careta pro cachorro que continua pulando e brincando com Theo.
— Ele me protege! – Theo fala rindo orgulhoso e Boldo quase o derruba no chão, pra lamber o seu rosto.
— Vai tomar banho depois – eu aviso e acabo sorrindo vendo eles, mas deixo eles brincando e vou pra cozinha, Keyse deixou o jantar praticamente pronto, então apenas esquento e arrumo a mesa, tenho que mandar eles lavarem as mãos e então jantamos juntos, o frango assado que estava inteiro praticamente acaba apenas com nós três e ainda comemos o doce de laranja todo, como combinado eu lavo a louça, mas eles acabam ajudando, um seca e o outro guarda e então logo terminamos, como amanhã eles não terão aula, acabamos jogados no chão da sala, entre as almofadas vendo televisão, estava passando um concurso de beleza e eles logo se animaram quando viram as garotas na tela, eu acabei rindo e ficamos assistindo isso, até quando já estava quase no final, eles acabaram dormindo, cada um com a cabeça apoiada em um lado da minha barriga e isso me faz sorrir com um bobo, passo meus dedos pelo cabelo deles e mais uma vez me pego agradecendo por tê-los na minha vida, nove anos atrás isso realmente não passava na minha cabeça, um filho parecia algo que eu não estava preparado pra ter, algo que eu achava que não queria, mas desde que eles nasceram, eu vi que eles não eram “algo” que eu queria, eles são exatamente tudo que eu preciso, o tamanho do amor, da alegria e do orgulho que eu sinto por eles nunca vai ser medido, é algo que é maior do que qualquer outro sentimento que eu tenho e eu só consigo agradecer por ter a sorte de ser o pai deles, eles estão dormindo tão bem e tão tranquilos, que eu nem me mexo direito, apenas continuo assistindo tv.
— Ei... – o toque no meu rosto e no meu cabelo que me despertam, abro os olhos e o rosto da Keyse está a poucos centímetros do meu, por instinto já ia me mexer mas ela me impede e faz sinal de silêncio depois aponta pra eles que ainda dormem, Lucca com a cabeça apoiada na minha barriga e Theo já está no meio das almofadas, então bem devagar ela me ajuda a sair debaixo do Lucca, eu me levanto e nós olhamos pra eles por alguns segundos, ela abre um sorriso e encosta a cabeça no meu ombro.
— Vou levar eles! – aviso e então com cuidado pego Lucca primeiro, subo as escadas e empurro a porta com meu pé, coloco ele na cama e desço pra buscar o Theo, faço o mesmo, então depois de cobrir e dar os beijos de boa noite, eu e Keyse saímos do quarto e fechamos a porta – Então, como foi? – pergunto quando entramos no nosso quarto, ela sorri animada enquanto tira as sandálias.
— Tá tudo perfeito! Ele adorou tudo que fizemos. Nenhuma reclamação e eu nem acredito que já é amanhã! Parece que passou tão rápido...
— Acho que você precisa relaxar – eu falo me aproximando dela com um sorriso sugestivo, ela também sorri, então se vira de costas pra mim e aponta pra que eu tire o colar dela, meus dedos deslizam pela sua nuca e vejo quando sua pele se arrepia, eu tiro o colar, coloco-o sobre a mesinha e logo volto minha atenção a ela.
— E o que você sugere pra me fazer relaxar?
— Ah eu tenho algumas ideias – falo e me aproximo ainda mais dela, deixando suas costas tocarem meu peito, meus dedos sobem pelas suas coxas e alcanço a barra do seu vestido, levanto-o lentamente, então ela me ajuda levantando os braços, tiro o vestido e o deixo cair no chão, ela se vira de frente pra mim e abre um sorriso.
— Sabe que eu também tenho algumas ideias... – ela desce as mãos pelo meu corpo, lentamente, escorrega os dedos pela minha barriga, até alcançar o cós da minha calça, ela sorri e então abaixa a calça no mesmo instante que me puxa pra ela e me beija, então nada mais ocupa minha mente.
Acordamos cedo no dia seguinte, o sol ainda está nascendo e ela já está saindo do banheiro arrumada.
— Vocês vão mesmo pra floresta? – ela pergunta juntando várias coisas dentro da bolsa dela.
— Só vou acordar eles e saímos!
— Nada de arvores acima de três metros e banho no lago, não é banho de verdade – ela fala e me dá um beijo rápido – Eu tenho que ir, amo você – ela fala já saindo apressada do quarto, faço uma careta mesmo sem ela vê, então também saio do quarto para entrar no quarto ao lado, Lucca está acordando e Theo ainda dorme profundamente, porém, assim que digo para onde vamos eles se apressam e pulam da cama, mesmo Theo que não é tão fã da mata quanto Lucca, ainda assim ele sempre se diverte de alguma maneira, por isso eles se animam tanto, colocam a sunga e uma roupa mais leve, pegam a coleira do Boldo e inicia-se uma disputa de quem deve leva-lo, acabo interferindo e resolvemos no cara ou coroa, Lucca ganhou, pego a mochila com nossas coisas, jogo nas costas, tranco a porta e saímos, estávamos alcançando o portão da Aldeia quando a figura que parece ainda dormir em pé se aproxima.
— TIO!!!!! – Theo corre até ele e eles meio que se abraçam, bagunçam o cabelo um do outro e voltam rindo, Pietro está com a jaqueta preta jogada sobre um ombro, a camisa branca aberta na metade dos botões e a cara de quem não dormiu ainda.
— Noitada foi boa ein?! – falo olhando pra ele de um jeito impressionado, ele usa a jaqueta pra esconder a mão e me faz o sinal do dedo do meio – Tava com a Luiza? – assim que falo o nome dela um sorriso completamente idiota aparece no rosto dele e por mais que ele negue isso eu já sei como termina essa história.
— A gente deu uma esticada! – ele dá de ombros disfarçando o sorriso assim que percebe o meu – Nem começa com esse papo...
— Não disse nada – levanto as mãos em inocência.
— Nossa noite só não foi muito produtiva, então... Ela tava lá, eu tava lá... – ele dá de ombros.
— É, imagino! Aquele lance de amizade colorida e tal
— Exatamente isso!
— Ok! Anda meninos, vamos que seu tio ainda precisa treinar no espelho pra conseguir mentir melhor...
— Vai se ferrar – ele reclama e me dá um empurrão meio desajeitado, eu acabo rindo – Preciso falar com você, onde vocês vão?
— Pro lago!
— Vamos com a gente – Theo pede já animado.
— Tá levando comida? – ele pergunta me olhando.
— Eu tenho dois filhos em fase de crescimento, o que você acha que nessas mochilas? – ele ri.
— Bora lá... – Theo comemora quando ele concorda.
Passamos pela padaria, ele avisa ao papai que irá com a gente e os meninos terminam de encher as mochilas com biscoitos e pão de nozes, então saímos com Boldo latindo pra quase todo mundo que passava por nós, a corrente dele só foi solta quando atravessamos a cerca, assim como os meninos ele já conhece o caminho perfeitamente e chegamos ao lago sem nenhum problema, os meninos jogam a mochila embaixo da arvore que já é nosso lugar de sempre, tiram as roupas e apostam quem chega primeiro ao lago, Boldo ganha dos dois e logo eles estão se divertindo enquanto Boldo tenta pegar alguns patos que ficam por perto.
— O que você queria conversar? – pergunto enquanto também tiro minha camisa.
— Eu acho que vou ser promovido!
— Meus parabéns, então isso significa que você vai me pagar todos os empréstimos que eu já te fiz?
— Você ainda acredita nisso? Que fofo – ele pisca um dos olhos e aperta minha bochecha, dessa vez eu que mostro o dedo do meio pra ele.
— E pra quando é essa promoção?
— Pra daqui há 3 meses
— Passa rápido...
— É só tem um problema... É que eu só posso ser promovido se fizer um curso antes...
— Entendi! E é a área que você quer né?
— É sim, o cargo é tipo, perfeito. Não imaginei que conseguiria chegar tão cedo nisso... – eu acabo sorrindo orgulhoso e o puxo pra um abraço meio de lado.
— Eu sempre soube que você era foda! – ele ri – Era sobre isso que você queria conversar?
— É! – eu o olho confuso, sem entender qual o problema, então quando ele me devolve o olhar eu entendo imediatamente.
— O curso não é aqui no Doze, é? – ele nega com a cabeça.
— É no Treze!
— Três meses?
— Você mesmo disse que passa rápido!
— A mamãe vai pirar!
— E é por isso que eu preciso de você...
— Você sabe que ela odeia o Treze
— Ela odeia qualquer lugar que não seja o Doze.
— E ela tem os motivos dela, você sabe disso também... – ele desvia os olhos de mim e abaixa a cabeça.
— Eu sei que tem, é só que... Eu preciso mesmo ir!
— Por que vocês sempre me procuram nessas confusões? Por que você não procurou a Pérola?
— Você sabe por quê... – ele me encara com a mesma expressão que ele tinha quando era pequeno e queria que eu o encobrisse.
— Você devia ter falado com a Pérola ou com o papai!
— Você sabe que eu não podia... Pyter, só você pode me ajudar...
— Eu?
— É, você sabe que só você pode convencer a mamãe aceitar isso como uma boa ideia. O papai até consegue enrolar ela, eu consigo, a Pérola consegue, mas só você entra na cabeça dela e faz ela pensar, você sabe que ninguém mais consegue as coisas que você consegue com ela, então, por favor...
— Eu não faço nenhum milagre, você sabe como ela é quando o assunto é a Capital ou o Treze ou qualquer um dos filhos longe dela, eu não posso fazer nada...
— Pyter, eu já tomei minha decisão, é uma chance única na minha carreira. Eu já dei meu nome, eu viajo em duas semanas. Não é algo que eu vá desistir, mas eu não quero ir e deixar a mamãe passando mal ou nervosa, angustiada sei lá e eu preciso de você pra que isso não aconteça, eu quero muito isso, mas quero que ela fique bem, ela vai ter vocês aqui e eu vou ficar bem, ela só precisa se lembrar disso e você pode fazer ela lembrar... – eu olho pra ele e então percebo a clara diferença entre aquele garotinho que vivia se pendurando em mim e no homem que ele está se tornando.
— Três meses? – pergunto já pensando em como convencer a mamãe, ele abre um sorriso quando percebe minha decisão.
— Eu vou poder vim nos fins de semana, a cada duas semanas... Não é tão ruim!
— É, acho que podemos fazer isso – ele abre um sorriso e me dá um abraço apertado.
— Obrigado!
— Mas tem uma condição...
— Qual?
— Que você conte a verdade sobre o que você sente pela Luiza...
— Ah cara, de novo? Eu já falei mil vezes, somos amigos! Eu juro que é isso! Tá, eu gosto dela, a gente se dá super bem e ela é a melhor amiga que eu já tive, a gente se pega de vez em quando e é isso, sem entrelinhas, só isso! – ele fala e por um momento fico na duvida de quem ele tenta convencer, se a mim ou ele mesmo.
— Ok, não falo mais nada – mostro minhas mãos e ele faz um sinal de agradecimento para os céus.
Ele tira a roupa e fica só de cueca, corre pro lago com o grito dos meninos, nós ficamos na floresta o dia todo, os meninos brincaram com ele, com Boldo, subiram em arvores, treinaram os tiros com arco e flecha, pescaram, colheram frutas, almoçamos jogados no chão e Pietro acabou dormindo embaixo de uma das arvores, então os meninos espalharam lama na barriga e no rosto dele que assim que acordou correu atrás deles, depois de toda bagunça, juntamos nossas coisas e saímos do lago, assim que alcançamos a cerca Boldo foi preso na coleira novamente e fomos direto pra Aldeia, nos despedimos do Pietro que foi pra casa dos meus pais e entramos em casa, os meninos correram pra frente se jogar no sofá e Boldo pulou junto com eles.
— Os três fora do meu sofá! – a voz veio do alto da escada e como um comando imediato, os três pularam pra fora do sofá, Keyse me olha com a mão na cintura.
— Eu ia falar isso agora mesmo – eu falo fazendo a maior cara de sério que consigo.
— Sei! Lucca e Theo pro banho agora! Pyter, quero o Boldo com as patas limpas e fora do meu sofá... – eu bato a mão na cabeça em continência e nós rapidamente a obedecemos.
— Você também deveria tomar um banho – ela fala assim que entro no quarto.
— Já tomei! – ela me dá um de seus olhares fatais de quando faço alguma besteira, mas ignoro  e me jogo na cama.
— Pyter, sai da cama! Eu troquei os lençóis ontem, passei o dia fora e agora só quero a cama sem cheiro de suor ou terra ou galhos secos, você pode sair logo daí?
— O que foi? O Senhor incrível não quis te levar pra jantar hoje? – pergunto com ironia, ela me encara como se eu tivesse dito algo inacreditável, ela ameaça falar algo e então desiste, vira as costas e vai pro banheiro, ela bate a porta com força e então eu sei que estou bastante encrencado, fecho os olhos e dou alguns socos na minha testa, então respiro fundo, me levanto e vou pro banheiro, torcendo pra porta não estar trancada, toco a maçaneta, giro e então a porta abre, agradeço mentalmente por que isso significa que ainda posso consertar a burrada que eu fiz, ela está só de calcinha e sutiã, o chuveiro já está ligado e por isso o ar quente e o espelho já embarçado.
— Eu fui muito idiota né?  – pergunto já abraçando-a por trás e encostando minha boca no seu ombro.
— Completamente – ela concorda e continua tirando o brinco que estava.
— Será que você pode me contar como foi seu dia?
— Foi bom! Tudo certo, nenhum problema... Um sucesso na verdade – ela dá de ombros sorrindo orgulhosa.
 - Claro que foi um sucesso, você estava lá! – dessa vez ela vira o corpo todo de frente pra mim e passa os braços por trás da minha cabeça.
— Você está flertando comigo? – ela pergunta fazendo uma expressão surpresa, eu sorrio e afasto uma mecha do seu cabelo que estava cobrindo um de seus olhos.
— Talvez – dou de ombros.
— Bom... Você é muito bonito e charmoso, mas...
— Mas?
— Eu sou casada! Muito bem casada! Quer dizer, as vezes ele é um grosso, idiota, meio babaca, mas... Ele realmente é o homem da minha vida – ela abre um sorriso e então eu a beijo, ela corresponde e então o banho acaba sendo bem demorado.
No dia seguinte eu levo os meninos comigo pra padaria e ela vai trabalhar também, Pérola foi dispensada por que também está no tal projeto, o resto de nós assumimos nossos postos, fechamos a padaria um pouco mais cedo do que o de costume, vamos todos juntos pra Aldeia e os meninos vão pra casa da Pérola pra jogarem um jogo novo junto com a Loui, Ian fica responsável por eles, ou seja, tudo que quebrar por lá, não é culpa minha. Aproveito que a casa está vazia, me jogo no sofá e acabo pegando no sono.
— Pyter! – o balanço no meu ombro que me acorda, Pietro tá parado na minha frente parecendo ansioso.
— Que foi?
— A mamãe já sabe!
— O quê? – me sento com a surpresa da noticia – Achei que tínhamos combinado de esperar mais uns dias...
— Eu sei, mas ela ouviu eu falando com o papai...
— Por que você não podia fechar essa boca e esperar mais um pouco né?
— Alguém lá do trabalho comentou com ele hoje na padaria... – eu me jogo pra trás no sofá e esfrego meu rosto.
— Como ela tá?
— Varrendo o quintal... – ele fala e eu tampo o rosto de novo, ela odeia varrer o quintal, só faz isso quando quer se manter fixa em alguma coisa e evitar ter alguma crise, eu respiro fundo e me levanto – Eu tentei falar com ela mas ela não quer falar comigo...
— Não tenta mais! Eu tô indo lá falar com ela! – eu aviso e ele concorda e sai.
Me levanto, vou até o quarto, debaixo da cama tem uma caixa que guardo algumas coisas que são no geral, lembranças boas, pego o que preciso e desço as escadas correndo, dobro o papel e coloco no bolso da minha bermuda, saio de casa e vou pra casa do lado, dou a volta e alcanço os fundos, mamãe está varrendo um punhado de folhas secas, me aproximo um pouco mais dela.
— Sai daqui! – ela exige antes que eu abra a boca pra falar alguma coisa.
— Faltou umas ali – aponto algumas folhas perdidas pelo caminho.
— Eu não quero falar com você!
— Por que?
— Por que não!
— Mãe...
— Pyter, sai daqui!
— Eu não vou sair, mãe! – falo mais alto e mais firme, ela para de varrer, se vira pra mim e apenas fica me olhando – Você pode não escutar ninguém, mas vai me escutar!
— Eu não quero!
— Eu não perguntei isso.
— Eu ainda sou sua mãe!
— E eu te amo e te respeito, mas você não vai bancar a Louise agora... – ela acaba deixando um sorriso escapar, aproveito, me levanto e vou até ela, tiro o papel do bolso e abro, então entrego a ela – Você sabe o que é isso?
— Um desenho – ela dá de ombros, eu a encaro esperando mais resposta – Do Pietro – eu concordo e ela continua olhando pra folha, um aerodeslizador está desenhado e pintado bem colorido, ao lado um boneco com capacete.
— Ele tinha oito anos, foi naquele natal que você esqueceu de comprar o presente pro papai – eu falo rindo e ela faz uma careta – A gente tava esperando a ceia e ele tava fazendo os desenhos dele e fez esse, você lembra o que ele disse? – ela me olha mas não responde – Ele disse que o boneco era ele e que um dia quando ele crescesse ele ia trabalhar com os aerodeslizadores e ia ser o chefe de todos eles, pra comandar todos os aerodeslizadores do mundo, você lembra, não lembra? – ela concorda com a cabeça e já começa a chorar, então a puxo pra um abraço, ela solta a vassoura no chão e me abraça forte, ficamos em silencio por um tempo.
— Ele acha que conhece tudo do mundo, que consegue se virar com qualquer coisa e que nada pode acontecer com ele, mas... Ele sempre vai ser meu filho, é meu dever ver o que ele não consegue enxergar.
— Eu sei disso, ele também sabe! Só que esse o sonho dele, você não pode esperar que ele desista...
— Não espero isso, eu só queria ele por perto!
— São três meses, vai passar mais rápido do que você pensa... – ela me olha duvidando – Encare como uma lua de mel, sua  e do papai... – ela ri mas nega e volta a se encostar em mim – Ele vai ficar bem, não parece, mas ele tem juízo!
— Eu sei que tem, só não sei se tô pronta pra ver ele saindo de perto de mim tão cedo...
— Ele vai mas volta! Além do mais as garotas aqui do Distrito precisam de um descanso – ela ri e me dá um tapa meio fraco no braço.
— Eu acho que ele está gostando dessa menina nova!
— Ele tá! Mas não tá pronto pra admitir ainda...
— Você nunca desiste né? – Pietro pergunta mas está sorrindo parado na porta nos observando.
— Você gosta ou não gosta dessa menina. Eu gosto dela! – mamãe fala sorrindo.
— Eu também!
— Pyter, cala a boca! – ele exige mas ri e vem até nós, ele abraça mamãe e beija sua testa – Não posso tirar a chance de felicidade de outras mulheres – ele fala e mamãe ri mas tenta parecer reprovar.
— Nossa, eu vou adorar quando você estiver de quatro por ela e vier pedir minha ajuda... – ele me mostra o dedo do meio e mamãe bate no braço dele.
— Bom, missão cumprida, tenho que buscar aqueles dois pra fazer o trabalho da escola – aviso, beijo a testa da mamãe, Pietro pisca um dos olhos em agradecimento e eu saio, busco os meninos na casa da Pérola e eles vão reclamando até estarem dentro do quarto deles, fazem o trabalho e estavam brincando do lado de fora com Boldo quando Keyse chega, eu estou no escritório arrumando alguns papéis e ela para na porta me olhando.
— Você fica tão sexy atrás dessa mesa... – ela fala e eu sorrio.
— Achei que fosse chegar mais tarde – falo mas empurro a cadeira pra trás e chamo por ela, que rapidamente vem até a mim, ela senta na mesa a minha frente e apoia os pés no meu colo me olhando de um jeito de quando ela avalia se me conta ou não algo – O que aconteceu? – ela morde a boca, bate a ponta dos dedos na mesa e parece indecisa – Ok, conseguiu me deixa curioso... – ela força um sorriso.
— Você me promete que não vai fazer nada? – assim que ela fala eu me endireito na cadeira já atento.
— O que ele fez? – ela puxa a respiração como se pra criar coragem.
— Você tava certo! Ele fez isso por que achou que ia ter alguma chance comigo...
— O que ele fez?
— Jura que não vai pirar?
— Keyse!
— Ele tentou me beijar...
— Ele o quê? – eu me levanto, empurrando a cadeira pra trás, ela pula da mesa na minha frente, impedindo que eu passe.
— Ele só tentou, não conseguiu...
— Eu deveria estar feliz então?
— Não, mas não aconteceu nada, ele já teve o que mereceu...
— Ahhh eu duvido muito, eu vou falar com ele e aí talvez ele receba o que merece... – aviso e consigo passar por ela, já saindo do escritório.
— Bom, você vai ter que esperar ele sair do Hospital! – paro no caminho e olho pra ela.
— Do hospital? – ela dá de ombros.
— Ele tentou me beijar, eu dei um chute no meio das pernas dele e aquele golpe que você me ensinou, então ele meio que caiu de lado, tentou se escorar em algo e tinha uma escada aberta perto, ela tombou na parede, só que era uma parede falsa, ele derrubou junto com algumas coisas presas ao cabo ao lado, então, agora ele meio que tá na emergência do Hospital com um corte na testa e um ombro deslocado... – ela fala com um sorriso meio orgulhoso.
— Você fez tudo isso? – também sorrio orgulhoso.
— Só tem um homem no mundo que pode me tocar e com certeza não é ele! – ela abre um sorriso então eu não resisto e agarro-a, ela solta um som surpreso mas quando eu a beijo sinto seu sorriso e logo ela está me beijando com paixão, tranco a porta do escritório e quando terminamos várias folhas estão espalhadas pelo chão, mas os dois estão sorrindo.
Ela me pediu, praticamente implorou que eu não fizesse nada e quando Pérola contou que ele levou quatro pontos na cabeça e realmente deslocou o ombro, eu acabei me divertindo e decidi aceitar o pedido dela, ele foi embora do Distrito no mesmo dia e três dias depois Keyse recebeu um telefonema, era do diretor do projeto, ele disse que o Distrito Doze irá celebrar a festa da Primavera e precisam de pessoal para a montagem e organização dos espaços, então ele a indicou, ela ficou tão animada que mal conseguia parar de falar e eu fiquei tão feliz que nem ao menos tentei fazer ela parar.


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