Chavuto escrita por Rick Batista


Capítulo 1
A Vila do Galho




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Era um dia ensolarado na Vila do Galho, uma comunidade onde ninjas pobres viviam em casas de segunda, em troca de pagar uma ninharia de aluguel. O dono da vila era também a maior autoridade no lugar. Um ninja altamente rico, altamente poderoso e altamente gordo.

Nossa história começa com sua viagem até um lugar fedido, mal frequentado e altamente perigoso: a própria vila.

— Me dá, me dá! — gritava uma menina de vestidinho vermelho e um par de maria-chiquinhas nos cabelos rosados. — Isso é meu, Chavuto! Me devolve agora!

— Pois deixa de ser mentirosa, Sakinha! — respondeu um menino loiro e maltrapilho, em um macacão laranja e azul, usando uma bandana com duas abas que lembravam as orelhas de um burro, enquanto corria com um pergaminho maior do que ele. — Achado não é roubado, quem perdeu foi relaxa...

A frase foi interrompida com o garoto dando de cara com a barriga do cobrador, ambos caindo em lados opostos. O pergaminho gigante acertando a cabeça do homem de roupas caras e chapéu de palha.

— Mas tinha...tinha que ser o Chavuto! — berrou ele, encarando o menino envergonhado..

Senhor Barrikage... — O garoto disse, após se levantar da queda. — Mas a culpa é sua por ocupar metade da vila. — E correu para longe, carregando o pergaminho.

O lendário Barrikage se ergueu aborrecido.

— Chavuto! Me dá isso agora, se não eu conto tudo para o meu papaizinho e...— gritou Sakinha.

— Bem falado, menina. Onde está seu pai? — perguntou ele, para uma garota que parou de boca aberta, percebendo que falou demais.

— Esqueça isso, seu Barrikaguinho. O senhor não pode deixar o Chavuto sair assim. Como vai ficar a sua moral com os outros ninjas da vila?

Ele limpou a sujeira das vestes, se aproximando da jovem shinobi, com um olhar inquiridor.

— Não tente me enrolar, onde está aquela serpente venenosa que você chama de pai?

— Tá, tá. Já vou chamá-lo. — Nesse momento ela invocou um pequeno ratinho, que entrou correndo por debaixo da velha porta da casa.

Era uma propriedade suja e escura, toda de pedra e sem acabamento, parecendo uma caverna sinistra. Lá dentro, em meio a escuridão e teias de aranha, uma figura sombria agarrou o roedor. Ao ser pego, o pequeno animal explodiu, virando em seguida um pequeno bilhete.

Os olhos brilhando na escuridão se estreitaram, e um sorriso se faz ver naquele rosto ossudo enquanto lia a mensagem reveladora:

“JÁ CHEGOU O JUTSU VOADOR”

Após cinco minutos aguardando na frente da porta, aguentando o blábláblá incessante de uma garota tagarela, o cobrador tomou sua decisão.

— Já chega, você e seu pai não vão mais me enganar! — Bradou, arregaçando as mangas da roupa com o símbolo da vila. — Orochimadruga, ai vou eu!

O Barrikage então arrombou a porta ao girar seu corpo como um enorme bola que varrendo tudo à sua frente. Quando a menina se certificou que ele já está lá dentro, fez sinal para o pai sair por uma pequena brecha na parede da casa, na forma de uma cobra pálida e mal alimentada.

Obrigado filhinha — sibilou a cobra, se arrastando pelo chão da vila — Diga ao senhor Barrikage... que eu fui procurar uma missão.... rank A. Assim posso.... pagar todos os meses que...devo a ele de aluguel.

Quando estava as portas da vila, sentiu alguém pisando sobre sua cauda. Ele mordeu por instinto, só depois percebendo de quem se tratava.

— Aaaahhhhh, mamãe! — Gritou o garoto, que em seguida se jogou no ar e gritou. — Jutsu Bola de Fogo Quadrada!

E o garoto soprou um quadrado flamejante que se chocou contra o réptil. A dor o fazendo assumir sua verdadeira forma, de um homem magricelo e pálido, de chapéu, cabelos longos e negros e um grosso bigode da mesma cor.

O homem estava todo tostado, mas inesperadamente abriu um zíper na testa, dali saindo um Orochimadruga intacto e furioso. O garoto de cabelos e olhos negros parecia assustado, com seu uniforme preto do Clã Kuchila, e um chapeuzinho com uma shuriken no topo girando, completamente paralisado.

— Mexa-se.... mexa-se... — Repeteia para si mesmo, beliscando as próprias bochechas enquanto o seu sinistro vizinho se aproximava, serpenteante.

— O que houve, Kikuke? — Perguntou, sua grande língua bifurcada pingando veneno ao lado do garoto. — Eu acho que estou precisando de uma pele nova, talvez a de um certo garotinho intrometido. Vai mesmo pedir ajuda a sua mamãezinha?

— Ele não precisa. — voz de mulher.

De repente Orochimadruga foi lançado com violência contra a parede da própria casa, graças a uma mulher loira de grandes seios, com bobes no cabelo e dona do tapa mais poderoso da vila. Dona Florinade.

— Sua velha briguenta, como ousa fazer isso ao meu papi? — Questionou Sakinha, o pai estrebuchando sob os escombros.

— O que você disse da minha mãe? — Kikuke perguntou, seus olhos assumindo uma cor vermelha.

Sakinha ficou sem graça, e envergonhada desviou o olhar do seu primeiro amor.

— Desculpa, Kikukezinho, meu amor! — Apertando as bochechas dele. O garoto empinando o nariz e cruzando os braços.

A poderosa Florinade emanava um chakra que enchia a todos os presentes de medo, batendo uma mão na outra e estremecendo tudo.

— Vamos tesouro, e não se misture a essa gentalha!

E em um instante Kikuke apareceu ao lado de um Orochimadruga recém levantado, lhe acertou um chute que o lançou no ar e completou com uma sequência de chutes aéreos pontuados pelas palavras:

GEN-TA-LHA! GEN-TA-LHA!

Orochimadruga foi violentamente jogado contra o chão, o garoto e sua mãe recuando. Mas pouco antes de entrar na casa, se virou para uma última ameaça:

— E da próxima vez, vá tentar roubar o corpo da sua avó! — Ela disse, então batendo a porta.

Enquanto Orochimadruga trocava de pele, pisoteando-a de raiva, era obrigado a ouvir as seguintes palavras:

— Seu Orochimadruga, sua vozinha está vendendo o corpo? — A voz vinha do Chavuto, parado ao lado dele e carregando o enorme pergaminho.

Toma! — Berrou o homem serpente, atingido o pirralho com um cascudo explosivo que o jogou dentro do barril de madeira largado no meio do pátio da vila. — E só não te dou outra, porque...

E enquanto Orochimadruga era carregado pela filha, sentiu uma presença ameaçadora surgindo logo atrás de si. Ele usou toda sua habilidade para desviar de uma mão recoberta de chakra, rápida e sutilmente mirando  seu bolso. 

Pague o aluguel! — a voz vinha do senhor Barrikage, cobrando o aluguel atrasado a força.

E enquanto uma guerra era travada lá fora, com Orochimadruga tentando de todas as formas possíveis escapar de seu cobrador, Chavuto choramingava dentro do barril.

Pipipipipipi....pipipipipi....

Enquanto chorava, lia o complexo pergaminho que achou dentro do seu barril hoje cedo. Com ele vinha um bilhete dizendo:

“MANUAL DO NINJA IDEAL: FEIO, FORTE E FORMAL”

Assim que achou o pergaminho, o garoto ficou super animado.

— E ai eu vou ler, e ai vou ficar poderoso, e zas, zas! — Chavuto comemorava, carregando o grosso pergaminho para a escola, abrindo caminho por colegas de turma que não o levavam a sério.

— Vo...vocês vão ver só. — ele disse para seus colegas — Eu vou ficar forte, comer bastante, e então vou ser o próximo Barrikage! — Mas para sua tristeza, todos riram dele.

Chavuto cansou disso, ser motivo de piada, ser ignorado pelo resto da vila. Agora, dentro do barril, além de triste, Chavuto estava com muita fome. E cansado de tentar decorar toda aquela informação complexa com seu cérebro subnutrido. Ele então olhou para o pergaminho... colocou a mão na barriga... e teve uma ideia inusitada.

— O professor diz pra gente devorar os livros. Então... — E após dizer isso, o passa-fome começou a comer o rolo de papel, juntando literalmente a fome com a vontade de comer. E então, algo estranho aconteceu!

Jutsu Fome das Sombras!

O barril balançou de um lado para o outro, dele saindo fumaça, e o som de uma série de explosões foi seguido pelo surgimento de dezenas de garotos iguais ao menino de rua.

O senhor Barrikage estava segurando Orochimadruga pelo bolso, enquanto o mesmo tentava a todo custo morder a mão de seu cobrador, só que ambos ficaram sem ação ao contemplar a explosão de pobres para todos os lados.

— Minha mãezinha da Shuriken perdida. — sussurrou Orochimadruga, assustado.

Do meio das dezenas de sem teto, espalhados por todo pátio e teto das casas da vila, o Chavuto original se ergueu da fumaça, dizendo:

— Esse é meu jeito ninja! Tô certo!

Todas as cópias do Chavuto eram exatamente como ele, esfarrapados e esfomeados. Uma a uma elas sairam em busca de comida, caçando lagartixas ou esbarrando nos outros.

— É uma invasão de Chavutos. — exclamou o senhor Barrikage — Será o fim da vila!

Só que ai um cheiro chamou a atenção do exército de um pobre só.

Huummm... lamen de presunto. — O Chavuto original foi o primeiro a ser atraído até o cheiro, babando em frente a um homem que gritou de susto.

Na entrada da vila, carregando uma enorme sacola cheia de pergaminhos endereçados a diferentes pessoas, estava o ninja carteiro, com sua barba preta e cigarro na boca: Azuminho.

— Me desculpem, me desculpem. O pergaminho com esse jutsu era para ser entregue na outra vila, e não no barril do Chavuto. — Ele lamentou, seguindo até o dono da vila. — Mas eu não entendo senhor Barrikage, o Chavuto não devia ser capaz de fazer esse jutsu. Não tem as proteínas necessárias e nem o chackra.

Barrikage pareceu ficar pensativo, como se soubesse de algum segredo que o ninja carteiro desconhecesse. Só que as cópias começaram a avançar na direção do carteiro e de seu lamen, forçando o dono da vila a entrar em ação.

— Corra, Azuminho!

— Eu bem que queria, mas tenho que evitar a fadiga.

O Barrikage então teve uma ideia, lançando o lamen de presunto no meio das cópias. Elas começaram a brigar pela comida, desaparecendo uma a uma, até só sobrar o passa-fome original.

No fim, restando apenas o Chavuto, comendo seu lamen sem um pingo de educação.

— Você só sabe causar confusão, Chavuto! — Reclamou Sakinha, que assistiu a tudo da janela de casa.

Ele olhou para o Senhor Barrikage, para o carteiro e para Sakinha. Então esfregou o estômago com a mão, respondendo:

— Foi sem querer, querendo!

Todos riram, e enquanto respiravam aliviados, não perceberam uma serpente caloteira observando a cena de dentro de um barril.

Então o Chavuto é... mais do que parece... — Um sorriso ardiloso podia ser visto em sua face, com a língua escorrendo veneno — O seu Barrikage... não perde por esperar.


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Notas finais do capítulo

Preparem-se para conhecer a escola e o lendário: Professor Girafashi!



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