Vivendo sentimentos, sentindo emoções-Temporada 1 escrita por Rachelroth


Capítulo 30
Resoluções


Notas iniciais do capítulo

:)



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O tempo estava relativamente frio, apesar de o Sol brilhar intensamente. Ravena estava sentada à mesa de uma lanchonete. Brincava com um pedaço de guardanapo enquanto aguardava. Pedira um copo de água, mas tinha mesmo vontade de beber algo alcóolico, como se assim tivesse mais coragem.

Porque ele demorava tanto?

Continuava pensativa, brincando com o guardanapo quando sentiu duas mãos tampando sua visão. A pessoa por detrás nada disse, apena lhe deu um cheiro no pescoço, fazendo os pelos da nuca dela arrepiarem.

Ravena sorriu sem graça e delicadamente tirou as mãos dele de seu rosto. Ele tinha chegado. Enfim. Agora não tinha mais volta, por mais que, por medo, ela desejasse que nada disso precisasse acontecer.

Ravena: *terna* Você demorou.

A empata olhou o rapaz dar a volta e sentar-se à frente dela. Ele estava muito bonito. Camisa branca com os dois primeiros botões abertos e calça preta justa. Ele sempre foi muito bonito. Sempre foi muito elegante e educado. Culto e companheiro.

Aqualad: *se sentando* Estava ajudando a Abelha com uns papéis. *pausa curta* Mas… bom… não é muito comum você me convidar para sair…

Ravena: *ansiosa* É… não é não… mas então… como estão as coisas?

Aqualad: Está tudo bem… A gente tem trabalhado bastante no sistema de segurança da nossa torre… lembra-se de quando tentaram invadir lá?!

Ravena: *terna* Lembro sim…

Aqualad: Bom… acho que vou pedir um…

Ravena: *interrompe bruscamente* Não… não pede nada não.

Aqualad: *olha estranho para ela* Por que não? O que está acontecendo?

Ravena: *puxa o ar com força e olha para o céu* Você sabe… eu tenho peculiaridades…

Aqualad: *sorri aliviado* Sim… e oscilações repentinas de humor… *ri* Já estou me acostumando…

Ravena: *séria ainda evitando o olhar dele* Sobre isso inclusive… Eu não deveria ter oscilações bruscas de humor… isso é errado…

Aqualad: *olhar delicado* Claro que não… *tenta tranquilizar* Você é mulher… e bom… mulheres são assim…

Ravena: Não Aqualad… não sou apenas mulher. Sou metade demônio. Tenho minhas emoções cindidas. Não é só por ser mulher…

Aqualad: *estranha e se joga no encosto da cadeira* Não estou entendendo onde esta conversa vai chegar…

Ravena toma coragem e o olha nos olhos. Não pôde evitar sentir o medo que ele estava sentindo naquele momento. O que ele sentia era medo. Era receio. Era desconfiança. Era desamparo.

Ravena: *olhando fixamente* Eu estou enlouquecendo.

Aqualad: Como assim?

Era preocupação.

Ravena: Eu me machuquei no momento em que não respeitei meus sentimentos, minhas emoções, meus desejos… a partir disso eu comecei a enlouquecer… *Aqualad hesitou falar* Espera… preciso falar. *toma fôlego* Minhas oscilações de humor refletem uma confusão imensa em Nevermore. Fui até lá e vi coisas horríveis… algumas emoções sumindo, outras adquirindo novas formas, com comportamentos estranhos… e tinha uma fusão… *pausa longa, olha fixamente em um ponto do horizonte, horrorizada, respira fundo e volta a olhar para ele* Um horror…

Era muita preocupação.

Ravena: *fecha os olhos e suspira* Por isso, desde que começamos a namorar, aos poucos eu fui ficando diferente… impulsiva, deprimida, opositora… por vezes apresentando reações extremamente opostas em questão de segundos… enfim…

Era o medo dele novamente.

Ravena: *abre os olhos* Por isso eu te traí.

Aqualad: *arregala os olhos* Você o que?

Era decepção.

Ravena: *respira fundo* É… eu fiquei com outras pessoas…

Aqualad: *incrédulo* Como assim… ficou?

Ravena: Sim… é péssimo. Eu também não acho certo, mas aconteceu. Durante surtos impulsivos, surtos de consciência… não sei, mas não houve como evitar…

Aqualad: *sério* Como assim? *faz aspas com os dedos* “Não houve como evitar”? Alguém por acaso te obrigou? Colocaram uma arma na sua cabeça?

Ravena: *séria* Não… ninguém me obrigou ninguém me ameaçou, mas eu não estava no meu juízo.

Aqualad: *irritado* E quem foi?? Ou… quem foram, pois você disse OUTRAS pessoas…

Ravena: Não há necessidade nenhuma dizer, afinal… não importa… isso não muda os fatos.

Aqualad: *enfurecido* Isso tem a ver com aquelezinho que mora com você…

Ravena: *calmamente* Do que você está falando?

Aqualad: Do Mutano… de quem mais seria?

Ravena: *coça a própria testa* Não tem nada a ver com ele…

Aqualad: *incrédulo* E como vou confiar em você agora? Porque eu nunca confiei no Mutano… e agora… você?

Era ódio.

Ravena: Não precisa confiar em mim… *respira fundo* Te chamei aqui para terminar nosso relacionamento.

Era silêncio.

Aqualad olhava perplexo para ela. Respirou fundo, mantendo a cara fechada. Olhou para cima em uma tentativa fracassada de fazer a lágrima voltar para dentro do olho. Ele não disse nada.

Ravena: *ainda séria, no entanto ansiosa* Tudo isso aconteceu porque eu não me respeitei… eu não estava pronta para namorar sério… não estou pronta na verdade… na verdade nem sei se um dia eu estarei pronta.

Aqualad mantinha-se em silêncio.

Ravena: Gosto muito de você. Você é incrível. Inteligente, bonito, carismático, cavalheiro, educado, sempre me respeitou… mas pelo bem da minha sanidade mental, eu não posso prosseguir com algo do qual ainda não estou preparada.

Ainda era silêncio.

Ravena: E você falou do Mutano… *ele olhou para ela, sem dizer uma palavra* Olha… vocês são dois são muito diferentes e eu gosto muito de vocês dois. Ele não tem nada a ver com isso… isso aconteceu dentro de mim…

Aqualad: *voz seca* Já ficou com ele?

Ravena: *pausa curta, séria* Já.

Agora não havia mais silêncio nas emoções dele. Era raiva. Era ódio. Era irá.

Aqualad: Mas é claro… *dá um soco na mesa* Eu vou matar aquele mutante verde!!!

Ravena: Aqualad para… isso não tem nada a ver com ele… tem a ver comigo… se nós ficamos foi porque eu também permiti. Eu sei que provavelmente vocês não vão se gostar tão cedo… mas… não sou uma donzela indefesa que não pode opinar… se eu fiz foi porque eu quis.

Aqualad: *tentando se acalmar, respiração forte* Você gosta mais dele do que  de mim? *coloca a mão em punho na boca*

Ravena: *pausa longa* Eu não sei… às vezes eu o procurei, às vezes senti falta dele… mas… não sei o que… não entendo… *pausa curta* Você entende agora? Se eu não posso nem identificar se estou apaixonada e por quem… como posso assumir um relacionamento sério?

Aqualad: *lágrimas nos olhos, disfarça coçando os olhos* Saco de cisco… *pausa longa* então é isso…?!

Ravena: Acredito que seja…

Aqualad: Certo… *segurando o choro* Eu desejo que você seja feliz…

Ravena: A gente pode continuar se falando… parece que você está se despedindo…

Aqualad: E estou… *se levanta* Eu prefiro ficar longe… ficar perto vai ME enlouquecer…

Ravena: Compreendo… se você acredita que assim será melhor para você… eu respeito…

Antes mesmo da empata terminar de falar, Aqualad levantou e virou-se, saindo sem olhar para trás e sem se despedir decentemente. A empata observou o corpo do atual ex-namorado caminhando para longe, ficando cada vez menor no horizonte. Por alguns instantes não pensou em nada, apenas se concentrou na imagem dele indo embora. Será que ela teria interpretado certo o recado da Sabedoria? A empata estava machucada por tê-lo machucado. Ele era um cara legal. Era um bom companheiro. Será que ela estava certa?

A única coisa que ela sabia, e disso ela tinha certeza, é que ela realmente não estava preparada para namorar, com ele ou com qualquer um. De fato, ela abusou de si mesma ao aceitar, no impulso, o pedido de namoro dele. Ela deveria ter sido mais precavida.

Aos poucos percebeu que voltara a respirar e neste momento foi tomada por uma vontade insuportável de chorar. Estava magoada. Estava chateada. Nunca imaginou que poderia ferir alguém verdadeiramente, como desta vez.

Permitiu-se chorar. Ao contrário do Aqualad, ela não fingiu ser um cisco. Ela estava destruída por dentro. Ela finalmente entendeu porque términos são tão ruins, mesmo que não haja uma ligação afetiva intensa. Ela compartilhou momentos com ele. Momentos muito bons que guardaria para sempre na memória.

O garçom se aproximou e lhe perguntou se ela estava bem, o que desencadeou em mais choro. Erick era o nome dele. Visivelmente homossexual em trejeitos e acessórios, ele gentilmente a convidou para entrar e lavar o rosto.

Erick: *preocupado* Não quero me intrometer, até porque você é uma celebridade… mas… ele te fez mal?

Ravena: *fungando, com o rosto ainda molhado pela água da pia* Não… eu o fiz mal…

Erick: Como assim flor?

Ravena: Terminei com ele…

Erick: Que péssimo…

Ravena: Não queria magoá-lo… mas…

Erick: Poderosa… não tem como… a gente sempre magoa ou é magoado… relacionamentos são assim mesmo… sabe, sempre tem um lado que gosta mais…

Ravena: *olhar perdido* Por favor não conte a ninguém…

Erick: Claro que não flor… mas fique tranquila… aproveita a fossa, ouve umas músicas depressão, malha, saia com outros boys… vai viver, logo passa… *Ravena sorriu timidamente* O boy é lindo, logo ele estará feliz com outra, você vai ver…

Ravena: Assim espero… *pausa curta* Muito obrigada. Agora já vou.

Erick: Só não peço uma foto com você, porque não quero te registrar com narizinho vermelho…

Ravena: *solta uma pequena risada* Prometo que volto aqui depois, mais alegre e faço uma foto com você…

Erick: *sorri* Aí vi vantagem… *abraça a empata*

Ravena recebe o abraço com muito carinho. Talvez ela não fosse um monstro destruidor de vidas, lares e corações. Talvez só precisasse mesmo respeitar seu tempo pessoal, e quem sabe sair mesmo com outros boys mesmo, como sugeriu o garçom. Abriu um portal e se despediu do garçom.

Mutano ofegante beijava e mordia o pescoço de Terra enquanto estava em cima dela, oscilando entre movimentos rápidos e lentos, deixando a garota completamente maluca de tesão. Suas mãos seguravam a da garota, prendendo-as na cama com força.

Terra: *entre gemidos* Ai Gar…

Mutano: *ofegante, sorri* Cala boca…

Ela adorava quando ele a dominava. Ela não tinha dúvidas do quanto gostava de transar com ele… o quanto gostava de beija-lo… de estar ao lado dele. Ela estava muito feliz desde que ele aceitara se mudar para o apartamento dela.

Terra: *fechou os olhos, morde o lábio e tenta falar de boca fechada* Isso… isso…

Mutano: *sorri* Já mandei calar a boca *beija a garota violentamente*

Ele curtia estar com ela. Ela era engraçada, divertida, sincera e gostosa. Isso ela era muito. Ela sabia o que fazer e como fazer. Ela o instigava e ele adorava isso. Não era nenhum sacrifício dormir e transar com ela todos os dias. Estava sendo muito bom, na verdade.

Mutano não aguentou e gozou. E gozar era bom demais. Ele sentia um relaxamento total no corpo. Ficava mole, sem força. Por vezes tinha até dificuldade para respirar. Era esse o caso naquele momento.

Terra: *riu* Você é pesado sabia? *empurra o corpo dele para o lado dela*

Mutano: *de olhos fechados* Desculpa gatinha…

Terra: Desculpa pelo o que?

Mutano: Gozar antes de você…

Terra: *pega o braço dele e passa por cima dela* Relaxa… foi bom para mim também…

Mutano: Mas eu fui antes… de novo…

Terra: *acaricia a cabeça dele* Tudo bem… às vezes isso vai acontecer…

Mutano: Mas é que você… ai… *morde o ombro dela*

Terra: Ai… seu canibal *ri*

Mutano: *sorri, ainda de olhos fechados* Só não viro um lobo para te morder porque não tenho mais forças…

Terra: Ah… nada disso…

Ficam em silêncio um tempo, curtindo o corpo e o momento um do outro. Estavam conectados. Estavam ali… os dois… suados, cansados, pelados.

Terra: Gar…

Mutano: *aconchegado no pescoço dela* Hum…

Terra: Isso está sendo tão legal… estou gostando muito disso entre a gente…

Mutano: *sorri* É gostoso né?!

Terra: Muito… *pausa curta* Acho que estou realmente gostando de você.

Mutano: *ainda de olhos fechados* Também gosto muito de estar com você…

Terra: *puxa o rosto dele, fazendo-o abrir os olhos* Não… eu disse que estou gostando de você…

Mutano ficou sem ação, sem reação.

Mutano: Como assim?

Terra: *sorri* Gostando de você… sabe?!

Mutano: No sentido de gostar de transar comigo, certo?!

Terra: *ri* Não besta… de gostar… gostar de verdade… *pausa longa* Eu… eu queria te perguntar uma coisa…

Mutano: *confuso* O que?

Terra: *lhe dá um selinho* Quer namorar comigo?

Namorar? O que ela havia falado? Namorar? Era certo que Mutano gostava da companhia dela, mas será que era o suficiente para namorar com ela? Ele ficou em silêncio por alguns minutos. Sentou-se na cama de frente para a garota loira ainda nua e olhou dentro de seus olhos. Com sua mão direita afagou a orelha esquerda dela e sorriu para ela.

Mutano: *sem tirar os olhos dela* Você é incrível. Maravilhosa.

Terra: *olhar apaixonado* Você também…

Mutano: *sorri* Você me ajudou no momento em que eu estava mais confuso, sozinho, triste… e você magicamente me tirou daquele estado. *coçou a cabeça com a mão esquerda* Eu não imagino como eu estaria se não tivesse te encontrado aquele dia…

Terra: Deixa que eu respondo… estaria arrependido de comer carne… *belisca carinhosamente o nariz dele*

Mutano: *descontrai* Possivelmente… *pausa curta* Você apareceu no melhor momento e é muito bom dividir tudo isso com você… ficou tudo mais fácil, mais divertido, *sorriso malicioso* mais excitante… Eu gosto muito da sua companhia, do seu sexo, do seu papo…

Terra: Isso é recíproco então…

Mutano: Mas namorar? *Terra muda a feição em seu rosto* Não sei… não acho que eu queira isso agora… sabe?!

Terra: Como assim?

Mutano: Tara… um namoro é o que vem antes do noivado que vem antes do casamento… é algo que pode ser pra sempre… não me sinto preparado para investir em um relacionamento sério agora… assim…

Terra: *tira a mão dele de seu rosto e sobe o lençol para cobrir seu corpo nu* Assim como?

Mutano: O fato de eu curtir estar com você e de tudo ser ótimo não significa que eu esteja necessariamente apaixonado… pronto para casar e ter filhos…

Terra: Mas quem falou em casamento… filhos?

Mutano: Ah cara… olha o Cib… ele começou namorando, agora já está noivo… vai casar logo menos…

Terra: Mas… dá onde você tira tudo isso? São etapas Garfield…

Mutano: Eu sei… mas não sei se estou pronto para iniciar a primeira etapa…

O metamorfo tenta pegar no cabelo dela, mas a garota se esquiva. Ela estava visivelmente com raiva dele.

Terra: E o que você sugere?

Mutano: Poxa… a gente pode continuar assim, está tão bom…

Terra: Bom para você… eu achei que você estava me curtindo… eu não quis acreditar que eu era mais um brinquedinho na sua vida… mais um número para sua coleção…

Mutano: Mas você não é…

Terra: Então sou o que? O consolo da sua tristeza?

Mutano: Não… você é mais do que isso… eu só não quero oficializar um namoro poxa…

Terra: Não quer que suas fãs saibam que você está comprometido?

Mutano: Não tem nada a ver isso…

Terra: Então é o que? Você só me usou, seu cretino…

Mutano: Tara… o que é isso? Claro que não… Desde que estou com você, estou só com você…

Terra foi se levantando da cama ainda enrolada no lençol. Estava furiosa, irada, magoada. Mutano tentou pegar no braço dela, mas ela se soltou. Apesar de estar com cara de choro, não havia uma lágrima em seus olhos.

Mutano: Para com isso…

Terra: Para? Você escolheu isso… não vou ser sua putinha, se é isso que você pensa que eu sou…

Mutano: Eu nunca disse isso…

Terra: E quer saber? Eu estava de saco cheio de você não me satisfazer…

Mutano: O que?

Terra: É… goza primeiro, não liga para mim… é como se eu fosse apenas um receptáculo de esperma mesmo… seu nojento… *começa a se trocar*

Mutano: *rindo desacreditado* Não acredito que você tá falando isso…

Terra: Você é asqueroso… não sei onde eu estava com a cabeça…

Mutano: Tara…

Terra: Não fale meu nome, não quero ouvir ele saindo da boca de um brocha…

Mutano: *coça a boca, nervoso* Você não podia usar isso contra mim…

Terra: É brocha sim… não sabe do que uma mulher gosta…

Mutano: Para… vamos conversar…

Terra: E quer saber… é melhor você não ir mais lá para a MINHA casa… o Doug da minha turma está precisando se mudar… e ele fode muito melhor do que você…

Mutano: Você tá falando sério?

Terra: *terminando de calçar os tênis* Nunca falei mais sério na minha vida.

Mutano: Espera aí… eu falei que ia sair do grupo para ir morar com VOCÊ e você enlouquece só porque não quero firmar namoro? Isso não conta?

Terra: Não… porque você só pensa em você… para você seria cômodo morar próximo ao campus.

Mutano: *colocando a cueca* Mas a ideia de fazer faculdade veio por causa de você Tara… isso realmente não pesa?

Terra: Ah… até parece… você queria mesmo é encontrar outros recipientes de porra.

Mutano: *riso nervoso, desacreditado* Não é possível que você esteja falando isso… Você está distorcendo tudo…

Terra: É assim? Agora eu sou a louca… e você o santo?!

Mutano: Eu nunca disse isso… mas…

Terra: Mas digo eu… pode deixar… eu vou avisar todas as garotas do campus para alerta-las do brocha, sem sentimentos, ruim de cama que você é… para nenhuma cair na sua lábia.

Mutano: Tara… *vê a garota sair de seu quarto batendo a porta* saco…

Mutano deita em sua cama, irritado e decepcionado. Por mais que fosse legal a companhia da Terra, ele não queria ter compromisso sério com ninguém. De certa forma ele odiava esses rótulos. O que o deixava mais irritado nesta história é o fato de que suas atitudes não valeram para ela como prova de que ele curtia a companhia dela.

Estava de cabeça quente e precisava tentar relaxar do desastre que havia acontecido há pouco. Decidiu sair um pouco da torre para tomar um ar e pensar. Sentou-se em uma pedra e observou o céu… o mar… a vida que acontecia na cidade. As luzes acesas, o barulho e a nuvem de poluição. Jump City estava crescendo, ficando mais agitada e poluída. E no meio de todo aquele agito, os pensamentos de Mutano apenas pairavam no que havia acontecido.

Era uma atitude muita injusta da parte dela.

Era uma atitude infantil.

Era uma briga sem sentido. Em um segundo estavam bem… de repente…

Sentiu-se completamente desconsiderado por ela. Ali ficou… a olhar a vida… a pensar em suas atitudes e em seus desejos.

Ravena saiu de seu portal direto em seu quarto. Os olhos ainda estavam vermelhos por conta do choro. Sentou-se desolada em sua cama. Por mais que sentisse que tinha tomado a melhor decisão, se sentia triste. Não queria magoar Aqualad. Jamais queria. Ele sempre fora tão atencioso e paciente com ela. Definitivamente ele não merecia isso.

Então ele merecia ser enganado?

Obviamente não. Por mais que ela tenha o machucado muito, sabia que isso era melhor. Em longo prazo ele se magoaria mais ainda com ela. Ele não merecia meio amor nem metade do carinho. Ele era especial e merecia algo por completo e ela sabia que não era ela quem poderia dar isso a ele. Na verdade ela não poderia dar isso a ninguém.

Olhou no seu lado direito e viu o espelho de meditação. Apesar de sentir medo e receio de voltar lá, ela sabia que precisava. Tinha que ter certeza que não magoou o herói à toa. Precisava se certificar de que valeu a pena, que era realmente isso que ela tinha que fazer.

Respirou fundo e pegou o espelho. Viu sua imagem refletida nele. Uma imagem pouco agradável aos olhos. Uma pele pálida misturada com o inchaço dos olhos. Mas ela precisava ir. Precisava. Olhou-se uma última vez, fechou os olhos e respirou fundo.

Azarath, Metrion, Zinthus.

Ao abrir os olhos a primeira sensação que teve foi de extremo alívio. O líquido negro e viscoso havia sumido finalmente. Pelo menos ela estava certa. No final das contas ela sabia o que tinha que ser feito. Ela mesma desejou para seu presente e futuro não desrespeitar suas emoções e vive-las em plenitude, mas ela mesma se colocou em armadilhas.

Ela podia ter evitado.

Mas não evitou.

Olhou ao redor e percebeu que algumas coisas começavam a voltar a ter cores. Timidamente Nevermore deixava seu aspecto cinzento. Era um novo começo. Agora ela sabia qual era o preço que ela pagava por agir impulsivamente e por considerar mais os sentimentos de outrem do que os próprios. Ela não faria mais isso.

Bom, era a hora de procurar Sabedoria e principalmente Esperança, para agradecê-las por terem segurado as pontas por tanto tempo. Queria encontrar Felicidade, Medo, Rude, Afeto, Tristeza… queria encontrar todas elas. Até Raiva ela queria encontrar.

Caminhou tranquilamente curtindo a paisagem que retomava sua forma original. Estava satisfeita por ter salvado Nevermore. Por ter salvado a si mesma.

Após uma caminhada relativamente longa, encontrou as suas emoções reunidas, sentadas… todas com as mãos para trás. Elas olhavam com ternura para Ravena. Pareciam agradecidas e igualmente aliviadas. Levantaram-se quando ela se aproximou.

Raiva: Não gosto de você, mas realmente obrigada por ter me separado de Felicidade… oh menina para falar…

Felicidade: Estou imensamente grata por isso!!!

Sabedoria: Fiquem quietinhas… precisamos conversar com ela.

Ravena se aproximou em silêncio. Olhou todas as suas emoções reunidas. Pensou em Aqualad e sentiu que apesar de tê-lo feito sofrer, havia valido a pena. Sabedoria abriu espaço, indicando com a cabeça com uma pedra. Ravena entendeu que deveria se sentar ali.

Sabedoria: Você sempre soube.

Ravena apenas sorriu. Não havia palavra no mundo que pudesse descrever o que ela sentia naquele momento.

Conhecimento: Fico extremamente contente com o autoconhecimento que adquiriu.

Ravena: Também…

Ravena olhou melhor e sentiu falta de Esperança e Afeto.

Ravena: Onde está Esperança e Afeto?

Sabedoria: Estávamos esperando você chegar porque queríamos conversar com você sobre isso…

Ravena ficou apreensiva com o olhar de Sabedoria. Logo percebeu um desconforto geral entre suas emoções.

Sabedoria: Fique tranquila.

Sabedoria abriu espaço na visão de Ravena e revelou uma emoção ligeiramente diferente.

Ravena: Quem é ela?

Paixão: Sou a Paixão Ravena! Eu era Afeto. Agora sou Paixão.

Ravena: Como assim?

Paixão: Com seu ato de auto heroísmo acabei evoluindo. *terna* Agora sou afeto, mas também sou paixão. Estou mais forte agora.

Ravena: Ainda não entendo…

Sabedoria: Querida… quando você nos protegeu, melhor, quando você se protegeu, provou a si e a nós o quanto é apaixonada por si mesma. Isso fez com que Afeto mudasse e melhorasse.

Ravena: Então agora… eu posso me apaixonar?

Conhecimento: Sim!

Ravena: E antes?

Raiva: Antes não… otária…

Sabedoria: *repreendendo* Raiva… *volta o olhar para a empata* Antes você poderia ter uma ligação afetiva muito forte, mas não seria nada além de afeto apenas.

Ravena: Por isso não me apaixonei por Aqualad?

Conhecimento: Exato…

Ravena se sentiu feliz. Ela pensou que agora ela estava mais próxima de uma garota normal. Poderia agora se dar ao luxo de se apaixonar de verdade.

Ravena: Mas Afeto não poderia se transformar se eu me ligasse afetivamente com alguém?

Sabedoria: Não…

Conhecimento: Para sermos para o Outro, precisamos primeiro ser para nós mesmos.

Ravena: Então… quando eu me escolhi…

Sabedoria: Sim… quando você optou por cuidar de si, abriu caminho para cuidar de outros.

Ravena: *sorriso sincero* Isso está saindo melhor do que a encomenda…

Sabedoria: Bom… mas não é só isso…

Ravena voltou a ficar apreensiva. Viu Esperança se aproximando também e então percebeu que nela faltava-lhe o braço esquerdo.

Ravena: Mas…

Foi interrompida automaticamente ao perceber suas emoções, com exceção de Paixão, se enfileirando em sua frente. Alinhadas, estenderam seus braços esquerdos. Ravena se assustou ao ver que todas elas haviam perdido a mão esquerda.

Ravena: O que?

Paixão: *com a voz pesada* O que você fez nos levou a pensar… e decidimos que queríamos lhe dar um presente…

Ravena: Perder as mãos seria um presente?

Sabedoria: Não…

Conhecimento: Falta-lhe apenas uma emoção Ravena… Amor.

Ravena estava assustada e perplexa. O que a falta da mão delas poderia ajudar?

Conhecimento: Estudei muito e descobri como lhe dar essa emoção.

Sabedoria: Amor não é uma emoção que existe em si. Não pode se personificar. Porque o Amor nasce e o Amor morre. E ele não nasce simplesmente. Ele transforma-se.

Conhecimento: O Amor nada mais é do que a morte da Paixão e o nascimento de algo que transcende a própria alma.

Sabedoria: Não há Amor sem intensidade… não há Amor sem retaliação, sem doação, sem dor…

Conhecimento: Para que haja Amor é preciso um pouco de cada emoção sua. Quando alguém ama, ama por completo.

Sabedoria: É preciso muita sabedoria para se entregar a este sentimento.

Conhecimento: É preciso muito conhecimento, de si e do outro…

Medo: É preciso de um pouco de medo de perder, para valorizar o que se tem…

Rude: É preciso ser rude muitas vezes… *recebeu um olhar de desaprovação de Sabedoria* Tá… algumas vezes… para não ceder o tempo todo.

Tristeza: A tristeza é necessária para conseguir perdoar, é preciso sentir falta…

Felicidade: Precisa de felicidade para fazer valer a pena…

Esperança: E é preciso muita… muita esperança de que tudo no final dará certo… por isso eu abri mão de um braço inteiro…

Ravena: Até você Raiva?

Raiva: Dei um pedaço de mim para que você encontre alguém que brigue com você… brigar Ravena queridinha é importante para fortalecer laços, para exercer o perdão, para aprender mais de si e do mundo… não faço isso por você… *sorri maléfico* Faço porque não há relacionamento sem uma boa treta…

Ravena sorriu e revirou os olhos.

Ravena: E Afeto… não… vou demorar para acostumar… Paixão…

Paixão: *amedrontada* Ravena… faço isso por você. Depois que você se apaixonar, se houver envolvimento de todas as suas emoções, eu… eu… *começa a tremer*

Ravena: Você o que?

Sabedoria: Amor e Paixão são sentimentos bem diferentes Ravena. Não há como ela coexistirem. Paixão germina o Amor e quando a mesma nascer, Paixão morre.

Paixão: E é bem doloroso…

Sabedoria: A Paixão tem medo… medo bobo…

Ravena: E se o Amor morrer?

Conhecimento: Morrem as duas… somente Esperança pode fazer a Paixão renascer… é um processo longo. Felicidade é muito afetada também…

Sabedoria: É como o Aqualad deve estar se sentindo agora…

Ravena sentiu um pesar. Era horrível pensar que ela havia feito isso com ele.

Sabedoria: Agora ele lutará para matar o amor dentro dele. Vai demorar a ele voltar a se apaixonar, mas se ele tiver esperança, poderá se apaixonar e até amar de novo.

Paixão: Ravena… espero que você demore para amar alguém… essa ideia realmente me assusta…

Ravena estava sem palavras. Sorriu ternamente para Paixão.

Ravena: Pode ficar tranquila Paixão… se tem uma coisa que eu não quero agora é me envolver com alguém sem ter certeza de que é isso realmente que eu preciso…

Paixão: *radiante* Então… a gente bem podia ligar para o cara gato da balada…

Sabedoria ri. Ravena estava tranquila. Sim, não seria má ideia conhecer pessoas, passear, se divertir. Na verdade essa era uma ótima ideia.

Finalmente Ravena tinha impressão que estava em plenitude com suas emoções. Finalmente se sentia completa. A atitude altruísta de suas emoções e dela mesma finalmente fez sentido para a empata que finalmente poderia se apaixonar e quem sabe amar, um dia… talvez… sem pressa.

Ravena despediu-se de todas suas emoções com um abraço sincero. Até em Raiva, apesar da relutância da mesma. Ela havia feito às pazes consigo mesma. Caminhou tranquilamente de volta ao ponto de saída de Nevermore. Percebeu que o local estava mais colorido do que quando chegou.

De volta ao seu quarto procurou o colar da moeda da sorte. Ela não precisava mais dele. Ela queria poder se dar o luxo das desventuras, das decepções e das más sortes da vida.

Decidiu voltar ao ponto de início. Ao local onde encontrou a moeda que lhe trouxe tanta alegria de poder se conhecer. Voltaria à pedra. A tarde começava a dar espaço à noite. O outono acabaria logo menos. As folhas perderiam seu local de origem, dando lugar a árvores desfolhadas que no futuro ganhariam nova folhagem. Assim como ela.

Ao chegar lá encontrou Mutano sentado na mesma pedra. Aproximou-se lentamente dele e se sentou ao lado do metamorfo.

Ravena: *sentando* Acho imoral e até antiético sentir as emoções de outras pessoas sem que elas permitam… mas, você está tão irritado que é difícil ignorar…

Mutano: *olhando o horizonte* Estou irritado mesmo…

Ravena: Quer conversar?

Mutano: É a Tara…

Ravena: Brigaram?

Mutano: *olha para Ravena e sorri forçado* Acho que ela me odeia… e talvez nunca mais queira me ver na vida…

Ravena: *ri* O que você aprontou desta vez?

Mutano: *volta a olhar para o horizonte* Ela me pediu em namoro e eu neguei.

Ravena: Mas… você estava gostando dela não?!

Mutano: Sim… curto estar com ela… mas… namorar… odeio essa palavra… parece tão limitante. *pausa curta* Me acho tão novo para namorar sério alguém… e depois vem noivado, casamento… filhos…*se treme, mostrando desgosto*

Ravena: Parece-me que você antecipou muito as coisas hein…

Mutano: Ah… mas esse é o curso natural… ninguém aceita namorar se não tiver planos maiores para o futuro…

Ravena: Tem razão… *pausa curta* Mas e o plano de ir morar com ela?

Mutano: Pra ela isso não é suficiente como prova de que eu gosto de estar com ela… vai saber…

Ravena: Abortou a missão faculdade?

Mutano: Não… isso não… realmente gostei dessa ideia… o que eu abortei foi a missão de sair daqui…

Ravena: *pausa longa* É… então somos dois solteiros…

Mutano: *olha para a empata* Como assim?

Ravena: Terminei.

Mutano: *ri* Então hoje é o dia internacional da mulher chutar a bunda dos caras?! *volta a olhar para o horizonte*

Ravena: *ri* Deve ser…

Mutano: Mas o que aconteceu… digo… vocês pareciam estar tão bem…

Ravena: E estávamos… mas, eu não falei nada a ninguém… mas Nevermore virou uma bagunça… eu não tinha estrutura psicológica para assumir um namoro… *pausa curta* nesse sentido eu concordo com você… eu aprendi pelo caminho mais difícil que namorar é um passo muito importante… não estou preparada por isso…

Mutano: Você devia parar de guardar as coisas pra você mocinha…

Ravena: Devia mesmo… *olha a moeda e lança-a para o mar*

Mutano: O que jogou?

Ravena: A moeda da sorte…

Mutano: Poxa… fui chutado duas vezes num só dia…

Ravena: Não… só não preciso mais dela… já tenho toda a sorte que eu preciso.

Um silêncio se fez. Os dois olharam o Sol se pôr. Era um espetáculo.

Mutano: Bom… e agora?

Ravena: Agora estou livre…

Mutano: *olha para ela* E o que isso significa?

Ravena: *se levanta e olha para Mutano, olhar convidativo* Significa que quando você quiser conversar, sabe, no meu ou no seu quarto… a sós… é só me avisar… *saiu*

Mutano viu a empata sair e sorriu. É… nem tudo estava perdido.

FIM…


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado... em breve nova temporada.



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