A Guerra dos Criativos escrita por Alec Silva


Capítulo 5
A primeira batalha


Notas iniciais do capítulo

E as coisas começam a ficar mais agitadas a partir daqui.



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— Pensei que não viria, Alec! — exclamou uma voz carregada de desprezo e sarcasmo.

Abri os olhos, encarando meu primeiro adversário.

— Eu sabia que você viria, amigo — falou Zarak, que estava ao meu lado direito.

Eu estava diante do Comandante Marlus, um nerd cheio de pose e pronto para me massacrar; talvez fosse do tipo de pessoa que nunca leu um livro clássico, nada sabia de cinema ou de qualquer outro assunto semelhante e ainda assim vivia criticando tudo. Um verdadeiro perigo a amadores, pois provavelmente seria muito influente. E alguém que difamava muitos outros nerds, aqueles que realmente são pessoas com caráter.

Tive alguns segundos para perceber que estávamos no alto de uma colina muito verde, com grama alta e arbustos muito rasteiros. Era manhã, a julgar o calor ameno e o vento suave e um pouco frio. Horas haviam se passado desde meu despertar. Com exceção de mim, meu amigo imaginário, meu oponente e uma coruja branca sobre uma pedra, não havia mais ninguém por ali.

— Conhecem as regras, não? — questionou a coruja, girando a cabeça horizontalmente, fitando a mim e ao outro Criativo.

Espantei-me com aquilo — ainda não estava totalmente acostumado com animais falantes.

— Sim, li o Pergaminho — respondeu o garoto de cabelos loiros e arrepiados.

Novamente me arrependi por não ter lido aquele bendito Pergaminho.

— E você, Sir Alec Silva? — perguntou-me o animal de penas brancas, encarando-me com aqueles olhos grandes, redondos e amarelos.

Preparava-me para gaguejar quando o monstrinho interveio:

— Serei o Pajem dele.

"Pajem?!", estranhei, fitando-o.

— Que assim seja, então — concluiu a ave, um segundo antes de voar.

Percebi que Marlus meneava a cabeça num gesto de zombaria. Tive certeza de uma coisa: ele sabia que eu não havia lido o Pergaminho.

— Vamos para o nosso lado — disse Zarak, pegando em minha mão.

Acompanhei-o.

— O que é um Pajem? — perguntei.

— Um servo, um discípulo, alguém que deve saber tudo para lhe passar quando for preciso — respondeu a criaturinha, com firmeza. — Vou ser um, pois você não leu nada sobre as regras, ?

Dei um sorriso um pouco amarelo.

— Vê aquela bandeira na outra colina? — indagou ele, apontando para frente.

— Sim — respondi, após enxergar uma bandeira verde tremulando.

— É sua, portanto deve protegê-la do "arrepiadinho" a qualquer custo, entendeu?

— Sim.

— É proibido usar táticas que firam o Criativo adversário, mas vale tudo contra as criações dele. E não se preocupe! Não há sangue nelas. Quando são destruídas, ou viram fumaça ou cinzas faiscantes.

— Como vampiros? — brinquei.

— É, como eles mesmo.

Rimos.

— Tudo o que eu preciso fazer é proteger a minha bandeira e pegar a dele, certo? — tentei resumir.

— Certo.

— Nunca fui bom neste jogo.

— É, eu sei.

Andamos por alguns minutos, tempo suficiente para pensar numa tática de ataque e defesa, algo que me fizesse ganhar o quanto antes o combate. Nunca fui muito bom em seguir planos para obter sucesso. Era como aquele jogo com dois times, no qual um deveria proteger a sua bandeira e tentar pegar a do oponente; se não me engano — pois faz anos que brinquei ou vi alguém brincando —, formavam-se dois grupos, colocava-se uma bandeira (que poderia ser uma folha larga ou uma garrafa vazia) no meio de um círculo desenhado no chão e cada equipe deveria proteger a sua quando alguém do outro time adentrasse seu lado do campo determinado por um risco no meio, além de tentar pegar a outra bandeira. Muito simples e divertido. Mas ali aquilo era uma batalha, um combate que formava uma guerra.

Quando chegamos ao ponto marcado, ouvi um som gutural que ecoou por longos segundos entre as serras e colinas, assustando-me.

— O que foi isso? — perguntei, virando-me para trás.

Na colina em que estava Marlus uma enorme criatura negra surgia. Primeiro surgiu parte da cabeça, com escamas muito salientes, e do pescoço alongado; a seguir vieram as garras colossais, que ajudaram o corpanzil a emergir. Segundos depois apareceram enormes asas reptilianas com algumas penas largas e compridas.

— O que é aquilo?

Minha voz soou trêmula.

— Um dracogrifo — respondeu Zarak, num tom preocupado.

Foi inevitável não pensar no Jaguadarte criado por Lewis Carroll ao enxergar um monstro tão magnífico, sobretudo quando cuspiu uma imensa labareda avermelhada e me encarou, pingando saliva ardente no chão, chamuscando a grama.

— Eu... eu... não posso... — hesitei, apavorado.

— Claro que pode! — exclamou o monstrinho.

— Ele é... imenso... Isto é loucura!

O dracogrifo estava quase todo emerso, salivando lava, atrás de seu criador macabro, o olhar fixo em mim. Ele sozinho já seria suficiente para vencer qualquer criatura minha; apenas ele acabaria com um exército que eu viesse a criar!

— Vou desistir — falei, fitando meu amigo.

— E decepcionar a sua Capitã?!

Aquilo me fez hesitar mais do que o medo que sentia. Foi um erro.

A criatura híbrida voou baixinho sobre nós, roçando a ponta afiada de sua cauda a quatro metros de mim, erguendo grande quantidade de poeira.

— Ei! — reclamou meu Pajem, dirigindo-se ao outro Criativo.

Notei um sorriso perverso no rosto de meu oponente, que pouco se importava com a reclamação da criatura branca.

— Crie qualquer coisa, Alec! — gritou Zarak, voltando-se para mim.

Pensei imediatamente num dragão vermelho, com escamas salientes — e quase tão grande quanto o dracogrifo. No instante que o fiz, para meu assombro, a criatura que eu imaginei surgiu em minha frente, urrando.

A fera criada por Marlus deu outro voo rasante e agarrou meu dragão recém-criado pelo pescoço, erguendo-o, enquanto cravava suas presas em seu pescoço. Minha criação berrou e bateu as asas, tentando se livrar do inimigo, porém a violência do ataque o fez virar pó vermelho.

Vixe! — exclamou o monstrinho.

A cena me apavorou ainda mais. Nunca antes imaginei uma criação minha ser destruída diante de meus olhos, tão real quanto eu. Nunca mesmo. E enquanto me comportava como um bobalhão, o outro Comandante criava mais seres iguais ao primeiro, todos negros e monstruosos. Só percebi aquilo por que meu Pajem me alertou.

— Você precisa criar algo mais forte!

— Criar o quê?! Aquelas coisas são...

— Alec, o Criativo é você, oras!

Imediatamente pensei em um exército de homens de barro, soldados orientais, todos armados com arcos, espadas, lanças ou espadas. Logo a colina estremeceu-se; diante de mim dezenas de guerreiros de terracota surgiam, prontos para me auxiliarem, todos magníficos e rigorosamente posicionados em fileiras. Flechas, centenas de flechas, creio eu, voaram contra os dracogrifos, seguidas por outras centenas de lanças. Por sorte — ou por puro acaso —, quatro monstros foram abatidos, o que me fez comemorar.

— Não se esqueça das bandeiras! — avisou o meu amigo.

— Sim, sei.

Agora enormes serpentes atacavam meu exército de barro, obrigando-me a criar golens, seres enormes e robustos, feitos exclusivamente de pedra ou de barro duro, alguns portando clavas feitas de troncos grossos. Eles agarraram ou golpearam com agressividade as criaturas ofídicas e as venceram, sofrendo perdas mínimas.

Para minha primeira batalha, eu estava me saindo até bem, sobretudo graças à ajuda de meu Pajem, que apontava os momentos mais críticos e necessários para me defender e atacar, respectivamente. Cabia apenas a mim reforçá-los ou iniciar algum ataque, orientado por suas dicas. Não demorou muito para compreender as táticas de meu adversário, que apelava descaradamente para criaturas de jogos de RPG e desenhos animados japoneses, os animes. Até o momento não havia investido em nada psicológico, numa tentativa para me distrair e vencer, como minha Capitã me advertira.

Resolvi, quando ele criou monstros bicéfalos e tricéfalos, todos dragontinos, ir além de meus limites criativos — como eu julgava ter naquela época — e imaginei enormes soldados com armadura de titânio, todos exímios arqueiros e espadachins. Ordenei ataques mais agressivos, sem piedade.

O campo de combate estava todo coberto por fumaça e poeira enegrecidas, tudo resultante — pensei e me certifiquei depois — do embate das criações incríveis de dois Criativos, que eram convertidas em vestígios de pequeninas partículas quando destruídas. Além disso, a grama e inúmeros arbustos foram destruídos no choque de imaginações. Algo realmente assustador, se olhado por alguém que não soubesse a causa.

Entre os intervalos de uma nuvem negra para outra, pude vislumbrar Marlus, que parecia incrédulo — assim como eu —, afinal eu havia conseguido prolongar a batalha por quase vinte minutos, segundo falou-me Zarak. Aquilo era inacreditável.

Meu exército de guerreiros de titânio estava dando conta perfeitamente dos monstros do outro Comandante, permitindo-me enviar outras criaturas para a bandeira adversária, ponto que agora estava cercado por dragões rubros, todos lançando imensas bolas de fogo em quem tentasse se aproximar. Golens e alguns gigantes avançaram para o lado oposto ao meu, abrindo caminho com golpes furiosos de clavas, espadas e lanças, destruindo e sendo destruídos, permitindo que os homens de metal rumassem ao meu principal objetivo. — Cuidado para não machucá-lo! — advertiu o monstrinho, receoso.

Eu nunca pensaria em machucar alguém. Não havia necessidade de me advertir, pois eu era um pacificador — embora agora agisse tão bem quanto um guerrilheiro, um Comandante.

Uma coisa estranha era o fato de me sentir onipresente em meio a tanto caos, ser capaz de ver, ouvir e pensar em várias direções ao mesmo tempo, saber o que fazer, mesmo em meio a tanta agitação. Seria eu um deus naquele mundo, como pensei horas depois, após me recordar de tudo aquilo?

O ataque aos dragões rubros foi rápido, eficaz e muito violento, contudo senti algo me bater com força, jogando-me longe com grande fúria, como se eu fosse um saco cheio de coisas de pouco valor. Creio que neste momento sacudi na cama, abri os olhos, balbuciei algo e voltei a dormir, tragado pelo sono. Quando recobrei um pouco a consciência, virei-me bruscamente, buscando quem ou o que me agredira; encarei um troll que andava em minha direção com uma expressão de que não iria brincar comigo.

— Zarak! — gritei desesperado, tentando me levantar e fugir.

A enorme quantidade de partículas negras e tão unidas não me permitiu enxergar nada além de meu agressor, que vinha ao meu encontro com uma expressão horrivelmente cruel. A criatura era horrorosa, muito horrorosa. Tinha uma aparência severa e sanguinolenta; uma criação de uma mente perversa e sem piedade, fruto não de um Criativo feliz, mas de um que tinha seus demônios, seu lado obscuro e cruel, capaz de horrores para alcançar seus objetivos.

Tentei levantar-me com desespero, porém meu corpo doía ou estava todo dormente, nem sei bem. O pavor se apoderou de mim. O antigo trauma, a fobia de morrer, que tanto me atormentava quando criança, havia retornado — e com força muito maior do que era capaz de suportar. Parecia que faltava ar ao meu redor; meus pulmões ardiam e ansiavam por oxigênio o quanto antes.

E onde estaria Zarak, que não aparecia para me auxiliar? Teria sucumbido ao ataque — ou fugido e me abandonado?

Fechei os olhos, querendo acordar daquele sonho, daquele pesadelo. Não queria morrer... Foi quando escutei um baque violento e um estrondo de algo tombando quase ao meu lado. Abri-os, entre o medo e a curiosidade, e não vi mais o troll. Estava diante de mim um sujeito sério, alto, forte e trajando uma pele de lobo. Pensei imediatamente na vestimenta de Héracles, que matara o Leão de Nemeia e usara sua pele como armadura. Contudo, ele mais parecia um caçador de lobos do que de leões.

— Você está bem? — perguntou-me, a voz firme.

— Si... sim — gaguejei, ainda surpreso.

Ao seu lado um enorme lobo de olhos azulados e pelos alvos me fitava. Não identifiquei maldade, mas um espírito bondoso e justo. Provavelmente fora ele quem destruíra o troll.

Ouvi uivos e rosnados por todos os lados. Algo estava acontecendo ali e envolvia uma enorme alcateia! Lentamente a nuvem enegrecida foi desaparecendo, possibilitando-me ver o que acontecia: havia lobos de vários tamanhos e subespécies por todos os lados, uns sentados, outros em pé — inclusive bípedes, evidentemente sendo lobisomens.

— Você está bem, Alec? — indagou Zarak, que surgiu do nada.

— Sim.

"E não por sua causa", completei mentalmente.

Quatro lobos, todos com os pelos brilhantes, escoltavam Marlus, que parecia muito humilhado e furioso. Fitou-me com grande rancor. O novo personagem para mim, que parecia ter mais de vinte anos, encarou o Comandante e sacudiu a cabeça de forma repreensiva, falando:

— Seu General não gostará nada disso, moleque.

Em seguida fez um gesto para os lobos, que menearam as cabeças, concordando ou assentindo. Um segundo depois, eles e o Comandante haviam desaparecido diante de meus olhos, de maneira sobrenatural.

— Você é um cara de sorte, Alec — disse meu salvador, fitando-me, agora com um sorriso. — Seu amigo me pediu desesperadamente para vir aqui salvá-lo.

Corri os olhos para o monstrinho, que estava um pouco corado, fitando-me com seus olhinhos negros.

— Vamos para o Acampamento cuidar de seus ferimentos antes que volte para seu mundo — completou, um segundo antes de eu notar que estávamos rodeados por Criativos e algumas criações.

Todos me olhavam com grande surpresa. E mais surpreso estava eu, por estar de volta ao Acampamento tão rápido, sem nem perceber como aquilo foi possível.

— O que houve, General Alfredo? — perguntou Elric, aproximando-se preocupado.

— Não é a hora, amigo.

Aquilo me preocupou, afinal algo estava errado e incomodava Alfredo. Teria alguma relação com o ataque que sofri minutos antes?

— Alec! — gritou uma voz feminina que fez meu coração disparar.

Era ela! Senti seu abraço apertado — doeu um pouco, mas foi agradável ainda assim —, seu perfume maravilhoso, o seu calor... e algo mais.

"Ela está chorando?!", surpreendi-me.

Sim, minha bela Capitã deixava sair de seus olhos quase negros lágrimas de uma emoção — talvez culpa ou arrependimento; culpa por eu ter me machucado gravemente no meu primeiro combate; e arrependimento por ter me designado para enfrentar Marlus. Eu nunca a culparia por nada, nem se fizesse intencionalmente. Como culpar alguém que se preocupava comigo, que chorava por eu estar machucado? Não era possível odiar e culpar.

— Estou bem — falei, numa tentativa de fazê-la parar de chorar.

Desde criança nunca gostei de ver uma mulher chorando, independente de qual fosse a sua idade. E infelizmente foi algo que vi muito, sobretudo minha mãe, que tanto chorava por causa de meu pai — a quem jurei nunca me parecer.

Respirei fundo, pensando em quanto tempo fazia que uma garota não demonstrava algum afeto por mim. Acredito que já fazia quase um ano desde o último carinho feminino, um simples abraço preocupado...

Por muito pouco não deixei a emoção de aquele momento me dominar também. Não poderia mesmo amolecer naquele instante — por orgulho nem tanto, mas para demonstrar que eu estava bem, evitando que ela ficasse ainda pior.

Busquei os dois Generais, encontrando-os numa discussão fervorosa com Zarak. O que tanto os incomodava? Teria sido tão grave assim o atentado que eu sofri? E por que o monstrinho, a minha criação, estava conversando com eles? Mas não houve mais tempo para pensar muito, pois fui carregado para uma tenda, onde sofri os horrores de ficar internado, algo que não acontecia há mais de uma década.

Quando ainda pequeno, adoeci a ponto de ficar internado por um bom período, tendo que ir de um lado a outro com um tubo de soro como companhia, algo muito incômodo e horrível para uma criança. A partir daí, e de outras experiências nada agradáveis, criei certo pavor de hospitais e postos de saúde. O simples cheiro hospitalar me incomoda até hoje! Melhor: chega a me causar náuseas! Portanto, é de se imaginar o quanto foi agradável ficar quase uma hora sendo examinado por médicos que me lembravam cães de desenhos animados, todos com os focinhos cobertos com máscaras brancas, vestidos em jalecos e rabos abanando a toda hora.

Após essa tortura, recebi as vistas de minha Capitã e seu General — que também era o meu, por hierarquia —, que havia me salvado de Marlus.

— Peço perdão, Alec — falou Marcélia, encabulada. — Não pensei que...

— Não se preocupe! Estou bem.

Sorri, passando a ela toda a confiança e a segurança possíveis.

— Infelizmente, Comandante, é um motivo para nos preocuparmos sim — interveio Alfredo, sério.

A fantasista fez menção de dizer alguma coisa, porém seu superior a impediu com um olhar severo. Não era hora de delicadezas, nem mesmo com um doente — que pensei.

— Consultei os Juízes e eles também notaram mudanças neste mundo — continuou ele, voltando a me fitar. — Não é como antes; agora é uma afirmação.

— Ele nada sabe ainda sobre... sobre esse assunto, General.

— Sei disso. Mas o fato de ter enfrentado alguém corrompido o torna no direito de saber, não acha?

“Corrompido?!”

Ela assentiu.

— Saber o quê? — interrompi-os. — Do que estão falando?

Eu estava muito confuso com tudo aquilo. Muito confuso mesmo!

— Alec, há algo ruim acontecendo neste mundo — disse o General, sério —, algo que não deveria jamais se repetir.

Havia muito receio em sua voz, embora a mantivesse grave.

— Como assim "se repetir"? — perguntei, bastante atrapalhado no raciocínio.

— Isto já aconteceu antes, há décadas — respondeu Marcélia.

— E os resultados puderam ser sentidos em seu mundo — emendou Alfredo.

Provavelmente fiz um esgar que misturava surpresa e curiosidade.

— E aconteceu antes também — disse uma voz, segundos antes de um pigmeu de barbas longas e alvas surgir. — E outra vez antes dessa.

— Juiz Arnol — falaram os dois Criativos, prestando todo o respeito com reverências típicas de cavaleiros diante de um rei ou autoridade jurídica, em tempos medievais.

— Tempos difíceis se aproximam, meus Criativos. E novamente a imaginação está sendo manipulada para fins negativos e destrutivos.

Notei que o terceiro visitante flutuava no ar, centímetros do chão. (Nem vou mencionar a semelhança com um personagem de um desenho animado clássico.)

— A maior batalha que um Criativo poderá travar se aproxima com fúria e sagacidade — alertou o Juiz.

Estremeci ao ouvir aquilo.

— E o que podemos fazer para evitar? — indagou a contista.

— Nada e tudo — respondeu o ancião.

Não era somente Zarak quem apreciava falar em contradições por lá.

— Nada por ser algo inevitável e tudo por se poder remediar a situação — explicou-se.

O monstrinho, contudo, quase sempre evitava se explicar.

O clima estava tenso, muito tenso. E eu me sentia perdido naquela tensão toda.

— O que o Tribunal decidiu? — perguntou o General, talvez se especificando num assunto determinado e conhecido por Arnol.

— Julgado, sentenciado e expurgado, como mandam as leis e regras contidas nos Pergaminhos que todos receberam e leram — respondeu o Juiz.

— Decisão justa — falou minha Capitã.

Eu me sentia totalmente excluído de tudo aquilo, um intruso. Fechei os olhos, sentindo-me cansado, bocejando. Quando os abri, num sobressalto, estava na verdade acordando de meu sono. Era início de mais um dia de trabalho para angariar recursos para meus sonhos. Arfei, pensando se voltaria a sonhar com tudo aquilo. Mas, um minuto depois, tudo não me passou de um sonho estranho, daqueles que duvidamos ser ou não reais.

Levantei-me, preparando-me para ir trabalhar. Uma espreguiçada ou duas e fui para o banheiro.

Mal sabia eu que um plano sinistro era arquitetado por alguém que eu não conhecia ainda, mas que viria a conhecer e enfrentar numa luta não apenas pelo meu direito de criar, como também de viver.


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