Lie to me escrita por Vive


Capítulo 1
Bistrô




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Bem, todo mundo já chegou ao fundo do poço

Todo mundo já foi esquecido

(...)
Então, basta tentar mais uma vez
Com uma canção de ninar

Lullaby - Nickelback

– Eu gostaria de fazê-lo feliz, sabe? É egoísta e infantil, mas... É o meu desejo. Eu o amo. Não é belo como nos filmes, nem tão pouco tão ardente. È familiar, com gosto de nostalgia, um sentimento que faz com que me sinta em casa ao seu lado. Bobo, né?

– É bonito.

Kise balança a cabeça suavemente, seus olhos são brilhantes, duas esferas carameladas cobertas de carinho e tristeza. E Kagami não sabe como ele consegue tornar até mesmo melancolia em beleza. Encaixa-se nele como as roupas de inverno do seu último desfile.

– É patético. Eles se amam. Aomine olha para Kurokocchi como se ele fosse o único responsável por pendurar as estrelas no céu.

E Kuroko o olha como se Aomine fosse a única resposta para os mistérios do universo. Kagami sabe, ele passou muito tempo ansiando pelo menino de grandes olhos redondos e inexpressíveis.

– Sim, isso é bonito.

Kise suspira e beberica seu café. Sentado naquele bistrô, conversando sobre amores inatingíveis, Kagami volta ao tempo, seu último dia de colegial , agora ele deveria assumir responsabilidades e se tornar um homem, assumir o controle da própria vida. Mas tudo que ele sentia se resumia em medo e insegurança, por que o que diabos ele deveria fazer dali pra frente? Não havia nenhum manual, nenhum treinamento, e o lápis da sorte de Midorima não seria de grande ajuda.

Agora, no auge de seus vinte e seis anos, ele sente que já deveria ter a resposta para essa pergunta. Entretanto... É o último dia do colegial todos os dias. Não havia receita, não havia nada que o indicasse qual caminho seguir. Ele só poderia continuar andando e torcer para que não tenha errado o caminho.

– Você se arrepende? De nunca ter contado. Será que o resultado seria outro?

Kise parecia preso em sua própria cabeça, um pequeno sobressalto ao ouvir a pergunta, porém não havia hesitação em sua resposta, como se já houvesse respondido a mesma pergunta milhares de vezes. Ele provavelmente tinha realmente.

– Não seria diferente, você sabe. Talvez se eu o conhecesse antes, talvez se Kurokocchi chegasse depois, talvez em algum universo alternativo lá fora... Ele me ama. Mas nesse universo, não importaria a probabilidade, ele não me pertenceria. Nunca acreditei no conceito de alma gêmea, mas aqueles dois... Bom, eles sempre me fazem duvidar de muitas coisas.

– Eu sempre pensei que você fosse fã dessa coisa de destino, predestinação, alma gêmea.

Kise balança a cabeça divertido e Kagami ignora as pequenas lágrimas que escorrem no rosto bonito. Ele poderia colhê-las, traçar suavemente o seu trajeto, começando logo abaixo dos cílios longos e descendo sobre as maçãs do rosto bem definidas terminar no queixo afilado. Mas elas não parariam. Kise sempre foi um chorão nato.

– Meus pais se separam quando eu ainda era uma criança, sabe? Ainda posso lembrar-me dos gritos no andar de baixo, do meu pai fazendo as malas e minhas irmãs chorando. Minha mãe se trancou no quarto e não saiu até três dias depois. Eu era muito pequeno para realmente entender, mas lembro de pensar.

“Eu fiz alguma coisa errada? Ele não me ama mais? Porque ele não volta? Mamãe, ele vai voltar logo?”

Pode se ver que desde cedo fui arrogante, sim? Culpando-me pela saída dele de casa. Lembro que ela sentou comigo um dia e conversamos bastante. Algo sobre amar alguém por uma vida inteira, mas já não ser possível conviver com ela. Desde então, em cada filme, sempre soube que o feliz para sempre não era realmente o final. Que depois de um tempo, o príncipe já não teria interesse na princesa e ela, talvez, procurasse uma nova aventura, um novo príncipe.

–Você acha que isso vai acontece com eles?

Foi uma pergunta insensível depois de todo aquele relato. Kagami nem sequer tentou ser gentil, nem considerou os sentimentos de Kise. Mas era difícil desviar seus pensamentos de Kuroko, mesmo que o fantasma não estivesse presente.

– Eu acho que eles são teimosos demais para deixarem algo assim acontecer. Aominechhi não vai soltar a mão de Kurokocchi e Kurokocchi não vai desviar o olhar de Aominecchi. E se isso acontecer um dia... Eles vão superar juntos e ultrapassar todas as barreiras. É isso que eles sempre fazem, não é?

Kagami apenas faz um gesto afirmativo, porque sua garganta se sente apertada demais para escapar qualquer som que não seja um gemido lamentável. Não, ele não entendia desde quando Kise era esse ser tão maduro, desde quando ele conseguia falar sobre isso sem se desfazer aos pedaços.

– Por que você aceitou ser o padrinho? Organizar o casamento, participar dos ensaios, estar próximo ao altar vendo o amor de sua vida casando com outro.

Foi cruel e amargo, ele não deveria tentar machucar Kise, o loiro já estava fazendo um bom trabalho em machucar a si mesmo, mas havia esse instinto escuro, que o fazia querer extravasar sua dor, ver outrem sofrer mais para que houvesse certo consolo. Mas Kise apenas sorriu, como se já soubesse exatamente aquele sensação, como se já tivesse passado por isso antes.

Talvez a grande diferença estivesse ali: Kise havia lidado muito mais cedo com tais sentimentos, ao contrário de Kagami ,que teimou em negar e contradizer seus próprios desejos. Kise estava em um patamar muito mais elevado no quesito emoções.

– Eu aceitei, porque se não posso ser aquele que o faz feliz, pelo menos posso ser alguém que pode compartilha dessa felicidade. Eu não vou morrer por um coração partido, nem me tornar alguém amargo por isso. Você está em um lugar escuro agora, Kagamicchi, mas não se deixe vencer por sentimentos ruins. Você só vai estar se machucando.

Amor não correspondido não é realmente o fim do mundo, não se você não deixar. Eu não prometo a você que vai melhorar e que isso vai passar, mas... Essa é a vida, não é? Você não deve desperdiça-la pensando no que poderia ter sido, no que você queria e não obteve; Olhe em volta e veja quem você tem, o que você ainda pode conquistar.

Sentado naquele bistrô, Kagami se permitiu derramar as lágrimas que ele não sabia estar segurando, a represa finalmente quebrou e a única coisa que o impedia de se afogar eram as mãos de Kise o segurando, como um colete salva vidas.


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