Escuridão. escrita por Elizabeth Watson


Capítulo 2
Capítulo 2.


Notas iniciais do capítulo

Hey! Só avisando que não vou postar a fic com uma frequência muito grande porque eu não tenho muito tempó. Provavelmente postarei de 15 em 15 dias. Se alguém aí estiver lendo, por favor, comente. Eu quero muito saber a opinião de vocês.
(e por favor, não se incomodem dos capítulos terminarem em meio de diálogos, gosto de cortar assim pra manter o suspense.)



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Michael se virou vagarosamente e encarou Raphael. Ele estava com os braços magros cruzados no peito e o olhava sério.

– Vocês vão me achar louco... – murmurou.

– Você é nosso amigo. Nunca acharíamos isso de você. – Bela tocou em seu ombro.

Ele a encarou por alguns instantes. Suspirou e decidiu contar.

– Eu peguei um atalho pelo bosque pra chegar aqui mais rápido. – começou.

– Sim...

– Havia uma garota lá. Ela tava falando alguma merda sem sentido, mas quando me viu ela ficou quieta e saiu correndo na minha direção. Eu saí correndo e quando saí do bosque ela tinha sumido. Não tinha nem o som de passos quebrando galhos e esmagando folhas que tenho certeza que só eu tava fazendo. Eu não sei o que aconteceu, mas era estranho. Ela nem ao menos parecia viva! Nem ao menos fazia vapor quando falava!

– Ela pode ter se perdido no meio do bosque. Por que acha que está louco? – Meg disse.

– Lembra da lenda daquela mulher do século XIX que se suicidou por causa de um soldado francês?

– Sim...? – Gabriel o olhou incrédulo. – Ah pelo amor de Deus, Michael! Você não pode estar pensando que é um fantasma!

– Eu não disse isso! Só me lembrei dessa lenda.

– Exatamente! Lenda! Isso não é verdade! Amanhã nós falamos com a polícia sobre o desaparecimento de uma garota, você a descreve e pronto. Agora chega disso. – Gabriel encerrou a conversa se deitando.

Michael suspirou irritado.

– Vai ficar tudo bem, Mike. Você vai ver. –Bela disse sorrindo para o amigo. Ele deu um sorriso de volta, que mais pareceu uma careta.

Michael se sentou no canto do sótão mais arrumado e imaculadamente limpo que já havia visto. Apoiou a cabeça nas mãos e fechou os olhos. Ouviu passos ao seu lado e sentiu o cheiro inconfundível do perfume doce de Bela ao seu lado.

– O que foi? – perguntou impaciente.

– Por que está agindo tão estranho? – a ruiva questionou.

– Agindo estranho? Pensei que estivesse agindo exatamente como alguém na minha situação faria!

– Você podia ter falado com a garota. Podia ter ajudado ela, Mike!

– Vai ficar me julgando agora por ter me assustado?!

– Ei, ei! Ninguém está te julgando aqui!

– Ah não?!

– Não!

Michael apenas desviou o olhar para Gabriel e depois tornou a olhar os olhos profundamente verdes de Bela.

– O garoto ali não concorda. – disse simplesmente.

– Você sabe como o Gabriel é.

– Sim eu sei.

– Ei, sei que ficou perturbado com isso, mas é só uma garota comum. Vamos falar com a polícia amanhã bem cedo e vai tudo se resolver, tudo bem? – ela tocou em seu ombro.

– Tá bom.

– Meg, a pizza chegou! – ouviu-se a mãe das meninas lá de baixo.

– Bela, vai buscar? – Meg pediu à irmã.

– Por que eu?

– Porque eu pedi?

– E daí?!

– Anda logo Bela!

– Folgada!

Bela se levantou bufando e desceu a pequena escada para o corredor. Voltou carregando quatro pizzas e as colocou com raiva no chão.

– Você não vai comer Megan! – ralhou quando a irmã estendeu a mão para uma das caixas.

– Bela pare de brigar com a sua irmã! – Lílian gritou.

– Toma otária. – Meg estendeu a mão para a caixa novamente e pegou um pedaço de pizza.

– É, Bela? – Raphael disse.

– O que? – a garota o olhou.

– Por que tantas pizzas?

– Pra ficar olhando, Raphael! Pra isso!

– Bela vem cá. – Michael chamou a amiga.

Bela foi até o garoto bufando.

– Dá pra se acalmar um pouco, vulcão ativo? – Michael bagunçou os cabelos da ruiva, chamando-a pelo apelido de infância.

– Desculpa, mas é que a Megan me irrita às vezes.

– Mas você não precisa explodir com todo mundo, não é mesmo?

– Desculpa.

– Peça desculpas ao Raphael e à Meg, não a mim.

– Ei! – Gabriel se intrometeu. – Estamos atrapalhando o clima do casal?

Ambos levantaram o dedo do meio para o garoto.

– Nem um pouco grossos não é mesmo?

– Cuida da sua vida. – Michael o cortou. O outro garoto apenas riu.

– Depois eu peço desculpa para eles. Agora eles estão se ocupando em comer pizza. Por falar nisso, não quer um pedaço?

– Não estou com fome.

– Mike, não há motivos pra você ficar tão abalado assim.

– Sabe o que ela estava vestindo?

– Não, não sei. O que isso tem a ver, Mike?

– Ela estava usando um vestido do século XIX, idêntico às réplicas e aos originais dos museus. Só me diga, numa escala de zero a dez, qual é a chance de alguém entrar num bosque vestindo algo do século retrasado?

– Oito se estiver fazendo uma peça.

– E que diabos ela estaria fazendo lá?

– Ela pode ter se drogado ou se embebedado depois da peça e acabou parando lá, pode ser sonâmbula e dormiu com a fantasia.

– Bela isso é Londres! Alguém teria visto e estranhado!

– Michael você já viu a diversidade de estilos que tem em Londres? Acha que alguém repararia?

Michael foi até a janela, observando o eclipse que àquela altura estava quase no seu fim.

– Seria impossível não reparar...

– Por quê? – Bela pareceu surpresa. – Não vá dizer que gostou dela!

– Ela era linda, não posso negar isso, mas gostar já é demais não acha?

– Como ela era?

– Ela tinha os cabelos grandes e negros, era branca, tinha os olhos azuis e sem brilho e os lábios brancos e rachados. Mas era linda. Muito linda.

– Ah. – Bela disse enciumada, coisa que Michael não percebeu, pois a todo o momento a imagem da garota lhe vinha à cabeça. – Nós vamos avisar os policiais Mike e você vai poder ter o seu “fantasma”.

A menção da garota como um fantasma fez Michael se arrepiar.

– É. Talvez.

Mas o garoto era descrente em suas próprias palavras.

...

Bela atirou um travesseiro em Michael.

– Acorda moreno! – gritou.

O garoto levantou o tronco rapidamente, assustado.

– Não dá pra me acordar feito gente?! – perguntou à menina que agora atirava travesseiros nos outros colegas de quarto (ou de sótão).

Todos acordaram assustados como Michael e morrendo de vontade de atirar Bela pela janela.

– Que horas são?! – Gabriel perguntou irritado.

– Oito horas.

– Você nos acordou às oito horas da manhã de um sábado?! – Gabriel gritou.

– Sim! Lide com isso! – a ruiva gritou em resposta.

– Posso bater a sua cabeça na parede?!

– Pare de reclamar e se arrume logo!

Megan chegou por trás da ruiva e tacou-lhe o travesseiro na cabeça.

– Isso é por me acordar às oito da manhã!

A mãe das garotas apareceu na escada do alçapão.

– Parem de gritar agora ou as duas estão de castigo! – a mulher ruiva disse.

– Desculpa mãe. – as duas disseram.

Lílian saiu.

– Vamos nos arrumar. – Bela disse. – Temos de levar Mike pra delegacia.

Michael levantou uma sobrancelha.

– Voltei há ter oito anos e ninguém me avisou? – perguntou. – Por que preciso que vocês me acompanhem até a delegacia? Tenho dezesseis, só preciso dos meus pais lá.

– Fala sério?! – Gabriel disse. – Queremos ver a gostosa do bosque que te assustou!

Michael revirou os olhos.

– Tá, tanto faz. Vamos logo.

Fizeram fila para ir ao banheiro e depois se reuniram para tomar café.

– Por que essa pressa? – o pai das garotas perguntou.

– Vamos levar Michael à delegacia, Sr. Khan. – Raphael disse.

O homem olhou Michael sério.

– O que você fez Mike?

Michael fuzilou Raphael com os olhos. O outro garoto deu de ombros.

– Nada, Sr. Khan. Vi uma garota no bosque quando estava vindo para cá ontem e ela parecia perdida, mas não tive oportunidade de falar com ela. Vou até à delegacia para saber se tem alguma garota desaparecida.

– Oportunidade para falar com ela você teve, mas você perdeu tempo correndo dela. – Gabriel disse rindo junto com Raphael.

Michael deu uma risada sem graça e deu um tapa na parte de trás da cabeça de Gabriel.

– Engraçadinho. Aposto que você se mijaria se ela saísse corendo atrás de você com uma cara de psicopata!

– Chupa! – Bela disse. Os quatro amigos riram enquanto Gabriel fez uma careta para a menina.

– Quer que eu os leve até a delegacia, Michael? – Sr. Khan perguntou quando Mike se levantou.

Michael transferiu o peso de uma perna para a outra, não sabendo o que responder. Ele não precisava de mais gente para ver a humilhação do retrato falado que o assustara na noite anterior.

– Não precisa. Só vou passar em casa e pedir pro meu pai me acompanhar.

O homem deu de ombros.

– Tudo bem. Tchau, boa sorte.

– Obrigado.

Os adolescentes saíram para o frio da manhã de Londres. Estava nublado como sempre, com inúmeras poças de água pelas calçadas. Eles pulavam as poças enquanto andavam com os braços enganchados uns nos outros. Quem os olhasse pensaria que eram apenas cinco idiotas, mas o frio era tanto que andar todos juntos era quase vital.

Michael sentia o contato da cruz Ankh de prata em seu peito por baixo de todos os casacos. Queria poder desenganchar o braço direito de Bela para poder colocá-la para fora da camisa, mas a garota estava grudada nele tão forte que sair daquilo parecia até uma crueldade.

No ombro esquerdo encontrava-se sua mochila. Mexer o braço era complicado, já que apenas uma alça estava em seu corpo e a mochila poderia cair numa poça. Decidiu deixar a prata no peito, arrepiando-o dos pés à cabeça sob o casaco.

Pegaram o ônibus vermelho e sentaram-se um perto do outro. Bela estava no mesmo banco que Michael, Gabriel no mesmo que Meg e Raphael ficara junto com uma senhora.

– Mike? – Bela disse olhando para o amigo que tirava o gorro e deixava os cachos castanhos caírem.

– Hum? – o mesmo perguntou.

– Vou ter uma prova de Física na segunda e não estou entendendo direito a matéria. Você poderia dormir em casa hoje e me ajudar um pouco? – a garota perguntou com a voz doce. Ela estava no primeiro ano ainda, enquanto Michael estava no segundo.

Michael olhou os olhos verdes da garota por um momento. Como poderia negar algo para aquela coisa teimosa e fofa?

– Tudo bem, eu durmo lá de novo. – disse por fim dando um sorriso.

Bela deu um grande sorriso e beijou o maxilar anguloso do amigo. O mesmo desviou o olhar para a janela, meio acanhado. Há tempos que havia uma tensão entre os dois, desde que haviam passado uma noite juntos, mas eles tentavam esconder aquilo o mais fundo possível. Porém, às vezes, coisas como os olhares se encontrando ou um simples beijo no rosto os faziam se sentirem tão acanhados a ponto de quererem se esconder.

– Mike? – a ruiva chamou o amigo de novo.

– O quê, Bela?

Michael manteve o olhar fixo na janela do ônibus, até que sentiu a mão macia da amiga segurando seu queixo e virando-o fazendo-o olha-la nos olhos.

– O que você vai fazer quando ver a garota da floresta de novo?

Ele suspirou.

– Não sei. Sinceramente, eu não sei.

Bela revirou os olhos.

– Pelo amor de Deus, Michael, você é jogador de rugby, leva porrada o verão inteiro, vai mesmo deixar uma garota te assustar?!

O moreno olhou-a com o maxilar cerrado, meio bravo.

– Dá pra me deixar em paz?! Não preciso de vocês pra me julgar! Minha própria consciência faz esse trabalho sozinha.

– Eu só não entendo porque você está tão nervoso!

Michael suspirou.

– Por favor, vulcão ativo, chega desse assunto por ora.

Bela ficou quieta e puxou o gorro do casaco. Michael tornou a virar o rosto para a janela do ônibus. A verdade era que ele não estava preparado ainda. Ele ainda achava que tinha alguma coisa de errado com aquela garota de vestido branco.

O ônibus parou perto do destino dos adolescentes. Todos desceram e foram caminhando até a Delegacia de Wood Street e entraram no prédio de paredes desbotadas.

– Com licença? – Michael disse à secretária. – Gostaria de fazer uma queixa.

– Aguarde um momento, filho. Sente-se ali. – a mulher apontou para algumas cadeiras e desviou os olhos castanhos escuros de Michael.

O garoto deu de ombros e se sentou, tirando o casaco e finalmente deixando a corrente para fora da camiseta. A delegacia estava abafada e a camiseta de mangas compridas de Michael grudava em seu corpo.

– E então? – Megan perguntou.

– Ela me mandou esperar. – Michael respondeu. – Vou mandar meu pai vir.

Mike se levantou e foi até um canto da recepção barulhenta e ligou para seu pai, pedindo-o que o encontrasse na delegacia. O homem ficou preocupado, mas Michael disse que estava tudo bem com ele.

Michael teve tempo o suficiente para seu pai chegar e ainda explicar para ele a situação até ser chamado para a sala do delegado.

– Então filho... – o delegado Jones disse. – O que aconteceu?

– Bem, ontem de noite eu estava indo para a casa de uma amiga e peguei um atalho pelo bosque. Então eu vi uma garota lá, ela parecia meio perdida e sinceramente não parecia muito bem. Ela me viu e arregalou os olhos, como se me conhecesse e saiu correndo atrás de mim. Eu acabei me assustando e fugi e quando me virei pra trás pra ver se ela estava por lá ela havia sumido.

– Uhum... – o delegado murmurou e olhou para a policial parado na porta. – Por favor, vá chamar o desenhista para que o rapaz faça o retrato falado.

A mulher foi e demorou apenas alguns minutos para voltar com o desenhista. Um homem de sobretudo bege e gravata, lembrando John Costantine.

– Pode falar rapaz.

Michael pigarreou e começou:

–Bem, ela tinha a pele muito branca. Tinha os cabelos negros que chegavam até um pouco abaixo dos seios e ondulavam nas pontas. Tinha o nariz fino e arrebitado, os olhos azuis e grandes, as sobrancelhas finas e arqueadas. Os lábios eram brancos, secos e rachados e o rosto era fino. Ela estava com um vestido branco do século XIX também.

O desenhista parou.

– Espera. Vestido o quê?

Michael coçou a nuca. Sabia que aquele detalhe causaria estranhamento.

– Um vestido branco do século XIX.

O desenhista olhou para o delegado meio desentendido e a policial que havia saído da sala retornou com uma foto muito, muito antiga.

– A garota que você viu, querido... – ela disse suavemente e apontou para uma garota na fotografia. – Por acaso é essa?

Michael reconheceu os traços delicados no mesmo instante.

– Sim! É ela! – disse.

O delegado franziu o cenho.

– Tudo bem filho, pode sair. Vou falar com seu pai um pouco.

Michael agradeceu e se levantou. Chegou à recepção e foi recebido pelos amigos.

– E então? – Bela perguntou parecendo aflita.

– Eles têm uma foto dela! Acho que podem achá-la!

O grupo suspirou aliviado até que o pai de Michael chegou.

– Mike... – disse.

– Pai! Eles vão mandar uma busca para achar a garota?

– Mike, a garota... Ela morreu filho.

O choque cruzou o olhar de Michael.

– Como assim?! Quando acharam o corpo dela?!

O pai de Michael soltou um suspiro pesado e baixou a cabeça.

– Filho, aquela fotografia... É de dois séculos atrás. A garota era noiva de um soldado francês que fora capturado e ela acabou morrendo de tristeza.

– O quê?!


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Notas finais do capítulo

Bem, espero que tenham gostado e que comentem. Tchau, Beijão.



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