Outro dia naquele inferno chamado escola. Os populares malvados tirando sarro de mim e dos meus amigos, os professores enchendo nosso saco com tantas lições e trabalhos que nem o capeta consegue. Caminhei através do portão da minha escola, abaixando o rosto e focando o olhar em meus sapatos.

–Oi Jennifer, Rafaela. Vocês fizeram o exercício extra de matemática?

–Claro né, Luana? – Rafa respondeu enquanto arrumava os óculos.

–O de vocês deu... – nem consegui terminar de falar quando vi Ian passando pelo corredor.

Ian é simplesmente o cara mais bonito e charmoso de todo o segundo ano do ensino médio. Ao passar pelo corredor, ele balançou o cabelo moreno um pouco comprido e todos se viraram para vê-lo passar. Danielle caminhou rebolando até ele e o abraçou. Aquela vadia loira falsa está namorando o Ian desde ano passado e ela faz questão de que todos saibam disso.

–Lu? Luana? Dá pra esquecer aquele babaca um pouco? - Jenn comentou quando me viu encarando o Ian, quase babando.

–Oi... – respondi ainda pensando naqueles olhos castanho-claros.

–O que aconteceu com ela? – perguntou Breno, meu amigo ruivo, tirando os olhos azuis da HQ que lia e olhando para a minha cara de tapada.

–Ela... - ia responder Rafaela antes de eu tapar sua boca com força.

O Breno não pode saber da minha queda pelo Ian, ele iria contar pra todos os nossos amigos e eles não iriam parar de me zoar porque o Ian, tipo assim, nunca iria gostar de mim. Além disso, ele tem a Danielle que, pelo menos de acordo com o Breno, poderia interpretar a mulher gato por causa do corpo escultural dela.

Observei Ian continuar caminhando pelo corredor e Danielle vir pular em cima dele antes que ele sequer a visse.

–Ela o que? Rafa? - Breno perguntou antes de desistir de entender nossos problemas de menina e voltar a ler sua HQ do Homem-Aranha.

O sinal tocou e fui junto de Jennifer para a sala de aula.

X

Durante o intervalo, fui ao sanitário feminino com a Jenn antes de nos direcionarmos a biblioteca onde sempre nos escondemos dessa sociedade elitista que é o colegial. No entanto, assim que entramos no toalete, vimos Danielle exibindo um anel de compromisso para todas as garotas. Aquelas meninas não paravam de soltar risadinhas e gritinhos. Minha amiga correu rápido para uma das divisórias no fundo do banheiro e me abandonou com um exemplar de As Crônicas de Nárnia que eu estava lendo pela centésima vez.

Observei as garotas ao meu redor, todas tão entretidas em fofocar sobre rapazes ou passar maquiagem em seus rostos falsamente perfeitos. Algumas usavam tanta maquiagem que pareciam que tinham usado cimento para esconder as imperfeições. Eu nunca entendi isso, para que se maquiar feito um palhaço apenas para ficar igual a todas as outras cinquenta mil garotas da nossa idade? Além disso, por que todas querem ser loiras? Ou com o cabelo liso? Eu nasci loira e não vejo nenhuma vantagem nisso. E também desejava ter nascido com a cabeleira enrolada, dando voltas e mais voltas no próprio eixo, o cabelo grande, glorioso, não ao estilo a vaca lambeu que não segura nem um cacho de babyliss.

Eu estava parada com o livro aberto encostada na parede quando a vadia passou por mim e veloz como um raio se virou e derrubou meu precioso livro, desmarcando a página.

–Oh! Me desculpa! – ela exclamou falsa – É Luciana não?

–É Luana, Danielle, e você sabe disso. – me abaixei para pegar meu marca páginas e alguém me empurrou com força em direção ao piso de cerâmica.

–MAS QUE PORRA É ESSA? – gritou Jennifer quando viu Danielle me chutando com o salto de marca dela.

–Sai de mim, sua louca! – gritei enquanto me afastava da loira.

–Isso é pra você não olhar para o MEU namorado, sua vaca.

Meu rosto começou a queimar antes que eu pudesse entender o que havia acontecido. Ela havia me batido. Ela me deu um tapa. Essa garota é totalmente pirada.

Puxei com força a primeira coisa que encontrei, o que, por acaso, foram as sedosas madeixas platinadas. A palma da minha mão se encheu de suor e então mexas louras caíram por terra antes que eu socasse o nariz empinado daquela metida.

Eu não entendi o que havia acontecido. Parte do cabelo dela estava queimado na altura do queixo, sendo que antes ele ia até o quadril avantajado da garota. Era como se eu tivesse uma tesoura, mas era apenas minha mão.

–Vaca é você, sua filha da puta! – Breno gritou invadindo o banheiro feminino com Rafaela logo atrás, sem que eu tivesse tempo nem de pensar no que havia acontecido.

–O que você está fazendo aqui?! – exclamou Danielle enquanto meu amigo a empurrava para longe de mim. – Esse é o banheiro feminino, seu tarado!

–Dá pra calar a boca?! Eu vim cuidar da Luana e...

–Que bagunça é essa aqui? – exclamou a diretora, Sra. Mattias– Sr. Miller, o que você está fazendo no banheiro feminino?!

–Me desculpe, é que eu ouvi um monte de gente comentando sobre uma briga no banheiro e quando soube que a Luana estava no meio, como amigo dela, eu tive que intervir.

Essa foi provavelmente a coisa mais fofa e adorável que alguém já fez por mim. No entanto, isso é muito engraçado, pois o Breno é um cara ruivo, magrelo, alto e muito desajeitado. Ele nunca seria capaz de machucar nem uma mosca, mas havia brigado com a Danielle por minha causa.

–Vocês duas, venham comigo. – chamou a diretora.