Paparazzi escrita por vegadelira


Capítulo 3
Passando a Limpo


Notas iniciais do capítulo

Olá, amores! Como prometido, eu voltei com o capítulo - antes do esperado :p
Comentem bastante. Quero comentários para saber o que melhorar ;)



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O anoitecer emergia conforme as aves migravam aos lares, levando a melodia do ambiente consigo. Os imensos algodões doces da atmosfera não tinham evidência, pois perderam suas partículas de açúcar durante o dia, logo o céu negro deixou-se infestar por pontos azuis, brancos e vermelhos de diversos tamanhos que luziluziam no horizonte.

Ambas as janelas do quarto da ruiva estavam abertas. As finas cortinas brancas de cada uma daquelas foram divididas meio a meio. Certas partes das quinas superiores da mesa de estudos, que estava enfeitada por anotações das aulas de química e biologia, foram ocultadas pelo tecido claríssimo porque se encontravam perante a porta do Universo. O único objeto ligado era o abajur de lâmpada fluorescente, próximo ao pequeno estojo no canto direito do móvel.

Horas atrás, Bonnibel sentira-se disposta em se vingar e, principalmente, mudar. De repente, começara a amedrontar-se com consequências quase improváveis e, agora, fazia cinco horas que o silêncio a dominara.

A menina, sentada, passou a contemplar a paisagem à frente, com os olhos umedecidos. Estes não conseguiam fitar mais o que desejava, mas mantinham-se fixos para obrigá-la a ver o que precisava. A coragem dela esvaíra-se, todavia o subconsciente reagiu.

Bonnibel disse a si mesma pausadamente:

– Grandiosa é a imensidão do céu, maravilhosas são suas estrelas. É incrível assistir ao espetáculo que fazem. Encantam-me com suas diferenças de cores e danças alternadas, porém é terrível saber que há as que têm o brilho ofuscado. Tanto as miúdas quanto as normais podem ser ou não notáveis, mas nunca chegarão às composições químicas das super estrelas. Quando estiverem para morrer, descascarão como cebola, desgraçando cada vez mais a própria beleza. Felizmente, as super estrelas vivem em nível de superioridade e morrem com excentricidade, tornando-se supernovas, servindo de inspiração e a fim de serem lembradas para sempre. O tempo corre para todas, e é bom com quem é beneficiada desde cedo.

A doce brisa que refrescava a temperatura local tornou-se um vento forte e insuportável, que fez as anotações flutuarem pelo quarto até caírem no carpete rosa escuro, assim como as folhas alaranjadas despencam das árvores no outono, sujando os quintais da vizinhança. A ruiva respirava com dificuldade e sabia que, se não fechasse a janela, em breve estaria doente, e isso não podia ocorrer de maneira alguma. Afinal, necessitava estar presente nos fatos prestes a acontecerem.

xxx

A extensa varanda da Mansão Abadeer tinha uma esplêndida visão do condomínio, embora se localizasse aos pés de um planalto, a três quarteirões das primeiras casas que tinha contato – uma área praticamente isolada. As luzes artificiais poluíam o céu, que parecia um túnel sem fim. Entretanto, um círculo brilhante, denominado Lua por algum astrônomo importante, pairava naquela negritude.

Marceline usava somente uma larga camisola cinza escuro que cobria os braços e pouco mais que os joelhos, mas não se incomodou com a ventania. Os cotovelos apoiavam-se no balaústre, enquanto a mão esquerda segurava a caneca de chocolate quente. Os olhos opacos estavam abertos, e ainda não haviam decidido o que enxergar. A noite não estava surpreendente, sempre fora daquela maneira. Em meio aos vizinhos, a morena não era diferente. Todos se importavam mais com outros assuntos que não fossem astronomia, por isso nunca desligavam os interruptores para verem as estrelas. Perdiam-se na realidade e não faziam noção de que simples pintinhas num fundo preto possuíam um sentido maior que o das definições didáticas. O mundo que podiam criar dentro de si vinha com várias possibilidades. Porém, quando a chance de explorá-lo surgia, o máximo que faziam era pensar em inutilidades.

Minutos depois, a jovem ergueu a face à Lua e sorriu. Uma atitude dessas jamais seria esperada dela, além do mais, tudo a sua volta tinha o mesmo aspecto. Pelo incrível que pareça, lembrara-se dos olhos esverdeados da senhorita Bubblegum escapando do encontro dos seus no refeitório – achara a situação engraçada – e indagou-se por que a ruiva considerava Beatrice como melhor amiga, já que ambas mal trocavam uma só palavra. Por fim, pegou-se apreciando os fios de cabelo de Bonnibel e o jeito que esta se movia e andava. Para sua infelicidade, veio à tona o instante em que a maltratou. O coração de pedra da Abadeer levou facadas com a lembrança: fitara a angústia, o medo e o desespero inundados em seus olhos. Notou o que fizera para piorar a vida de alguém. Em contrapartida, fora o instante em que pôde sentir a enjoativa essência do perfume doce e observar com mais atenção as delicadas feições da menor.

O receio preenchia a consciência de Marceline enquanto esta caminhava ao quarto. Ela acomodou-se no banco da antiga penteadeira branca, que se escorava nas paredes pretas, ao lado da porta francesa na qual dava acesso à varanda.

– Espelho, espelho meu, existe alguém mais estúpida do que eu? – a morena questionava ao objeto enrugando o rosto.

– Sim, claro. Devemos ir aí agora? – uma voz instável conversava no telefone atrás da outra porta do cômodo.

A garota virou-se, tomou o rumo do timbre agudo e girou a maçaneta.

– Mamãe? Diga-me que a senhora não sairá novamente. – a filha disse ainda entristecida.

– Marcy, eu e Hunson temos que estar presentes na reunião de hoje. A Jessie acabou de me avisar que o diretor não pôde comparecer. – Lilith, irritada, elevou o tom.

– Por que você não manda ela se responsabilizar por isso? Ela não é a gerente? É o décimo sexto jantar seguido em família que vocês perdem.

– Você é uma criança e não entende. Seu pai e eu somos proprietários da empresa. Qualquer coisinha anormal, nós resolvemos. Não é confiável simplesmente mandar outros cumprirem nossa obrigação. – falou andando até a escada, onde segurou o corrimão preto – Tenha uma boa noite.

– Querida, venha logo! – Hunson a chamava do salão.

– Será que vocês dois poderiam se importar mais com os seus filhos? – Marceline berrou e, em seguida, lançou-se em sua cama de casal.

O travesseiro abafava o choro da menina, que puxava o edredom para si. Desde sempre, o aconchegante colchão fazia um papel de mãe melhor que Lilith. O pai era bem sucedido e também nunca se preocupou com as emoções dos herdeiros, mas os cobrava um futuro promissor, tão excepcional quanto o próprio. A morena tentava chamar a atenção de ambos estudando e, consequentemente, tirando notas altas. Entretanto, nem um elogio sequer recebia.

– Você tem que parar de arrumar confusão com a mamãe. – o irmão mais velho a consolava sentado na beirada da cama.

– Marshall Lee Abadeer, eu não pedi sua opinião! Vai ‘pro inferno.

– Lamento em informar que a universidade está em greve, então irei permanecer aqui. – retrucou sorrindo.

– Cara, me deixa sozinha, por favor. Eu sei que você quer ajudar, mas isso não irá substituir quem realmente deve fazer isso.

A filha piorou ao perceber que a mãe, mesmo a vendo triste, não tivera a iniciativa de querer escutá-la desabafar sobre o que comprimia tanto seus sentimentos.

Marceline encarava o teto cor de gelo, finalmente sem o irmão no quarto. Estava se recordando de Bonnibel, em específico o momento em que tocou o abdômen desta e, depois, removeu o objeto do bolso dela. Como pôde tamanha crueldade existir em sua alma para quebrar o celular da ruiva?

Afinal, por que ela tinha uma foto sua? A curiosidade da morena aumentava junto com as extremidades da boca se esticando de forma divergente. Abadeer montava a agenda do dia seguinte na cabeça: iria à aula, compraria um novo aparelho móvel à Bubblegum com sua mesada e faria o trabalho de História na biblioteca perto da praça. Todavia, não poderia entregar o presente à ruiva em público, e nem chamá-la em particular – a única maneira de fazê-lo seria aparecendo na frente dos outros, pois não tinha contato nas redes sociais com a jovem. As duas opções denegririam a imagem de Marceline, que, tendo noção da necessidade em consertar o mal, era orgulhosa demais para pedir desculpas. Seus amigos a chamariam de idiota porque, desde que conhecera Bonnibel, nunca se reconciliara, e continuava aprontando. Porém, essa vez era diferente; Marceline notou que passara dos limites. Ainda assim, preocupava-se com as críticas que viriam.

– Não adianta ir a festas e dar festas, não adianta ser amiga de todos... – suspirou enrolando o cabelo – Eu não me domino, eu não faço minhas escolhas.

A menina pegou seu smartphone e foi respondendo as mil e tantas mensagens, mas logo adormeceu, sem jantar, e já concluíra que iria, sim, comprar o presente da ruiva, embora não soubesse quando o entregar.

xxx

A jovem olhava o prato, não tinha fome. A mãe preparou com muito amor a refeição, entretanto a filha brincava com o garfo, colocando as folhas verdes escuras sob os pedaços de carne cozida. O grisalho Sr. Buckholz lia o jornal na mesa da sala.

– Como foi o primeiro dia de aula? Dedicou-se aos estudos?

– Igual aos dos anos anteriores, pai. Professores passaram trabalhos, conversei com meus amigos no intervalo. – disse desanimada.

– Por que não atendeu as minhas ligações?

O coração da ruiva parou de bater por alguns segundos. Ela pensava numa justificativa, todavia gaguejava, procurando por palavras que pudessem soar coerentemente.

– A bateria acabara. Não te preocupes. Isso não irá se repetir. – levantou-se. – Amanhã farei uma pesquisa e voltarei pelas seis da tarde... Mamãe, eu estou sem fome, então não me interpretes mal por ter comido nada.

– Bonnie, a pesquisa é de que? – ambos a perguntaram.

– Será que vós poderíeis vos importar menos comigo?

A garota subiu a escada rapidamente e foi para o quarto, onde deitou em sua cama. Imaginou o quão melhor a vida seria se fosse Marceline. Pelo que via no colégio, esta fazia o que tinha vontade, sem dar satisfação aos amigos e especialmente aos pais.

Encontrava-se por baixo da coberta, na qual algumas frestas permitiam passar o ar frio que circulava no espaço. Montou um plano: aprenderia todos os passos da Abadeer, tiraria fotos e mais o que fosse preciso para ser quase semelhante como tal. Roubaria tudo o que conquistara na vida social. Destruiria a morena, vingando-se do mal que lhe era causado. Não se importava com o que passara, entretanto era deprimente assistir aos aplausos ainda dados às más atitudes.

O corpo de curvas na medida certa, os seios médios e arredondados que marcavam qualquer blusa, o cabelo longo, a pele pálida, e o olhar estreito de predador escondiam a verdadeira identidade de Marceline. Embora fosse uma víbora, era perfeita na concepção de cada pessoa. Bonnibel estava começando a descobrir isso da pior forma possível.

– O que diabos são essas alucinações? – murmurou – Ela é bonita, mas não é para tanto.

xxx

A biblioteca mantinha sua aparência tradicional de século XVIII. A poeira das estantes envernizadas atingia os livros. Um fiscal observava atentamente os movimentos entre essas, como se vigiasse um tesouro de extrema importância. O salto baixo da bota da morena fazia ruídos desagradáveis quando entrava em atrito com o chão de madeira, o que gerava determinada irritação do fiscal e de quem se concentrava em pesquisas.

Marceline nunca confiou em fontes que não eram materiais. Era cética demais para absorver recursos da internet – tanto mensagens quanto informações. Olhando aqui e acolá, finalmente encontrou um dos livros de capa vermelha que buscava na divisão de História. Porém, estranhou o fato de que faltava outro. Assim, caminhou até uma mesa e, para sua surpresa, avistou uma miúda figura jovem naquela, na qual não demorou a reconhecer. Abadeer estremeceu, e a sensação era... Boa. Sabia o que fazer, e não sabia como. Antes que pudesse se aproximar mais, a ruiva virou a cabeça e rapidamente regressou a ação, parecendo ignorar um semblante que não deveria estar ali – era o que a maior concluiu. Mas, Buckholz apenas teve um reflexo ao chocar-se com algo inesperado.

A morena tomava fôlego e tentava pronunciar qualquer coisa que viesse em mente. Lembrou-se das várias restrições e advertências que a Bubblegum dava, revidando as chacotas de quando puxava assunto. Agora, uma coisa simples se tornou complicada. Portanto, não era correto deixar passar a oportunidade.

– Boa tarde, Bonnibel Buckholz. Incomoda-se caso eu ficar ao seu lado? – questionou rubra.

A ruiva riu. Ela ficava extremamente fofa sorrindo. As bochechas rosadas naturais eram maravilhosas, e, por sorte, Marceline as fitou sem a base que as camuflava.

– Não, claro que não. – disse séria.

– Espero que não seja ironia.

O silêncio prosperou entre ambas, até a ruiva quebrá-lo após encarar a maior durante um longo tempo.

– Estás louca? Por que estás aqui e falando comigo?

– Muito pelo contrário. ‘Tô mais sóbria do que nunca. Vim para fazer o maldito trabalho de história e, a meu ver, acredito que você esteja com o livro principal.

– Não sei por que reclamas. Esse trabalho é fruto do que aprontaste na sala. Desde quando vens à biblioteca?

– Seu vocabulário correto me enoja. Vamos fazer um acordo: se você continuar com esse jeitinho de princesa, eu fico com esse livro. Se você parar, ele é todo seu. – revirou os olhos – Por favor, não me subestime. Não é porque não sou você que não tenho senso de pesquisa.

– Você é muito idiota!

Bonnibel foi em direção ao intervalo de duas estantes, sumindo do campo de visão da morena, que pegou o embrulho em sua mochila, refletindo nas asneiras que fizera, e seguiu a jovem.

– Bonnie, perdoe-me pelo o que fiz com seu celular. – olhou para baixo, estendendo o presente, envergonhada.

A menor estava perplexa. Marceline a deixara sem palavras.

– Não sei o que dizer. Você não é tão íntima para me chamar de Bonnie e, ainda por cima, pede perdão pelo o que fez com o meu celular. É sério isso? Perdão pelo o que fez com o meu celular? – retrucou com um sorriso falso.

– O que mais você quer? Eu já me desculpei, não? Preciso te abraçar também?

A garota arregalou os olhos e, antes que raciocinasse, já estava sendo envolvida pelos braços da morena. Dessa forma, a raiva, que sentiu ao receber o celular novo, se amenizou.

– Você não entende... Mas é muito bacana de sua parte pedir desculpas. Eu notei a sua evolução. Só de ter a iniciativa, você merece parabéns.

– Afinal, o que você tanto quer?

– Quero mais do que isso.


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Notas finais do capítulo

HEUHEUEHUEHUE O que achou do final? ( ͡° ͜ʖ ͡°)
Podem deixar que vou continuar. Ah... Já ia me esquecendo: eu não revisei o capitulo, então, se perceberem qualquer erro de digitação ou de ortografia, avisem, por favor.
Obrigada por ler
BEIJOS ༼ つ ◕_◕ ༽つ



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