Mereena não sabia o que estava fazendo, mas de repente foi tomada por uma súbita vontade de beijar o protegido de Ned Stark e foi o que fez. O que começou com um beijo tímido evoluiu para um cheio de paixão, escondida durante anos por parte de ambos. As mãos de Theon agarraram a cintura da jovem, que abraçara seu pescoço. Ele havia beijado tantos lábios, tocado tantas garotas, mas nenhuma delas se comparava com aquela em seus braços.

Quando o ar lhes faltou, separaram-se, mas foi por isso e tão somente isso, pois se pudessem, ficariam para sempre nos braços um do outro. Estavam ofegantes; o penteado usual da garota estava desmanchado e os cabelos castanhos do rapaz estavam grudados em sua testa.

— Meri, isso foi muito errado – Ainda com a respiração falha, Theon suspirou – Nós somos quase irmãos.

— Você não parecia meu irmão enquanto nos beijávamos – A garota respondeu, maliciosa. Talvez estivesse andando tanto com o Greyjoy que estava ficando semelhante a ele – O que foi? Eu não beijo bem?

— Não, não é isso, você beija maravilhosamente bem e eu poderia te beijar pro resto da minha vida, mas agora você é prometida a alguém que, infelizmente, não sou eu. Além disso, seu pai nunca me concederia sua mão. Eu sou só um refém, um vagabundo. Você é a futura rainha e...- Mereena colocou um dedo nos lábios do rapaz.

— E você é o futuro rei das Ilhas de Ferro. Quem se importa com isso? Se meu pai não prometer à você novamente, nós fugimos. Pegamos um dracaris e voltamos à Pyke – Um sorriso triste brotou no rosto de Theon. Ah, se as coisas fossem fáceis assim...eles já estariam a muito fora de Winterfell.

— Mas e o príncipe...

— Que se foda o príncipe – A loba falou displicentemente, mas depois se arrependeu – Desculpe, ouvi Robb dizer essa palavra. Mas realmente, eu não ligo. É você quem eu quero, Theon. Você e tão somente você, é muito difícil entender isso? – O Greyjoy permitiu que algumas lágrimas escorresses de seus olhos. Mereena as apanhou com as costas da mão – Por que choras?

— Você é tão linda – O rapaz tocou o rosto da castanha com as duas mãos – Você não merece alguém como eu. Meri, eu sou um vagabundo, um qualquer das Ilhas de Ferro, aquele que dormiu com todas as mulheres possíveis, só para esquecer a única a qual ele queria – Ao dizer isso, a jovem corou. Juntando as mãos de Theon, sussurrou, com os olhos brilhando.

— Não, você não é. Você é Theon Greyjoy, o único filho vivo de Balon Greyjoy, o Protegido de Lorde Eddard Stark e o Lorde das Ilhas de Ferro. E além disso, é o prometido de Mereena Stark, a Primeira de Seu Nome, a futura Rainha do Norte – O jovem tremia – e eu amo você desde o primeiro instante em que te vi, desde que você passou por aqueles portões – Apontou os portões do castelo – eu já sabia que era você quem eu queria. E ninguém mais – Theon a abraçou, enterrando seu rosto entre os cabelos castanhos molhados dela. 

— Eu amo você, Meri, mesmo com tudo o que está acontecendo. Se eu pudesse...

— Eu sei – Ela acariciou os cabelos úmidos do rapaz – Eu também mudaria tudo se pudesse.

Ficaram mais um tempo assim, até que a coluna de Theon começou a incomodar. Saíram da água e montaram, partindo em direção ao castelo. Começara a escurecer. Durante o percurso, Mereena se deixou vencer pelo cansaço e adormeceu com a cabeça no peito do rapaz. Ao chegarem nos estábulos, Greyjoy desmontou e retirou delicadamente a moça de cima do animal. Novamente a carregou, mas dessa vez até seus aposentos.

Sob os olhares curiosos dos empregados, Theon abriu com dificuldade a porta do quarto e deitou a jovem na cama. Iron apareceu e começou a brincar com ele.

— Hey pequena – A lobinha lambeu sua mão – A sua dona é linda. Eu a acho maravilhosa, mas ela não pode saber disso. Senão vai ficar convencida demais – O animal pulou na cama, se aconchegando ao lado da jovem. O protegido sorriu. Era como se um peso houvesse sido tirado de suas costas. Estava mais leve, mais feliz, como nunca estivera. Isso tudo em um dia. Mereena era realmente uma donzela incrível.

Após alguns minutos vendo sua menina adormecida, levantou-se e beijou o topo da cabeça da jovem, saindo logo em seguida. Mal fechara a porta e deu de cara com Robb, que o olhava com as sobrancelhas franzidas.

— Olá Robb – Theon disse com um olhar sonhador – Como vai, irmão?

— Não me chame de irmão – As orelhas do lobo começaram a ficar vermelhas – Não quando você não me escuta e continua a fazer visitinhas indesejadas ao quarto da minha irmã.

— Ela não me parece achar as visitas indesejáveis. Nós sempre fomos amigos e você sabe disso.

— Greyjoy, ainda que meu pai tenha conseguido retirar a proposta do casamento, coisa que não está confirmada ainda – O outro rapaz deu de ombros com tédio – você não deve fazer isso. Se te pegarem aqui...

— Saberão que estou visitando minha amiga de infância. Isso não é mentira, é? – Theon sorriu de lado, arqueando uma sobrancelha. Robb queria o estrangular – agora vai me impedir de vê-la também?

— Não estou impedindo ninguém. Só estou comentando que você não cumpriu o combinado de se afastar dela, o que faria bem a vocês dois – O protegido gargalhou.

— E desde quando eu cumpro algo? – O herdeiro do Norte bufou e se virou, desaparecendo pelos corredores. Após uma última espiada em Mereena, que dormia profundamente, saiu em direção aos seus aposentos.

Duas horas depois, a Stark mais velha despertava. Iron estava em suas pernas e estranhamente, sentiu algumas borboletas na barriga. Passando os dedos pelos lábios, se lembrou dos momentos na cachoeira. Fora um único beijo, mas aquilo mexera com ela da cabeça aos pés.

Mereena nunca foi como Sansa, a menina bobinha e apaixonada por cavaleiros de canções; mas também, não era como Arya, que sonhava apenas com uma espada só sua. Theon lhe roubara o coração aos poucos. Gradativamente, a amizade evoluiu para um amor, e desse amor uma paixão. O Greyjoy era o único homem com quem a jovem poderia pensar em se casar, embora soubesse que seu pai não aprovaria a união. Ele tinha plena confiança em seu protegido, mas levando em conta a ativa vida sexual do rapaz, aquele casamento seria um teste de fidelidade.

Mas ela não desistiria do kraken assim tão fácil. Faria o possível e o impossível para que o pai concedesse sua mão à ele. Aquilo era uma promessa, e Mereena Stark nunca deixava de cumprir nenhuma promessa.

Levantou-se da cama e trocou seu vestido. Colocou um carmesim com mangas compridas, prendeu o cabelo em uma trança e colocou uma coroa de flores que Sansa havia lhe dado à algum tempo. Estava se sentindo uma rainha. Desceu quase flutuando as escadas até o Grande Salão, onde os súditos – tanto os de Winterfell quanto os do rei – já degustavam o jantar. Timidamente, sentou-se ao lado de Theon, e este lhe segurou a mão direita, lhe dirigindo o mais belo dos sorrisos. Não precisavam dizer nada um pro outro, a companhia já lhes bastava.

— Está linda – O Greyjoy finalmente quebrou o silêncio – Aposto que foi sua irmã quem fez o arranjo, estou certo? – A menina afirmou – São lindas. Combinam com você – Mereena queria poder beijá-lo ali mesmo. Mas não podia, não seria adequado. Ainda mais sem o pai ter confirmado a anulação da promessa de sua mão ao príncipe.

Aproveitando o contato um do outro, começaram a conversar sobre coisas diversas, até que alguém chamou a futura herdeira do Norte e ao se virar, congelou.

— Com a sua licença, milady, se me permite – O Regicida fez uma reverência – Soube de suas habilidades com o arco e flecha. Não sabia que uma garotinha se interessava por arquearia – Um tanto assustada, Meri largou a mão do rapaz, que protestou para si mesmo. A jovem franziu as sobrancelhas.

— Não sou mais uma garotinha, Senhor Lannister. E sim, fui ensinada desde muito nova a atirar com o arco, mas somente para defesa própria. O senhor sabe, eu não sou uma donzela qualquer – Rosnou, como uma loba faria. Theon ria internamente.

— É claro que não é – Jaime abriu um sorriso com volúpia – por isso, gostaria de convidá-la para passar uma tarde comigo. Podemos atirar um pouco, o que acha? Seria muito de meu agrado se aceitasse meu convite – Mereena arregalou os olhos. Ele estava falando sério?

— Bom, embora nunca tenhamos conversado, penso que não há motivo nenhum para desconfiar do senhor e recusar sua proposta. Aceito seu convite.

— Fico muito contente com isso. Agora, se me der licença, preciso conversar com minha irmã. Senhora – Novamente se reverenciou e saiu, em direção de Cersei, que o esperava aflita.

— E então, o que ela disse? – O loiro sorriu malicioso e deu de ombros.

— Ela aceitou.

— Ótimo. Assim ficará mais fácil impedir que os outros saibam da verdade – A rainha deu uma última olhada na Stark, pensando em como seria bom se aquela realmente fosse a última vez em que a visse com vida.