L.A it down escrita por Julya Com Z


Capítulo 12
Capítulo 12 - Garoto Idiota




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/643057/chapter/12

Seja advinda de uma traição, de uma ilusão, de uma mentira ou de qualquer maldade que uma pessoa faça à outra, a decepção possui cinco estágios: 

Primeiro: Negação.

— Isso não pode estar acontecendo.

Abri a imagem no celular, ampliei para me certificar de que não estava alucinando. Aparentemente, eu estava enxergando bem. Resolvi checar os comentários. E me arrependi instantaneamente.

"Chabernaud e Megan?! Ela acabou de chegar em L.A, esse cara não perde tempo!"

"Por que sempre que chega uma modelo na Applause o David é o primeiro a aparecer beijando-a?!"

"Eu torcia tanto para David ficar com a Juliet Oliver, a namorada do A. Bass!"

Esse último comentário obteve algumas respostas; sendo a maioria crucificando a garota que o publicou. "David não pode ficar com a Juliet, ela é do Max!", foi a resposta mais absurda que eu me permiti ler. Por que as pessoas ficam tão obcecadas com essa coisa de juntar casais em suas mentes e trazê-los à tona, fazendo montagens, escrevendo histórias (que eu descobri que se chamam fanfictions) e xingando quem discorda de seus... shipps? 

Aparentemente, eu era parte de JashJuliet + Ash. Santo Deus. Havia também Maxiet (Max + Juliet) e Julivid (Juliet + David). Acho que está na hora de pedir socorro.

Desisti de ler os comentários, para focar simplesmente na imagem. Era realmente David. David e Megan Holland, a garota nova. Eu não tinha nada contra ela; fazia apenas uma semana que estava na agência e havia sido simpática comigo. Ela me fazia lembrar de quando eu entrei na Applause, alguns meses antes. Ela também foi parar no corredor dos iniciados, com sua cara confusa estampada na Polaroid.

Megan era legal, mas estava beijando David.

O que me levou ao segundo estágio da decepção: a Raiva.

Por que eu? Não é justo que isso esteja acontecendo justamente comigo, de tantas garotas na Applause, de tantas agências em Los Angeles! Por que justo comigo? 

Eu carregava a resposta daquela pergunta na ponta da língua: porque eu não sabia escolher. Porque eu tinha Ash nos braços e escolhi trocá-lo por David. O idiota e traidor do David. Desde que eu cheguei à na California, aquele idiota me veio com piadinhas e insultos, perguntando se eu sou loira, o que insultou todas as garotas loiras do mundo, classificando-as como burras e... 

Talvez eu fosse de fato burra. Por ter jogado fora um relacionamento promissor entre fã e ídolo, uma história que começou como uma farsa por dinheiro e poderia ter terminado em um namoro, talvez até um casamento maravilhoso! Por que eu sou tão estúpida? Por que eu escolhi o cara errado, no lugar errado e na hora errada? Não era possível aquilo acontecer comigo, logo eu! Longe de casa, em um país que não é o meu, pessoas que não são como eu, que não usam a mesma moeda que eu e zombam da minha cara por dar ênfase em sílabas que eles não enfatizam. 

O que é que eu estou fazendo em Los Angeles? Quantos sinais eu vou precisar receber para finalmente me tocar que eu não estou no lugar certo? Quantos tombos eu terei de levar em passarelas para perceber que meu lugar é atrás das câmeras, sendo ignorada por celebridades e não o contrário? 

Quantos Davids beijando Megans serão necessários para eu entender que o meu lugar é no Canadá; não nos Estados Unidos?

Bastou um suspiro. Um piscar forte de olhos, um gemido sofrido. Bastou apenas isso para eu colocar o meu celular sobre o sofá, calçar os tênis que antes me incomodava nos calcanhares, mas já não eram mais importantes, levantar e caminhar a passos duros e decididos até a saída daquela casa. A Mansão Chabe, que nunca me pertenceu. 

E então eu saí. Andando pela rua, sabendo exatamente onde eu terminaria a caminhada. A casa tomada por janelas enormes, com o conversível branco estacionado à frente, como se fizesse parte da arquitetura.

Toquei a campainha. Não tinha mais volta.

Ele abriu a porta, vestindo um robe verde. Não aparentava ter acabado de sair do banho, o que me levou a imaginar que estivesse ocupado com alguém.

  — O que você está fazendo aqui, menina?

 — Eu... não tinha outro lugar para ir.

  — Ah, então quer dizer que na hora que a espinha explode é pra mim que você corre... — Andrew percebeu que eu estava realmente prestes a chorar, então me deu a passagem. — Entre, garota.

Ele indicou o sofá para que eu me sentasse, o que eu fiz. Passando a mão nervosamente pelos cabelos, ele se sentou ao meu lado e me fuzilou com o olhar.

  — O que houve?

  — Eu... Andrew, eu...

 — Ah, Juliet, diga logo. Eu estou ocupado.

O terceiro estágio consiste na Negociação: do ponto de vista técnico, é uma tentativa de fuga do acontecimento, de buscar alguma forma de sua decepção doer menos. A grosso modo, é uma forma de fugir do que está te incomodando.

  — Eu quero ir para casa.

— É só seguir a rua, querida. Você sabe onde fica.

— Não, Andrew. Eu quero voltar para o Canadá. Para a minha casa. 

Ele riu a princípio, achando que eu estava brincando. Quando viu que eu não o acompanhei na risada, fechou a cara.

  — Você não está falando sério, Juliet.  — Fiz que sim com a cabeça, deixando Andrew extremamente desconcertado — Você pode ao menos me dizer o motivo?

  — Eu... prefiro não dizer por enquanto, Andrew. Não sei se devo.— ele cerrou os olhos no momento exato que seu telefone tocou. Ele olhou para o número no identificador de chamadas e levantou os olhos para mim. — Se for o David ou Max, por favor, não diga que estou aqui. Por favor.

Ele cerrou os olhos para mim, entendendo que o problema era o relacionamento com algum deles. Ele provavelmente imaginou que eu estava me envolvendo com um dos dois e o outro ficou extremamente puto.

— Sim. — Andrew atendeu à ligação, me olhando sem mudar nada em sua expressão. — Ela está aqui. — droga.— Quer voltar para o Canadá. (...) Ok, eu digo (...) Certo. (...) Ok.— ele desligou o telefone e, olhando para mim, cruzou os braços. —  Era o Marc. Aquele idiota do seu colega de casa ligou para ele primeiro, ao invés de ligar para mim. Enfim, Marc te deu férias, Juliet.

— Férias?

— Isso, garota, férias! Você pode ir para sua casa, mas só até depois do natal. 

— Obrigada, Andrew. Eu vou o quanto antes, ok?

— Faça o que você quiser. Só... me deixe terminar meus afazeres!

Levantei as mãos, liberando Andrew para os seus tais afazeres. Ele subiu as escadas enquanto dizia que eu poderia comer algo antes de sair, mas eu não fiz isso. Preferi sair sem incomodar Andrew ainda mais, chamei um táxi e fui para o aeroporto. O próximo voo para o Canadá seria dentro de poucas horas, o que me obrigaria a dormir no aeroporto.

O quarto estágio da decepção é a Depressão: o momento antes da aceitação; é a hora do sofrimento doloroso e desgraçado, que te faz arrepender de todas as coisas feitas nos últimos tempos, te faz lembrar de cada palavra dita recentemente, cada conversa e cada maldito beijo que aquele desgraçado filho de uma...

Garoto idiota. Por que é que eu estou sofrendo por aquele imbecil?!

— Oi, querida. — minha mãe entrou no meu quarto, segurando um pacote de Cadbury Crunchie, meu doce favorito no mundo, fabricado e vendido apenas no Canadá. — Está melhor, filha?

Como havia desacostumado ao frio canadense, meu organismo resolveu que seria uma boa ideia eu além de tudo, contrair um resfriado.

— Estou sim, mãe. Só... — pausa para tossir — tossindo um pouco.

— Aqui. Como eu sei que não tem desse chocolate nos Estados Unidos, pode se divertir. Aquele garoto está ligando aqui há horas, aquele que te preparou a festa.

— Eu não quero falar com ele, mãe. Não quero falar com ninguém de Los Angeles.

Ela saiu do quarto, um tanto aborrecida. Claro, ela não estava esperando sequer uma ligação minha, muito menos uma aparição na porta de casa. 

Depois que comprei a passagem, não tive escolha além de esperar quatro horas no aeroporto. Dei uma volta pelo LAX, parei em uma lanchonete para comer um pouco, passei em uma livraria e comprei um exemplar de Harry Potter e o Cálice de Fogo, sentei em um dos sofás de descanso do aeroporto e fiquei lendo até poder embarcar e poder dormir no avião.

Como havia duas conexões pelo caminho, pude dormir bastante tempo durante a viagem. Desci do avião pouco depois das 10 da manhã e fui direto ao ponto de táxis, entrei em um carro e, quando percebi, estava tocando a campainha da minha casa. Minha mãe abriu a porta e primeiro perguntou o que eu estava fazendo ali, vestindo roupas tão inapropriadas para o inverno canadense. Depois, me abraçou com força, derrubando algumas lágrimas. Eu tive que lhe contar por que estava de volta ao Canadá, sem celular e sem malas, então ela me abraçou novamente, me mandou tomar um banho quente e deixou algumas roupas quentinhas sobre a minha cama.

Não era tão legal estar deitada na minha antiga cama, pois havia pôsteres do Asher espalhados por todos os cantos, inclusive no teto. E eu constantemente me lembrava dele e de como eu fui idiota.

  — Filha, ligação para você. — minha mãe entrou no meu quarto, segurando seu celular. Quando eu peguei o aparelho, vi Brandon na tela, com sua cara "desagradabilíssima". — Você disse que não queria falar com ninguém de Los Angeles. Ele está lá, mas não é de lá.

Revirando os olhos, olhei para o celular, de onde Brandon me encarava furiosamente.

— O que é que você está fazendo no Canadá, sua desgraçada?!

— Em primeiro lugar, você não me chama de desgraçada, não! Eu estou de férias! Marc me deixou vir. 

  — Eu tenho para mim que você está fugindo.

— Pois estou mesmo! Não quero mais olhar na cara daquele idiota do David Chabernaud.  

— Você está dizendo que saiu da California e largou seu celular aqui por causa daquela foto?! Juliet, eu quero tanto assar sua cara no forno, você nem imagina! Ele não está ficando com a Megan! Não tem nada a ver!

— Eu não quero saber, Brandon! Tchau!

Antes que ele pudesse falar mais alguma coisa eu desliguei. Não era possível que Brandon estivesse defendendo aquele idiota. Quando calcei as pantufas de coelhinho para devolver o celular da minha mãe, Brandon tentou ligar mais uma vez e recusei a chamada. Ele tentou de novo e eu recusei de novo. Então ele começou a enviar mensagens.

Brandon (Juliet): Jay, você precisa deixar esse seu orgulhozinho ridículo de lado, porque você fica cega com ele!

Brandon (Juliet): Não é possível que você sequer tenha procurado entender a origem da foto, como você sai de um país sem dizer a ninguém? (Andrew e Marc não contam, eles não dizem nada aos modelos)

Brandon (Juliet): Você precisa atender à chamada, Juliet. Atenda e você vai entender tudo, eu prometo.

Brandon não desistiria, então decidi ceder e aceitar à chamada. Mas não era ele quem estava lá.

  — Por que você fez isso? Sumiu desse jeito, ficamos todos preocupados, Juliet.

  — Não é da sua conta, David.

  — Eu estava ao lado do Brandon quando você disse que foi embora por minha causa. É da minha conta sim! Você pode por favor, me ouvir? Eu tenho um lado nesta história também.

Suspirei.

 — Tente se explicar.

  — Você e o Asher têm uma relação perante a mídia, certo?  — dei de ombros em resposta à sua pergunta retórica. — Então, eu e Megan fizemos o mesmo! Enquanto você e ele não terminam publicamente, eu estou afastando as suspeitas. As fãs do seu queridinho estão levantando hipóteses nos fóruns de que você o está traindo comigo. Você quer que isso saia dos fóruns e vá parar nos sites de fofocas? Porque se continuarmos dando mole, é o que vai acontecer!

  — E por que você não me disse nada, David? Como você quer que eu acredite no que está dizendo?

— Pensei que você confiasse em mim.

— Diante dos atuais acontecimentos, eu não confio nem mais em mim. De qualquer forma, eu não quero falar com você até eu voltar. 

— Você vai voltar, então? Pensei que tivesse se demitido.

— Eu estou de férias, apenas. Volto depois do natal e começo a procurar meu próprio apartamento.

— Você não acha que está indo longe demais? Por que fugir tanto assim de mim? Se eu já expliquei o que está acontecendo.

— Eu preciso mesmo responder? David, eu poderia ter começado uma relação com o Asher e troquei isso para ficar com um cara que não me conta nem o que está planejando! Você ia fazer o que depois que todos soubessem que eu e Ash terminamos? Continuar com Megan até a poeira baixar e eu ficaria esperando vocês terminarem? E se vocês começassem a se gostar?

— Sobre a parte de esperar, acho que eu sei como é. Afinal, estou esperando você e Asher terminarem há semanas. E você acha que eu não fico preocupado o tempo todo de esse cara resolver partir para cima de você, Juliet? Você o adora há anos e agora que convive com ele, o que garante que eu não serei despachado?  

— Você é um idiota, David.

— Por estar dizendo a verdade? Eu sou, um grande idiota. Por gostar de você e te deixar brincar de fantoche comigo. 

  — Você está invertendo as coisas! Se tivesse me dito que tinha um plano para fugir da mira das fãs do Asher, eu apoiaria, mas por que diabos você não me contou? Toda essa discussão gira em torno disso! Bastava você ter me avisado! 

— Como, se quando eu cheguei em casa para contar eu encontrei Max totalmente bêbado, dizendo que você havia desaparecido?! E quando eu liguei para o Marc, ele disse que não fazia ideia de onde você estava, que descobriria e não me disse nada, então eu liguei para aquele inútil do Andrew e ele disse que nem sabia quem era você! 

— Eu estava na casa dele quando você falou com Marc. Marc ligou para ele, perguntando onde eu estava. Eu pedi que Andrew não dissesse a ninguém além do Marc que eu estava lá, então fui ao aeroporto e vim para a minha casa. Você tinha razão quando disse que eu não sirvo para a fama, David. Eu não sirvo para esses joguinhos idiotas, ficar brincando de gato e rato com os paparazzi não é algo que eu nasci para fazer. Por isso eu vim para o Canadá. Para sentir o gosto de uma vida de verdade novamente. Eu sinto falta de ser ninguém, de ter trinta seguidores no Instagram. Eu queria ser eu outra vez, por isso vim para cá.

  — Você não pode fugir, Juliet. Ou vai provar àquele David imbecil do passado que o que ele disse para te ferir era verdade. 

— E quem disse que aquele David ficou no passado? 

— Juliet, o que foi que te deu? Por que você está me tratando desse jeito?!

— Eu não sei! Eu só não estou afim de continuar com essa conversa.

— Ok, então... Me desculpe. 

Ele encerrou a chamada. E eu acho que encerrei toda e qualquer relação que eu tinha com ele.

Mas que droga eu fui fazer?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "L.A it down" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.