“I see skyes of blue and clouds of white,

the bright blessed day…”

Enquanto se preparava para mais um dia em Hogwarts, Severus Snape cantarolava a velha música trouxa sem sequer notar que o fazia. Anos atrás, quando ainda era uma criança, Lily a mostrara a ele, que ainda podia se lembrar perfeitamente das tardes que passava com ela deitado na grama, apreciando o céu azul do verão e ouvindo-a cantar; tinham sido os melhores momentos de sua infância.

Durante uma boa parte de sua vida, não houve sentido em cantar aquilo; não era possível ver tanta beleza no mundo, porque, para ele, ela não existia. No entanto, a memória da voz de Lily cantando passou a ser uma das pequenas fagulhas de felicidade em seu coração e aqueceu a alma daquele nobre homem nos períodos mais negros de sua existência - a canção tinha algo de muito especial para ele. Agora que a Guerra e todo o sofrimento que a acompanhara haviam se acabado, era quase um hino à sua liberdade e à possibilidade de recomeço que lhe fora dada.

Após olhar uma última vez para sua cama vazia e refeita, Severus virou as costas para seu quarto, se dirigiu à porta e caminhou até o salão principal. O castelo estava vazio naqueles dias de fim de verão, e o silêncio era acolhedor e muito bem-vindo. Minerva McGonagall, sucessora de Albus Dumbleodore na direção da escola, e os outros professores já estavam à mesa e o saudaram, animados. Ainda era surpreendente para ele ser bem tratado e recebido no meio deles, especialmente após o seu curto período como diretor; embora não por sua vontade, aqueles tinham sido tempos tenebrosos para Hogwarts e seus habitantes. Entretanto, ao que parecia, tudo aquilo havia sido se não esquecido, perdoado, após a exposição de suas memórias, em que sua conduta fora esclarecida. Severus passou a ser tratado como um herói e como um amigo.

Tudo isso tornava a atmosfera incrivelmente mais leve na escola, permitindo que até mesmo o tão temido mestre de Poções ensaiasse alguns tímidos sorrisos. A vida após a Guerra trazia um horizonte tão novo, tão mais colorido, que Severus sentia sua personalidade ligeiramente modificada - e para melhor. Não havia mais a pressão de ser um espião duplo, não havia mais tensão, nem medo e tudo isso fazia dele um homem muito mais tranquilo e, por isso mesmo, mais agradável. Ele acreditava que sua vida seria a de um pacato professor nos meses de aula, de um pesquisador e viajante solitário nas férias e nada mais. Entretanto, a carta recebida por Severus naquele café da manhã pré início de aulas deu ao nosso herói muito mais em que pensar e, com certeza, bagunçou a recém estabelecida calma de sua vida.

“Caro Severus,

Estive acompanhando sua recuperação e me mantive bastante bem inteirado de seu estado de saúde por um bom tempo, no entanto, tive de me ausentar no último mês e, infelizmente, fiquei praticamente sem notícias. Você passa bem? Espero que sim! Sei que aí em Hogwarts você está sendo muito bem assistido, entretanto, se houver alguma coisa ao meu alcance, não deixe de me informar; eu farei com prazer.

P.s.: Esta carta pode parecer estranha por causa do nosso histórico de convivência, mas decidi enviá-la porque espero sinceramente que as coisas melhorem entre nós, agora que tudo o mais está tão diferente.

P.s.²: Espero que não se incomode por eu usar seu primeiro nome.

Atenciosamente,

Harry James Potter.”

Continua…