Psycho escrita por Elina Wonder


Capítulo 8
Capítulo 8 - " Vá embora. "




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O sinal tocara, estridente como sempre, anunciando o início de mais um dia de aulas. Alunos nos corredores conversavam, se divertiam, alguns jogavam em seus aparelhos celulares, e outros escutavam música. Era como se o sol raiasse reluzente para cada um deles, animando seus semblantes, acalmando suas mentes, e jogando fora todo e qualquer problema ou receio. Porém, como todos sabem, o sol nem sempre brilha para todas as pessoas.

Em meio a aquele límpido céu mental, composto de várias pessoas, uma nuvem cinza passava sozinha pelo corredor principal, procurando por seu armário. Por mais que não quisesse chamar a atenção, sempre alguns olhares acabavam se voltando para ele.

Quando se diz que não queria chamar a atenção, não é nada além da verdade. Detestava se sentir observado, era algo estranho, ruim, e na situação em que se encontrava, passara a odiar a sensação de ser observado.

As manchas avermelhadas do rosto haviam diminuído bastante, mas em compensação, seu olho direito estava roxo, e tinha três cortes em seu rosto, um acima da sobrancelha direita, outro em seu queixo, e um em seu lábio inferior, que ardia levemente.

Ele fizera o máximo para esconder os hematomas. Ao arrumar seu cabelo pela manhã, tentou o ajeitar de modo que cobrisse a sua testa, mas, ao ver que ia ficar demasiadamente estranho, até mesmo para o padrão dele, que já era suficientemente estranho para o resto do mundo, apenas fez uma franja para a direita, que felizmente cobriu o corte acima da sobrancelha, porém, não chegava ao olho. Caminhava cabisbaixo, mas não porque se sentia triste ou algo do tipo, era apenas para esconder o rosto, com auxílio do cabelo e do casaco que usava, que continha um capuz, que, a propósito, estava cobrindo a cabeça do garoto.

Por mais que estivesse se escondendo, e que todos que tentassem olhar seu rosto não conseguissem ver algo com clareza, sentia-se como se estivesse nú sendo exibido em um programa ao vivo internacional.

Passara as aulas na última carteira da fileira mais a esquerda, com a cabeça baixa, ora tentando tirar um cochilo - tarefa em que não fora bem sucedido - ou rabiscando no caderno ao invés de copiar a matéria. E, para seu incômodo, se sentia sendo observado.

"Oh merda...Ninguém tem mais nada pra fazer aqui ?" pensou, mordendo o lábio inferior sem pensar, e se arrependendo da ação logo em seguida, ao sentir o ferimento no mesmo arder novamente.

Mal sabia ele, que os olhares que eram dirigidos a ele na sala de aula, nem sempre pertenciam a alguém "desconhecido", e meramente preocupado por sua reputação estranha. Um certo olhar castanho e curioso acabara indo de encontro a figura curvada na carteira algumas vezes, apenas aumentando de vez a curiosidade.

Assim que o sinal tocou, alertando o intervalo, Lince se levantou rapidamente e foi em direção a saída da sala, acompanhado pelo caderno em que desenhava e pelo lápis que usava para tal ação. Achava que o último desenho ficara muito bom para interrompê-lo e possivelmente ignorá-lo e esquecê-lo depois.

E então, caminhou novamente cabisbaixo pelo corredor em passos rápidos, algumas vezes puxando o capuz mais para baixo, pois continuava com a terrível sensação de estar sendo observado. Para onde iria ? Simples, para o seu talvez único esconderijo na escola. A seção escondida da biblioteca. Adentrou a mesma, ignorando o olhar reprovador que a bibliotecária o direcionou. Para a sua felicidade, as pessoas que estavam naquele lugar, se encontravam entretidas o bastante em seus livros para direcionar o olhar para a estranha figura.

Passou pelas estantes com a mesma velocidade, e, ao encontrar o seu cantinho ao lado dos livros empoeirados e rasgados, suspirou, abrindo um leve sorriso. Mas se arrependeu da ação, já que seu lábio inferior ardeu novamente. Bufou, e seguiu para a mesa redonda e bamba, se jogando na cadeira de cor igual a mesa, e finalmente retirou o capuz, já estava um tanto cansado de o usar o tempo todo.

Colocou o caderno em cima da mesa e pôs-se a continuar o desenho.

O mesmo estava quase terminado quando ouviu um ranger. Desviou o olhar do desenho, e conseguiu ver uma sombra no chão. Alguém o espionava. Imediatamente recolocou o capuz sobre a cabeça, e, se curvando novamente, voltou a desenhar.

–Allen ? -Escutou a voz já familiar o chamar pelo seu sobrenome. Que certamente já fora falado mais por ela do que por ele, segundo sua percepção.

Ele ignorou o chamado, sabia que ela iria ficar o enchendo, provavelmente em uma nova tentativa de o convencer a socializar.

" E então, quando eu finalmente converso com alguém, sou espancado. " pensou, sentindo uma faísca crepitar em seu peito.

Não demorou mais do que dois minutos para a garota finalmente aparecer por trás da estante, os olhos castanhos fixados na figura curvada que tentava ao máximo não ser notada. Porém, para uma certa surpresa do garoto, a jovem não começou a falar. Apenas o observou, fazendo Lince se sentir como se estivesse nu novamente.

Após alguns momentos de silêncio, ela finalmente saiu de trás da estante por completo, dando um passo receoso em direção ao garoto.

–Você está bem ? -Perguntou, com a preocupação escancarada na voz.

Lince apenas ignorou, novamente. E ela se aproximou mais um pouco. Queria compreender o motivo do rapaz estar assim. Anteontem ele parecera tão aberto, tão...Diferente. E agora simplesmente se isolava do mundo. Realmente não fazia sentido algum para a garota. E se fizesse, queria tirá-lo daquela situação deplorável.

Se sentou na cadeira de frente para o garoto, apoiando suas mãos na mesa. Lince enrijeceu a mão que desenhava, e acabara cometendo um erro no desenho que até agora estava tão perfeito, na sua concepção.

Virou o rosto, na direção contrária a da garota.

–Lince...Me fala o que houve, eu quero ajudar. -Delancey tentou mais uma vez. Sentia que não seria inútil estas tentativas. Se conseguira o abrir uma vez, conseguiria outra.

–Vá embora. -Lince disse, ainda sem olhar para a garota.

–Olha...Se isolar só piora tudo. Eu não sei o que aconteceu com você, mas eu quero entender. -Disse a garota, enquanto se levantava lentamente. -Me deixa te ajudar.

–Se quer me ajudar, vá embora. -Disse ainda sem olhar para a garota, dando ênfase as duas últimas palavras.

Mas isso não abalou a menina nem um pouco. Muito pelo contrário, só serviu para que ela se aproximasse mais do garoto.

–Olha pra mim, pelo menos. -Pediu.

E foi ignorada.

–Lince.

" Ela me chamou pelo meu nome duas vezes. Okay, isso é incomum. " ironizou.

E foi pego de surpresa, quando seu capuz fora puxado para trás, revelando o que ele mais queria esconder. Olhou surpreso para a garota, e sentiu uma leve faísca voltando a crepitar dentro de si, anunciando que a raiva estava nascendo. A garota estava boquiaberta. Em seu peito reinava um susto, porque não esperava o ver machucado, pena, porque ele estava tentando se esconder, um pouco de culpa, porque sentira que fora longe demais desta vez, e, como sempre, a curiosidade habitual.

–Quem...Fez isso com você ? -Perguntou, aproximando sua mão direita do rosto do rapaz, com certo receio.

Ele franziu as sobrancelhas, e simplesmente virou a cabeça para o caderno, o rosto sério. Sentia raiva da garota, ainda que soubesse que ela estava tentando ajudar, e não tivesse a mínima ideia de que fora ela quem causara isso.

–Lince...-Ela tentou falar, mas não tinha certeza do que iria dizer a seguir. O garoto provavelmente não iria mais falar nada com ela.

Ele recolocou o capuz, e se debruçou na mesa, ignorando a garota, que ainda o encarava com um misto de pena e preocupação.

" Ugh...Me ferra, me faz errar a droga do desenho...Ela deve ser algum tipo de maldição. " pensou, ainda debruçado.

–Me...me desculpa. -A garota pediu, em voz baixa.

Lince se levantou e agarrou se caderno e o lápis. Já ia passar pela garota, quando novamente passos foram ouvidos, e, quase que de imediato, uma loira apareceu por trás da estante. Lince a reconheceu de cara, no primeiro dia de aula, a mesma estava junto de Delancey.

–Lancey ! Então você...-A loira começou ao ver a amiga, porém parou bruscamente ao ver o rosto do rapaz, que não estava cabisbaixo.

Delancey imediatamente se prostrou na frente de Lince, ao perceber o olhar da amiga.

–Liv ! estava me procurando ? -Abriu um sorriso de certa forma falso para a colega, começando a andar em sua direção.

–É...-Respondeu a loira, e Lince apenas virou os olhos, ao ver que ela ainda o olhava. -Teve uma confusão com a papelada lá do grêmio. -Continuou, finalmente voltando o olhar para a morena.

–Okay. -Assentiu Delancey. -Vamos lá então.

E assim, rápida, e de uma maneira quase que desesperada, Delancey puxou a amiga para fora do lugar.

Lince apenas suspirou.

" Perfeito...Vou virar motivo de fofoca agora. "


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Notas finais do capítulo

E agora, será que fofocas virão ?
Não sei vocês mas eu achei a cena da biblioteca muito fofa. (^~^)



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