– Então, Jessica. Nós estamos numa situação complicada - Cami foi direta.

– Antes que você diga qualquer coisa, eu queria falar que sinto muito por hoje mais cedo.

– Ah, aquilo? Tudo bem, não estamos aqui por causa disso.

– Não?!

–É, mais ou menos. Por favor. - ela indicou a cadeira na sua frente.

Fiquei confusa, mas só sentei, Beth me acompanhou só que na ponta da mesa.

–Como você deve ter percebido esse festival acabou se tornando uma confusão para nós, pois algumas bandas saíram inclusive as que você veio trabalhar.

Ai não. Engoli seco esperando o pior.

–Sinceramente, eu que peço desculpas em nome da empresa por colocá-la nessa situação. Mas como você foi bem indicada, a colocamos como minha assistente enquanto os outros artistas não chagam, pois nós achamos que você pode lidar com eles. Isso se você concordar, é claro.

– Espera aí, deixa eu ver se eu entendi. Vou trabalhar na produção do festival depois.

– Exatamente, na configuração dos shows, ensaios, etc.

– Enquanto isso não acontece posso ser assistente da dona de uma das maiores produtoras da California. Nossa, tenho que pensar. Só que não, lógico que topo.

Vi Cami sorrindo pela primeira vez. Ela e Beth se entreolharam.

– Ótimo- Beth falou.-Fiz as modificações no seu contrato, assim fica tudo esclarecido e podemos assinar. Além do mais, você já conheceu o Nick, que está confirmado no festival. Você pode ir trabalhando com o pessoal dele também.

– Ah, legal.- não pude deixar de ficar um pouquinho mais feliz por isso.

–Seja bem-vinda, Jess. Se é que podemos chamá-la assim. - ela me deu um sorriso caloroso.

– Podem sim.

Eu ainda estava me sentindo aliviada quando cheguei em casa. Quer dizer no quarto do hotel. Eu ainda não tinha me acostumado em voltar para qualquer lugar sem ser a casa da minha família no subúrbio de Dallas.

Melody se ofereceu para me levar para o hotel no fim do nosso turno, mas ela parecia mais um zumbi então pedi que apenas indicasse o caminho. Foi fácil, pois fica na mesma rua. Fiquei agradecida, assim não teria que acordar muito cedo nem enfrentar trânsito como em New York. Fiquei mais ainda quando o vi o quão bonitinha era a minha suíte, com direito a um espaço tipo sala incluindo sofá e TV.

Não olhei tudo, pois estava bem acabada. Me obriguei a ir para debaixo do chuveiro, sem esquecer de botar música no alto-falante do meu celular antes. O som de Pink Floyd e a água quente me fizeram melhorar. Mesmo assim, quando terminei eu só queria me enrolar nos lençóis da cama e continuar ouvir eles no fone até pegar no sono. E foi isso que fiz.

Abri os olhos me sentindo mais cansada do que quando deitei. Fragmentos do meu sonho que envolvia um certo meio sorriso ainda estavam na minha cabeça me dando vontade de voltar a dormir, mas assim que olhei para o relógio no criado-mudo, reprimi um palavrão e levantei o mais depressa que pude. Eu só tinha uns quinze minutos para chegar a produtora.

Vesti a primeira roupa que vi na mala uma calça preta e uma blusa branca social, fiz um rabo de cabelo no meu longo cabelo negro e saí planejando passar na cafeteria para pegar algo para comer se desse tempo. Bastou alguns passos fora do prédio para eu avistar uma penca de gente no estabelecimento e desistir. Só parei para respirar quando eu já estava no andar da produtora.

–Bom dia!- Mel exclamou num estado de espírito claramente contrário ao meu.

– Bom dia – até minha voz estava horrível.

Quando ela me passou um copo de café quase me emocionei.

–Imaginei que precisasse.

–Obrigada mesmo.

–Infelizmente, não foi por uma boa causa- ela mordeu os lábios- já temos um problema para resolver.

– Ai, não.