Sons of Theolen escrita por Live Gabriela


Capítulo 8
Dorothy - A Partida




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Dorothy olhou para o céu que recém clareava com o amanhecer do sol e fechou o pequeno portão de ferro com adornos se virando para trás em seguida. Viu seus pais acenando para ela da frente da casa de madeira escura e alvenaria, logo abaixo da placa com a cabeça de um leão entalhada.

Sua mãe não contia as lágrimas e seu pai não contia o orgulho. Para os dois, era difícil ver seu pequeno e feroz "leãozinho de juba negra" crescer e finalmente partir de casa, mas diferente de Martha que apenas temia que sua filha se machucasse no caminho, Mark acreditava que aquilo era uma grande oportunidade para a filha, que ele cria com todas as forças que era a Escolhida dos deuses assim como seu irmão.

Dorothy deu uma ultima olhada na grande casa dos Leon memorizando cada aspecto para quando sentisse saudades e se despediu sorrindo dos pais que tanto amava. Ela então se virou e começou a caminhar em direção ao castelo de Theolen para informar sua partida ao rei.

A jovem levava consigo uma mochila nas costas com algumas mudas de roupas e mantimentos. No corpo vestia uma cota de malha prateada com um peitoral e ombreiras que faziam par com a braçadeira que ia no braço direito. Uma proteção de metal cobria parte de suas coxas sobre a calça escura e uma bota com proteção de couro endurecido para as canela se erguia até o joelho. O escudo de metal com um leão desenhado ia encaixado no suporte das costas, sobre a mochila, o arco curto era levado no ombro e a espada na cintura ao lado de uma adaga. 

Enquanto andava pelas ruas da grande capital, ela começou a imaginar o que encontraria em sua viagem. Não fazia a menor ideia de como era o reino Thorrun e se haveriam pessoas ou criaturas por lá, então limitou-se em pensar que talvez encontrasse animais como lobos e ursos-coruja até considerar que para se o Steve está com dificuldades em voltar para casa e completar sua missão talvez houvesse algo bem problemático naquelas terras. "Talvez um dragão?" pensou imaginando se conseguiria ajudar seu tio a derrotar uma besta como esta.

Depois da longa caminhada por entre as ruas vazias da zona residencial na parte noroeste de Theolen, onde ela morava, Dorothy finalmente começou a avistar o castelo que se localizava um pouco mais ao sul, na parte mais central da cidade. Ela adentrou os enormes portões dourados e passou pelo grande e belo jardim, coberto de grama e flores coloridas. Passando tranquilamente pelos guardas, ela percorreu os corredores praticamente inóspitos do castelo, não fosse, é claro, os serviçais e guardas em serviço, então chegou até a porta do escritório do rei, que aquele momento já havia sido avisado da presença da garota por via de seus funcionários. Ela bateu na porta.

— Entre Leon – disse Hammel, e assim Dorothy o fez.

— Majestade – disse ela fazendo reverência e fechando a porta atrás de si.

— Imagino que esteja de partida - ele ergueu o olhar para ela, recostando-se na cadeira acolchoada.

— Sim, majestade. Apenas vim lhe informar isso como pediu - confirmou assentindo com a cabeça e as mãos para trás das costas.

— Vai sozinha? - perguntou o rei pegando uma xícara na mesa de carvalho e sorvendo da bebida quente que continha nela.

— Por enquanto sim. Chamei algumas pessoas e marquei como o ponto de partida o portão norte da cidade, minha ultima esperança é encontrar alguém por lá para me acompanhar - ela entornou levemente a boca mostrando-se preocupada com a falta de uma equipe.

— Entendo. Bom, mandarei meus homens para esse portão assim que deixar o castelo. Aguarde até que eles cheguem para seguir adiante com sua primeira grande viagem, pois ao menos terá um curandeiro e um pajem para lhe acompanhar.

— Sim senhor, muito obrigada – baixou a cabeça em gratidão.

Dorothy olhou o carpete vermelho que cobria a sala e observou as listras cinzas que formavam a estampa do tapete e então subitamente a garota se lembrou do robe do mago do castelo e das palavras que ele havia lhe dito alguns dias atrás: "O que posso lhe dizer é que seria uma boa escolha sair pela porta da esquerda, quando você for falar novamente com o rei em seu escritório, no dia em que for sair para sua primeira grande viagem". A garota então se virou e observou a porta de madeira marrom à sua esquerda, fitando-a enquanto decidia se deveria abri-la.

— O que a incomoda, senhorita Leon? – perguntou o rei fazendo Dorothy voltar sua atenção para ele.

— Eu-eu... - o fitou nervosa, observando o manto azul escuro que ele vestia sobre a túnica branca com detalhes dourados.

Ela pouco havia falado com o rei Hammel e não sabia se era a melhor escolha pedir à ele permissão para entrar em uma sala dentro de seu escritório, afinal não saberia como ele reagiria a isso. Dorothy não conseguia decifrar o que passava na cabeça dele, mesmo ela sendo muito boa interpretando as expressões e gestos das pessoas.

Hammel era muito diferente do falecido rei, Ryan Campbell, o qual ela conhecera ainda quando criança e possuía, na época, pouco mais de intimidade por ele ser amigo da família Leon. Com o regicida ela já não sentia-se tão à vontade, pois no lugar de uma expressão relaxada e amigável, que o rei Campbell tinha, ele usava uma expressão austera e crítica, às vezes até mesmo intimidadora. E ao invés de usar a coroa e ficar na sala do trono recebendo as pessoas abertamente, ele mantinha-se reservado em seu escritório, com a coroa sobre um suporte perto da mesa. Era um homem muito misterioso para ela, ainda assim, ela tinha de arriscar, afinal o mago do castelo não teria lhe dado um conselho à toa.

— Eu acredito que eu deveria entrar ali, com seu consentimento, majestade – disse a garota um tanto nervosa.

— Acredita? –  ele enfatizou a palavra analisando a jovem com os olhos negros que possuía –Muito curioso... Pois bem, prossiga.

Dorothy assentiu com a cabeça e foi em direção à porta, que revelou guardar o pequeno depósito particular do rei, cheio dos mais variados objetos. Ela adentrou o cômodo não muito grande e observou tudo à sua volta, tendo sua atenção chama por um objeto com um brilho estranho, que a atraia de uma forma sobrenatural. Após alguns breves momentos lá dentro a paladina retornou ao escritório real com uma pequena caixa de madeira em mãos, muito parecida com um baú de joias ou uma caixinha de músicas.

— Escolha interessante – disse Hammel se inclinando levemente para frente.

— O que é isso? – perguntou curiosa observando o pequeno baú.

— Uma simples caixa de madeira – respondeu o rei.

— Eu a senti me chamando, mas está trancada. – Ela pontuou. – O que há dentro?

— Não posso lhe dizer – ele disse entrelaçando os dedos sobre a papelada que antes tinha sua atenção.

— Por que não? – ela franziu o cenho.

— Se eu disser, ela provavelmente se abrirá. Você deve descobrir como ela funciona sozinha. Agora, você deve ir. Leve-a com você e tenha uma boa viagem, senhorita Leon – disse tirando os olhos da moça e voltando-se para seus afazeres reais.

— Obrigada, majestade – ela respondeu um pouco confusa, fazendo uma pequena reverência e saindo da sala em seguida.

Dorothy observou a pequena caixa em suas mãos e apesar de sua curiosidade sobre o que havia dentro dela, apenas a guardou em sua mochila e seguiu para fora do castelo, pois seus pensamentos estavam agora na equipe que ela não conhecia. 

Ela havia passado os últimos dois dias procurando pessoas para a acompanhar em sua viagem ao norte. Duas ou três mostraram algum interesse, mas a maioria não queria se arriscar por aquelas terras devido aos rumores de lá, e mesmo com a ajuda de Arlindo convencendo mercenários ela não achava que fossem aparecer, ao menos não com apenas uma promessa de riquezas e sem garantia alguma disso. Naquele momento, Dorothy apenas torcia para que alguém estivesse no portão da cidade quando ela chegasse, do contrário teria de ir apenas com os homens que Hammel enviasse, que provavelmente não seriam combatentes como ela. 

A garota suspirou e olhou para o céu claro com algumas nuvens ralas e então olhou para o pulso direito, vendo uma bela pulseira de ferro dourada com algumas linhas de metal prateado mais finas a decorando com adornos curvos e circulares. "Não se preocupe Steve, mesmo que eu tiver que ir atrás de você sozinha eu o encontrarei." pensou determinada, observando o bracelete que seu tio havia lhe dado anos atrás como presente de aniversário quando ele voltou de uma missão no reino dos elfos, Far'En.

Distraída com a saudade de seu mestre e com as preocupações de sua empreitada à Thorrun, Dorothy mal notou quando se aproximou da entrada norte da cidade. Mesmo tendo caminhado por um bom tempo até chegar lá, apenas reparou o grande portão de madeira e ferro quando sentiu o calor do sol, que aquecia sua pele, sumir enquanto ela era coberta pela sombra da enorme muralha de Theolen. 

O vento gelado balançou seus longos cabelos ondulados enquanto ela observava a saída da capital com o coração acelerado. Viu os guardas à postos no portão e olhou para cima, tentando enxergar aquele que ficavam sob o muro, mas o brilho do sol a impediu de encontrá-los. Foi então que ouviu um "bom dia" atrás de si.

Com o susto, Dorothy se virou rapidamente na esperança de encontrar algum guerreiro, patrulheiro ou mesmo mercenário disposto à segui-la para o reino caído do anões, mas ao invés de encontrar alguém mais velho e experiente para esta jornada, ela viu um garoto. O mesmo que ela havia salvado na Cidade Baixa há três dias.

  — Charly? – ela perguntou sem saber o que achar da presença do jovem ali.

  — Olá – Ele sorriu esperançoso. –  Nossa, você lembra do meu nome.

  — Claro que sim, quero dizer, aquele foi um dia e tanto para se esquecer – ela disse de forma simpática –  Mas... O que está fazendo aqui? – perguntou já tendo uma ideia da resposta.

  — Eu quero ir para Thorrun com você – afirmou segurando as alças da mochila que tinha nas costas.

Dorothy olhou para o garoto e reparou que ele trazia consigo sua espada quebrada presa ao cinto, mas sem bainha, e um tipo de armadura de couro leve que vestia por cima da roupa e protegia seu tronco, ombros e parte das coxas. Ele definitivamente parecia pronto e decidido à ir com ela.

— Você tem certeza de que quer ir? – Ela perguntou preocupada. – Thorrun não é um lugar fácil e a viagem pode ser muito longa e perigosa.

— Sim, eu tenho certeza – respondeu ele de prontidão – Você deve achar que eu sou um inútil, como todo mundo acha, mas eu vou provar que te posso ajudar e lutar. É só me dar uma chance.

— Eu não acho que seja inútil Charly, só estou preocupada com a sua segurança – justificou.

— Bom então você é a única que pensa assim... Mas não importa, eu to aqui. E eu vou com você! – falou determinado. 

— Está bem, não vou recusar ajuda. Estou precisando – ela sorriu considerando que talvez o garoto de fato a ajudasse e que talvez ele esteja mais seguro ao seu lado do que puxando briga com desconhecidos com o dobro de seu tamanho.

— Mais alguém vai com a gente?– perguntou o adolescente.

— Eu esperava que mais pessoas aparecessem por aqui. Não viu ninguém que parece estar de saída da cidade?

Charly fez que não com a cabeça e Dorothy soltou um suspiro enquanto procurava com os olhos alguma das pessoas com quem havia falado. Não encontrou ninguém familiar, o que a deixou um tanto apreensiva, mas não ao ponto de desistir da viagem. Ela teria de partir naquele dia. Não iria arriscar perder mais tempo, afinal Steve poderia estar precisando dela naquele momento.

— Bom, o rei enviará dois homens para irem conosco – disse ela tentando parece menos preocupada – E teremos uma escolta até os limites do reino.    

— Aquela ali? – perguntou Charly apontando para trás dela.

Dorothy se virou e viu três cavalos marrons e um pônei ocre vindo em sua direção. Arlindo estava montado em dos animais maiores e Nipples no menor. Atrás deles, num cavalo negro com as patas peludas, um cavaleiro vestido com uma armadura completa de metal preto se aproximava com o rosto escondido no elmo fechado.

A comitiva se aproximou e sem perder tempo, o clérigo de Obad-Hai foi até jovem Leon. Ele desceu do cavalo com os vento balançando seus fios louros e curvou-se beijando a mão da garota, como se fosse um príncipe encantado encontrado em livros de histórias de romance.

— Bom dia, bela senhorita. Você está radiante esta manhã... – ele flertou com o sorriso brilhante.

Dorothy corou levemente com o elogio e todo o tratamento que recebera, mas logo fez uma careta, sentindo o cheiro de álcool vindo da boca do homem.

— Bom dia. – Ela respondeu com um sorriso forçado, lembrando-se da reputação de Arlindo.

— Espero que esteja pronta para partir, pois trago comigo sua escolta e claro, eu! Que a protegerei dos mais terríveis males do norte! – continuou ele gesticulando um dos braços para cima e o descendo lentamente em um movimento dramático.

— Me proteger? – Dorothy ergueu uma das sobrancelhas um tanto descrente.

— Mas é claro! Enfrentarei todas as criaturas malignas daquelas terras por você. – Ele sorriu.

— Claro– ela disse irônica – Não é muito cedo para você já estar bêbado a este ponto? – perguntou desgostosa da bebedeira do clérigo.

— Mas eu não estou bêbado– ele afirmou– Só tomei uma garrafa de cerveja essa manhã para homenagear Obad-Hai. É preciso mais umas cinco dessas para me deixar alterado.

— Eu sabia... E ainda não são nem seis horas – afirmou ela um tanto chocada, afinal somente às seis o sol ficava à pino.

— Ora! Sr. Arlindo, por favor, recomponha-se! – pediu Nipples educadamente enquanto se aproximava com seu pônei. – Minha senhora, bom dia!

— Olá Nipples.

— Aqui está sua escolta, minha senhora, o rei disponibilizou esses cavalos para sua equipe. Também pediu para lhe informar que além do senhor Arlindo, eu irei com você, pois a senhorita necessitaria de um pajem e um clérigo em sua missão.

— Então você vai comigo? – perguntou ela com um sorriso no rosto já afeiçoada ao serviçal.

— E eu também! Não é algo maravilhoso?! – se intrometeu Arlindo.

— Você nem está em condições de cavalgar – disse Dorothy cruzando os braços.

Ainda que o clérigo a tivesse ajudado a procurar pessoas para a incursão à Thorrun, ele ainda era um beberrão galanteador e ela temia que seu jeito despreocupado atrapalhasse a busca por Steve.

— Mas é claro que estou! – ele afirmou.

— Hum... Eu não sei – falou desconfiada.

— O rei insistiu – disse.

— De fato, Vossa Majestade realmente designou o Sr. Arlindo – respondeu Nipples, que claramente não estava contente com isso.

— Está bem – Ela concordou por fim. Ainda que não fossem as pessoas ideais, ela estava feliz de ter conhecidos viajando consigo.

— E aquele cara? Ele vai com a gente? – perguntou Charly apontando para o Cavaleiro Negro.

— Oh, não, meu senhor. Ele só está aqui para fazer nossa escolta e trazer os cavalos de volta a Theolen quando chegarmos até a Floresta – informou Nipples.

— Ah... Então somos só nós quatro? – perguntou o garoto um tanto preocupado.

— Não – eles ouviram uma voz grossa e ríspida dizer.

Solomon se aproximou do grupo enquanto todos o encaravam, fosse com medo ou desconfiança. Ele olhou bravo na direção de Charly e em seguida andou até Dorothy.

— O que você quer aqui? – perguntou ela franzindo o cenho e levando a mão até a o cabo da espada.

— Eu vou com vocês pro Norte – respondeu o guerreiro olhando brevemente para os outros ali presentes.

— Como é? – perguntou surpresa enquanto Arlindo se aproximava dos dois já notando um conflito em potencial.

— Eu vou junto – enfatizou o guerreiro com um tom rude – Ouvi dizer que lá tem dinheiro, não tem? Estou indo pra isso.

— E o que te faz pensar que eu deixa—

— Só um minutinho – Arlindo interrompeu Dorothy, mostrando o indicador para Solomon enquanto a puxava de canto.

— O que foi? – perguntou ela.

— Ele tem que vir com a gente – cochichou o clérigo.

— Você está maluco? Esqueceu-se do que ele fez com Charly e comigo? Ele não é confiável! – sussurrava a garota.

— Não, não. Eu não esqueci. Eu sei que ele-- Ah... O ponto não é esse – disse ainda em tom mais baixo – Aquela cara ali, aquela montanha de músculos ambulante está vindo por vontade própria com a gente. Não deveríamos recusar uma oportunidade como essa.

— Você está bêbado! Não sabe do que está falando! – exclamou a garota negando com a cabeça.

— Eu já disse que não estou bêbado! – Ele bateu a mão na coxa –Escuta, eu sei que você não gosta dele, mas ele é a nossa melhor chance de sobreviver lá em cima. Pense por um instante, se seu tio, que é um dos Doze de Theolen está com problemas, nós com certeza precisamos de mais pessoas pra poder ajudar, não concorda? Ou você acha que o espadachim ali vai salvar o dia?! – disse se referindo à Charly e sua espada quebrada - Confia em mim, aquele cara vai abrir o caminho pra gente. Nós precisamos dele.

Dorothy ficou quieta por uns instantes. Olhando para aquelas pessoas, quem mais poderia se equiparar em força com o próprio Steve Leon seria Solomon e eles provavelmente precisariam dessa força extra.

— Ah... Está bem – ela concordou relutante.– Mas vou ficar de olho nele, ainda não confio naquele homem e ele já se mostrou perigoso antes.

— Não se preocupe, ele está indo pelo dinheiro. E se surgir algum problema eu converso com ele e resolvo, tá bom?

Dorothy concordou com a cabeça e Arlindo sorriu, indo até o guerreiro em seguida.

— Tudo certo então! Você quer dinheiro, nós vamos encontrar dinheiro lá pra você. Pode escolher um cavalo e bem-vindo ao time! – disse sorrindo enquanto esticava a mão para cumprimentá-lo - Aliás, meu nome é Arlindo.

— Solomon – respondeu apertando com força a mão do clérigo.

— Certo. Podemos ir então – disse Arlindo chacoalhando os dedos doloridos e sorrindo para Dorothy.

A paladina foi em direção ao um dos cavalos e o montou com facilidade. Passou a mão na crina do animal aproveitando a sensação de estar ali em cima. Ela adorava cavalgar e sonhava em ter seu próprio cavalo um dia, mas como os Leon haviam se mudado da casa do campo para a cidade há alguns anos não havia mais espaço para mais de um animal no terreno. Por isso a garota aproveitava para ajudar seu pai na entrega das encomendas de armas, armaduras e escudos, assim ela poderia desfrutar o passeio no Bigorna, o cavalo de Mark. 

Nipples olhou em volta e reparou na necessidade de mais montarias para a viagem. Logo ele se dispôs para ir ao estábulo mais próximo buscá-las. Em poucos instantes o serviçal voltou com um cavalo para Solomon e outro para Charly, assim eles seguiram viagem.

O Cavaleiro Negro guiava a equipe ao lado de Nipples, seguido deles cavalgava Charly, Dorothy e Arlindo; e isolado atrás de todos, Solomon. Eles avançaram por algum tempo em silêncio até Charly se aproximar do cavalo da jovem Leon e perguntar:

— Han... Dorothy – disse fazendo-a olhar em sua direção – Eu queria saber... Por que você tá indo pro norte? Você está atrás de dinheiro que nem o Solomon? – perguntou o garoto.

— Não – o respondeu – Eu estou indo porque acredito que meu tio esteja em perigo. Ele saiu em missão há algum tempo para aquelas terras e não voltou ainda.

— Ah... Então o seu tio luta que nem você?– perguntou e Dorothy deu uma leve risada, achando engraçado o garoto falar aquilo e supondo que ele não sabia que seu tio era o lendário Escolhido.

— Não, ele luta bem melhor do que eu. Talvez já tenha ouvido falar dele... Steve Leon – disse dando um sorriso de canto de rosto.

— Espera...–Charly arregalou os olhos castanhos totalmente surpreso ao ouvir aquele nome –  Você está brincando, não é?! – perguntou e Dorothy negou com a cabeça – Então você é uma Leon? – perguntou o jovem abismado.

— Sim – ela sorriu – Dorothy Leon, é meu nome.

— Uau... – Charly balbuciou impressionado, afinal ele conhecia a família por seu nome e seus heróis. Eram famosos em Theolen. – É sério? Seu tio é Steve Leon? Aquele dos Doze? O da espada? Que anda com o Xinomah Nailo?

— Ele mesmo – disse ela orgulhosa.

— E... E como ele é? Ele que te ensinou a lutar?

— Bom, o Steve é...–  Ela suspirou olhando para cima. –Ele é como um herói pra mim. Ele é carinhoso, atencioso e gentil. Sempre nos visitas quando pode. E sim, ele me ensinou tudo o que eu sei. Ele é incrível... É meu melhor amigo e minha grande inspiração – disse com um brilho no olhar.

— Nossa isso deve ser muito legal. Ele te ensinou a usar a Velha Bastarda? – perguntou entusiasmado se referindo a arma do paladino.

Dorothy olhou para Charly e viu seus olhos bruxulearem inquietos. O garoto nunca havia pensado que fosse conhecer alguém tão próximo à um dos Doze, e agora tinha a chance de saber tudo sobre um de seus grandes heróis.

— Ele até me ensinou – Dorothy continuou.   – e eu tentei usar uma espada-bastarda como ele, mas ela é muito grande e pesada, não sei como ele consegue usá-la em apenas em uma mão. Prefiro minha Espada Longa, consigo ser mais rápida e precisa com ela.

— Entendi... Mas o que mais ele te ensinou?

— Bom, ele me ajudou a aprimorar minhas habilidades, a ser mais precisa e principalmente a ser mais resistente.

— Como assim? – ele franziu o cenho.

— É... Aguentar mais as coisas, sabe? – ela girou o pulso –Na luta contra o Solomon eu só consegui ficar de pé porque Steve me ensinou a resistir melhor aos ferimentos.

— Como ele te ensinou isso? – perguntou o garoto confuso.

— Hum... Eu vou dar um exemplo. Você conhece o templo de Pélor que tem mais pra parte oeste da cidade? – perguntou e Charly fez que sim com a cabeça – Pois bem. Você já viu o sino da torre que eles usam?

O jovem olhou para cima tentando se lembrar e então visualizou o sino. Era feito de bronze, com entalhes dourados e um grande símbolo do sol, homenageando o deus Pélor. Tinha quase 2m de altura e parecia muito pesado.

— Bom, quando eles estavam reformando a torre, Steve achou que deveríamos ajudar os monges e clérigos levando os sinos, que haviam sido mandados para polir, de volta ao templo. Claro que ele também viu uma ótima oportunidade de testar minha força e resistência. Então propôs que eu arrastasse um dos sinos até o local, que era um tanto distante de onde ele havia sido deixado. Passei as primeiras duas horas daquele dia apenas tentando sair da rua da loja. Steve arrastou um sino ainda maior ao meu lado, ele ia sem dificuldades no caminho. No final consegui chegar ao templo pouco depois de anoitecer, foi uma das coisas mais difíceis que ele me pediu pra fazer, mas com certeza fez com que eu aguentasse o que quer que fosse por mais tempo.

— Isso parece bem difícil mesmo, aquele sino é enorme! – exclamou o garoto.

— Há! Devia ver o que ele levou para a catedral, tinha o dobro do tamanho!

— Uau... Que legal – falou olhando para baixo –Então você está indo encontrá-lo? Quero dizer, eu vou poder conhecê-lo?– se virou para a paladina.

— Vai sim – disse Dorothy sorrindo – Só espero que ele esteja bem, onde quer que ele esteja... – suspirou. - Não posso falhar com Steve, ele sempre esteve lá por mim, agora tenho que estar lá por ele...

Charly assentiu com a cabeça. Apesar da garota não saber, ele entendia o sentimento de não querer falhar com alguém, sentia isso mesmo agora, enquanto cavalgavam.

— Agora já sabe por que estou indo pra Thorrun... – disse a jovem –Será que eu posso saber o porquê de você estar indo?

— Preciso recuperar minha honra – Charly respondeu com uma expressão mais séria.

— Por que você acha que a perdeu?

— Eu não acho, eu sei que perdi, mas eu não quero falar sobre isso – disse cabisbaixo - Você pode contar mais histórias do Steve, por favor? – pediu.

— Tudo bem... - Dorothy concordou notando que aquele assunto realmente chateava o garoto. "Talvez em algum outro momento ele fale" pensou consigo preocupada com o adolescente.

Charly sorriu para ela então a paladina começou a contar sobre uma aventura de Steve e seu parceiro Xino onde eles enfrentavam os Senhores do Medo, uma dupla de vilões que conseguiu controlar, através de magia, uma cidade inteira e voltá-la contra os heróis.

A viagem seguiu tranquila e durante o caminho, Dorothy pode notar algumas características daquelas pessoas que agora formavam sua equipe.

Ela viu que Nipples era uma homem incrivelmente educado e competente em seu serviço. Ele tornou as pausas para comer e descansar extremamente agradáveis deixando tudo muito arrumado e limpo e não se abateu ou incomodou quando Arlindo o encarava ou ignorava, ou Solomon o respondia de forma mais rude.

Charly se mostrou um jovem muito entusiasmado e corajoso. Ele tinha grandes aspirações de se tornar um guerreiro e um grande heróis, como àqueles que os dois admiravam. Tinha muitos assuntos em comum e pode sentir que provavelmente seriam bons amigos até o fim da jornada.

Sobre o clérigo, ela manteve sua visão. Era um homem lascivo que de quando em quando flertava com ela. Ele parecia também adorar cerveja, pois chegou a tomar duas garrafas durante o trecho que percorreram à cavalo. Seu senso de humor rendia alguns comentários mais cômicos, mas ela não se interessava muito pelas histórias de bebedeira que ele tinha para lhe contar.

Quanto à Solomon e o Cavaleiro Negro, ela não teve muito contato. Ambos mantinham-se isolados dos outros e pelos olhares nada amistosos que Solomon lhe dava quando ela se atrevia a observá-lo, continuava achando que o Guerreiro Renegado ainda lhe traria problemas.

Depois de horas e horas de viagem eles finalmente chegaram aos limites do território do reino. Era tarde da noite quando pararam em um grande descampado próximo às montanhas do Norte, que dividiam o território de Theolen e Thorrun. Eles desceram dos cavalos e decidiram passar a noite por ali, montando um acampamento logo em seguida.  

Antes de partir o Cavaleiro Negro acenou de leve com a cabeça para Dorothy, então seguiu seu caminho de volta à cidade puxando as montarias. A garota observou enquanto a mão direita do rei ia embora, então olhou para o descampado à frente já vendo a Floresta da Ninfa ao longe. Atravessar aquela floresta seria o primeiro passo que ela daria rumo à sua grande aventura e às terríveis terras do reino de Thorrun em busca de Steve e ela estava ansiosa por isso.


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Notas finais do capítulo

OBS IMPORTANTE: No relógio desse mundo o "meio dia/12hrs" é nomeado como seis horas, pois eles contam as horas a partir do nascer do sol.

E o time está completo!!! Uhul
O que acharam da equipe? E os novos personagens, estão gostando mais conforme vão aparecendo? Comentem e até o próximo capítulo!