Inatingível escrita por Natanael Abreu


Capítulo 3
Capítulo 3: O primeiro desafio




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/642038/chapter/3

– "Procura-se: Alexander Garcia. Recompensa para quem tiver informações sobre o paradeiro desse rapaz".– Alexander foi cutucado, acordando com um susto enquanto Andrew fazia a piada.

– Ah... Ahn... B-bom dia.

– Onde você se meteu noite passada?

– Ah, encontrei uns amigos da escola. Saímos para comer e relembrar os velhos tempos.

– Café?– perguntou Andrew, oferecendo a jarra. Serviu-lhe uma xícara e sentou-se ao seu lado no sofá.

– Valeu. - Andrew agradeceu enquanto colocava a mão no ombro, com uma expressão de dor.

– Alex, qual é, seus amigos de escola? Cê parou de estudar na sexta série, nem reconheceria eles hoje em dia. Onde foi ontem?

– Coisa de adultos, Andy. Relaxa aí.– Sorriu e fez um cafuné na cabeça de Andrew.

– Sei.– Desconfiado, o caçula encerrou o assunto. Andrew seguiu seu preparo para a luta que teria à noite, a qual estava deixando-o um pouco nervoso.
Naquela tarde, Andrew viajou com seus amigos na van de Carrasco, cujo nome verdadeiro era George. Uma hora e meia de viagem até uma cidadezinha pacífica, onde os cidadãos pareciam em sua maioria velhinhos. Era tão calma e sem ânimo que quem pisasse lá poderia sentir-se alguns anos mais velho. Numa área reservada da cidade, aconteciam os desafios de luta dentro de um cassino abandonado após a falência. Os rapazes rodeavam um ringue sujo, conversando, rindo, bebendo e apostando. Andrew sentiu uma ardência no estômago, subindo até o peito; uma sensação diferente. Uma excitação nova, uma empolgação digna de uma luta importante. Aquecia-se, após enfaixar as mãos e pôr as luvas, até que seu irmão foi até ele e disse:

– Certo, campeão, essa é a sua chance. Mostra pra esse bando de bêbados sujos e fedidos que você bota pra quebrar. Não importa quem você enfrente, ninguém segura a fera que você vai soltar naquele ringue. Eu quero que você vá lá e faça aquele cara babar sangue. Mostra a sua força e representa a nossa família. Andrew, eu confio em você. Eu te amo, cara, eu te amo. Agora vai lá e manda bala!

Andrew ouviu tudo concentrado, balançando a cabeça positivamente. Respirava fundo e dava socos leves no ar, para manter o calor correndo nas veias. O apresentador chamou-o para o ringue, e após muitas vaias, subiu lá de cabeça erguida. Mantinha contato visual apenas com seu irmão e sua equipe auxiliar. O anúncio de seu adversário foi curto e grosso. "El Matador!" gritou o homem, enquanto aproximava-se aquele monstro do ringue. Media cerca de 1,85, com músculos definidos e grandes. Tinha cara de porto-riquenho, assim como o jeito de andar. As características físicas assustaram Andrew um pouco, afinal, nunca havia lutado pra valer com um boxeador - mesmo que fosse amador.

Andrew firmou os pés no chão, enrijeceu seus músculos do peito e cerrou os punhos. A multidão gritava pelo porto-riquenho bombado enquanto Alexander segurava a nuca do irmão, mandando-o concentrar-se. O foco de Andrew estava no sentimento que seu irmão mais velho lhe transmitia pelo olhar. Era algo tão reconfortante e inspirador que o rapaz esquecia-se da diferença de tamanhos no ringue. Quando o juiz convocou os lutadores ao centro do ringue, Andrew virou-se com um olhar insano, eletrizante, como se seus olhos flamejassem. Pôs o protetor bucal e foi.

Após as instruções e o cumprimento - bem deselegante por parte do porto-riquenho - soou o gongo, dando início ao combate. O homem avançou bruscamente contra Andrew, era um ogro, sequer se importou em analisar um bom momento para atacar; seu estilo era totalmente ofensivo. Andrew recepcionou-o com um reflexo violento, socando-o duas vezes no corpo, mas não o parou. El Matador acertou-lhe um cruzado avassalador, tão forte quanto um coice de mula. No mesmo momento, desnorteado, Andrew despencou ao chão. Abriu-se então a contagem:

– Um!

– Levanta, Andrew, pelo amor de Deus, cara.– gritava Alexander fora do ringue.

– Dois!
– Três!
– Quatro!

– Andy! Levanta! Queixo-de-ferro, cara, vamos!

– Cinco! Seis! - Ouvindo tudo que seu irmão gritou distorcido, Andrew se pôs de pé após relutar no chão. Estava zonzo, com dificuldades de fixar sua visão. Levantou-se, pois não queria perder. Tinha tanta vontade de vencer que era capaz de lutar até mesmo sem um braço. O juiz seguiu a luta e, novamente, El Matador foi para cima de Andrew que estava no corner. Pensando com mais clareza, Andrew não só esquivou-se, como posicionou-se de frente para suas costelas ao passar por baixo de seu braço direito que pegava impulso para o golpe. O rapaz iniciou então um castigo cruel no corpo do adversário, com poderosos impactos nas costelas. O brutamontes virou-se, com seu tronco envergado para o lado, ficando de frente para o rapaz e foi surpreendido por um gancho brutal de Andrew. O homem caiu de costas nas cordas sem saber o que havia acontecido naqueles três segundos mais dolorosos de sua vida.

Alexander vibrou quando viu a performance de seu irmão e aos berros incentivava o caçula. Andrew partiu para cima do homem que estava prensado nas cordas, lhe desferindo potentes jabs, diretos e cruzados no rosto. Os grandes braços do homem bloqueavam parte dos ataques, mas não eram rápidos o suficiente para acompanhar os golpes de Andrew. Tomado pela adrenalina, Andrew deu um pulinho para trás, pegando impulso, e lançou um golpe diagonal de cima para baixo, no maxilar de El Matador. Andrew pela primeira vez havia utilizado e experimentado a força de um swing. O golpe quebrou a guarda do adversário, lançando-o à lona, cuspindo sangue. Suava como um porco e gemia como uma criança com dor de barriga. Andrew foi para o outro lado, esperando a contagem com um sorriso sujo de sangue e deformado por estar com protetor o bucal. A contagem estava para ser encerrada quando o homem levantou-se quase tombando novamente. Estava furioso, mas Andrew lembrou-se do que Richard havia lhe falado durante os treinos; "a emoção lhe impulsiona, a razão lhe garante". Então Andrew decidiu ser ousado e permitir que o homem lhe acertasse golpes fortes, o incentivando ainda mais a agir pela raiva. A tontura quase impediu que Andrew concluísse sua estratégia, mas conseguiu escapar no momento certo, aproveitando uma brecha. O contra-ataque foi veloz e ágil, deixando o homem sem entender o que estava acontecendo; três jabs seguidos de um direto. No fim, um cruzado de esquerda (pouco usado por Andrew) lhe garantiu um belo nocaute. O juiz cutucava o porto-riquenho para saber se ainda respirava, pois estava atirado como um guaxinim atropelado na rodovia. Alexander e a equipe invadiram o ringue sufocando Andrew com abraços, berros, cafunés e tapinhas nas costas.

– Você conseguiu, Andrew, conseguiu! Eu sabia, cara! Não sabe o quanto eu tô orgulhoso. Você foi demais.– Disse Alexander com um sorriso de orelha a orelha.

– É isso aí, carinha. Agiu certo, usou tanto o cérebro quanto os punhos. Já o otário ali, não sei nem se tem cérebro.– Richard riu e parabenizou Andrew com uma esfregada agressiva em sua cabeça.

Andrew e sua equipe foram até uma pizzaria na cidade para comemorar a primeira vitória oficial do rapaz. No meio de toda aquela alegria e gritaria no estabelecimento, fazendo uma algazarra enorme e assustando os outros clientes, Alexander subiu na mesa - enquanto derrubava algumas garrafas e guardanapos -, bateu com o garfo no copo e pediu silêncio:

– Silêncio, silêncio pessoal! Primeiramente quero parabenizar o meu irmão caçula pela raça demonstrada naquela luta. Tomou umas boas pancadas mas no fim surpreendeu todo mundo com uma performance espetacular. Esse carinha aqui me orgulha. Vamos aplaudir ele de novo!– a equipe e até mesmo alguns clientes que entraram no clima de comemoração aplaudiram Andrew. Em meio aos assobios, Alexander elevou o tom de voz novamente:

– Bom, agora eu quero pedir para que vocês olhem bem para esse garoto– puxou Andrew para o seu lado e envolveu-o com o braço direito–, olhem bem, gravem bem e lembrem-se que esse garoto vai ser o campeão nacional em breve. Sabem por quê? Porque ontem mesmo eu acabei de firmar um contrato com um olheiro que trabalha para a organizadora do campeonato nacional. Ele topou minha proposta e vai avaliar o Andy durante três lutas. Se ele mostrar um bom desempenho, adivinhem só... Ele vai ter a chance de entrar no torneio nacional como desafiante!– gritou com um sorriso no rosto enquanto as pessoas ao redor vibravam com a notícia. Andrew mal acreditava que seu sonho estava cada vez mais próximo e não fazia ideia de como seu irmão tinha conseguido aquilo, mas estava tão grato que sequer conseguia engolir o pedaço de pizza que estava mastigando. Após uma longa noite de comilança, comemoração e festa, partiram de volta para Boucherville, onde iriam retomar suas rotinas de treino.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Inatingível" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.