Avião de Papel escrita por Hachimenroppi


Capítulo 1
Prisioneiro.


Notas iniciais do capítulo

Gemt, isso estava criando teia e barba na minha pasta. E ao me perguntar porquê nunca postei, não achei resposta e resolvi postar. Vai ser postada toda direto, um atrás do outro, amanhã e dps de amanhã, já que são apenas três capítulos bem pequenos. Espero que gostem. Enjoy



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Essa é a triste história de um garoto que se apaixonou por uma garota além da cerca alta do campo de concentração. Comovente, comovente.

Eu sentei-me perto da cerca, estava machucado – como de costume. Ao olhar para fora, eu vi uma menina loira, de cabelos lisos e curtinhos, usava um vestido branco, uma sandália, um chapéu que a protegia do sol, e um chale rosa. Nunca fui de acreditar em amor a primeira vista. Nem sequer sabia seu nome, mas estava fascinado com a beleza dela e de como seus olhos azuis me puxavam.

Então, eu escrevi uma carta. Voltava naquele lugar onde a encontrei, não era sempre que ela estava lá, mas consegui vê-la mais uma vez. Dobrei a folha em um avião de papel e joguei por cima da cerca, rezando para que chegasse até ela. Ela pegou e olhou em volta, sorri para ela assim que nossos olhos se encontraram e meu coração se encheu de alegria ao ver que ela havia sorrido de volta.

No dia seguinte, ela estava lá, com um outro aviãozinho de papel e o jogou para mim, respondendo-me. Sua letra era delicada e pequena, fácil de entender. O fato de ela ter se preocupado em responder à uma carta de um pequeno judeu dentro do campo de concentração me fez sentir como se qualquer mentira pudesse se tornar verdade.

Era estranho ela se submeter aos perigos que podiam surgir para ela apenas por interagir comigo, assim como era estranho que ela não falasse comigo. Eu nunca ouvi sua voz, mas ela também nunca parava de me responder. E vê-la de longe, ler suas cartas, se tornou o motivo para que eu acordasse no dia seguinte.

Meses se passaram nessa brincadeira. Os aviões de papel vindos dela eram a minha felicidade. E eu me tornei dependente daquela pequena fonte de sorrisos, sem me tocar que aquilo estava para acabar.

Eu sempre sofro, todos os dias. Já apanhei, trabalhei dia e noite até desmaiar, fiquei perto da morte. Lembro-me de toda a dor, mas não lembro-me de lágrimas. E não me lembro também de um dia ter chorado tanto quanto chorei após receber aquele último aviãozinho de papel. A caligrafia delicada e levemente borrada, por o que eu supus serem lágrimas, formando letras que se curvavam em um “adeus”, que diziam que ela nunca mais voltaria para me ver.

Ela sorriu para mim, um sorriso falso e triste, virou-se e andou. Tentei chamá-la. Juro que tentei. “Eu estarei esperando por você!”, gritei. “Não quero desistir de você, nem que desista de mim. Guardarei suas cartas como tesouro, até que eu possa vê-la novamente!”, ela parou. Eu senti um certo alívio. Ela quase se virou, mas não aconteceu, ela hesitou e correu para longe. Senti-me péssimo. Não pude pará-la, e não posso chamá-la, não posso segui-la, não posso sair daqui, não posso fazer nada e nunca vou poder. Minhas pernas fraquejaram e eu me ajoelhei no chão, a carta ainda estava em minha mão e a menina havia sumido de meu campo de vista.

Para dormir, abracei-me às inumeras cartas que ela havia tacado sobre a cerca alta. Era o que me fazia sentir aquecido. Acordei sendo chutado pela manhã. Era o comandante, não que isso fizesse diferença, eles iam acabar por me bater, fossem quem fossem. Eram em três. Dois seguraram-me enquanto o comandante cuidava de pegar as cartas no chão e rasgá-las sem hesitar.

Desde que fui jogado no campo de concentração, maltratado e torturado, eu nunca havia sentido tanto ódio. A raiva me consumiu, e eu consegui me soltar dos braços de ambos os soldados. Avancei no comandante à minha frente e o soquei quantas vezes me foi permitido até que os dois me pegassem de volta. O de maior autoridade apenas deu um sinal e eles me levaram.

Eu sabia para onde, e minhas suspeitas se mostraram corretas assim que chegamos na câmara de gás. Era apenas eu, sozinho, sem companhia de outros, ou dela. Fui jogado lá, e na primeira inalada, senti tudo no meu corpo queimar.

“Minha hora finalmente chegou, e você se foi...”, pensei comigo mesmo, já chorando. Na verdade, eu não estava com medo. Eu sempre soube do meu destino. E o melhor: eu não tenho arrependimentos nesse mundo. Mas, meu coração insiste em gritar: “por quê?”. Eu não estava com medo, mas queria viver, só mais um pouco. Só o suficiente para vê-la mais uma vez.

Virei-me para a porta fechando. Eu tentei agarrá-la, como se fosse adiantar, mas nem cheguei perto de conseguir, apenas de bater com os punhos nela e gritar enquanto sentia as gotas de água salgadas descerem pelas minhas bochechas e meu organismo queimar a cada inalada.

Os dias que passamos juntos não voltavam, mas me deram doces memórias que passaram diante de meus olhos enquanto meus pulmões ardiam ao receber o que eu respirava. Você havia me dado a comida que a minha mente precisava para viver, mantendo-a saudável neste estilo de vida doentio, era como uma flor, que desabrochava no meio das ervas cobertas de escuridão. E apesar de vivermos em mundos completamente diferentes, tentei desesperadamente te alcançar.

E se este é o meu último momento, Deus, por favor, deixe-me falar com ela. Não respiro, não tenho ar, meu peito arde. Na sala fechada, selada pela escuridão, meus gritos não podem ser ouvidos. E eu a amo, queria que minha voz chegasse até ela. Dizer-lhe um adeus seria ótimo, afinal, se ela voltar, não estarei mais no mesmo lugar em que nos encontrávamos. E também, há uma coisa que quero perguntar: o nome dela.


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Notas finais do capítulo

Essa foi a primeira música/o primeiro ponto de vista. Se você chegou até aqui e gostou, deixe seu comentário, ou se não gostou, deixe tbm, para dizer no que devo melhorar.
O próximo capítulo sai amanhã, espero mesmo que tenha gostado. Nos vemos no próximo.



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