#BABYBATWINGS escrita por blue devil


Capítulo 6
06.




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Vamos, me deixe entrar
Os machucados nas suas coxas como minhas impressões digitais
E isso deveria funcionar
A escuridão que você sente
Nunca quis que se consertasse
Immortals/Centuries - Sam Tsui mashup (cover Fall Out Boy)

xx

Piper tocou o ombro de Leo de forma suave, sorrindo para ele. Leo suspirou. Piper tentava confortá-lo quando Leo estava sendo babaca sem motivo, ele não merecia uma amiga boa dessa.

– Você precisa lidar com o seu ciúmes. - Piper disse. Leo franziu o cenho, retirando tudo que havia pensado de bom dela.

– Não é ciumes. - rebateu com um tom óbvio. Piper fez um “Hmmm” incrédulo. - Cara, não. Jason é meu melhor amigo, não ia me trocar por conta de uma missão.

Piper lançou-lhe um olhar mortalmente sagaz.

– Então você quis ir junto por conta de Jason?

Leo arregalou os olhos.

– Não, eu… - ele desviou o rosto. Não tinha como fugir, a não ser que ele decidisse ir fazer o seu trabalho de longos reparos no navio pelo resto do dia. Mas não ia deixar Piper falando sozinha.

A filha de Afrodite suspirou. Seu tom era completamente diferente quando disse:

– Nico tem medo de se ver cercado.

Leo assentiu, coçando a nuca.

– Ele acha que nunca vai se encaixar, então por isso não tenta. Mas é… Ninguém realmente mostrou isso para ele. Eu fiquei muito zangada quando Jason disse que não confiava nele por um erro que ele fez com Percy antes mesmo de Cronos despertar! Nico visitou Bob, passou pelo o Tártaro e tudo isso com menos idade do que eu. Não é o bastante para prová-lo digno?

Leo piscou. Ele pensava da mesma forma. Foi uma surpresa para si mesmo não ter dúvidas sobre a lealdade de Nico. Bom, era o mínimo. Nico merecia votos de confiança, gente preocupada com ele. E daí que ele não contou à Percy quem era? E daí que ele o traiu uma vez quando criança?

Nico não merecia pagar por tudo aquilo pra sempre. Então Leo percebeu. Provavelmente Nico estava bem antes do lance com Gaia começar. Estava se recuperando da guerra contra Cronos, e segundo as suas historias não ficara exatamente à toa.

“Eu viajei para vários lugares e acabava parando em muitos por acidente. Tudo por conta de uma tarefa estúpida que Hades me mandava ou por algum monstro que queria ser a lenda que matou a cria do submundo. Às vezes eu parava em situações engraçadas e às vezes… Não. Muitos semideuses. Eu era obrigado a ajudá-los se não Grover ou Rachel não me deixavam em paz.” Ele havia dito.

Leo tentava não estranhar muito o fato de que Nico mantinha mais contato com o sátiro que havia o ajudado a ser salvo quando apenas tinha onze anos ao lado de Bianca e era um nerd de carteirinha que falou (e ainda fala) por horas sobre Mitomagia (o jogo que Piper forçou Nico admitir que gostava) e com Rachel Elizabeth Dare, o Oráculo de Delfos do acampamento.

Bem, Rachel não era uma grande surpresa considerando que a garota era exótica o bastante para não sentir medo de Nico e tentar se aproximar dele. E era bom que ele não estivesse completamente sozinho o tempo todo.

Leo balançou a cabeça negativamente ao notar o jeito que pensava sobre Nico agora. Já havia negligenciado os reparos do navio bastante com Piper e agora trabalhava na sala das máquinas, coberto de substâncias.

Ele nunca desejou mal para Nico, longe disso, mas nunca acreditaria se alguém lhe dissesse que ia ser contra deixar Nico ir sozinho numa missão. Nico era o Hellboy, o Ghost King, ele não precisava de um cara desajeitado como Leo tentando protegê-lo.

Mas agora Leo sabia que Nico era mais que um semideus supostamente poderoso. Ele comia pouco, era muito magro e ele era desconcertado, um pouco sem noção e completamente sem filtro de comentários. Quando ele estava distraído numa conversa, as pessoas não podiam dar uma oportunidade para que ele fizesse uma brincadeira ou um comentário que pudesse passar dos limites.

Mas Leo não se irritava tanto. Nem Piper ou Hazel. Elas entendiam, e Leo não conseguia se fazer irritar com alguém que nunca o julgava pelas suas piadas ou se deixava levar pelo seu humor forçado. Como se Leo não precisasse de defesas com Nico, o que era meio irônico.

Do mesmo jeito Leo conseguia perceber a real intenção de Nico nos olhos dele quando dizia algo errado. E não o deixava tão desconfortável agora como no começo. Era um pouco estranho, claro que era, mas não muito.

Leo estava pensando sobre Plutão. Seu pai não era nenhum exemplo. Leo evitava pensar nele, e não era tão difícil considerando o jeito que ele era ausente. Nem uma mensagem, nem um vislumbre. Como se não desse a mínima para Leo e pros irmãos.

Mas Plutão parecia um novo nível de babaca. Ele não havia quebrado o acordo de ter filhos depois da Guerra, mas não devia haver uma mulher interessada o bastante hoje em dia pra isso. E Pérsefone deve ter mudado o jogo dela pra manter Hades/Plutão, já que ela não tinha o que fazer.

Hades, Plutão, ambos grandes babacas vestidos em preto. O cara dizia que seus filhos não tinham futuros felizes, e com sua intervenção era pior ainda. Isso não o impediu de fazê-los de qualquer jeito, e fazer Nico pensar que não era bom o suficiente como a irmã (Bianca) e enchê-lo de missões.

Agora ele aparecia para Hazel, quando não podia, e dizia que tinha orgulho dela como se isso fosse resolver tudo. Leo entendeu os medos de Nico. Ele e Hazel ainda construíam um relacionamento, não é o mesmo que tinha com Bianca. E depois da morte dela, como se a perda não tivesse sido o bastante, Nico teve que lidar com a decepção que o seu pai não sabia esconder pelo fato da menina ter morrido e não ele, sendo que ela era promissora e Nico era só um pirralho nerd.

Segundo Nico Hades estava aprendendo a ser um parente mais decente até Gaia acontecer. E agora ele não tinha certeza se o seu pai não ia voltar à estaca zero considerando um filho mais que o outro. Nico tinha um sério problema de sofrer por erros que as vezes nem aconteciam. Leo percebeu que era consequência de um grande medo de se machucar.

Leo passou a mão na testa decidindo dar uma pausa quando ouviu um barulho alto atrás de si. Virou para trás num pulo, esperando algum monstro difícil de vencer e encontrando uma concentração de sombras num canto na sala de maquinas. Leo semicerrou os olhos tentando entender que tipo de demônio ia tentar arrancar sua cabeça quando viu uma figura encolhida, muito pequena, quase frágil.

Então Leo ouviu um click na sua mente. Sombras, fragilidade, medo e sentimentos negativos irradiando na escuridão.

– Nico! - Leo exclamou. Ele se aproximou de onde definia a figura, sem medo das sombras ou coisa parecida. Nico estava bem coberto, escondendo seu rosto em suas mãos. Leo sentiu um medo sufocante. O que havia acontecido com Nico? Ele tinha se machucado? O que Leo podia fazer? Duvidava muito que tocá-lo agora ia ser uma boa ideia. - Nico. Nico! - Leo o chamou mais forte que pode. Após repetir seu nome mais vezes Nico finalmente se mexeu, e Leo entendeu que ele ouvia. - Nico, desmanche as sombras.

Nico não lutou contra. O canto que estava deixou de ser tão escuro até que as sombras desapareceram. As rachaduras na madeira do navio que Leo não havia notado foram se fechando sozinhas. Agradeceu por ter sido escutado, por que as fissuras estavam bem próximas de deixar a água do mar subir e dentro da sala de máquinas aquilo podia causar algo sem reparos.

Nico praticamente sugou o ar, levantando o rosto molhado de lágrimas sem coragem para encarar Leo. Leo nunca se sentiu tão triste antes. Ele não achava Nico tão assustador fazia algum tempo, mas nunca achou que ele podia quebrar desse jeito.

– Nico… Posso te abraçar? - antes que pudesse pensar as palavras saíram da sua boca.

– Não! - Nico balançou a cabeça veemente. - Não me toque.

Leo assentiu. Não ia pressioná-lo naquele momento, não era disso que Nico precisava. Então Leo engoliu sua ansiedade e se sentou ao lado de Nico, com uma distância razoável, encostando as costas na parede. Olhou para o teto desejando paciência. Ele podia mesmo ser um ponto de conforto para qualquer pessoa? Leo não lidava com seus próprios problemas, isso não era exatamente encorajador para seus amigos.

Ele já tinha batucado “Eu te amo” e “Me desculpe” várias vezes na coxa, ansiando para que o tempo passasse mais rápido antes do silêncio conseguir matá-lo completamente, quando Nico disse:

– Eu fui um completo idiota. - fungou, passando a mão pelo nariz.

– Por que a sua missão para impressionar Hades não deu certo?

Nico bufou.

– Eu sou o único que dev--

– Isso não quer dizer que pode, e acho que o resultado da missão mostrou isso. E sim, eu mudei de ideia, por que sou desses. - Leo balançou a cabeça negativamente. - Na Guerra contra Cronos você teve ajuda do seu pai. Agora, fazer isso sozinho pode te matar.

Nico virou o rosto, tentando cobrir os olhos com os morcegos bebês no seu cabelo. Ele apertou os lábios com força e o silêncio os atacou mais uma vez até murmurar algo contra a respiração. Leo perguntou o que ele havia dito e o garoto estava exclamando alterado:

– Por que você age assim, Valdez?! Eu não preciso da sua pena.

– P-pena?

Nico apertou o cabo da sua espada que se recusara soltar desde que chegou na sala de máquinas, ainda na escuridão, como se a espada fosse um porto seguro.

– Eu já sei que eu perdi! Todos fazem questão de me lembrar disso, mas eu não sou alguém que precisa de falsa compaixão. Não me importa o que você ou o que os outros acham, sempre é negativo.

– Ah, então você lê mentes agora?

– Eu não preciso para–

– Não, você precisa! - Leo quase gritou. O que Nico dizia não devia doer, mas doía. - Você já tentou conversar antes de sair acusando e fugir? Não gaste a sua frustração em mim quando eu sou seu único amigo.

Leo se arrependeu na mesma hora de ter dito isso quando dor e mais tristeza passaram nos olhos escuros de Nico antes dele fechar completamente a cara e colar uma máscara de raiva e ofensa no rosto.

– Oh, você realmente acredita nisso? O que está esperando que eu faça por você, amigo?

Leo podia ter parado ali. Podia ter desistido da ideia mais que maluca que era uma relação normal com Nico Di Angelo. Eles nunca iriam combinar e desse jeito nunca confiar um no outro.

Mas Leo não acreditava em nada disso.

– Você sabe que a única diferença entre nós são as risadas e o silêncio. Eu escondo a minha dor tanto quanto você, e duvido muito que vai achar alguém que tente tanto quanto eu, não por que não merece, mas por que eu estou completamente desesperado por você.

– V-v-você o que?

Nico murchou enquanto suas orelhas ficavam rosas. Leo sentiu que ia entrar em combustão ao se tocar como havia soado assustador.

– A-ah! N-não. Não desse jeito, o que eu sinto é platônico, - ele mordeu a língua. - n-não, não é assim… Não…

E Leo não teve capacidade pra falar mais nada. Nico esticou o braço na sua direção e Leo esperou um tapa, porém tudo que sentiu foi um fantasma trêmulo de toque na sua bochecha e uma leve puxada num dos seus cachos. O latino abriu os olhos e viu os de cachorrinho de Nico.

– Leo, suas sobrancelhas e o seu nariz… - Nico murmurou com o rosto pintado em carmesim. Ele corava fácil. Pelo menos a pele escura de Leo o impedia de corar visivelmente, mas pegar fogo não era muito melhor. Nico afastou sua mão do seu cabelo e Leo apagou as pequenas brasas praguejando.

E os dois caíram no silêncio mais constrangedor das suas vidas. Leo entortou o nariz sem poder lidar mais com aquilo. Ele levantou o rosto e abriu a boca, mas Nico fazia o mesmo. Nico pareceu que ia ficar quieto, mas Leo insistiu para que ele falasse primeiro.

– Leo… Por algum caso você…? - Leo inclinou o rosto. Nico tentou gesticular, mas a mensagem não foi passada. Ele usou palavras completamente desconhecidas para Leo até que bateu na própria testa e grunhiu: - Você gosta de garotos.

Oh.

Como eles chegaram ali Leo não sabia, mas ele adoraria ter uma cenoura para mastigar enquanto respondia aquela pergunta. Nico deu um pulo e seu rosto gritava arrependimento por ter meio que afirmado quando Leo disse:

– Eu tive uma queda por Jason Grace. - Leo piscou. Já havia lidado com isso fazia um tempo. Nico paralisou. - E pela irmã dele, e por Piper, por Eco… - estava contando nos dedos. - Ah, e por Hazel, mas isso não desenvolveu em nada, juro.

Nico estava sem reação nenhuma. Leo pensou que seu cérebro havia dado tilt e agora precisava carregar para voltar a pegar.

– Como… Isso… É possível? - o filho de Hades gaguejou.

Leo tentou controlar o sorriso. Ele esquecia que Nico havia vindo dos anos quarenta.

– Bissexualidade. - Leo deu de ombros. - Eu sou atraído pelos dois sexos. Nem tudo é preto e branco, sabe? Apesar que garotas são minha preferência.

– E-e-então você r-realmente…

Leo arregalou os olhos ao notar o que ele queria dizer.

– Não! Pela chama de Herfesto, não estou dando em cima de você.

Nico abaixou o rosto. Leo suspirou.

– Eu não sei por quê, mas quero ser o seu amigo. É um sentimento inocente Nico, então não precisa ficar na defensiva. Eu gosto dos seus comentários sarcásticos, da sua inteligência e… De você em geral. - Leo desviou o rosto, segurando a sua nuca. Começou a ficar tão nervoso quanto o início, batucando como se a sua vida dependesse disso.

Nico olhou para seus dedos e Leo parou na hora.

– E-eu… Eu quero muito acreditar em você, mas também quero fugir de mentiras. - Nico apertou os lábios, segurando o pulso. Leo não conseguiu dizer nada. Ele não podia forçar Nico em acreditar no que dizia. Nico deu uma risada amargurada. - Eu notei muito bem as nossas semelhanças. E eu nunca tive raiva de você, mas não era bem indiferença. Acho que desde o começo eu sabia que você podia crescer em mim de uma forma perigosa e quis evitar isso, mas fiz da forma mais errada possível. - Nico olhou para Leo entre os cabelos escuros, analisando-o de forma dura, fazendo Leo engolir à seco. Então ele suspirou e seus olhos quebraram, os mesmos que haviam visto o Tártaro. A irmã ser tirada de si e tudo que conhecia ser uma mentira. - Leo… Eu vou tentar te afastar mais uma vez: - Nico o olhou diretamente nos olhos, com a expressão mais triste que podia ter, sorrindo de forma miserável. - Eu gostei de Percy Jackson e não acho que superei isso ainda.

Leo sentiu como se tivesse sido jogado num tornado e a sua cabeça ficou leve. Mesmo assim, o seu primeiro instinto foi dizer sem hesitar:

– Tudo bem.


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Notas finais do capítulo

-postando da escola e só fazendo notas por que a Anna tem TDAH. BYE



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