CHANEL #3

QUARTO DA KKT

10h12

Chanel #3 estava se olhando no grande espelho que subia por toda a sua parede. Ajeitava os cachos loiros na frente dos ombros, enquanto escolhia a cor dos tampões de ouvido que usaria durante o dia.

– Azul? Não. Rosa? Não? Amarelo? Não...

A indecisão reinava sobre ela. Afinal, ela era uma Chanel. E as Chanel's sempre estavam perfeitas. Por um momento, sentiu falta de sua antiga amiga, Chanel #4, que havia desaparecido numa noite em que estavam bêbadas no quintal.

Elas eram, sem dúvidas, melhores amigas. Mas, depois daquela noite, Chanel #3 nunca mais a viu. Todos os outros pareceram esquecer da garota, chamando-a de "traidora" ou então "piranha mal agradecida." Chanel #4 saberia que cor usar nesse momento.

Acabou escolhendo o tampão branco e levantou-se. Foi até sua cama, deitou-se, olhando para as fotos que pendiam na parede oposta.

Todas as Chanel's na formatura, ela na beira da piscina posando com seu falecido cachorro, Mik.

Lembranças atazanavam a mente dela. Era muita carga emocional para uma pessoa só.

Seu celular vibrou, avisando que havia recebido uma nova mensagem.

"ATENÇÃO!

TODOS OS ALUNOS DA UNIVERSIDADE WALLACE DEVE SE DIRIGIR PARA O AUDITÓRIO PRINCIPAL, AGORA!

– Cathy."

Chanel #3 revirou os olhos.

– O que essa velha quer?

Levantou-se, se olhou no espelho e desceu as escadas, para a sala principal, onde todas as outras Chanel's aguardavam o carrinho de transporte particular delas.

– Essa velha só pode estar de brincadeira! - gritava Chanel, andando de um lado para o outro na sala, irritada. Seus cabelos loiros estavam presos em um coque e usava um vestido felpudo azul. - Não acredito que me fez acordar tão cedo!

Chanel #2 estava sentada no sofá, com as pernas cruzadas, olhando a líder com uma cara de "quem se importa?"

– É só um aviso, Chanel.

Chanel olhou para a minion com seus olhos fervendo de raiva.

– Não ouse me responder!

Após alguns minutos, o carrinho particular chegou, e todas entraram nele.

***

Chegando lá, Chanel #3 sentou-se entre Chanel #5 e Chanel #2, que se sentava do lado de Chanel. Essa era a formação delas. Todos que passavam olhavam para elas com admiração e respeito nos olhos.

Chanel apenas sorria, falsamente, e acenava.

Do outro lado do salão, sentavam-se algumas meninas que Cathy havia forçado a entrarem na KKT. Seus nomes eram Hester, Zayday e Grace.

Chanel havia pirado na hora, dizendo que não aceitaria. Mas, Cathy apenas deixou as meninas lá e foi embora. Agora, a líder as usava (secretamente) de empregadas.

Cathy subiu ao palco e bateu no microfone.

– Testando...1...2..3... Bem, está funcionando. Sejam bem vindos, alunos da Wallace!

Gigi, que estava sentada na primeira fileira de cadeiras, bateu palmas. Cathy apenas a ignorou.

– Tenho alguns avisos para dar a vocês. Um: a cantina só servirá o jantar até as 22 horas. Passado esse horário, não haverá mais comida aqui na lanchonete.

– Não acredito que é mais um dia de avisos comunitários. - murmurou Chanel.

– Agora quero abordar um assunto bem sério com vocês. Semana passada, ocorreu um absurdo nessa universidade. Não sabemos se foi uma brincadeira de mau gosto, ou se realmente temos um serial killer entre nós.

Ao ouvir "serial killer", todos os alunos ficaram tensos.

– Ocorreu um incidente em uma noite. Boone e Chad alegam terem sido perseguidos por um maníaco vestido com a fantasia do Red Devil, nosso mascote. O que nos leva a crer que foi um universitário iniciando uma brincadeira de mau gosto. Captamos imagens das câmeras de segurança da última semana e percebemos que ele está atacando novamente. Ontem, ele assassinou Jhenifer, minha sobrinha, que dormia no sofá da fraternidade dela, a GGP.

Todos no salão prenderam a respiração com a grande revelação. Não era possível. Um serial killer à solta. Na universidade!

– Por isso, tivemos que tomar medidas drásticas e contratar um esquadrão de policiais para defender a universidade. Denise, por favor...

Uma policial de pele escura, cabelos pretos presos em um rabo de cavalo e uma cara de quem não quer papo subiu ao palco.

– Essa é Denise. Ela defenderá vocês. Se vocês tiverem qualquer problema com esse assassino, liguem para ela ou tentem encontrar sua viatura, que estará parada no ponto principal do pátio, onde todas as fraternidades se encontram. Agora, estão liberados.

***

HESTER

PÁTIO PRINCIPAL DAS FRATERNIDADES

14h22

Hester estava apavorada. Havia um serial killer à solta no campus! Como isso pode ser possível? Logo na universidade, o lugar que ela julgou mais seguro!

A garota encarava a viatura de Denise, olhando de um lado para o outro de vez em quando, achando que o assassino apareceria a qualquer momento e se entregaria.

Seria uma ótima matéria para o seu blog! Ela mal podia esperar.

***

Desistiu dessa ideia quando eram 16h18. Ele não havia aparecido e Denise a expulsara de lá, mandando ela voltar para a sua fraternidade, pois logo logo iria escurecer.

Hester abriu a porta principal da KKT e deu de cara com Chanel.

– Onde estava, menina mecânica? - Chanel havia dado esse apelido a ela por causa de seu colar cervical.- Procurei por você a tarde toda! Precisava de alguém para esfregar o chão com sua escova de dentes!

– Eu... eu...

– Eu tive que procurar uma outra escava! E que isso não se repita!

– Tudo bem... - Hester adorava ser da KKT, mas as condições que lhe foram impostas não a agradavam nem um pouco. Ela tinha que limpar o chão com uma escova de dentes toda terça-feira, arrumar o quarto de Chanel toda sexta-feira. Ela já estava exausta. Isso por que só tinha uma semana na KKT.

Hester se dirigiu ao seu quarto e encontrou Zayday e Grace conversando.

– Olá, meninas. Tiveram um dia cheio hoje?

– Não, só a mesma exploração de sempre.

Elas acabaram desenvolvendo uma amizade, já que dormiam todas no mesmo quarto, que ficava ao lado da cozinha. Mal cabia uma pessoa, imagine três!

– Estou com medo do assassino. - disse Grace.

– Cathy disse que é um dos alunos... Quem vocês acham que é?

– Não faço a mínima ideia. - respondeu Hester. - Mas eu quero descobrir.

***

PISCINA PARTICULAR DA KKT

20h49

Red Devil estava escondido atrás de um arbusto, apenas observando a KKT. As luzes do andar inferior estavam todas acesas. Isso significava que tinha gente em casa. Era hoje o dia de mais uma vítima dizer adeus ao mundo.

Ele sacou a faca e esperou alguém aparecer. O que não demorou muito.

***

CHANEL #3

PISCINA PARTICULAR DA KKT

21h04

Chanel #3 queria relaxar no ofurô do jardim. Foi um dia muito exaustante.

"Ser linda cansa", pensou.

Estava com seu biquíni preto, os cachos presos em um coque, uma toalha em uma mão, e na outra, seu celular, conversando com as outras Chanel's em seu grupo do whatsapp.

Deixou a toalha no banco de madeira, subiu os degraus do ofurô e entrou na água quente e relaxante. Jatos de água batiam em suas costas, fazendo uma massagem.

Ouviu algo se mexer no arbusto na sua frente.

– Deve ter sido o vento.

Mas aquele dia foi o mais quente de todo o ano. Não havia nenhuma brisa sequer. Chanel #3 se ajeitou na água.

– Então foi um guaxinim.

Trocavam mensagens sobre o que vestiriam amanhã. Quarta era o dia do verde, mas Chanel havia criado uma cisma com a cor e queria que todas usassem roxo.

Um galho se quebrou na grama. Ela olhou, assustada para a frente. Quase desmaiou com a visão.

O Red Devil estava em sua frente.

Ela foi saindo da água, bem lentamente. Imaginando que ele era um animal, e qualquer movimento brusco iria assustá-lo.

Pegou seu celular e enviou uma mensagem para as amigas.

"O RED DEVIL ESTÁ AQUI! SOCORRO! ALGUÉM VENHA ME SALVAR! TÔ NO OFURÔ!"

Chanel #3 já estava fora d'água. Andava de costas, encarando o assassino, que não havia se movido desde que ela o tinha visto.

– O que você quer? - perguntou.

Uma mensagem chegou em seu celular. Era um número desconhecido.

"Vou matar você agora."

Ela olhou para o assassino, mas ele havia sumido.

– Mas o que.....

Chanel #3 nunca terminou a frase. Uma faca cortou suas costas. Uma dor imensa atravessou o corpo dela. Ela gritou. Seu sangue se esparramava pelo chão. Seu celular havia caído no chão e se quebrado. As luzes se apagaram. Sentiu ser carregada pelo assassino.

Por um minuto, achou que ele pudesse ter piedade, ou então se arrependido, mas estava errada. Ele colocou-a na porta da KKT e deu-lhe um corte na garganta.

Chanel #3 agora era apenas um corpo ensanguentado, jogado na porta da fraternidade.

– É, você nasceu para ser uma vadia mesmo. - disse Red Devil.

Com isso, tocou a campainha da KKT e saiu, deixando para trás o corpo da pessoa que um dia já tinha sido sua maior confidente.