Continuo sentada na mesa balançando os pés enquanto o grupo selvagem entra na sala fazendo a maior bagunça. Uns entram dançando, outros parecendo que usaram drogas, uns parecem bem quietos e então entra uma garota nas costas de um garoto cantando algo bem indecifrável, quem os olha tem a impressão de que estão voltando de um show, não de uma palestra.
Alguns me notam e ficam me encarando, parece que nunca viram uma novata na vida.
– Oi... - Olho pro lado e vejo um menino moreno da pele escura muito bonito, ele pega a mochila em cima da mesa que está ao meu lado e se senta
– Oi... é que não tinha outra cadeira... - ele sorri
– Relaxa novata. Sou o Uriah - ele estende a mão e eu dou um sorriso cumprimentando ele- Uma novata no terceiro ano do EM não é uma coisa muito comum, não aqui na escola.
– Não?
– Não. Essa turma aqui estuda junta dês do primeiro ano, uns saíram mas ninguém entrou, tirando os que reprovaram. Tipo o meu irmão, Zeke - ele aponta pra um menino igualzinho ele só que menos bonito - e o amigo dele, Quarto - aponta pra um menino bem gato do cabelo loiro, olhos castanhos e bem fortinho por sinal.
– Nossa- continuo olhando pra eles que logo se juntam em um grupinho com meninos e meninas, o tal Quatro beija uma morena dos olhos castanhos até bonita e depois ela se senta em seu colo. Minha mãe com certeza me mataria se eu sentasse no colo de um garoto, principalmente em um lugar com tanta gente assim.
O grupinho começa a me encarar e a comentar entre si, creio que seja de mim; logo um homem loiro do cabelo grande e com piercings na orelha entra na sala fechando a porta
– Meu Deus! Já vi que voltaram dessas férias a mil! Sentem motherfucks! - Olho pra Uriah assustada segurando a risada
– Relaxa, esse é o jeito dele. Você vai gostar, eu garanto - desço da mesa e sento-me na cadeira, todos que estavam em pé fazem o mesmo.
– Hmm... vamos ver- seus olhos passeiam pela sala e para em mim- Estou vendo um lindo rostinho novo. Que milagre, gente nova nessa sala! - ele diz extrovertido - Nem vou pedir pra vocês se apresentarem porque já os conheço até de mais. E quanto a você- ele me olha- vai poder conhecer esses pés rapados depois- dou um sorriso e olho em volta, estão todos me olhando- Sou o Eric, seu professor de história e filosofia... qual é o seu nome galeguinha ? - fico meia travada e olho pro lado, Uriah está rindo, pergunto pra ele o que houve apenas levantando uma sobrancelha e ele balança a cabeça dizendo nada
– É... Beatrice - ouço alguns cochichos e sinto que ainda olham pra mim.
– Quantos anos você tem? - pergunta a garota que sentou no colo do tal Quatro.
– 18 - ela sorri como se tivessem contado alguma piada- Alguma problema? - pergunto séria e seca e ela me olha surpresa
– Não... imagina querida– ela se vira para o garoto e começa a beijar ele. Morro solteira mas não faço umas presepada dessa.
– Nita, pare com isso ou vou ser obrigado a separar os dois - Eric diz sério e ela revira os olhos enquanto o garoto continua sem fazer nada, apenas me encara - Bem pessoal, eu nem vou dar conteúdo pra vocês hoje a pedido do diretor, mas amanhã começa o batente em? Podem ficar à vontade, tentem não se matar, por favor- logo a barulheira começa de novo- Beatrice posso falar com você? - me levanto e vou até a mesa dele.
– Sim!?
– Você já reprovou?
– Professor, me desculpa. Não quero falar sobre isso aqui na sala de aula.
– Tudo bem então, respeito. Depois nós conversamos- dou um sorriso e saio- Bia! - olho para trás - posso? -ele pergunta
– Pode! - digo animada, gostei do apelido mas prefiro Tris.
– Seja bem-vinda!
– Obrigada professor.
Volto para o meu lugar e me sento, Uriah não está mais aqui e estou me sentindo um peixe fora d'água como já imaginava que ficaria; pego meu celular no bolso, coloco uma música e fico distraída olhando pra cima.
– Ei Beatrice! - saio de meus devaneios
– Oi Uriah?
– Quer doce? - digo que sim e ele enche minha mão de balinhas de gelatina em formato de ursinhos, parecíamos duas crianças.
O os outros horários passaram bem rápidos e Boa parte da turma conversou comigo, exceto o grupinho dos carinhas reprovados e das metidinhas que só me olhavam de longe. Chegou o intervalo, o sinal tocou e os animais selvagens saíram correndo, sobrou apenas eu e... E eu dentro da sala; peguei um dinheiro na bolsa, meu celular e sai da sala fechando a porta e apagando a luz.
– Nossa que educadinha - encaro o garoto que disse isso. Ele é bem alto e é até bonito- Sou Peter.
– Oi Peter.
– Você é a Beatrice, sou da sua sala e costumo ser bem irritante - ele sorri e acabo rindo também, ele parece engraçado.
– Vou indo, até mais Peter - ele dá um tchauzinho.
Desço as escadas e percebo que a escola não é muito cheia, deve ter no máximo duas sala de cada turma com menos de 35 alunos, aqui vai do 7 ano ao 3 ano do ensino médio, bem diferente da escola governão que eu estudava quando meu pai se foi, eu gostava muito de lá.
Não entendo essas pessoas, parece que nunca viram uma pessoa nova na escola, não tiram os olhos de mim. Me sinto envergonhada, acho que tem alguma coisa de errado comigo. Caminho até a cantina que não está tão cheia e espero minha vez na fila, peço um café expresso e um sanduíche de presunto, não combina muito mas eu adoro combinações que não combinam.
Volto para a sala de aula mas fico do lado de fora escorada na bancada que impede que eu caia lá em baixo e fico olhando para a parte de baixo onde se concentram os alunos da escola no recreio.
– Sozinha Beatrice!? - Uriah diz sorrindo
– Pois é, não tenho amigos aqui- faço bico
– Magoou - ele põe a mão no peito- doeu como um tiro
– Para de drama! - fico rindo da cara dele- Aliás, me chama de Tris
– Tudo bem Tris. Você não me contou nada sobre você, só o seu nome e sua idade...
– Ai Uriah, sou tão complicada... Não sei se entenderia - logo aparece vindo da área do banheiro um grupinho de garotos da minha sala, entre eles o tal Zeke e o tal menino que tem nome de número, Peter também está lá com um outro garoto que não conheço.