Amor à venda. escrita por Nina Olli


Capítulo 35
Capítulo 31


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores! Vocês acharam que eu ia deixar o ano acabar sem uma atualização? Estou passando a virada de ano em casa (por causa dos meus cachorros, eles ficam assustados com os fogos e tals) e então pensei... "Já tenho um capítulo quase corrigido, porque não postar?" E aqui está... Nossa última postagem de 2016. Falo mais com vocês nas notas finais... Boa leitura.



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"Se eu fosse um homem simples
Eu poderia te fazer entender
Não haveria nenhuma razão para pensar duas vezes
Você seria o meu sol, você seria a minha luz
Se eu fosse um homem simples..." (City and Colour)

— Eu me diverti tanto hoje. — Elaine começou a dizer, enquanto pendurava o seu chapéu no cabide.

— A senhora fez esforço demais hoje, isso sim. — Vincent retrucou um pouco rabugento.

— Você só consegue manter o bom humor quando Gil está por perto? — Elaine o provocou. — Eu não poderia morrer sem antes aprender a andar de bicicleta, querido. — amenizou a voz.

— Eu já disse que não gosto que a senhora fale essas coisas.

— Que coisas? — Elaine o encarou. — Que eu vou morrer? Tenho uma revelação para você, meu filho… — ela se aproximou e sussurrou em seu ouvido. — Todos vamos.

— Apenas pare de falar disso como se fosse uma ida ao supermercado.

— Eu espero não encontrar nenhuma fila lá em cima… Ou lá embaixo. — Elaine piscou travessa para o filho.

— A senhora é completamente maluca, sabia?

— Claro que eu sabia. — Elaine sorriu largo e Vincent revirou os olhos.

— Por que me chamou até aqui? — Vincent perguntou com receio e sua mãe imediatamente cessou o sorriso, indo em direção a gaveta do antigo aparador e retirando de lá uma pasta marrom.

O assunto parecia sério.

— Por causa disso. — Elaine entregou a pasta nas mãos de Vincent, que ao começar a ler, mudou a sua expressão curiosa para uma totalmente atordoada.

— Que porcaria é essa?

— Isso é um testamento.

— Eu sei o que é um testamento. — as palavras de Vincent  borbulhavam. — Eu quero saber por que a senhora está me entregando esses documentos agora? 

— Porque eu vou morrer, Vincent. — ela respondeu simplesmente.

— Pelo amor de Deus, pare de ficar repetindo isso! — ele alterou a sua voz, perdendo de vez o controle.

— Então pare de negar! — Elaine se alterou também, deixando Vincent sem palavras. — Existem coisas que precisamos resolver. Eu não posso deixar nada pendente e você precisa aceitar isso.

— Eu não quero ler esse monte de merda! — Vincent arremessou a pasta no chão, fazendo alguns papéis voarem pela sala.

Se sentiu ridículo um segundo depois. Parecia uma criança contrariada, mas ele simplesmente não conseguia. Não conseguia entender. Não conseguia aceitar.

— Uma hora precisaremos falar sobre isso.

— E tinha que ser justamente hoje? Sabe há quanto tempo eu não a via tão feliz? — Vincent ofegou e soube que os seus olhos úmidos revelaram mais do que gostaria. — Desde que ele nos deixou! 

— Vincent… — o tom de lamento na voz de Elaine só piorou a sua angústia. — Meu amor, eu-

— Não! — Vincent se afastou da tentativa de toque da mãe. — Não me olhe como se eu fosse um coitado.

— Isso é injusto, Vincent… Eu só quero te entender.

— É um pouco tarde para isso. Eu não sou mais aquela criança que o pai esquecia de buscar.

— Mas continua tão machucado quanto antes.

— Eu tenho que ir. — Vincent ignorou o último comentário da mãe. — E muito obrigado por estragar o nosso dia. — disse com uma amargura desnecessária. Elaine não merecia isso. 

Nenhum deles merecia.

Vincent bateu a porta da casa com força e entrou rapidamente no carro. Deu partida e dirigiu até o seu apartamento, sequer se dando conta do caminho. Precisava se acalmar, nada justificava ter deixado Elaine daquela maneira, mas não estava em condições de raciocinar.

Assim que pisou no hall de entrada, sentiu um aroma saboroso que fez o seu estômago reclamar. Nem havia percebido que já estava com tanta fome assim. Andou calmamente até a cozinha e viu a mesa posta com mais capricho que o normal. Avistou a assistente parada em frente ao fogão e aquela cena tão familiar conseguiu suavizar o seu humor. A jovem usava uma de suas calças de flanela e um avental cheio de babados que quase o fez rir alto demais.

Gilan era uma bagunça adorável.

Ele a viu provar um pouco de molho e lamber os lábios, e seu estômago retorceu, e não de fome dessa vez.

— É alguma data especial e eu me esqueci? — entrou na cozinha e se aproximou da mesa, tocando cuidadosamente os talheres. 

— Não exatamente… — Gilan sorriu um pouco e aquele frio em seu estômago apontou novamente. — Mas podemos marcar no calendário como o dia que o Sr. Parker corajosamente tolerou um piquenique no parque.

— Faremos um feriado nacional, então. — ele sorriu de lado, enquanto se aproximava do fogão. — Está com um cheiro ótimo.

— Espero que o gosto também esteja. — Gilan remexeu o molho com pressa. — Peguei a receita na internet, sabe como é… Não posso garantir o resultado.

— Tenho certeza que está incrível. — ele disse com sinceridade, fazendo Gilan corar um pouco.

Deus! Ela era tão bonita. E Vincent se perguntou como havia sido capaz de aguentar tanto tempo sem tocá-la? O seu corpo se sentia doente, num estado vergonhoso de necessidade. Deu dois passos na direção da jovem, ele precisava abraçá-la, ou enlouqueceria de tanta vontade.

— Eu tenho um presente para você. — foi a voz de Gilan que o impediu de avançar mais.

— Presente? — Vincent ficou um pouco sem graça com a possibilidade de ganhar qualquer coisa da assistente.

— Sim. É algo que comprei já faz um tempo mas esqueci completamente. — a jovem disse, ainda mexendo despreocupadamente o molho, sem desconfiar que alguns segundos atrás correu o risco de ser beijada contra aquele balcão. — Está lá na sala, em cima da mesinha de centro.

Vincent se afastou da assistente e ergueu uma de suas sobrancelhas. Ela o fitou e sorriu leve, o encorajando a ir até a sala buscar o tal presente. Ele andou até o outro cômodo e imediatamente avistou uma pequena caixa cor-de-rosa enfeitada por um laço vermelho e quase não segurou o sorriso.

— Adorei a embalagem! — ele gritou para a assistente num tom de deboche, enquanto desembrulhava a caixinha.

Não tire sarro, foi a única cor que encontrei. — ela gritou de volta. — Abriu? — ela gritou mais uma vez.

A resposta era sim. Ele tinha aberto o pacote. Mas Vincent não conseguia responder. Seus dedos tremiam enquanto seguravam a pequena caixa, encarando fixamente o objeto na sua frente.

Era um chaveiro.

A porcaria de um chaveiro.

“Me lembrei de você”. Era o que estava gravado no objeto. 

Vincent não tinha certeza, não conseguia raciocinar. De repente, o peso de tantas coisas vieram à tona. Céus! Vincent dormiu com Gilan e agora ela estava no outro cômodo fazendo o almoço deles. 

E há alguns segundos ele só pensava em deixá-la nua no chão daquela cozinha. Isso era loucura! O que estava acontecendo com ele? Em que momento se colocara nessa situação? Era errado. E ele ia ferrar com tudo. Vincent sabia que iria. 

O que tinham não passava de uma mentira. Mas, por que Gilan parecia tão assustadoramente real? O pensamento o sufocou. E tudo se tornou compacto, claustrofóbico. Vincent tacou a pequena caixa em cima do sofá, pegou as chaves do carro e sem responder Gilan, deixou o apartamento.

xXx

O seu relógio de pulso marcava oito da noite. E isso significava que Vincent havia passado o dia inteiro bebendo.

O bar era imundo e tinha um cheiro forte de tabaco, mas isso não o impediu de devorar a única coisa comestível por ali. Com isso, enganou a fome… E o tempo. Mas precisava voltar. Precisava encarar Gilan e todos os pensamentos que aquele whisky de péssima qualidade se esforçava em apagar. 

O que o assustava tanto? O que o impedia de estar ao lado de Gilan? Merda! Aquilo era tudo o que ele mais queria. Estar ao lado dela. Vincent queria voltar para aquele apartamento desde o primeiro segundo que saíra.

Tirou o celular do bolso e viu algumas ligações perdidas. Casa. Era o que marcava o visor do celular. Casa. Era o que ele queria acreditar que tinham juntos. Pela primeira vez, desejou voltar atrás naquela maluquice de contrato. Nunca deveria ter proposto esse casamento para Gilan. Nunca deveria tê-la envolvido nisso. E muito menos tê-la tocado e bagunçando todos os sentimentos que ele inutilmente tentava controlar.

Vincent sabia tão certo quanto a terra é redonda que jamais seria capaz de fazê-la feliz. Ele sequer era capaz de manter as suas promessas. Havia deixado a assistente sozinha, de novo. E no fundo, a sua consciência gritava que aquela não seria a última vez. Porque ele era um covarde e sempre encontrava uma maneira de fugir.

Igual ao seu pai. Uma voz ressoou em sua cabeça.

Bebeu mais um gole do líquido amargo e olhou fixamente para o seu celular. Vincent buscava alguma coisa. Ele só queria aliviar todo esse desespero… De qualquer maneira. Então, os seus dedos discaram um número adormecido – mas jamais esquecido – e para a sua total surpresa, houve menos toques do que ele esperava encontrar.

Alô? 

Vincent queria responder, mas a sua respiração ficou pesada demais, lhe faltava ar.

Vince? — ela o chamou, e ele quis gritar. Odiava aquela sensação. Odiava lembrar de dias tão felizes justo agora que se sentia tão ferido. — Aconteceu alguma coisa? Me responda!

Vincent gargalhou. Ria tão desesperadamente que logo os risos se tornaram soluços.

— Você bebeu? — ela perguntou, com uma tensão na voz que não passou despercebida.

—  E isso te preocupa agora? — ele soltou um grunhido rouco quando se deu conta da dor de cabeça que sentia.

— Onde você está? — ela continuou, e ele ouviu barulhos de chaves do outro lado da linha.

— Eu estou onde sempre estive. — conseguiu responder, sentindo os seus olhos se tornarem turvos.

— Me fale o endereço, eu vou te buscar.

— Eu estou preso num maldito inferno, Amelia. Num maldito inferno. — ele olhou ao redor daquele bar imundo. 

E tudo ficou escuro.

xXx

— Você gostou? — Gil gritou novamente. Estava ansiosa para ouvir a resposta do chefe. — Já que você me deu o seu chaveiro, eu achei que você deveria ficar com esse. Eu comprei naquele dia que passeei pela cidad-- — o barulho da porta batendo a interrompeu. Gil secou as suas mãos no avental e andou depressa até a sala. — Vincent?

Mas o cômodo estava vazio. Gil observou a numeração no visor do elevador diminuir. O chefe havia saído. Mas para onde? 

A princípio, pensou que ele poderia ter ido apenas comprar bebidas, por isso, decidiu servir o almoço normalmente. Mas depois de esperá-lo por quase uma hora, e de diversas tentativas falhas de encontrá-lo, ficou bastante óbvio que Vincent não voltaria. E Gil almoçou sozinha.

Durante o dia, não saberia dizer o que era maior: a sua preocupação ou a sua decepção. Gil passou a tarde toda fazendo coisas inúteis para se distrair e não pensar no chefe. Mas a quem ela queria enganar? 

Estava tão preocupada.  E magoada. Profundamente.

Tudo o que envolvia Vincent a deixava assim, à deriva. E talvez fosse mais fácil se convencer que o chefe não sentia o mesmo que ela. Que todas essas angústias eram apenas suas. Que ela sofria de maneira completa e deprimentemente solitária. Mas isso era uma mentira. Ele estava sofrendo também, ela sabia, ela conseguia enxergar. Mas de que lhe servia saber se o chefe não permitia que ela se aproximasse? Se tudo o que ele fazia era fugir? 

Mas Gil também fugia, o tempo todo, mesmo que não quisesse admitir. E no final do dia, eram dois covardes dividindo o mesmo teto.

Já passava das onze da noite e Vincent não atendia o celular. Havia sumido por horas, sem deixar nenhuma explicação.

Desligou a TV, cansada daquela programação repetitiva e resolveu se deitar. Vincent era um homem crescido e ela não poderia esperar que ele começasse a dar satisfações agora. A noite anterior deixou um falso sentimento de proximidade, mas isso não existia entre eles. E ela não seria a primeira a tocar nesse assunto. Ainda lhe restava um pouco de autoestima, afinal.

Não soube exatamente quando conseguiu pegar no sono, mas o barulho insuportável do telefone a despertou do que parecia ter sido cinco minutos de descanso.  Quando você recebe uma ligação às duas da manhã nunca é por uma boa causa. E Gil sentiu o seu coração acelerar antes mesmo de atendê-la.

— A-alô. — a sua voz saiu falha.

— Sra. Parker? — escutou a voz suave de uma mulher.

— Sim. — o seu corpo começou a tremer e os piores pensamentos rodearam a sua mente.

— Poderíamos falar com o Sr. Parker, por favor? — a mulher do outro lado da linha perguntou.

Gil estranhou, uma vez que esperava que esse telefonema trouxesse notícias justamente de Vincent.

— Ele não está, quem fala?

Somos do hospital MD Anderson… A senhora Parker… — a mulher fez uma pausa angustiante. — A senhora Elaine Parker sofreu uma grave hemorragia e precisou ser internada imediatamente.


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Notas finais do capítulo

Antes de tudo eu quero agradecer de coração as mensagens que recebi depois que desabafei sobre a minha depressão. Foram tantas palavras lindas, tantos desejos de melhoras que me fizeram um bem maior do que vocês imaginam... Posso não ter milhões de leitores mas com certeza tenho os melhores... MTO OBRIGADA, VOCÊS SÃO ESPECIAIS DEMAIS!

Também quero dizer que batemos DEZ MIL visualizações! CARACA!!!! Eu nunca vou me acostumar com isso, com pessoas lendo o que eu escrevo, é demais... é a melhor sensação do mundo, obrigada por me darem isso, por fazerem o meu 2016 um ano melhor. Que 2017 nos traga renovação, força e muita tranquilidade para alcançarmos nossos objetivos. Feliz Ano Novo queridos leitores!!!! Até mais... o/

Obs: foi mal terminar o capítulo com essa bomba, mas o próximo não demorará muito, promessa de dedinho.... =p



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