A Casa da Rua de Trás escrita por Vitória Elizabete


Capítulo 14
Salva Pelo Gongo




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LIZA

Cheguei em casa e fui assistir televisão, nem consigo saber o que esta passando, cabeça em outro lugar chamado Marcos. Isso não vai passar?

Rapidamente deu a hora de o Idinho chegar.

— Oi Liza. — Sua voz animada me retirou do tédio do programa.

Olhei para ele.

— Oi. — Respondi com um pequeno sorriso.

— Bem. — Ele se sentou do meu lado — Sua mãe pediu para mim te avisar que ela vai chegar um pouco mais tarde. — Percebi que Idinho estava sem graça, talvez, por ele me dar a noticia.

— É. Eu já suspeitava. — Suspeitava mesmo, já estava acostumada com os horários malucos de minha mãe.

— É. O caso parece estar um pouco complicado. — Ele me olhou brevemente. Eu sabia que Idinho não gostava de ficar sem a minha mãe. Senti um pouco de pena, seus olhos brilhando para a televisão, vire e mexe observando a tela do celular, afim de ver se a hora passava mais rápida. Calma ela logo chega.

Se passou dez minutos e ele se cansou, bocejou e subiu para o quarto, desliguei a TV e fui para o meu, peguei o meu livro e fiquei lendo, depois de umas dez paginas acabei cansando, tentei achar alguma coisa para fazer, minha vida era uma verdadeira chatice sem meu computador, fui para a varanda e me lembrei do Victor insuportável. Supliquei em pensamento que ele não estivesse em seu quintal, e graças a Deus, quintal vazio.

Fiquei um tempinho na varanda, mas com o quintal ficando mais escuro, fiquei com um pouco de medo e voltei para o quarto, estava um calor do inferno e eu que pensei que iria esfriar, o ar condicionado não estava pegando, resolvi fazer uma faxina no meu quarto, tirei um monte de coisa que não queria mais. Depois liguei para a Fabi, ficamos conversando até minha mãe chegar.

Jantei, e assisti a um filme de romance, que tristeza pouca é bobagem.

Minha mãe só assistiu ate a metade, ela parecia estar muito cansada.

— Vou dormir, e você já sobe pro seu quarto. — Ela subiu já brigando com o Idinho — Higor, por que não me lembrou do ar condicionado? — Fechou a porta e o som se abafou. Desliguei a TV e voltei para o meu quarto, me revirei na cama e o calor não passava. Tomei um banho. Voltei para o quarto, demorei muito para dormir.

Acordei de manhã morrendo de calor, parecia que estava mais quente.

Tomei uma ducha e me aprontei para a escola.

Chegando na escola não olhei para os lados só andei rapidamente para a sala de aula de aula.

Antes que me sentasse à víbora, vulgo Dani, veio tirar satisfação.

— Você é surda ou burra? — Lá estava ela parada em frente a minha carteira, com a ponta de seus cabelos vermelhos batendo na capa do meu caderno, batendo um dos pés no chão.

— Como é que é? — Deus do céu, da terra, da natureza, dai-me paciência.

— É isso mesmo. Você não ouviu eu te falar que não queria você perto do Marcos?

— Do que você esta falando? — Percorreu rapidamente a hipótese de que ela estava falando do meu breve encontro na saída com ele, mas, impossível que Marcos tinha comentado algo. Ele não poderia ser tão sem noção.

— Não se faz de louca, to falando da sua carta!

Carta? Que carta? Ou não, minha carta! Será?

— Que carta? — Minha respiração estava muito acelerada.

— Desiste de uma vez, você quer saber de uma coisa? — Ela sorriu maldosamente, eu estava a odiando. — Ele esta me pedindo em namoro. Eu ainda não respondi, mas, já sei qual vai ser a resposta.

Engoli seco. Não queria ouvir mais nada. Cadê o professor dessa aula?

— Eu direi sim a ele, e você não vai poder, ficar correndo atras dele, como uma cachorrinha.

Ela me deixou sem jeito e a vergonha cobriu o meu rosto.

Ela saiu andando para o fundo e eu me sentei, fiquei lá o tempo todo, quieta e imóvel, não fui para o intervalo, fiquei na sala. Copiei todas as matérias do dia em piloto automático, não ouvi se quer uma explicação.

Na saída a ruiva estava ao lado do Marcos, e quando me viu, o cutucou e apontou para mim. Ai não senhor.

— Elizabete!

Olhei e era Marcos. Chamando-me pelo meu nome, não pelo apelido. Meu coração disparou, ele nunca me chamou de Elizabete. Virei calmamente e observei suas feições, completamente sério e posicionado ao lado da ruiva.

— Oi! — Respondi em um sussurro. Lutei com todas as forças para não tremer e nem gaguejar.

— Meu, sem maldade, vou ser muito direto com você, por que não sou de rodeio. — A expressão em seu rosto deixará meu coração na boca, o que houve? Ele continuou.

— Eu não quero nada com você. Certo? Mina me deixa em paz, tranquilo. Se você vive no passado, de relíquia, o problema é seu, eu não, eu passo pra frente! Quem vive de passado, sê ta ligada, que é museu.

Olhei em volta e se formou uma rodinha de pessoas me azarando.

— Você poderia ter me avisado pelo MSN. — Confrontei, nervosa e tremendo. — Porque não me avisou Marcos, eu não mereço?

Ele riu.

— Ixe. E isso te interessa? Eu não tenho que te dar satisfação, e outra coisa.

— O que? — Eu estava tão nervosa, como ele pode me falar tudo aquilo.

— Sai do meu caminho, do meu namoro com a Dani. Demorei muito tempo, e agora consegui que ela aceitasse, você, logo você Elizabete, não vai me atrapalhar.

A rodinha de pessoas estava cada vez mais apertada, eu mal conseguia ouvir meus pensamentos, não conseguia controlar a minha vontade de gritar, espernear, oque eu faço?

— Certo. E quando você vivia atrás de mim? Disso você não lembra. Que eu confiei em você, um grande moleque! — Meu tom de voz estava alto, quem estava do outro lado da rua logo se aproximou.

— Não tivemos nada muito sério. Só nos divertimos, foi apenas isso.

O pessoal começou a gritar, todos rindo, ele se virou e foi para o meio da multidão rindo mais ainda.

— Ou você achou que seria para sempre? A gente iria casar? — Ele estava caçoando de mim — Foi uma delicia Eliza, você manja muito, sê ta ligada, mas meu, segue teu rumo.

Abaixei a cabeça e fiquei imóvel, eu estava em estado de choque? Provavelmente. Como assim eu manjo? Gíria ridícula. Ele sabe muito bem, que ele foi o meu primeiro, entreguei tudo oque tinha, para ser mais sincera.

Não estava conseguindo nem ao menos levantar o braço pra arrumar a minha bolsa que estava deslizando para o chão.

Respirei fundo e levantei um pouco a minha cabeça e consegui ver todos rindo, era obvio. Todos riam do show que o Marcos estava fazendo comigo, mas, para piorar, senti alguma coisa pingar na minha mão tremula,era uma lagrima, eu estava chorando?

A ardência veio rapidamente em meus olhos, sim eu estava chorando e não conseguia me controlar, não conseguia respirar de forma correta, cai em soluços, lagrimas e soluços em meio um choro dolorido e vergonhoso.

— Ai Elizabete? — Eu olhei em direção a voz fina que me chamava, era Dani. —Se coloca no seu lugar de ex, e sai fora. Tá! Passado é passado e é a regra! Existem coisas melhores do que as outras e como consequência, as melhores substituem as piores, no caso aqui, eu sou a melhor! E Você?

Ela se virou rindo, a multidão só piorou, tentei me virar e ir embora mas eu estava cercada, as pessoas estavam zombando de mim, tudo estava tão agitado, tanta barulheira. Senti pena de mim. Tem coisa pior do que você esta tão ferrada, a ponto de sentir pena de si?

Antes ; Há onze meses

Ele me segurava, enquanto eu tentava correr dele. Era impossível com ele me agarrando.

— Não foge gatinha. — Ele gargalhava com a minha fraqueza.

— Assim não tem grassa Marcos. — Sorri, me entregando aos seus abraço.

Ela me puxou para ele, me beijou.

— Sabia que você tem o melhor beijo do mundo?

Eu sorri envergonhada.

— Obrigada.

Ele pegou na minha mão e nós continuamos caminhando pelo Ibirapuera.

Agora

Ele estava beijando ela, eu senti tudo girar, e fiquei zonza, minhas pernas estavam tremulas, eu precisava me sentar. Renda-se Liza— gritei para mim em meio aos soluços desesperados. Já estava quase caindo de joelhos quando alguém me segurou pela cintura.

Olhei para cima, na intenção de ver o rosto de quem me segurava, mas, a luz do sol estava ofuscando seu rosto. Quem era? Suas mãos continuavam na minha cintura, observei-as e constatei que eram masculinas, duas mãos médias, pálidas. Percorri meus olhos pelos seus braços, um pulseira rustica com um bracelete em prata envelhecida, agarravam seu pulso esquerdo. As veias de seus braços estavam bem marcadas sobre a pele.

— Você esta bem? — Aquela voz rouca, chamou-me atenção. Eu conheço essa voz.

Observei seu rosto que não estava mais escondido pelos raios solares. Victor?

Eu olhei em seus olhos, o castanho mogno brigava com um fio dourado. Sua íris dilatada, agora chamando-me ao presente momento. Eu estava muda.

Então ele apanhou a minha bolsa, acomodou-a em seu ombro e foi em direção ao Marcos.

A multidão o seguiu, mal conseguia enxerga-los. Só ouvi o que estavam dizendo.

— Que foi? Me achou bonito — A voz de Marcos soava irritante.

— Não. Eu tenho repulsa de um ser enojável, como você! — Era a vez da voz rouca de Victor preencher o debate.

Eu não sei o que aconteceu. Quando consegui avista-los reparei que Marcos estava tremendo encarando o rosto sorridente de Victor. Suas calças de um jeans claro, começaram a escurecer no meio das coxas, ele estava chorando, e as calças cada vez mais molhadas.

Enquanto Victor continuava com um grande sorriso malicioso nos lábios, Marcos tremia. Logo ele se virou e saiu fugindo, correndo, levando a multidão junto com ele, a perseguir e zomba-lo.

— Vamos. Eu vou te tirar daqui. — Victor me apanhou pela mão e caminhou para fora da entrada do Aurélio.

***

Caminhávamos calmamente para eu poder acompanha-lo. Victor percebendo minha dificuldade parou um pouco, eu abaixei minha cabeça e vi as minhas lagrimas molhando o chão, levantei-a e me deparei com o Victor me fitando com uma cara angustiada.

— Me desculpe, eu não consigo parar de chorar! — Voltei a encarar o asfalto.

Ele respirou fundo, se encostou no muro de arame que cercava a pista de ciclismo, posicionou uma de suas mãos em seu peito, como se não conseguisse respirar.

— Você está bem?

Ele me olhou e sorriu. Ergueu-se rapidamente, seu rosto frio veio a se tornar corado.

— Estou, não precisa se desculpar. Só precisa parar de chorar.

Eu levantei a cabeça e encarei o caminho para casa, ele esta certo, preciso parar de chorar. Voltei a caminhar, com a cabeça erguida, sem tropeçar.

Victor parecia gostar do que estava vendo, sorriu alegremente quando eu me recompus.

Tínhamos chegado na esquina da minha rua. E eu continuava ereta.

— Você esta melhor? — Sua voz rouca me trouxe um rubor. Graças a você.

— Um pouco. — Respondi envergonhada, sem encara-lo.

— Bem. Qualquer coisa eu estarei ali. — Ele se aproximou de mim, levantou meu rosto com delicadeza, me fazendo deparar-me com o meu reflexo nos seus olhos. — Atrás da sua sacada, no quintal. Sendo o seu vizinho.

Ele continuou olhando-me nos olhos, do castanho escuro, para o castanho vermelho, nunca antes visto em toda a minha vida.

Soltou o meu queixo, apanhou minha bolsa e ajeitou-a em mim. Eu a arrumei, já apanhando a chave do portão de casa. Voltei a examina-lo, mas Victor não estava mais na minha frente, virei a cabeça buscando-o, ele tinha simplesmente sumido em questão de segundos.

Voltei quieta para a minha casa. Como ele conseguiu desaparecer tão rapidamente? Fui retirada dos pensamentos duvidosos quando fui surpreendida pelo senhor carteiro, que feliz me entregava as cartas.


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Notas finais do capítulo

Boa Noite queridos. Acho que você cara (o) leitora (o) que já estava apaixonada pelo Victor, vai gostar desse capitulo ;)

Primeiro de tudo, quero agradecer, AS 400 VISUALIZAÇÕES. E obrigada pelos queridos comentarios



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