Ela me estende a mão. Entendo que deseja que eu a ajude a se pôr de pé. Mais uma vez sinto o toque de outrora, a mesma leveza e maciez que aquela vez me atordoaram. Ela, com o meu apoio põe se de pé graciosamente, olha-me nos olhos, não diz uma palavra e sem soltar minha mão começa a puxar-me pelo caminho coberto.

Começamos a correr, percebo que o sorriso inocente de criança ainda não saiu de seu rosto quando ela me olha com um brilho indescritível na face e me mantenho calado, apenas a me deixar ser puxado até que não sinto mais meus pés tocarem o chão e num espasmo percebo-me a cair, cair e cair, o pico do desfiladeiro de onde aparentemente pulamos estava cada vez mais acima e se afastava... Mergulhei tão fundo em seu jeito meigo que mal vi que havia pulado... Ela olhou-me uma última vez, ainda sorrindo. Estávamos prestes chegar ao solo.

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Abro os olhos. Me vejo deitado junto à margem do lago, tudo isso não passara de um louco sonho. Louco e inexplicável sonho.

Não entendo... Será que a leveza desta brisa fez-me dormir? Talvez... Devagar, sento-me e começo a olhar o lago que em meu sonho subitamente congelara e de repente sinto uma lágrima correr em meu rosto. Por que estou a chorar? Por que estou sentindo este aperto em meu peito? Devo estar enlouquecendo, só pode ser isso... Talvez seja melhor fazer uma consulta com algum psiquiatra.

Choro calado, com o punho fechado e grudado ao peito, como se tentasse esmagar meu coração e acabar de vez com isso. Detesto chorar. Fico de pé e olho meu reflexo nas águas límpidas:

—_Você está horrível mesmo, hein? – Digo a mim mesmo antes de sorrir com frieza.

Respiro fundo enquanto me abaixo e pego um pouco de água com as mãos, passo em meu rosto lentamente e começo a caminhar de volta para casa... O sol logo vai se pôr, vou jantar e dormir. O dia de hoje foi demais, já está na hora de acabar.

Chegando em casa, fiz um pouco de macarrão instantâneo e comi, depressa. Estava sem fome, então resolvi não comer nada mais que isso. Após um banho me dirigi ao quarto para dormir.

Na manhã seguinte, fiz o que era de costume e já estava no caminho para o colégio. Devo admitir que estava de certa forma ansioso... Desde que acordei não paro de pensar naquela garota de sorriso inocente, de toque suave e olhar encantador, quero me encontrar novamente com ela. Quero entender o que está acontecendo... Quero entender porque comecei a vê-la e sentir sua presença. Não faz sentido, afinal. Ela não deveria estar aqui, de verdade.