Abigail e a Fera de Hillstone escrita por amarf


Capítulo 2
Atlanta, 2013




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Atlanta, 2013

Olhou de soslaio para Olivia que tinha os cabelos curtos caiam em cachos delicados indo contra sua selvageria indomável, os olhos verdes tinham um brilho divertido, nos lábios um sorriso bem como seus olhos, travesso e espontâneo. Savana em sua frente tinha o cabelo loiro solto em ondas leves, a pele clara estava avermelhada graças a tentativa falha de pegar um bronzeado nas férias, os olhos verdes estavam semicerrados e ligeiramente irritados com a amiga da frente.

– Liv pega leve com a Sav, ela…

– Não estraga a brincadeira, Abigail.

– Liv você é…

Savana não terminou, encheu a mão com alguns sacos e caixas de McDonald’s felizes e jogou em Olivia que desmanchou o sorriso. As duas começaram uma discussão que Abigail não queria prestar atenção, as duas melhores amigas se espetavam sempre que tinham a oportunidade, o trio inseparável desde a sexta serie tinha mais defeitos que qualidade, as três eram peças de quebra-cabeças diferentes, mas isso nunca as afetou – Não tanto quanto deveria.

Quando Abigail Lincoln acordou naquela manha, não fazia ideia que tudo mudaria tão rápido. Tinha marcado para sair cedo com as amigas, mas acordou atrasada e teve que tomar café as pressas. Logo depois do banho desceu as escadas em um pulo sendo recebida por Lui, seu cachorro loiro e peludo que abanava o rabo querendo receber carinho emitindo latidos estridentes como um alegre bom dia. Na cozinha, seu pai Albert olhava concentrado para o jornal murmurando alguns sons quase incompreensíveis enquanto sua mãe, Elena, comentava algo sobre o trabalho sem relevância.

– Bom dia – Abigail disse sentando-se enfiando uma torrada na boca mal a mastigando.

– O mundo não vai acabar Abigail – Sua mãe riu gentil – Não se apresse.

– Se eu não chegar à casa da Olivia em três segundos, vai sim.

Seus pais riram sabendo do temperamento de Olivia que era bastante conhecida por seu pavio curto. Mal terminava de engolir o café, o telefone tocou.

– Oi Olivia… – Abigail soou derrotada

– Você não vai vim? Achei que tínhamos marcado para as oito da manha! Se você tiver esquecido, eu juro que vou ate ai te matar com minhas próprias mãos. É oito e quinze Abigail…

– Liv, eu já estou indo – Interrompeu a amiga – Chego em cinco minutos.

– Bom mesmo.

Quando saiu de casa, não caminhou apressado, o domingo estava ensolarado e os raios esquentavam sua pele de forma agradável deixando à calma. O cheiro de terra molhada no jardim das casas e o som dos irrigadores girando e jogando água era como musica. Que Olivia esperasse, o dia estava lindo demais para correr. Cada passo que dava sentia seu corpo inflar com uma energia indescritível, como se cada pedaço daquele momento maravilhoso estivesse entrando em seu corpo a deixando com um sorriso abobalhado nos lábios. Chegando a casa da amiga, que ficava a três quarteirões de sua casa, as viu na escada da varanda. Savana tinha estava gargalhando de alguma coisa, enquanto Olivia mantinha a expressão severa.

– Bom dia – Abigail disse quando se aproximou mais

– Bom dia nada! Você esta morta.

– Liv, eu só me atrasei um pouco, acontece. Aposto que seus pais nem estão prontos para nos levar.

– Chegaremos ao shopping amanha.

– Dramática – Savana comentou segurando o riso, passou o braço no de Abigail a puxando para dentro. Os pais de Olivia, Gordon e Marian, eram bastante diferentes da filha. Há alguns anos descobriram que tinham talento em serem hippies – Mesmo que nunca tivessem visto um, então de uma hora para outra se vestiam com roupas estampadas e coloridas, usavam miçangas e iam pelo menos duas vezes no mês acampar. Isso era um problema, pois forçavam Olivia a ir que forçava as amigas.

– Bom dia Sr e Sra. Pardo – Abigail disse tentando segurar o riso, os dois vestiam batas muito longas com estampas ciganas, lápis nos olhos de forma patética e alguns colares de pedra. O cabelo tingido de vermelho da Sra. Pardo estava desbotado e desordenado, como se não tivesse visto um pente há dias, o Sr. Pardo também não estava diferente, há não ser pelo fato de estar careca, mas tinha a aparência divertida.

– Bom dia? Maravilhoso dia – Sra. Gordon abraçou as duas garotas de vez – O sol nos abençoa mais uma vez e…

– Mãe! – Olivia bateu o pé – Vai ou não nos levar ate o shopping?

– Por que se apegarem as coisas materiais? Tudo que precisa esta aqui, querida – Gesticulou com as mãos para todos os presentes na sala, a sua voz era calma e paciente.

– Já chega desse papo.

– Por que não passamos o dia no jardim aproveitando o que a natureza nos oferece?

– Eu vou de pé – Olivia deu as costas para mãe

– Querida, não seja tão impaciente – Sorriu pegando a mão da filha – O que deve ser, será.

– Como?

Savana e Abigail não continham o riso quando estavam com eles, querendo ou não, transmitiam a paz e alegria que queriam. Ninguém podia negar. Os pais dirigiram em considerável velocidade, irritando Olivia mais uma vez. Quando chegaram ao shopping ela soltou um longo suspiro.

– Obrigado Universo!

– Olivia, não devia ser tão ruim com seus pais – Abigail comentou.

– Não estrague mais o meu dia. Ele já foi bastante ruim… – Ela caminhou em direção a uma das suas lojas preferidas, Forever 21.

O sorriso da garota aumentava cada vez mais que revistavam as roupas. Abigail não gostava muito de compras – Não tanto quando Savana e Olivia. Mas as acompanhava por ser divertido, naquele dia em especial de acordo com as amigas precisavam de algo novo, já que iam para uma festa dada pelo Liam Roodson, capitão do time de futebol e futuro marido de Savana. Tinham o plano perfeito em suas cabeças para poderem conquistar o garoto para a amiga.

Mal sabiam que naquele dia aconteceria algo que mudaria a vida de todos, principalmente de Abigail Lincoln.

*************

Olivia se preparou para devolver quando seu telefone tocou:

– Mãe, ainda não estamos…

O silencio ficou longo por muito tempo fazendo as amigas estranharem, Olivia nunca ficava calada. Seus olhos brilharam com lagrimas que ela segurava para não derrubar. Olhou Abigail de relance e sussurrou:

– Estamos indo para a portaria. Ate daqui a pouco.

– O que aconteceu? – Savana perguntou preocupada

– Temos que ir, agora… Eu… Minha mãe… Ela vai… – Não segurou as lagrimas – Eu não consigo falar – Caminharam ate a saída, sem saber o que havia de fato acontecido, quando o chevette velho da família Pardo estacionou, Abigail foi derrubada em um abraço apertado da Sra. Pardo.

– Eu sinto muito querida…

– O que aconteceu? – Perguntou confusa

– Seus pais… Eles… – Ela não conseguiu terminar a frase, a cigana entrou no carro acompanhada das garotas. Abigail só pensava o pior.

A sala de estar da família Pardo pela primeira vez não estava confortável, o sofá Pink bem no centro ficava em frente a um quadro com uma incrível paisagem que de acordo com a Sra. Gordon transmite paz e energias boas, nas paredes ao lado quadros da família toda, especialmente de Olivia. O papel parede florido e amarelado dava a sensação que estavam no século 19. A mesinha de centro tinha um pequeno vaso com uma flor que tentava sobreviver.

O que diabos a Sra. Pardo esta fazendo?! Eu mereço alguma explicação! – Pensou olhando fixamente para um ponto verde do quadro enquanto contava números primos cada vez que inspirava. Desde que descera do carro, a fumaça espessa e escura vindo da sua rua, uma incomoda sensação de solidão, medo e tristeza invadiram seu coração ao tempo em que tentava se segurar numa minúscula esperança de que tudo não passava de um engano e que logo seus pais entraria por aquela porta a abraçando dizendo que tudo esta bem como há poucas horas estava.

O numero primo 97 lhe dizia que não ia acontecer bem isso.

SEIS HORAS ANTES

– Lena, onde esta a ração do Lui? Não estou achando – Albert gritou esperando resposta. Nada. Silencio absoluto, exceto pelos latidos do cachorro da família que de uma hora para outra, passou de latidos famintos a latidos raivosos. Albert foi para a cozinha esperando encontrar a esposa, o que viu, o enfureceu.

– Solte-a – Disse ríspido, o homem a sua frente tinha o braço apertando o pescoço de Elena que tinha o rosto vermelho por dificuldades de respirar, tentava de todas as formas se soltar inutilmente.

– Albert, quanto tempo… – Soltou um riso debochado – Occísus – Sussurrou erguendo a mão direita como se empurrasse algo, Albert fez o mesmo movimento

– Neutral – Disse furioso – O que quer Shane? O que faz aqui?

– Rever velhos amigos… – Os olhos azuis brilharam por um segundo, ele soltou Elena que correu para os braços de Albert – É assim que me recepcionam?

– Não é nosso amigo.

– Já fui um dia, pelo que me lembro.

– Há muito tempo.

– Não acha que você guarda muito ressentimento? – Abanou as mãos com descaso, caminhou devagar ate uma das cadeiras da cozinha sentando-se.

– Nos deixe em paz, Shane – Elena falou piedosa.

– Não posso – Massageou a testa – Vim fazer o meu trabalho.

– Que trabalho? – Albert se aproximou

– Ignis – Sussurrou, seus olhos ficaram vermelhos por alguns segundos, então uma pequena chama balançou no ar indo ate o fogão causando uma repentina explosão.

– Protegat – Albert disse antes que fosse tarde quando previu o que aconteceria, o seu nariz começou a sangrar e o escudo que protegia ele e a esposa falhava a cada segundo.

– Isso que acontece quando deixa de praticar – O que se chamava Shane falou irônico.

– Achei que fossemos velhos amigos.

– Deixei de ser há muito tempo. Lembra-se? – Albert caiu de joelhos com a esposa desmaiada em seu peito, Shane se abaixou – Obrigado por ter colocado o nome dela de Abigail.

– Não… – Albert tossiu sufocado, o fogo já estava muito alto, tinha tomado toda sua casa, o escudo que o protegia tinha falhado de vez – Por que esta fazen…?

– Eu sou um Salazar.

Os olhos de quem um dia foi seu amigo fecharam-se como o da esposa, não se deu o trabalho de pegar seus corpos, o fogo faria todo o trabalho. Saiu da casa sacudindo a jaqueta como se tirasse a poeira normalmente, caminhou ate a calçada, antes de colocar os óculos escuros, virou-se mais uma vez vendo as labaredas de fogo mais altas do que esperava. Já não existia mais casa.

– BUM.

Seus lábios se moveram pela ultima vez antes que sumisse no ar de volta para sua casa.


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