Abigail e a Fera de Hillstone escrita por amarf


Capítulo 10
Capitulo oito


Notas iniciais do capítulo

O capitulo oito é uma volta no tempo, vamos retornar a New Orleans e conhecer melhor Rosalie Ridley (bebê que nasceu no prologo) e conhecer também um pouco dos clãs citados na historia.



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O quarto estava mais clareado do que o normal, todas as janelas estavam abertas e uma brisa fresca de aroma doce entrava no quarto, Rosalie estava deitada de barriga para cima. Sua cabeça pendia da cama e o sangue descia para sua cabeça, seus cachos dourados tocavam o chão e com as palmas de suas mãos erguidas para cima, ela passava de um lado para o outro uma pequena bola de neve, ouviu a porta abrir, mas não se moveu.

– Rosalie, meu doce… Não desceu para o almoço. Esta passando mal? – Elizabeth se aproximou da filha, seu longo vestido rosado deslizava pelo chão com suavidade.

– Eu sou uma desgraça.

– Ora essa, não diga besteira… – Elizabeth disse irritada – Você é um doce. Meu doce.

– Não me leve a mal, mamãe. Mas eu queria ser o doce de outra pessoa – Ela se sentou na cama apertando as unhas nas palmas da mão fazendo a bola de neve estourar em flocos de neve em sua cabeça.

– Eu posso ao menos saber o nome desse sortudo?

– Sortudo mamãe?! – Ela revirou os olhos – Eu, no mínimo, o deixaria louco.

– Já ouvi dizer que isso é um dom – Elizabeth disse gentil se aproximando da filha, sentou-se perto e passou os dedos nos cachos da filha sorrindo.

– Pare! Pare com isso! Estou cansada de negar o que realmente esta acontecendo.

– E o que esta acontecendo Rosalie?

– Todos ao meu redor morrem… Todos e tudo! Eu sou a própria morte.

– Não diga besteira. Você é a minha vida… Meu doce.

– Deixe-me sozinha.

Elizabeth o fez com relutância. Não gostava de ver a filha daquela maneira, achou que morando em New Orleans a vida prosseguiria normal, mas não foi exatamente o que aconteceu. Rosalie era uma criança saudável ate seus seis anos, depois tudo ficou horrível.

No sétimo aniversario de Rosalie chovia forte na cidade deixando-a melancólica. Fazia algumas horas que estava acordada, mas não se sentia animada para levantar. Uma batida leve na porta chamou sua atenção, sua mãe e o tio Mackenzie entraram acompanhados da serviçal, Maggie, que segurava uma bandeja de prata que tinha um bolo de chocolate pequeno e com uma vela.

– Feliz aniversario, meu doce! – Elizabeth a abraçou forte, Mackenzie a apertou logo em seguida

– Seu presente esta na sala. Não quer ver?

– Feliz aniversario, senhorita. Eu fiz o seu bolo preferido – Maggie ofereceu a bandeja, o sorriso doce de Rosalie brilhava todo o ambiente. A casa nunca tinha sido a mesma desde sua chegada, ate mesmo Mackenzie havia se apaixonado pela pequena garotinha.

– Obrigada! Obrigada a todos! Estou tão feliz… – Rosalie bateu palmas com suas pequenas mãos – É uma pena estar chovendo, não é?

– Isso não tem importância agora, minha pequenina flor. Venha – Mackenzie a colocou nas costas e foi ate a sala que estava cinzenta graças a chuva, mas agradavelmente quente com a lareira acesa. No meio da sala, uma lustrosa bicicleta com cestinha esperava Rosalie.

– É para mim, titio?

– Gostou?

– Eu adorei! – Ela pulou do colo correndo ate sua nova bicicleta – Eu queria tanto andar lá fora…

– Quem sabe amanha? Mas pode andar aqui por dentro enquanto a chuva não para.

– Me ajuda?

O dia estava indo deliciosamente bem, Rosalie ate estava conseguindo andar sem ajuda do tio ou da mãe o que a deixava muito orgulhosa, meia hora depois de rodar a sala de visitas e jantar com sua nova bicicleta, estacionou em um canto e caminhou ate a poltrona vermelha viva onde o tio costumava sempre ficar.

– O que foi minha pequenina flor?

– Estou sentindo uma coisinha… Aqui – Apertou a mão no peito esquerdo

– O que?

– Será que eu me quebrei? – Rosalie olhou pro peito desconfiada e seu tio gargalhou

– Acredito que não. O que exatamente é isso?

A resposta não foi dita, a porta recebeu pancadas fortes e o próprio Mackenzie foi abrir, o rosto esbranquiçado e doentio de Rena assustou o homem, os olhos estavam grandes e assustados e sua boca seca.

– Rena, pelo amor de Rosalie, o que aconteceu com você?

– Senhor Mackenzie. Elas vieram ate mim, e me mostraram… Mostraram-me tudo.

– Entre, você esta fora de si.

Mackenzie segurou Rena pela cintura levando ate a sala, a colocou no sofá e pediu a Maggie que trouxesse um pouco de água. A roupa que outrora fora bonita estava rasgada e suja de lama, o cabelo preto estava como um ninho em sua cabeça.

– Ela. Ela estava na minha visão – Rena apontou para a criança em sua frente que ficou espantada

– Rosalie estava na sua visão? – Dessa vez quem perguntou foi Elizabeth que veio trazendo a água para Rena que balançou a cabeça afirmando.

– As trevas chegaram em seu coração. A maldição se concretiza hoje.

– Não… – Elizabeth arfou

Depois daquele dia, tudo mudou. Rosalie sentia-se mal e não conseguia realizar algumas coisas a deixando triste, e quando chegava um dia que não se sentisse mal, algo ruim acontecia. Havia se tornado tão freqüente. Não podia nem mesmo fazer amigos, por que qualquer aproximação transformaria a via de todos em um caos.

Aquela tarde estava calma, mas dentro de Rosalie havia uma tempestade. Sentia-se podre, como se algo realmente tivesse quebrado. Levantou-se da cama e caminhou apressada ate a segunda escada da casa, subiu sem pressa para não chamar atenção e entrou na biblioteca.

O grande salão oval de cor dourada estava silencioso como sempre, o sofá de couro escuro estava perto da janela que tinha as cortinas fechadas. A primeira coisa que Rosalie fez a entrar foi abri-las. Detestava escuro.

– De trevas já me basta.

As estantes iam do chão ate o teto cobrindo todas as paredes com livros de todos os tipos e línguas, a garota se dirigiu ao pequeno pedestal que ficava no centro e falou em voz alta:

– Quebra de maldições.

Uma brisa entrou no salão e pôde se ouvir paginas sendo folheadas, em alguns minutos três livros grossos estavam em sua frente. Ela os levou ate o sofá e começou a lê-los procurando alguma solução, sabia no seu intimo que se tivesse qualquer possibilidade da maldição ser quebrada, mínima que fosse seu tio e sua mãe já teriam feito. Mas ela se sentia tão inútil que precisava agir daquela forma.

As palavras não faziam sentido, leu tudo com tanta cautela para no fim saber que não havia solução. Estava presa a um fardo que não lhe merecia e, por mais que odiasse a si mesma, odiava mais ainda o clã Salazar.

A noite desceu para sala de jantar encontrando seu tio Mackenzie e sua mãe Elizabeth conversando animadamente. Ela se sentou a mesa observando os dois.

– O que há?

– Oh querida, amanha haverá um baile e nos fomos convidados. Você não gostaria de ir?

– Não, obrigada.

– Mas você adora dançar, pequenina flor.

– Não mais, tio.

– Pessoas não mudam tão rápido assim.

– Eu não sou como todo mundo, se não deu para perceber.

– Você ira ao baile. Está decidido – Elizabeth disse fria. Odiava ver a filha daquela maneira, tão infeliz e solitária.

O jantar estava sendo silenciosamente mortal, nem mesmo Mackenzie tentou animar a sobrinha. Tudo estava mórbido e sem sentido e o único pensamento que rondava Rosalie era morte.

Os preparativos para o baile ocorreram o dia todo contra a vontade de Rosalie que se mantinha afastada evitando tudo, não sentia ansiedade e nem mesmo expectativa. Só queria que tudo acabasse de uma vez e não se referia apenas ao baile.

A festa ocorreria em uma das casas mais bonitas de Garden District. O hall de entrada estava sendo recepcionado pelos anfitriões da festa, o Sr. e Sra. Beaumont que usavam lindas e elegantes vestimentas. A sala de visitas era extremamente clara, no teto pendia um grande lustre de cristal que deixava todos boquiabertos, no lado esquerdo um grupo de artistas tocavam uma bela melodia de Beethoven e espalhados pela sala pequenos grupos de famílias da alta classe. Cumprimentaram o maior numero possível, e logo escolheram seu lugar.

Rosalie observava com atenção o único quadro da sala. A expressão intima e um pouco tímida da mulher atiçava sua curiosidade, o sorriso contido era sedutor ao mesmo tempo em que conservador.

– Incrível não é? – Uma voz grave disse próxima a Rosalie que se assustou pondo a mão na boca para sufocar um grito.

– É – Murmurou.

– Perdão, eu não quis assustá-la. Sou Ethan Hasting – Ele ofereceu a mão a jovem que aceitou sorrindo, Ethan beijou com carinho e se voltou ao quadro

– Também conhecida como La Gioconda em francês, La Joconde, ou ainda Mona Lisa del Giocondo de Leonardo da Vinci…

– Eu sei, Sr. Especialista em arte.

– Desculpe mais uma vez, é que sou realmente fascinado por arte e mais ainda por essa obra.

– Impossível não ser…

– Mas, no momento estou fascinado com a bela jovem em minha frente – Ethan olhou fundo nos olhos de Rosalie sorrindo educadamente – E que ainda não me disse o nome.

– Rosalie, Rosalie Ridley.

– Me concede uma dança, Rosalie Ridley? – Ethan se curvou mantendo a troca de olhares com a garota em sua frente e estendeu a mão.

– Eu não danço – Ela sorriu amarelo

– E o que faz em um baile?

– Bela observação – Disse tentando evitar o riso. Quem quer que fosse, estava mexendo com Rosalie que aceitou o pedido. Caminharam e Ethan se posicionou pousando a mão na costa da garota, com a mão livre segurou a dela e sentiu um calor percorrer seu corpo, a pele era tão macia que não lhe parecia real.

A cada giro Rosalie se sentia flutuar, seu coração estava descompassado. O cheiro de Ethan era inebriante, ela sentia que estavam mais juntos do que o necessário, o queixo do rapaz roçava gentilmente em seu ombro que mesmo coberto se arrepiava, seu estomago era gentilmente forrado por milhões de asas de borboletas que se agitavam toda vez que a respiração quente tocava seu pescoço.

– Como eu nunca te conheci, Srt. Ridley? – Sussurrou próximo ao ouvido de Rosalie, seus lábios acariciavam os cabelos loiros que tinham cheiro doce.

– Hoje é seu dia de azar.

– Eu diria sorte.

– Você não me conhece…

– Daria essa oportunidade?

– Obrigada pela dança, Sr. Hasting – Ela parou de se mover se afastando bruscamente de Ethan que tinha uma expressão confusão, seus olhos eram a coisa mais dolorosa que Rosalie havia visto e sentiu seu coração ser partido.

– Linda como os raios de sol e fria como gelo. É possível?

Girou os calcanhares e se dirigiu ao grupo pequeno que lhe parecia se divertir com alguma coisa. Seu tio bebericou a taça de vinho e disse:

– Quem era?

– Ethan Hasting – Comentou fingindo não ter interesse

– Parece ser um ótimo rapaz – Sua mãe sorriu feliz. Rosalie olhou em direção a Ethan

– É, ele é… – O corpo esguio de Ethan atraia olhares, o terno preto estava em perfeito alinho e seus olhos verdes estavam fixos em Rosalie que sentia como se estivesse dançando novamente. Ethan caminhou devagar ate seu primo, Kenny, que bebia seu champagne atento a todas as moças como se elas fossem presas.

– Você já viu um anjo? – Kenny riu e passou os olhos pelo salão discordando da pergunta. Ethan não tirava os olhos daquela que jurava ser a mais bela de toda New Orleans. Não desistiria tão fácil.

Rosalie acordou cansada, dormira pela manhã toda e ainda sentia indisposição, dava para perceber pelos olhos baixos e lábios secos que ela mesma verificava no espelho enquanto certificava que estava pronta. Maggie a acordara com tanta insistência que a deixou irritada. Desceu as escadas com certa lerdeza e se surpreendeu. Seu tio estava na companhia de Ethan Hasting. Ela quis voltar, mas todos já haviam notado sua presença.

– Boa tarde senhorita Ridley.

– Sr. Hasting – Ela abaixou a cabeça cumprimentando-o

– Convidei Ethan para uma tarde conosco e ele adorou a idéia – Mackenzie falou sorridente

– É que eu não me sinto disposta.

– Eu sinto muito – Ethan falou solidário – Posso vir outra tarde. Não quero incomodar.

– Não incomoda. Já esta aqui… Vamos – Mackenzie disse se dirigindo ate os fundos da casa onde o quintal se estendeu em um lindo e bem cuidado gramado que as rosas encantavam – Rosalie dê uma volta com Ethan enquanto eu peço a Maggie que prepare alguns biscoitos.

Ethan caminhava ao lado de Rosalie com as mãos para trás, ela parecia tão abatida, tão mais frágil que na noite passada, mas linda, ainda mais a luz do dia.

– Por que veio? – Ela parou de repente perguntando ao rapaz que sorriu

– Queria vê-la.

– Mas eu não queria

– Olha nos meus olhos e diz que não sentiu o mesmo enquanto dançava – Ele segurou firme o braço da garota que sentiu ondas de choque percorrer sua pele com o toque.

– Melhor se afastar enquanto pode Ethan Hasting – Disse baixo. Ele tocou seu rosto com carinho, ele havia parado de sorrir e seus olhos estavam sérios.

– Já é tarde para isso – Se afastaram e voltaram a andar. O fim de tarde estava agradável, mas a tensão entre os dois era visivelmente ruim – O que tanto a apavora? Por que não me deixa…

– Há qualquer coisa dentro de mim que me atormenta. Enfraquece-me, me quebra; me angústia, me deprime… – Ela interrompeu – Você não pode me salvar.

Ouviram o sino tilintar longe, deram meia volta e seguiram o som. A pequena mesa estava posta com alguns biscoitos e chá quente, Elizabeth já estava sentada e exibia seu melhor sorriso ao lado de Mackenzie. Rosalie nunca tivera que fingir tanto em sua vida… O cabelo curto e loiro de Ethan emoldurava o rosto que a deixava sem ar, lábios finos que esbanjavam o sorriso mais lindo que já havia visto e olhos tão calmos e brilhantes que por alguns segundos a faziam acreditar que podia haver solução para o que havia de errado em sua vida.

Fazia três semanas que não levantava da cama. Seus olhos ardiam pelas horas que mantinha abertos e sua garganta por mais água que bebesse sempre estava seca, todos seus músculos doíam quando tentava se levantar. E por duas semanas recebeu visita de Ethan Hasting que por horas conversava ou lia historias para a garota que mesmo tão abatida era linda ao seus olhos.

Naquela semana, Ethan não apareceu e coincidentemente Rosalie se sentia melhor. Seu corpo estava reagindo e na sexta-feira tomava sol na varanda de sua casa. O céu estava límpido e o cheiro dos biscoitos em sua frente era como um calmante. Elizabeth apareceu usando um vestido vermelho vivo e seu cabelo estava solto, ela parecia preocupada.

– O que há mamãe? Parece tão preocupada.

– O conselho nos mandou um convite. Parece que haverá um… Jantar.

– Isso é uma ordem?

– Esteja pronta as sete.

O grande salão da casa Martilnelli, família italiana de forte tradição e uma das mais grandes do clã Lunaris era a sede do jantar do Conselho daquela noite. Havia tanta gente que deixava Rosalie tonta.

– Tem mais de nos do que pensei – Rosalie cochichou.

– Eles também vieram – Elizabeth disse, mas a filha não reconheceu o tom de voz. A mãe que sempre fora amável e gentil agora estava feroz e vingativa. Seguiu o seu olhar e deu com dois homens. Um era alto e tinha cabelos tão loiros quanto o sol, a pele branca e olhos de um caramelo inconfundível.

O segundo tinha cabelos tão escuros quanto a noite, seus olhos eram tão azuis que chegavam ao cinza-gelo, em seus lábios finos um sorriso debochado erguia o canto superior de sua bochecha e ninguém podia negar, tinham um corpo escultural. Mesmo com o terno de ótima qualidade, percebiam seus músculos. Enquanto Rosalie observava, o loiro encontrou com seu olhar e exibiu um encantador sorriso.

– Salazar.

Mas tudo se desmanchou como gelo no calor quando viu Ethan Hasting abraçar aqueles dois com um abraço caloroso e um sorriso amável. Seu sorriso. Ele estava mais lindo do que se lembrava.

– Ethan Hasting é um Salazar – A voz de seu tio soou como um trovão em noite de tempestade e Rosalie era a criança medrosa.

Deu as costas ao três homens e respirou fundo. Todas as vozes, conversas, sorrisos e vestidos deslumbrantes não faziam sentido, suas mãos e pés formigavam intensamente que a fazia não sentir nada, não sentia cheiros e provavelmente não poderia sentir gosto. A única coisa que sentia era uma dor que estava cravejada em seu peito e parecia não querer sair.

– Meu doce, por que chora? Esta passando mal? – Sua mãe passou as mãos levemente pelas bochechas rosadas enxugando as lagrimas da filha.

– Ele é um Salazar. Por que não descobriram antes dele… Dele…

– Eu sinto muito.

– Preciso de ar fresco. Com licença.

Foi ate o jardim da família que era impecável. Rosas vermelhas e brancas dividiam espaço harmonizando com o verde. O aroma doce era como calmante, mas não para Rosalie naquele momento. O céu estava tão estrelado, nunca o vira daquela forma.

– Com licença? – Uma voz chamou atenção. Quando se virou viu Ethan.

– Me deixa em paz. Clã Salazar é o caos.

– Se renegar o meu clã irá fazer você não me olhar nunca mais assim, eu faço. Agora mesmo.

– Não pode fazer isso.

– Posso e vou. Só me diga que… Faria o mesmo por mim, Rosalie? Por que eu renuncio o meu nome e me entrego inteiramente a você. Basta dizer.

– Isto esta parecendo um pedido de casamento – Ela sussurrou nervosa estalando os dedos. O medo que sentiu ao saber que ele era do clã rival sumiu instantaneamente, suas palavras juramentadas a fizeram sentir tudo novamente, como se dança sempre continuasse ao falar com Ethan.

– Responda-me.

– Eu já fiz – Ela o olhou com convicção – Meu coração foi entregue a você na nossa primeira dança. Agora, mais do que nunca, tenho certeza que não irá me devolver – Forçou um sorriso e se aproximou segurando as mãos do rapaz – E eu estou feliz por saber que ele é seu, Ethan Hasting. Nunca senti nada dessa forma, e numa vida de trevas como a minha, você é a luz. É a minha luz.

– O meu coração é seu, meu amor – Ele a tomou nos braços e selaram todas as palavras em um beijo. Foi a primeira vez que Rosalie tocava os lábios de um rapaz daquela forma, macios e quentes, se encaixavam perfeitamente nos dele. Ethan segurava com delicadeza o rosto da garota, sua pele, seu corpo, seu lábio. Tudo parecia inacreditável. O gosto era doce e envolvente. Ele não queria parar de beijá-la.

Praeliabitur (Empurra) – Mackenzie disse feroz e Ethan foi arremessado soltando-se dos lábios de Rosalie – Fique longe dela, rapaz. Ou terá que se ver comigo.

– E se tocar nele… – Uma voz fria como gelo ecoou pelo jardim, todo o corpo de Rosalie paralisou, o homem loiro apareceu do outro lado. Agora estava entre seu tio e o homem desconhecido enquanto Ethan estava ainda deitado no chão. Ela caminhou ate ele mesmo sabendo que poderia perder a cabeça e se abaixou tocando sua face.

– Oi minha Rosalie… – Ele tentou sorrir, mas isso lhe causou dor.

– Fique quietinho – Sussurrou com carinho. As lagrimas caiam e os soluços a deixavam inconsolável.

– Rosalie, se afaste desse rapaz – Mackenzie a segurou pelo braço com violência e a puxou para perto – Faça com que Ethan Hasting nunca mais se aproxime dela, Teodhor – O loiro sorriu convincente, mas ainda sombrio. Ainda segurando braço da sobrinha a levou para o hall de entrada, Elizabeth a abraçou forte molhando o cabelo com lagrimas de alivio.

Ela empurrou a mãe cruzando os braços, as lagrimas não haviam parado, mesmo assim, sua posição para a família era fria como um iceberg. Como um clã podia fazê-la tanto mal e ainda sim amar um deles?

Por dias se recusou a sair do quarto. Houve um momento em que pensou que não teria mais lagrimas para chorar, estava tão triste. Mais do que nunca as trevas haviam tomado seu coração.

Todas as janelas estavam fechadas, nenhum ruído, a não ser a sua respiração rápida. As lagrimas estavam escorrendo lentamente por suas bochechas, a cama já não era mais confortável, mesmo assim, não ousava mover um músculo.

Com os olhos fechados via a imagem de Ethan Hasting. Ele estava no meio de um campo colorido, o sol esquentava cada poro de Rosalie e o sorriso do rapaz era como a salvação. Ele parecia ser o próprio sol, seus cabelos claros, seus olhos verdes, seus lábios… Estendeu a mão ate os próprios lábios querendo sentir a sensação de beijá-lo novamente.

Em menos de um segundo, nuvens negras e pesadas escondiam os raios de sol e o sorriso de Ethan automaticamente, todas as cores e todo o calor já não existiam mais e em um piscar de olhos só restava Rosalie no meio da escuridão.

1º batida…

– Senhorita Rosalie, tem visita – Maggie cochichou.

2º batida…

– Podemos entrar? É uma amiga.

3º batida…

– Rosalie, eu posso entrar? – A garota sentou na cama curiosa. Não conhecia aquela voz – Juro que entrarei sozinha.

O trinco da porta se moveu.

– Por favor, não me mate – Uma morena, um pouco mais alta que Rosalie com um olhar alegre e brilhante, um sorriso grande e um lindo vestido vinho fechou a porta atrás de si – Que escuridão.

– Desculpe, eu não…

– Fique onde esta.

A morena caminhou ate as janelas para abri-las, a luz do sol foi como veneno a Rosalie que cobriu a cabeça com sua coberta.

– Bem melhor… Ora essa, não faça isso. Eu tenho um recado de Ethan Hasting, mas só direi se sair dessa cama e colocar um lindo vestido.

– Você disse Ethan Hasting?

– Meu nome é Caroline Martin. Agora se apresse, nosso tempo é curto.

Havia meia hora que Rosalie estava na companhia de Caroline. As duas caminhavam em paz pelo jardim, a morena havia uma alegria que já estava ficando irritante. Tudo a encantava; cada rosa, cada pedaço de grama e cada centímetro do céu que naquele dia em especial estava lindo.

Rosalie já havia descoberto que Caroline era namorada de Jack Salazar, o moreno que havia visto na noite passada em companhia do que descobrira se chamar Teodhor. Descobriu também que a morena não passava de uma mera mortal e que estava fazendo parte de um plano do seu amado que ate aquele momento, não havia sido revelado.

A luz do dia o sorriso de Caroline era mais bonito e o brilho único em seus olhos deixava Rosalie intrigada, que tipo de mortal era aquela que sorria indo para o próprio tumulo? Todos sabiam que relação de mortais e sobrenaturais era extremamente perigoso, as quatro mulheres deixavam isso bem claro.

– Olhe bem nos meus olhos querida – Caroline parou de repente soltando um grande suspiro, segurou as duas mãos de Rosalie e a olhou nos olhos – Você ama Ethan a ponto de fazer qualquer coisa por ele?

– Ora, é claro… – Rosalie soltou suas mãos e abaixou o olhar, a sua frente um lindo colar de esmeraldas pendia do pescoço da morena, isso a lembrou dos olhos de Ethan – Ele é a minha luz – Disse firme olhando para os olhos de Caroline.

– Amanha haverá um baile de mascaras. Deverá ir.

– Por quê?

– Você faz muitas perguntas, Srt. Ridley – Ela disse divertida – Eu mesma virei buscá-la. Iremos juntas.

– Como farei minha mãe e meu tio acreditarem que já estou ótima se há poucas horas eu estava vegetando em meu próprio quarto? Eu nem sequer tenho amigas. Você acha mesmo que eles acreditam que você é minha amiga?

– Acreditam.

– Como tem tanta certeza? – Ela riu batendo os dedos no colar

– Eu sou uma mortal esperta – Piscou.

Exatamente como Caroline havia dito, na noite seguinte ela apareceu usando um belíssimo vestido lilás e o mesmo colar de esmeraldas, seu cabelo estava em um coque alto elegante e ela usava uma mascara preta com detalhes.

– Sr. e Srt. Ridley – Ela fez uma pequena reverencia – Não vão nos acompanhar?

– Nos adoraríamos, mas Elizabeth não tem passado bem. Irei fazer companhia a ela – Mackenzie disse com gentileza superficial

– Melhoras, Srt. Ridley – Entraram no coche da família de Rosalie e seguiram para a festa.

Rosalie usava um vestido branco e uma mascara da mesma cor, os detalhes em renda do vestido eram doce e elegantes. O seu cabelo não estava completamente solto, algumas mechas prendiam atrás da cabeça.

Ao chegarem ao destino do baile, Caroline não entrou pela porta principal. Seguiu os arredores da casa por um caminho do jardim que para Rosalie parecia escondido. Um pequeno palco com um arco de flores estava iluminado por algumas luzes e Ethan Hasting a esperava. Seu olhar se encontrou com o dele e tudo parecia devagar demais, queria correr, mas o vestido dificultava. Queria só abraçá-lo e sentir seu cheiro.

Ele a apertou contra o peito e a girou no ar. Como sentiu falta do cheiro doce da sua garota.

– Meu amor… Você veio – Ele segurou firme seu rosto com as duas mãos

– Eu iria ate o fim do mundo por você, Sr. Hasting – Ela sussurrou oferecendo-lhe os lábios que Ethan beijou com carinho, ainda tinham o mesmo gosto, mas era como se fosse a primeira vez novamente. Com dificuldade ele se afastou

– Eu fui procurar uma saída, e achei um feitiço. Para renunciarmos nosso clã – Ele disse acariciando o rosto de Rosalie – Temos que fazer juntos.

– Tudo bem – Ela assentiu

– Dança comigo, Srt. Ridley?

– Todos os dias da minha vida.

Ele segurou a mão de Rosalie e com a livre passou na costa da garota, ela apoiou a cabeça no ombro de Ethan e fechou os olhos. Não tocava nenhuma musica, estavam embalados pelos batimentos ritmados de seus corações.

– Estou pronta, Ethan. Estou pronta – Ela sussurrou.

O rapaz segurou suas mãos e disse quais as palavras certas, então após alguns minutos para Rosalie aprender o feitiço, se concentraram. Ela fechou os olhos e sentiu todo o amor que tinha por Ethan, amava seu tio e sua mãe, mas sabia que eles entenderiam ou pelo menos esperava isso. A voz grave e doce dos dois se encontravam repetindo as mesmas palavras:

Abrenuntio nomen meum. Accipio mortalitatis. (Eu renuncio o meu nome. Aceito a mortalidade).

Um vento forte começou a envolver os dois, estavam ficando fracos. Rosalie foi a primeira a sentir os joelhos vacilarem, Ethan acompanhou o movimento. Em nenhum minuto soltaram as mãos.

– O que pensam que estão fazendo? – Uma voz grave e forte ecoou. Não estavam mais no baile e sim em uma pequena sala escura, Ethan conhecia bem o dono daquela voz

– Pai? – Ele sussurrou ajudando Rosalie a ficar em pé, não estavam apenas os três. Mackenzie também estava presente.

– Tio?

– Que besteira iam cometer?

– Vocês não entendem – Ethan comentou com raiva apertando com mais força a mão de sua amada – Como ficou sabendo disso?

– Nada acontece com o meu filho e membro do clã sem eu saber. Mas o cúmulo foi ter que ir atrás dele – Apontou para Mackenzie

– O desgosto é o mesmo, receber o líder do clã Salazar em minha residência não é… Satisfatório.

– Já chega! Largue-a. vamos embora.

– Eu não vou solta-la. Nunca – Ethan falou firme. Um sorriso lindo cresceu nos lábios de Rosalie

– Você não vê tio? Ele é a minha salvação.

– Pai – Ethan tossiu – Erick, eu não vou. Eu tomei minha decisão.

– Não sou mais seu pai?

Uma força separou o casal, os dois foram arremessados na parede com tanta força que desmaiaram. Mas a reunião não havia acabado. Erick, ajeitou a gravata com superficialidade e disse:

– Isso pode ser um problema.

– Esta dizendo que não dá conta?

– Caro amigo, eu cuido do meu filho e você da sua sobrinha.

– Não fomos quem começamos a guerra.

– Não estamos mais falando do casal. Entendo.

– Não se preocupe. Eles nunca mais irão se ver…

– Quando a lei e a ordem foi imposta em nosso mundo pelas quatro mulheres, houve um tempo de paz. Não havia mortes, perdas, dores… Voce se lembra, amigo?

– Tempos dourados.

– Mas a semente de Silênio foi plantada mais uma vez.

– Nos somos resultados dessa semente, Erick. Infelizmente.

“Quando nossos antepassados descobriram que quanto maior o clã maior a força seria, e que matar seria o caminho viável, tudo se destruiu. Não existia mais o certo e o errado. Existia o fraco e o forte. O conselho das quatro não podia dizimar um clã inteiro, seria como extinguir uma nação, mesmo tentando achar os culpados, temos que concordar que todo o trabalho era… É bem feito”

– Lana mandou lembranças meu amigo – Erick o abraçou e Mackenzie retribuiu calorosamente.

– Queria que tudo fosse diferente.

– Eu também.


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