Flashback on:

- America!- O que estava acontecendo?-America, vamos, America!

Não lembro como cheguei aqui. Eu lembro que estava no quarto de Maxon, conversando, quando senti uma dor aguda na região da barriga. Desmaiei, talvez, e acordei no leito da ala hospitalar.

Senti uma picada nas costas, e logo não senti mais nada. O bebê. Iam tirar o bebê de mim. Não. Impossível. Foram só sete meses, eu lembro.

Olhei para a sal na qual me encontrava. Vários médicos. O doutor Ashlar parecia tenso. Vi muito sangue. Continuei a observar a sala, e vi Maxon, recostado no canto. Parecia preocupado. Estava chorando?

De repente, me dei conta do bipe incessável que vinha de um aparelho ao meu lado. Não só de um, mas de vários. Percebi que havia uma máscara no meu rosto. Meu peito doía, como se fosse explodir. Na verdade, tudo doía.

Estava morrendo?

Tentei afastar isso da minha cabeça. Eu não podia morrer. A rainha de Iléa não pode morrer com dois anos de reinado. Como ficaria Maxon, e meu bebê?

De repente, tudo cessou. A dor continuava, os aparelhos ainda bipavam. Mas os médicos e Maxon sorriam. Vi então, minha nova princesa. A linda herdeira do trono nascera naquele lindo momento.

Me entregaram a linda criaturinha. Era tão perfeita, apesar de pequena. Os médicos saíram, e Maxon pôs-se ao meu lado.

- Ela é tão linda.- eu disse.- Perfeita.

-Sim. Eu te amo.

-Também te amo.

-Para sempre. Descanse.-Ele me beijou, e eu fiz o mesmo.

Então, no meio do beijo, todos os aparelhos biparam.

- America, não, não!

Flashback off:

É isso, então? Dois anos. Só dois anos.

Sempre pensei que quando morríamos, íamos para o céu, para o paraíso. Não achei que continuávamos no mesmo lugar, vendo nosso corpo sem vida, observando os médicos darem as notícias, e nossos amigos, parentes, e, no meu caso, marido, sofrendo.

Também achei que, quando o coração para, a dor para também. Errei novamente. Depois dos bipes enlouquecedores, de ouvir Maxon gritando meu nome e minha filha chorando, continuei a sentir aquela dor alucinante por mais muito tempo. Primeiro, a dor no coração, na cabeça, em tudo. Depois, a dor excruciante no peito, quando os médicos me deram choques, na esperança de me manterem viva. Aparentemente, não funcionou.

Depois dos choques, veio a dor que ainda sinto. Saber da morte é ruim. Saber da própria morte, e ver quem você mais ama, é pior ainda.