Slasher Story escrita por PW, Felipe Chemim, VinnieCamargo


Capítulo 5
1x05: Ratchet!


Notas iniciais do capítulo

Escrito com sangue e vísceras por PW (Com colaboração de Superieronic).



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O crepúsculo tingia o céu da cidade de Reaperswood, e o vento frio trazia a tona memórias que Hannah gostaria de esquecer. Enquanto se abraçava e fechava a cortina da grande janela de seu quarto, a loira revirava os olhos.

– Já faz quase um mês... – Ela murmura enquanto senta na cama e se ajeita, puxando o notebook para seu colo. Ela digita algumas coisas no YouTube, e logo um vídeo aparece na tela.

“GABRIELLA KING EXPOSED”.

Vozes de jovens bêbados podem ser ouvidos, e a pessoa que segura o celular ri histericamente.

– Ei, eu quero dar um beijo no Vince Hardy! – Gabriella King fala mais alto, visivelmente alterada.

– Mas você acabou de terminar com Peter! – Diz Brenda Winter baixinho.

– Shhhhhhhhhhhhh. – King estava visivelmente bêbada.

O vídeo é cortado, e logo é possível ver Gabriella deitada em uma mesa, rindo afetadamente. Hannah sorri maliciosa, espantando a memória da morte de Gabriella, enquanto se lembra da conversa que teve com a morena depois de ter postado o vídeo, semanas antes de King ser assassinada.

Semanas antes...

– Hannah... – Gabriella sussurrou no telefone. – Precisamos conversar.

A loira enrolou um fio de cabelo no dedo e sorriu com malícia.

– Sobre o que, Gabizinha?

– Só pessoalmente, Hannah. Por favor. – A morena tinha a voz afetada.

– Certo. – A loira disse. – Me espere no parque da cidade, então.

– Certo.

Gabriella desligou correndo, subiu na garupa de Vince Hardy e saiu.

Hanna, que morava perto do local marcado, passou um batom rosa claro e sorriu para o espelho, arrumando a madeixa dourada.

“Estou esplêndida, melhor que aquela rainha dos nerds, fracos e oprimidos”, pensou.

Ao chegar lá, Hannah se surpreende com a expressão assustada no rosto da morena.

– Querida, o que foi que houve?! – Ela finge uma voz preocupada, e Gabriella só balança a cabeça.

– Quem postou o vídeo, Hannah?

A loira fica pálida, e completamente sem fala. Como seria possível que ela soubesse que ela tinha sido quem publicou?

– E-eu... Eu não sei, Gabs.

Gabriella gemeu desesperada.

– Não minta, Hannah. Por favor. Quem postou o vídeo? Foi a Miles? A ex do Peter? O Peter? Quem postou o vídeo, Hannah?

A loira se sentiu pressionada.

– Eu não sei. – Bufou alto. – Como é que eu vou saber?

– Você quem estava com o celular, e eu não sei se ele era seu ou não. Foi você? Se foi você, por favor, tire do ar.

Hannah deixou a máscara cair, se transformando numa pessoa raivosa.

– É, senhorita King, eu postei o vídeo. Cansei de ficar a sua sombra, já que você é a rainha dos nerds, aquela que namorou um popular e nem é tão bonita assim. Eu quis mesmo te derrubar, e pelo visto, vou conseguir.

Gabriella sente as lágrimas ameaçarem a cair, mas ela segura o choro.

– Olha, eu não sei o que é que eu te fiz, mas adoraria que você retirasse o vídeo. Eu faço qualquer coisa.

Hannah continua com um rosto irônico e sádico.

– Não. O que você faz na internet, sempre fica na internet. Boa sorte tentando limpar sua reputação.

Hannah se vira, mas Gabriella saca uma arma e engatilha.

– Eu não vou te matar se você não correr, Hannah, mas saiba de uma coisa... Você vai se arrepender muito se não tirar o vídeo do ar. Eu mesma posso sujar a sua reputação. É só estalar os dedos que os irmãos Van Der Hills acabam com a sua raça. E aí, o que vai ser?

Hannah engole em seco e assente com a cabeça. Gabriella vai andando para trás, ainda com a arma apontada para a loira, até sumir na trilha entre as árvores.

Dias atuais...

– Ah... – Hannah suspira. – Ela não pode contar nada a ninguém do inferno.

A loira sorri e muda de aba, abrindo o Facebook. Logo quando entra no site, vê que tem uma mensagem nova em sua inbox. Ao clicar, Hannah quase tem um enfarte.

– Mas que porra...? – Seu cenho franze ao ler a mensagem.

Gabriella King says: Quem postou o vídeo, Hannah?

OPENING THEME

SLASHER STORY

Capítulo 05: Ratchet!

O auditório estava transbordando de alunos, professores, pais e autoridades competentes. O clima estava tenso, todos estavam inquietos, andando de um lado para o outro, conversando de maneira eufórica. A maioria discutia sobre os assassinatos e o quanto eles estavam afetando a vida dos estudantes, outros se ocupavam em debater sobre como aqueles ataques influenciariam na vida dos pais dos alunos mortos e no resto da população adulta de Reaperswood preocupada com seus filhos.

Todas as dúzias de pessoas dentro do lugar estavam em polvorosas, sentindo-se sufocadas. Tudo porque o prefeito havia pedido uma reunião de urgência com todos os membros envolvidos com a Reaperswood High School, e agora permaneciam ali de frente para o palco onde o homem barrigudo tentava pedir silêncio. Nas extremidades do auditório haviam policiais e o Xerife Browning estava de pé ao lado do prefeito.

Ninguém calava a boca, esse era o motivo do prefeito estar tão impaciente diante do microfone. O Xerife tentava acalmar os ânimos, pedindo que as pessoas fizessem silêncio, para que o prefeito pudesse se pronunciar. Diretor Cortez o ajudava naquela tarefa, mas parecia ser difícil.

Terry caminhava entre as pessoas, com sua roupa chamativa azul-neon e seu gravador em mãos. Hannah a seguia, filmando tudo com seu celular.

— Estamos aqui com a tragédia dessa geração, meus queridos ouvintes. — Começou a podcaster. — Mais dois adolescentes foram mortos, desta vez aqui mesmo em Reaperswood High e todos estão apavorados. Quem será o próximo?

De repente, Terry avistou e interceptou um grupo de quatro alunos, que estavam conversando. Perguntou:

— Qual a opinião de vocês, queridinhos? Quem vocês acham que é o próximo a ir pra catacumba?

Newton parou de falar no instante em que a radialista da escola apontou o gravador na direção dele. O garoto de descendência indígena e boné mordiscou a maçã em sua mão. Ao seu lado, Maycon ajustou os óculos no nariz e tossiu, sentindo-se visivelmente incomodado com a presença da garota entre eles. Brenda e Johnny analisaram a postura de Terry com indiferença.

Foi Johnny quem respondeu:

— Talvez você, Terry. — Então deu um sorriso diabólico. — Boo!

Terry deu um gritinho. Brenda acompanhou o amigo na risada.

— Vira essa boca pra lá, Satan-Senpai! — Retrucou e recuou instantes depois, apontando o gravador para Newton.

Hannah riu bem atrás dela, filmando tudo com seu celular rosa pomposo com a moderna câmera de vinte megapixels embutida, que seu pai havia trago do Japão.

Terry continuou:

— Vai demorar pra esse meu rostinho ser desfigurado. Ele ainda tem que passar muito na tevê.

— Quer motivo maior pra passar na tevê do que um rosto desfigurado? Os noticiários vivem de tragédias. — Brenda concluiu. — Ou simplesmente de favores ao mundo.

Terry ignorou o comentário da gótica e continuou apontando o gravador para Newton. O rapaz de lábios grossos pôs o boné para trás e mordiscou outra vez a maçã. Respondeu:

— Eu e Mash estamos fazendo uma aposta. Ele acha que é um dos populares, e eu acho que é um de nós quatro. — Terry viu Brenda dar um aceno e um sorriso irônico.

— Não vamos perder tempo com eles, Terry. Temos que ir lá pra frente, o prefeito quer falar. — Hannah cutucou a amiga e murmurou. Elas saíram dali, pedindo licença ao quarteto, que se entreolhou.

Eles ficaram mais alguns segundos de pé, até ver Mark e Wendel, do clube de teatro, se aproximando. Os dois acenaram e o grupo sentou, percebendo que o prefeito queria falar e a gritaria do diretor Cortez estava estourando seus tímpanos.

Algumas fileiras de poltronas atrás, estava o grupo de populares, agora com menos membros. Peter e Phillip estavam vestindo a mesma roupa, praticamente. O que mudavam eram as cores das jaquetas e dos tênis. A jaqueta de Peter era marrom e a de Phillip, preta. Tory mantinha-se sentada de pernas cruzadas, encarando o professor de educação física; Kat estava concentrada demais em responder as mensagens no seu facebook, enquanto Lucky usava a jaqueta do time e brincava com seu bastão de Lacrosse.

O prefeito bateu no microfone e bradou:

— Ouçam, pessoal! — Notou-se o silêncio repentino, então ele resolveu continuar. — Tendo em vista todos os acontecimentos, eu junto das demais autoridades competentes da cidade, decretamos a partir de hoje, a suspensão das aulas, sem previsão de retorno e um toque de recolher. A partir de 18:30h, nenhum aluno ou jovem deve estar perambulando pelas ruas. Este será levado imediatamente à delegacia, e eles tomaram as medidas cabíveis.

Foi inevitável que a baderna que instalasse.

x-x-x

Com a suspensão das aulas na escola, Javier Cortez poderia respirar um pouco. A maioria das pessoas que estavam presentes na reunião proporcionada pelo prefeito e a polícia, já haviam ido embora. O diretor estava a caminho de sua sala, girando a chave de seu carro entre os dedos. Os assassinatos faziam sua cabeça ir a mil, sem saber o que fazer. Três mortes em uma noite foi o bastante para fazer suas pernas tremerem a cada vez que citavam a brutalidade do assassino, que roubara a fantasia do mascote da escola.

Agora, apelidado de Reaperface, ele está por aí, se preparando para atacar novamente. Cortez cansara-se de ver a morte de seus alunos no noticiário, parecia até que uma praga espanhola caíra sobre Reaperswood High. Agora, dois alunos do terceiro ano e um zelador disseram olá para a faca de caça do serial killer e ele temia pela própria vida.

Ouviu um barulho atrás de si, semelhante a um metal riscando contra a parede. Olhou para trás num gesto rápido e sua espinha gelou, mas não havia nada ali. O medo estava querendo domá-lo, mas ele não queria deixar-se levar pelo sentimento de insegurança. Afinal, ele era a maior autoridade dentro daquela escola, o assassino não o pegaria e ele precisava mostrar quem é que manda na instituição.

Entrou na sala segundos depois, fechou a porta e parou um pouco, analisando sua saleta. Por algum tempo, passou a se perguntar se haveria alguma saída dali, caso ele fosse atacado e riu do próprio pensamento. Ele julgou-se estar sendo um completo babaca, temendo um ataque. Haviam policiais no prédio, eles não deixariam que seu pescoço fosse cortado. Fique calmo, Javier, você só está com medo.

Caminhou de volta até a porta e, pelo vidro, viu alguém caminhar pelo corredor. O indivíduo andava pela parte mais escura do corredor, com uma mochila nas costas. Quando a silhueta parou, Javier avistou um celular em sua mão e virou-se de costas, encarando a pilha de papéis com reclamações dos pais dos alunos, sobre como a escola havia se transformado em um palco de atrocidades. A vida de Deputy em uma cidade como Reaperwood era deveras difícil.

Então, sentou em sua cadeira giratória e deu uma volta completa em seu eixo duas vezes, parando com os pés sobre a mesa, onde seu café estava. Ele havia pedido mais cedo, e esquecera de beber com tantos problemas ao seu redor, àquela altura ele estaria gelado. Mas o que viu foi exatamente o contrário, o vapor escapava pela abertura do copo, muito vapor. Não era possível que ele ainda estivesse quente depois de duas horas. Cortez teve certeza de que aquele era um café novo.

O toque do telefone vermelho a sua frente o assustou, fazendo seu corpo dar um espasmo e a cadeira quase cair. No segundo toque ele atendeu:

— Alô?

Alô, eu queria falar com Javier Cortez.

No exato momento, o homem estranhou a voz distorcida do outro lado da linha.

— É ele, quem fala?

Olhe para o canto da sua sala e veja se sente falta de algo. Isso responderá por mim.

Cortez fez o que o indivíduo pediu e olhou para onde havia a vitrine espelhada em que ficava a fantasia do mascote, o Reaper. Aquilo fez seu coração disparar e ele ergueu-se da cadeira atrapalhado, passando o olhar rapidamente na estátua de Nossa Senhora de Guadalupe, que ficava ao lado do telefone.

— Quem é?!

Sei que é tolo, mas não tanto assim. Creio que já saiba de quem se trata e dispenso apresentações.

— Se eu descobrir que você é um aluno desocupado, passando trote para o diretor, você está ferrado! — Uma gota pesada de suor desceu em sua têmpora. As “pizzas” embaixo dos braços aumentavam a cada segundo.

O que vai fazer? Me suspender? — O assassino deu uma risada abafada. — Achei que iria me agradecer pelo café, o outro estava péssimo.

O ar dentro da saleta pareceu comprimir-se e Javier aproximou-se da porta outra vez. Não tinha mais ninguém ali e seu coração só palpitou mais veloz. Ainda segurando o aparelho, ele caminhou lentamente até o café e retirou a tampa.

Um globo ocular boiava no líquido marrom.

Sr. Cortez gritou e recuou, largando o telefone e dando uma tapa no copo que decolou. O café se espalhou pelo chão, o copo e o olho rolaram até próximos da janela. Javier pôs a mão no peito, sentindo o crucifixo embaixo na blusa de botões. Ele suava mais que um porco e seu coração estava prestes a sair pela boca.

Quando a porta bateu num estrondo e a figura usando manto preto e a máscara de ossos, entrou erguendo sua faca de caça. O diretor gritou, mas o grito foi interrompido pela primeira facada em seu estômago. Algum sangue fora despejado de sua boca e o homem arregalou os olhos ao encarar a ferida aberta. A dor da faca sendo retirada foi mais lancinante.

Javier tonteou e pressionou o ferimento, tropeçando nos próprios pés. Num ato instintivo, tomou a estatueta de Nossa Senhora de Guadalupe em mãos e lançou na direção do assassino, que desviou rapidamente. O objeto se espatifou em vários pedaços ao bater na parede. O mascarado investiu novamente e deferiu outra facada no diretor, que abriu a boca em seguida, para despejar mais sangue. Ele pressionava a ferida, mas o sangue continuava descendo. Era em vão, os cortes foram profundos.

— Pare, por favor... — Disse, enquanto engasgava-se no sangue.

O assassino inclinou a cabeça para o lado e balançou a faca tingida de sangue. Então, ele avançou contra o homem, que arrastava-se na direção da janela. Cortez agarrou o grande globo terrestre sobre um pedestal próximo e jogou contra o assassino, que recuou. Foi o bastante para Javier ter esperanças de redenção.

Desesperado, com o sangue incessante escorrendo pelas roupas, ele tentou correr para a janela, na tentativa de chamar a atenção de alguém, já que não conseguia mais gritar. Viu dois policiais logo ali embaixo, conversando e caminhando pelo pátio. Balançou os braços debilmente. Em vão.

— Me ajudem... — Sua voz era interrompida pela grande quantidade de sangue em sua boca, sufocando-o.

Virou-se e deu de cara com a assustadora máscara do mascote, que cravou a faca no meio de sua testa, sem pensar duas vezes. O barulho do objeto metálico entrando em contato com a pele e o crânio foi de doer a alma. Javier encarou pela última vez o assassino, antes do mesmo segurar a faca com força e machucar a ferida, fazendo um movimento giratório com a lâmina. Retirou o objeto, com o diretor revirando os olhos.

A última coisa que Reaperface fez, foi abrir a janela e empurrá-lo pela abertura. O corpo de Javier Cortez caiu exatamente em cima do busto de bronze do primeiro diretor da escola, com um baque forte e molhado, cheio de costelas quebrando. O sangue escorria, pingava e tingia a grama.

Os policiais correram na direção do corpo e duas alunas deram um berro.

x-x-x

Peter parou de frente para seu armário. Ele pôs a combinação da senha e o abriu de maneira séria. Lucky chegou logo em seguida, cumprimentando-o.

— Achei que já tinha ido embora. — Disse o gêmeo.

— Estava com a Miles, ela e Hannah me passaram pra trás e inventaram uma desculpa qualquer pra voltarem pra casa, mas ouvi Hannah cochichar sobre cinema. — Ele respondeu desconsertado. — Talvez só queiram espairecer dos assassinatos.

— Você já deu seu depoimento ao Xerife? — Peter pegou dois livros do armário e o fechou.

— Sim, aquele homem desconfia até da própria sombra. — Lucky viu um policial passando por eles.

— É o trabalho dele. — Van Der Hills respondeu por fim, exausto.

Peter estava cansado de tudo que estava acontecendo a sua volta. Primeiro sua namorada, depois um garoto que ele humilhava, seu empregado, outro que era do clube de teatro que liderava e por último, um amigo. Tinha a impressão de que o assassino estava cometendo todos os crimes se baseando nele. Talvez soasse narcisista e egocentrista, mas tudo apontava para sua teoria. Reaperface tinha ele como centro dos eventos, ou não.

O toque do celular de Peter despertou-o dos pensamentos. Lucky olhou com semblante sério. O gêmeo retirou o aparelho do bolso e olhou no visor.

— Número restrito. — Disse suspirando.

— Isso significa que...

— É o desgraçado. — Peter cuspiu.

O rapaz atendeu prontamente.

— O que você quer agora?

Olá, Peter! Deixei mais um presente pra você e seus amigos do lado de fora, mas antes de conferir, preciso te contar um segredo. — O assassino aparentava estar em um lugar fechado.

Van Der Hills não respondeu nada, então foi a deixa para o assassino prosseguir:

Mark Reynolds está com a chave.

— Que chave?

A maldita chave que enfeitava as entranhas daquele zelador imundo! — Reaperface cuspiu. — A menos que queira que ele descubra o que não deve, melhor recuperá-la de seu armário.

E desligou.

Peter e Lucky se entreolharam, com o segundo rapaz numa expressão de dúvida explícita. Peter puxou o atleta para o corredor seguinte, onde ficavam os demais armários e onde se encontrava o armário de Mark. Peter lembrava-se bem das vezes que o trancara naquela caixa de ferro.

— O que vai fazer? — Lucky perguntou. — Vai arrombar o armário do Mark?

— Quem falou que eu vou fazer isso? É uma tarefa sua. — Então, o rapaz riu irônico e afastou-se um pouco, cruzando os braços.

Lucky bufou, mas colocou-se a fazer o que Peter tinha proposto. Pensou por um segundo e procurou algo a sua volta que pudesse ser usado para quebrar a pequena trava. Sem êxito, resolveu apelar para a força bruta. Começou a socar várias vezes a porta, na tentativa de destravá-la. Conseguiu após oito socos e a porta retorceu.

Peter não tardou em vasculhar o armário para encontrar a chave e teve êxito alguns segundos depois. Pegou o objeto que brilhava no fundo da caixa de ferro e guardou no bolso na jaqueta.

— Por que fizemos isso? O que pretende fazer com essa chave? — Lucky indagou.

— Não acha que está fazendo perguntas demais, Lucky? — Peter olhou-o com desdém. — Lembre-se, a curiosidade matou o gato.

Os dois saíram dali, e ao chegarem do lado de fora, encontraram Terry. A podcaster estava junta de demais pessoas, entre alunos, funcionários da escola e policiais. Eles estavam diante de uma pessoa com diversas facadas espalhas pelo corpo e uma fratura exposta nas costelas.

— É o Sr. Cortez! — Lucky ficou chocado e viu quando Peter tentou aproximar-se do corpo ensanguentado, mas foi interceptado por um policial.

Terry não havia perdido tempo, estava com seu gravador em mãos, entrevistando duas alunas que confirmavam que o diretor havia sido empurrado do segundo andar. No exato momento, a aluna trans viu quando Peter encarou-a sério.

x-x-x

Dentro do quarto tocava One Direction.

Sentada de pernas cruzadas sobre a cama, Victorya usava apenas um robe vermelho, que deixava um grande decote amostra. Os cabelos estavam metodicamente colocados sobre um dos ombros, enquanto as mechas rosas e azuis se destacavam na franja. Com a webcam de seu notebook cuidadosamente posicionada, ela procurava conversar com alguns rapazes da escola, de modo que várias janelas do Skype permaneciam abertas.

Porém, mesmo empolgada com o clima quente das conversas, que iam de amizade colorida até sexo, ela aparentava estar ansiosa e esperando alguém aparecer e fazer uma nova chamada. Olhava constantemente o relógio digital do aparelho e seu fazia muxoxo quando não recebia o que queria. Jogou o cabelo para trás e olhou as unhas com esmalte roxo num gesto involuntário, estavam horríveis. Afastou o pensamento no exato momento em que recebeu o convite da tão esperada chamada. Ela estava toda produzida e preparada.

A janela abriu-se instantaneamente e ela sorriu de orelha à orelha. O homem do outro lado usava uma camisa social de botões listrada e o cabelo estava molhado. Tory bateu palminhas de entusiasmo e pôs a franja para trás da orelha, ajustando o robe, fazendo seus seios ficarem mais marcados pelo tecido de seda.

— Oi, Victorya. — Disse ele.

— Boa noite, Leon. Me desculpe, mas internet não é lugar pra formalidades. — Ela tombou a cabeça para o lado e sorriu falsamente num gesto meigo.

— E então, o que queria mesmo tratar comigo que não poderia ser na escola? Não sou muito de dar minhas contas pessoais aos alunos.

— Eu não sou qualquer aluno. — Ela afastou um pouco a manga do robe e deixou que o ombro direito ficasse nu.

— Prefiro que vá direto ao ponto, Victorya.

— Tory, por favor, Leon... Só Tory.

— Tudo bem. — Ele passou a mão no cabelo num gesto desconsertado. Corou.

— Sabe aquelas dúvidas que ficou devendo me responder? — Ela perguntou, o tom ia lentamente à malícia. — Então, estou pronta para tirá-las.

— As aulas foram suspensas, tem certeza de que são urgentes?

— Sim, são...

A garota não hesitou. Lentamente ela foi deixando que as mangas do robe caíssem mais, e abrindo-o pausadamente, dava pequenas reboladas. Ela sensualizava na frente na webcam, enquanto o professor do outro lado ficava boquiaberto e extremamente envergonhado.

A garota pôs o notebook sobre a cama, e desta vez, aproximou o busto da webcam, sentindo-se completamente atraída pelo homem. Leon Moreira pedia que ela parasse com aquilo, que eles não deveriam, que ela era apenas uma aluna, mas Victorya não estava nem aí para o que ele dizia, alheia às suas palavras e concentrada em mostrar todo seu potencial sedutivo.

— Ah, qual é, Leon... Venha até aqui, venha alegrar minha noite. — Ela balançava os seios por trás da seda, os mamilos marcavam o robe. — Depois destes assassinatos, está difícil me divertir. Aqueles babacas da escola não servem nem para as preliminares, eles são idiotas e infantis. — Ela rebolava e jogava o cabelo, dançando ao som da música.

— Tory, não faça isso. Não podemos.

— Eu preciso de um homem, Leon, um homem como você.

— Tory, infelizmente eu...

— Se não vier até mim, irei até você. — Ela sorriu de forma maliciosa, movendo a língua sobre os lábios carnudos e vermelhos.

— Isso está errado, Victorya. Agora, preciso ir, não posso correr o risco de me envolver com alunas.

— Lembre-se do que eu disse, Sr. Moreira, não será tão difícil de achar o professor mais charmoso e interessante de Reaperswood High. — Elas sorriu e abriu ainda mais o decote do robe vermelho.

— Me desculpe por não corresponder.

O homem encerrou a chamada e Tory socou a tela do aparelho. Jogou-se na cama e ajustou a seda novamente ao corpo. Logo em seguida, seu celular tocou. Suspirou com pesar e olhou no visor. Era Kat. Atendeu:

— Fala, vaca. — Tory disse séria.

Ei, piranha, eu só liguei pra perguntar sobre a lista de convidadas da festa de amanhã. — Kat enrolava uma mecha do cabelo em um dos dedos. Mascava um chiclete de menta.

— É verdade! Amanhã tem Noite das Vadias, minha cabeça estava tão concentrada em imaginar o membro do professor de literatura, que esqueci completamente da festa. — Tory rolou os olhos.

Como se não bastasse a decepção pela péssima transa do professor de Educação Física, você foi atrás do Sr. Moreira?

— Óbvio! Mas pelo jeito, hoje é o dia mundial da decepção sexual. — Victorya fez um muxoxo e encarou seu rosto no grande espelho de parede que havia em seu quarto. — Uma pena. — Fez uma expressão de falsa tristeza e trocou por um rosto malicioso.

Ai! — Kat gritou. — Mais cuidado com isso, sua incompetente!

— O que está acontecendo aí?

Só depilação de rotina. — Kat suspirou.

— Nossa, boa sorte pra sua depiladora. — Retrucou a morena. — E diga a ela para ter cuidado com a serra elétrica.

Victorya soltou uma risada e Kat ficou séria.

Vai se foder, Tory!

— Com todo prazer. — A morena sentou-se na cama. — Bom, vou te mandar a lista de convidadas e você envia o convite para todas aquelas vadias. Quero minha casa repleta delas, a noite de amanhã promete ser inesquecível!

Kat soltou um gritinho em comemoração.

Então, até lá!

Desligou.

x-x-x

A depiladora arrancou mais um grito histérico de Kat, que fez uma careta ao sentir a cera arrancando os fios de suas pernas. A garota lançou um olhar de repúdio para a mulher de olhos puxados vestindo o uniforme da clínica de estética.

— A menos que queira ser demitida, melhor tratar minha pele direito! — Disparou.

A mulher encolheu os ombros e se desculpou.

— Você viu o que aconteceu com aquela funcionária que afirmou ter visto uma barata na virilha daquela cliente. Eu posso alegar que você afirmou ter visto uma igual na minha, e ainda me acusado de ser porca... — Kat sorriu de maneira vitoriosa.

Mesmo que tivesse fazendo a depilação de maneira certa, era contra as regras debater com clientes. Eles sempre tinham razão. Sendo assim, a funcionária continuou depilando-a de maneira cautelosa.

Kat conversava no chat do facebook com um perfil que adicionara-a recentemente. Aparentemente o perfil era de Vincent Hardy, o rapaz misterioso do clube de cinema. Kat achava seu estilo sexy, e sua barba extremamente sedutora, sentindo-se inevitavelmente atraída por ele. Desde a primeira vez que o vira, mas ele nunca dava bola. Até o dia em que o perfil dele mandara uma solicitação de amizade.

Kat says: Eu nunca pensaria que Vince Hardy conversaria comigo. Você não tem jeito de quem fala com garotas como eu.

Vincent says: Engano seu. Você é especial.

Kat says: :))

Vincent says: Então, o que fará amanhã à noite? Estou afim de degolar alguma garganta...

Kat says: Nossa! É assim que consegue conquistar suas vítimas?

Vincent says: As mais interessantes sim.

Kat says: Acho isso sexy e excitante ♥3

Vincent says: O que me diz de um encontro no parque, no final da tarde? Só eu e você...

Kat says: Como eu posso recusar um convite tão tentador? Óbvio que estarei lá, gato! ;*

Vincent says: Vou estar te esperando preparado!!!

Enviado há 2 minutos

A negra suspirou, prevendo que aquele encontro seria o melhor encontro de sua vida.

x-x-x

No dia seguinte. Fim de tarde...

O sol se pondo no céu anunciava uma noite aparentemente silenciosa e tranquila, e embora os assassinatos ainda ameaçassem a cidade, todos tinham que continuar vivendo, senão, suas vidas seriam entregues ao medo. E dentro do casarão dos Van Der Hills não seria diferente.

Após o anúncio do toque de recolher, Peter e Phillip sentiram-se tentados a fazer algo de produtivo dentro de casa, além de assistir séries na tevê gigantesca do quarto ou infernizar a vida dos empregados.

Depois de fazerem as pazes, após uma discussão banal sobre o relacionamento entre eles e Victorya, ficou esclarecido de que eles deram um beijo enquanto estavam bêbados. Peter aceitou pelo fato de, na noite da fogueira, ele e Victorya já estarem afastados, e o namoro já havia sido rompido. Phillip pediu desculpas mesmo assim e o irmão não hesitou em perdoá-lo. Pegar ex do irmão não era algo nos planos de Phillip.

Agora, os dois transitavam pela cozinha, preparando o jantar daquela noite. Um jantar especial, já que os irmãos receberiam a visita da filha de um casal de sócios de seus pais, que também tinham ido para a Florida em uma viajem “de negócios”. Entretanto, todos sabiam que Orlando era um destino de lazer irreversível.

Tessa Lynch era uma jovem bastante inteligente e talentosa, tocando diversos instrumentos clássicos como: piano, violino, harpa e violoncelo. Phillip dera uma olhada em seu perfil na internet e sabia que a garota visivelmente delicada e prendada – de cabelos castanhos enrolados, pele levemente bronzeada e bochechas rosadas – estava bastante interessada nele.

As duas famílias estavam tentando juntá-los, Phillip queria correr o risco. Chega de se interessar pelas mesmas garotas fúteis de Reaperwood High. Ele repetia para si mesmo que merecia mais do que garotas que se importassem apenas com maquiagens e as genitálias dos garotos, ele queria se relacionar com alguém que olhasse mais para os sentimentos.

— Você pensa tão clichê. — Peter disparou, enquanto o irmão pensava alto. — Tessa parece ser uma garota moldada pelos livros do John Green e do Nicholas Sparks.

Enquanto fazia o comentário, Peter ocupava-se em colocar o molho especial sobre a lasanha já quase pronta.

— Quer coisa mais clichê que lasanha? — Phillip respondeu, preparando a temperatura do forno para receber a massa.

— Não muda o foco do assunto, Phill. Pensa comigo, se for assim... Um de vocês não chega ao epílogo.

— Tessa só tem qualidades demais para ser comparada com as biscates da nossa escola, que estamos acostumados a nos interessar. — Phillip viu Peter pegar a lasanha em silêncio e encaminhá-la ao forno.

Ele sentira que o irmão havia ficado especialmente chateado pelo comentário generalizado. Já que Gabriella havia sido incluída na infeliz afirmação.

— Ok, vamos parar de falar nisso e nos aprontar. Tessa deve estar quase chegando, e não podemos fazer feio. — Phillip caminhou apressado em direção do hall principal.

— Ainda preciso checar os champanhes, mas não demoro. — Peter lavava as mãos.

De repente a campainha tocou. De onde estavam, os gêmeos se entreolharam e sentiram culpa por não terem sido mais rápidos com o preparo do jantar. Em passos rápidos, andaram até a grande porta e Phillip pediu que uma das empregadas, que abriria a porta, fosse vigiar a lasanha no forno. A mulher prontamente assentiu e foi até a cozinha.

Peter deixou que o irmão abrisse a porta.

Ambos arregalaram os olhos quando viram quem estava prostrada na entrada, com várias malas e um sorriso engrandecido. Ela vestia roupas justas e coloridas das melhores marcas, além de acessórios extravagantes e uma maquiagem digna de uma rainha.

— Surpresa, vadias!

— Penny? — Os Van Der Hills disseram em uníssono.

— O que foi, maninhos? Parece que viram o fantasma da princesa Diana. — Disse irônica.

— O que está fazendo aqui? — Peter perguntou.

— Soube que mamãe e papai foram jogar poker e arremessar dinheiro pela janela da mansão de veraneio na Florida. Então achei que, como estou em pausa com minha tour, eu poderia passar alguns dias com meus irmãozinhos queridos.

Os rapazes continuaram estóicos, encarando a irmã como se ainda não estivessem acreditando que ela estava ali. Penelope Van Der Hills, ou como era mais conhecida pelo mundo, Penelope Queen, mal visitava a família, sempre ocupada com sua agenda de shows. Como estrela do pop, ela tinha uma carreira brilhante para administrar.

— Cheguei de viagem há dois dias, e estava hospedada em um hotel três estrelas daqui, porque foi o máximo que consegui nessa cidade precária. Porém, uma mulher me confundiu com a Taylor Swift e isso não foi nada legal. — Suspirou exausta. — Agora estou precisando de uma hidromassagem, espero que a mamãe não se importe se eu usar a dela. Ela ainda tem aquele roupão de penas de cisne?

— Vou chamar o mordomo pra levar suas malas. — Phillip murmurou.

— Agora dêem um abraço na gêmea má! — Penelope abriu os braços e sorriu de orelha à orelha.

Era como se os três estivessem em sua sala repleta de espelhos.

O carro da família de Tessa havia acabado de chegar.

— Estavam esperando mais alguém? — A gêmea perguntou.

— Parece que teremos um jantar a quatro. — Peter murmurou.

x-x-x

Lucky estava sentado na cadeira giratória da administração da Microlins, uma das filiais da empresa de seu pai. A mesa a sua frente permanecia abastecida de relatórios, boletos, notas fiscais, licitações e ele só conseguia encarar a pilha de papéis e revirar os olhos. Encarou o painel repleto de avisos e tachinhas, e bem ao lado, um alvo.

Pegou três dardos e lançou todos no painel. Dois deles atingiram o alvo certeiro, enquanto o último beirou, mas não conseguiu alcançar os demais. O rapaz franziu o cenho e suspirou de tédio.

Seu pai havia ordenado que ele ficasse na empresa para lhe auxiliar. O toque de recolher só piorou as coisas, e além de carrasco, seu pai passou a pegar no seu pé. Lucky entendia que fosse preocupação pelos assassinatos, mas o que ele poderia fazer? Os assassinos só param quando o freezer estiver superlotado de corpos. O do Reaperface parecia estar longe de transbordar.

Foi aí que ele ouviu um barulho metálico. Olhou para os lados e assim que foi olhar para trás, a sua cadeira fora girada com rapidez. O rapaz se assustou e a cadeira virou, tombando com ele junto. Lucky caiu de joelhos e fitou os sapatos delicados de sua namorada. Ergueu o olhar e viu Miles com seu sorriso doce de sempre. A garota usava o cabelo preso em um rabo de cavalo e trajava um vestido simples e azul na altura dos joelhos. Por fim, um casaco branco completava o look.

— Onde vai desse jeito? — Lucky levantou-se e segurou na cintura da garota.

Os dois deram um beijo e ela respondeu:

— À festa da Tory. — Miles deu um giro em seu próprio eixo e pôs a mão na cintura. — O que acha?

— O que deu em você? Amor, tem um toque de recolher aí e a qualquer momento pode acontecer outro assassinato. — Ele retrucou sério. — Não quero que se junte à piscina de mortos.

— Fica tranquilo, amor, não vai acontecer nada, ok? — Ela deu outro selinho no namorado. — Todos os anos Tory faz essa festa pra avisar que falta exatamente um mês para o aniversário dela.

— A diferença, é que esse ano tem um maluco com a roupa do mascote da escola e uma faca de caça, que está sedento por um corpo estripado. — Ele tocou sua mão.

— Lucky, é a primeira vez que sou convidada pela Tory para a Noite das Vadias, eu sempre desejei essa festa, não estrague meu momento, por favor... — A expressão de entusiasmo de Miles foi sumindo e dando lugar à tristeza.

Lucky bateu o pé no chão e respirou fundo.

— Ok. — Vendo o sorriso de Miles brotando outra vez, ele continuou: — Mas preciso saber se... Vai ter garotos por lá. — Ele olhava bem nos olhos dela. Conseguia saber se Miles mentia, apenas encarando sua pupila se dilatando aos poucos. Ela era péssima com mentiras.

— Lucky, o nome da festa é Noite das Vadias, claro que não vai haver nenhum garoto por lá, né? — Miles riu corada. — Além disso, estou bem longe de ser lésbica.

— Nunca se sabe quando minha namorada vai resolver atacar de DJ... — O rapaz aproximou-se e seus lábios foram de encontro com os dela por vários segundos.

— Babaca. — Ela arrumou um intervalo do beijo para murmurar e afastá-lo com um leve empurrão.

— Você vai, mas depois não venha jogar toda a culpa da ressaca por eu não ter estado lá para te impedir de encher a cara. E se tentarem expor você de alguma forma, não esconda nada de mim. Detesto segredos.

— Nada vai ser mais doloroso e engraçado que guardar pro resto da vida aquele comercial da empresa do seu pai. — Miles riu novamente. — A Microlins é excelente! — Ela repetiu a fala do namorado no comercial, de modo que o deixou sem graça.

Lucky ficou extremamente desconsertado, de modo que passou a coçar a cabeça.

— Desculpe. — Miles começou a esconder o riso e sentou na cadeira giratória.

A jovem atriz olhou para o monitor do computador e avistou uma pasta estranhamente afastada das demais. Ela leu bem:

“HHT”

Notou que Lucky havia ido até o bebedouro no canto da sala com um copo plástico em mãos, e aproveitou para abrir a pasta. Era um puro gesto intuitivo.

Miles soltou um gritinho quando as dúzias de fotos abriram.

Todas fotos que mais pareciam terem sido tiradas de uma webcam. E ela reconhecia bem aquele quarto e a garota se despindo nas imagens. Hannah estava em diversos momentos íntimos, alguns ao chegar em casa, outros ao entrar e sair do banho. Em nenhuma das fotos, a loira parecia ter notado a webcam ligada.

— O que significa isso? — Miles ergueu-se da cadeira atordoada, girando nos calcanhares e tapando a boca incrédula. Olhou para Lucky.

O atleta cuspiu a água no primeiro gole e arregalou os olhos. Seu coração parou de bater por um breve segundo.

— Miles, eu posso explicar... Eu...

— Eu deveria ter ouvido o conselho das minhas amigas, principalmente da Gabs, sobre você. — As lágrimas surgindo nos olhos da morena foram inevitáveis. — Você é um cafajeste! E ainda por cima tem fotos da minha melhor amiga pelada no computador do trabalho!

Ele tentou aproximar-se, mas Miles o repeliu:

— Não se aproxime! — Ela estendeu a palma da mão trêmula. — Eu. Detesto. Segredos! — Cuspiu.

Lucky não teve chances, sua namorada já estava batendo a porta do escritório.

— Miles, espera!

x-x-x

No quarto pomposo e inteiramente rosa, o som alto tocava Black Magic. Hannah não era muito fã de girlbands, mas Little Mix era uma rara exceção. A loira passou o último acessório, seu batom da cor rosa-bebê, para o look final ficar completo.

Ela estava deslumbrante dentro da blusa de mangas caídas que ia até acima de sua cintura. Uma estampa exagerada e meio anos oitenta gritava a frase “Queen Bitch!”, que ela sabia que era uma afronta para Tory, e fora intencional. Por fim, usava uma mini saia justa preta e uma bota cano médio, e no cabelo uma tiara de coroa.

Olhou-se no espelho pela última vez e sorriu confiante. Deveria aproveitar aquela noite para mostrar toda sua imponência diante das outras garotas. Elas deveriam começar a respeitar Hannah Athos.

Wendel Matthews marcara de buscá-la às 18:00h, antes do toque de recolher, para que pudessem seguir juntos até a festa. Hannah convidara seu amigo, mesmo que Victorya ousasse reprovar sua presença. E sendo assim, ela teria duas vadias a menos na festa. Como Hannah ainda não manteve contato com Miles, com a loira sem saber o motivo, não tinha ideia se a amiga recebera o convite também, então tratou de chamar Terry.

Porém, ficou surpresa quando a podcaster afirmou ter recebido o convite. As duas comemoraram muito.

Hannah ligou o notebook e teve cuidado para não amarrotar a saia, pondo o aparelho sobre as pernas. Entrou rapidamente em seu facebook e viu que tinha mais uma mensagem do perfil de Gabriella King. Ela não entendia porque esse alguém ainda se atrevia em enviar mensagens, sendo que ela estava ciente que o perfil fora hackeado. Abriu a inbox e se deparou com a mensagem.

Gabriella King says: Você expôs seu vídeo, agora eu vou expor o meu.

“Gabriella send a video”

Infelizmente Hannah não conseguia clicar no maldito vídeo, como se estivesse bloqueado, mas a miniatura era nítida. Havia um casal em uma cama e a loira sabia de quem se tratavam.

— Até que fantasmas não são tão assombrosos assim. — Balbuciou com semblante de vitória. — Hoje é meu dia de sorte.

— Hannah! — A jovem ouviu a voz de Wendel e desligou o notebook rapidamente.

Estava na hora.

x-x-x

Peter desceu a escadaria às pressas, encontrando Phillip e Tessa conversando na cozinha. O irmão estava começando mais um pedaço da lasanha, enquanto a moça ria sem parar de alguma piada feita por ele. Os dois realmente combinavam muito.

Phillip logo notou a presença do irmão, que passou apressado pelo hall. Ele levantou-se da mesa de jantar, pedindo licença para a musicista e seguindo Peter. Perguntou:

— O que aconteceu? Você está suando feito um porco.

— Acabei de receber uma mensagem bizarra no facebook. Vinha do perfil do Vincent, mas acho que não era ele, e sim o assassino.

— Assassino e Vincent na mesma frase acho bem redundante, pra ser sincero. — Phillip rebateu.

— Que seja! A mensagem falava sobre a Noite das Vadias, que a Tory faz todo ano e que está prestes a começar. Eu preciso ir pra lá, é onde o assassino vai agir. É minha chance de pegar aquele otário. — Peter já estava abrindo a porta.

— Vai ligar pra polícia, né?

— Acho que a lasanha não te fez bem. Acorda Phill! Tem um toque de recolher para os adolescentes, não posso bobear. Tenho que fazer isso sozinho... Pela Gabriella.

— E pela Tory? — Phillip cruzou os braços.

— Sim, por ela também.

— Espero que consiga passar pelos tiras que estão vigiando a mansão. Uma viatura em cada ponta.

— Não se preocupe, aqueles são uns incompetentes. Já vi dois deles dormindo na ronda e outro buscando aventuras sexuais no Tinder. — Murmurou. — Passar por eles sem ser notado vai ser deveras fácil.

— Boa sorte mesmo assim.

— Espero que se dê bem com a Tessa também, e não deixe que ela note minha falta. Sinto que precisarei de um álibi convincente. — Ele sorriu de lado e fechou a porta.

Peter caminhou cuidadosamente pelo jardim, passando pelas árvores de pequeno porte e indo em direção ao portão principal. Ele teria que conseguir passar pela viatura. Assim como previu, um dos policiais estava dormindo e o outro mexendo completamente distraído no celular.

Ele teve a cautela em passar pelo canto do arco e chegar até a estrada que levaria para fora dos domínios da propriedade. Pegou seu carro que pela manhã deixara estacionado do lado de fora do jardim e partiu em direção da casa de Victorya.

x-x-x

Logo atrás do conversível de Peter, outro veículo o seguia pela estrada, mas sem despertar sua atenção. Dentro carro 4x4, Alex e Bruce estavam ligados no adolescente. Enquanto o homem dirigia sem tirar os olhos no automóvel à frente, a mulher falava ao telefone:

— Sim, Vince, está correndo tudo bem. — Sorriu. — Não vamos perdê-lo de vista.

Bruce acenou com a cabeça e os dois se entreolharam sorridentes. A jovem desligou e ligou o rádio. Um rock pesado tocava e ela começou a se agitar no banco, balançando os cabelos. Os amigos de Vincent estavam apenas prestando um favor a ele. Seguir Peter seria uma atividade extracurricular divertida.

Alex desligou.

— Por que o Vince cisma tanto com esse tal de Peter? Ele é só mais um playboy metido.

— Uma coisa é certa, — Alex retrucou — com esses assassinatos acontecendo, qualquer um pode matar e qualquer um pode morrer. Entendo o Vince. Não devemos descartar ninguém, até que estejam todos mortos.

Bruce apenas meneou a cabeça positivamente, concordando.

x-x-x

A lua já surgia no céu, iluminando o parque central da cidade. Kat andava com passos apressados na direção de um dos bancos. O celular em mãos acusava que ela conversava com seu admirador há alguns minutos. Sentou-se no banco e cruzou as pernas, balançando-as.

Kat says: Já cheguei, onde você está?

A negra vestia uma regatada lilás apertada que destacava sua silhueta atlética e o cabelo ruivo estava metodicamente arrumado. Uma única mecha frontal fora transformada em uma trança, enquanto o resto da madeixa rubra balançava com o vento. Ela sentia o tênis em seu pé apertar.

Estava ficando impaciente com a demora de Vince em respondê-la.

Kat says: Não estou te vendo. Apareça, gatão. :/

Sem resposta, a ruiva levantou-se e começou a caminhar pelo parque. Nada de avistar Vince. Foi aí que recebeu uma notificação do aplicativo. Olhou na inbox e viu a mensagem do perfil de Vince.

Vincent says: Já cheguei, estou em um lugar colorido. Tente me achar.

Kat detestava joguinhos como aquele. Mas por Vincent, ela faria tudo. E só de pensar em suas mãos grandes, já sentia sua calcinha ficando úmida. Ainda com o celular em mãos, ela passou por um pequeno portão de ferro e avistou o playground do parque. Assim como Vincent relatara, era um complexo de brinquedos coloridos.

Uma brisa fria passou por ela, lhe arrepiando. O local estava assustador, com o vento chacoalhando o balanço e o barulho das corujas e dos grilos ao fundo. Kat respirou fundo e continuou indo em direção aos brinquedos.

Houve outra notificação.

Vincent says: Você está quente...

Kat says: Eu sou ótima em caça ao tesouro 3:)

A garota chegou até a uma escada lateral do escorrega. Começou a subir, sem se importar se sua saia balançava freneticamente. Não havia ninguém ali, apenas ela e Vincent. Ao fundo, ela ouvia somente o rangido do balanço.

Após subir todos os degraus da escada, Kat encontrou o corredor colorido vazio. Fez cara de desapontamento e começou a digitar.

Kat says: Ok, isso não tem mais graça. Não quero brincar mais de gato e rato :/

Vincent says: Adoro gato e rato. Porque sempre sou o gato e minha presa, o rato. O ratinho indefeso e sem saída sendo massacrado pelas garras do gato...

Kat says: Do que está falando? Onde está você?

Vincent says: Bem aqui!

O mascarado apareceu bem atrás de Kat, deferindo uma facada contra sua perna. A negra gritou ao sentir a lâmina rasgar a sola do seu tênis.

— Merda! — Por um descuido, seu celular escorregou de sua mão e ela o perdeu de vista.

A cheerleader começou a andar de joelhos dentro do tubo colorido, sentindo o ar diminuir aos poucos. Reaperface tentou acertá-la novamente com uma facada, mas ela desviou e arriscou um chute, mas o assassino recuou. Kat gritou novamente, desta vez por ajuda. Mas àquela hora no parque ninguém a ouviria, ela estava encurralada.

Continuou engatinhando no brinquedo, o coração acelerado pulsando no peito. Chegou ao fim do tubo completamente sem fôlego e seus braços tremiam. Seu corpo pesava, passava a impressão de pesar tonelada devido ao nervosismo. Ela olhou para trás e para os lados, ao chegar em uma bifurcação dentro do playground.

Ela não tinha tempo, precisava sair dali. Então, seguiu para a direita, avistando um escorrega mais à frente. Agora já dava para sair daquela posição e Kat arqueou os joelhos, seguindo com o dorso abaixado. O teto era muito baixo. Seus braços tocaram o escorrega e ela olhou para trás mais uma vez, para ter certeza de que Reaperface não vinha.

Respirou aliviada e sentou-se no escorrega, pronta para sair. Quando assim o fez, viu o assassino surgir no final do brinquedo e ela soltou um berro, jogando seu próprio corpo para o lado, para fora do escorregador. O corpo da cheerleader chocou-se contra a grama e ela sentiu uma dor terrível no joelho.

— SOCORRO!

Mal teve tempo de olhar para frente, e Reaperface já avançava. A negra desviou mais uma vez de uma facada que seria certeira. Então, arriscou de novo um chute e acertou o ombro do assassino, que tombou para o lado. Ela aproveitou que isso tinha acontecido, para correr dali.

Sem olhar para trás, Kat correu pela grama, saltando alguns pequenos cercados e desviando de bancos. Sentia seu joelho doer, mas não se importava, só necessitava sair do parque. A casa de Victorya era perto dali, ela chegaria em alguns minutos.

Olhou por cima dos ombros. Nenhum sinal do assassino.

x-x-x

Entre as árvores estavam duas silhuetas. À sombra delas era impossível saber de quem se tratavam, mas assim que surgiram embaixo de um poste, revelaram-se serem Johnny e Brenda. Os dois caminhavam pela calçada, ainda sim atentos a qualquer movimentação. Vestiam-se de maneira discreta se comparados ao breu em que se encontrava a rua. Ambos de preto. Ele com uma blusa preta de caveira sobre um blusão branco e uma calça jeans escura. Já Brenda trajava uma jaqueta preta com strass nos ombros, sobre uma regata preta, shorts jeans rasgados, uma meia-calça preta também rasgada e seu coturno.

— Seria um tremendo azar tropeçarmos com uma viatura policial. Dois adolescentes feitos nós seriam facilmente confundidos com assassinos. — Johnny pigarreou. — Ah, e obrigado por ter me deixado pegar as composições que esqueci na sua casa. Você leu algo?

— Claro, todas! É sempre bom ter um amigo compositor, sabia? — A garota de cabelos curtos explanou. — Sia não é nada perto de você.

Johnny riu.

— A casa da Tory é logo ali na frente. — Brenda disse pragmática. — Melhor você me deixar ir sozinha daqui, não quero que corra o risco da patrulha te recolher pra delegacia.

— Ainda acho essa ideia de você ir pra essa festa, uma roubada, Bren... — Johnny parou e encarou a amiga. — E se o assassino aparecer?

— Eu ganhei o convite, eu quero ir. E se por um acaso Reaperface dar as caras por lá... Chuto a bunda dele. — Deu de ombros. — Sobrevivi uma vez, e segundo o manual de sobrevivência aos filmes de terror, eu tenho grandes chances de sobreviver outra vez.

— Bren, que tipo de manual ao filme de terror você leu? Está indo pra uma festa. O lugar perfeito pra um novo ataque. Alguém sempre morre na festa!

— Pronto? Já terminou? — Brenda perguntou, cruzando os braços.

— Estou preocupado, só isso. — O rapaz baixou o olhar.

— Fica tranqüilo, prometo que não chego nem perto da garagem. — Ela mostrou um sorriso diabólico. — É minha vez de se vingar delas, não acha?

— O que está pensando em fazer? — Olhou-a desconfiado.

— Terry estará lá. — Brenda retrucou. — Então, com certeza saberá. Agora deixa eu ir, que não quero correr o risco de chegar atrasada e perder toda a vergonha alheia.

Johnny assentiu e viu Brenda atravessar a rua rapidamente.

x-x-x

Maycon e Newton caminhavam apressados pela rua da casa de Victorya. Eles não sabiam de festa alguma, só estavam tentando chegar em suas respectivas residências o mais rápido possível, já que já passava da hora do toque de recolher e eles deveriam estar dentro de casa.

— Dá pra andar mais rápido? — Maycon dizia. — Se não fosse por você ter parado naquela maldita quitanda pra comprar um saco de maçã, não estaríamos à mercê da polícia.

— Não sei por que temos que obedecer essa merda de toque. — Newton mordiscou a maçã, mas continuou falando de boca cheia mesmo assim: — Mas, o assassino vai pegar a gente onde estivermos. Lembra que o empregado dos Van Der Hell também foi morto dentro da mansão com diversos seguranças?

— Não importa, estaremos mais seguros em casa. — O loiro disse e ajustou o óculos torto no rosto.

— Espera! — Newton puxou o braço do amigo, que deu dois passos bruscos para trás.

— Que foi agora?

— Olha lá! — Newton apontou para o outro lado da rua, há alguns metros.

O coração de Mash acelerou. Era quem ele estava vendo mesmo?

— Aquele é... — O loiro começou, mas foi logo interrompido.

— Sim, Tommy Warland! — Newton olhou assustado para o amigo, que começou a correr.

O homem assustador transitava próximo da casa de Victorya. Newton sabia como era o rosto dele, o reconheceria em qualquer local. Ele saíra no jornal diversas vezes e era bastante conhecido na cidade.

— O que você vai fazer? — Ele perguntou ao loiro.

— Não sei, mas não quero ficar aqui! Ele pode ser o próprio assassino!

— Não deveríamos ir até a polícia? É a casa da Tory! Mash, volta aqui!

Newton também correu, seguindo Maycon pela rua deserta.

A maçã de Newton rolou pelo chão. De repente, fora pisada brutalmente, fazendo um som crocante e molhado. O pé revelou-se ser de Tommy Warland, que encarava a casa de Victorya de maneira misteriosa.

x-x-x

Johnny andava atentamente pela parte escura da calçada, com as mãos no bolso, quando alguém surgiu de um beco e esbarrou nele. Ambos caíram e o garoto de preto puxou um pequeno canivete. Maycon arregalou os olhos e repetia diversas vezes, nervoso:

— Baixa isso, Johnny! — Suas mãos estavam abertas em rendição.

— Você aparece assim do nada, o que queria que eu fizesse? — O gótico guardou o objeto.

— Vou começar a andar com canivete também. Vai que algum lunático resolve apontar um pra mim. — Newton comentou, surgindo do beco também.

Com os dois já de pé, Johnny perguntou:

— Por que estavam correndo? O que estão fazendo na rua no meio do toque de recolher? É perigoso sabiam?

— Estávamos correndo porque Mash viu algo bastante sinistro. — Newton comentou. — Conta pra ele, Mash!

O loiro ficou em silêncio.

— O que foi, Raio de Sol? — Johnny indagou. — Por que ficou mudo de repente? A Terry comeu sua língua?

Maycon olhou-o com desdém e disse:

— Tommy Warland, o famoso assassino que fugiu da cadeia... Vimos ele andando ao redor da casa da Tory, suspeitamos que ele esteja por trás do Reaperface e planeje matá-la esta noite. — O loiro tremia.

— A casa da Tory? — Johnny arregalou os olhos. — Droga, preciso tirar a Brenda de lá!

— O quê? A Brenda está na casa da Tory? — Newton e Mash se entreolharam.

De repente, no final da rua, surgiu uma viatura da polícia. Ela vinha veloz pela estrada, sua sirena soava alta. Johnny rapidamente entrou no beco e começou a correr, desaparecendo no breu. Já Newton e Maycon não tiveram a mesma sorte, e ainda tentaram correr, mas a viatura parou e os dois policiais saíram, rendendo ambos. O loiro e o moreno não sabiam o que fazer, apenas seguiram as ordens dos oficiais.

— O Xerife decretou um toque de recolher, mas como todos já previam, ele seria desrespeitado. — Um dos policiais comentou.

Os amigos deram uma olhadela um para o outro. Eles deveriam contar ou não?

x-x-x

— A Tory está demorando demais. — Miles comentou.

A garota estava acompanhada de mais alguma meia dúzia de adolescentes. Todas reunidas na sala de estar do casarão dos Levin. Ao seu lado estava Terry, Hannah e Wendel, enquanto na outra ponta do sofá estavam Jacqueline e Brenda.

Terry usava um chapéu de cowboy colorido e exagerado. Sua blusa xadrez e sua calça jeans completavam o look country para aquela noite. Ela estava pouco se importando com o membro destacado pela calça apertada. E para não perder o costume, na mão estava seu gravador. A podcaster estava pronta para registrar todos os bafos da Noite das Vadias.

— Ela demora tanto assim pra se arrumar? — Hannah cruzou os braços e bufou. A loira já estava perdendo a paciência, balançando a perna constantemente.

— Calma amiga, ela deve estar retocando a maquiagem. — Wendel comentou bem ao seu lado.

O rapaz estava vestindo-se discretamente. Uma blusa branca de estampa pequena, uma calça caqui e nos pés, um converse vermelho. Ele não gostava de um visual muito extravagante como Terry, preferia algo que escondesse mais seu corpo. Detestava se expor, mas não falhava se seu propósito fosse esse. O cabelo estava bem penteado meio hipster e de longe se notava a sobrancelha bem feita.

— Pelo que já vi dela, essa maquiagem vai durar a noite toda. — Jacqueline batia as unhas nas coxas.

A francesa – que não era tão francesa assim – vestia um simples vestido azul-marinho e um batom discreto, dando todo o destaque ao cabelo vermelho que caía em seu ombro como sangue. No pescoço, um colar com um lindo pingente de caveira mexicana.

De repente, o volume do som aumentou e as garotas foram surpreendidas por uma batida eletrônica. O ritmo dançante obrigou Terry e levantar-se e começar a dançar no meio da sala. Hannah ria da podcaster, enquanto gravava tudo pelo seu celular. Brenda ameaçou erguer-se e levou um susto quando Victorya pareceu nas escadas, fitando o grupo. Ela usava uma mini blusa preta escrito “Ratchet!” em um rosa neon, enquanto na parte inferior vestia uma mini saia e botas de salto alto. Seu cabelo negro possuía mais mechas coloridas que o normal.

— Boa noite, vadias idiotas! — Bradou ela. — Sejam bem-vindas à noite mais alucinante de todas suas vidinhas medíocres! A Noite das Vadias!

Terry, Wendel e Hannah gritaram em uníssono, aplaudindo. Miles fez o mesmo, de forma atrasada e deslumbrada com tudo. Ela queria ao máximo esquecer o que vira no computador do namorado e procurar não jogar a culpa em Hannah, ela era a vítima da obsessão do atleta. Pensou não ser justo condená-la.

— Assim que a Kat chegar, nós começamos os joguinhos sexuais! — Tory ficou de pé no centro da sala, enquanto Terry e Brenda recuavam. — Por enquanto, podem beber à vontade, temos todos os tipos de bebidas no freezer. Não se acanhem, o que acontecer aqui, ficará aqui!

— Até parece. — Brenda murmurou e enquanto ouvia os aplausos, saiu dali e foi até o freezer pegar uma bebida.

— Wendy, vai buscar uma bebida pra mim. — Hannah pediu, rebolando na sua frente.

— Sai pra lá piranha, minha fruta é outra. — Disse ele.

— Você é meu chihuahua, meu sidekick, não está aqui pra debater comigo. — Ela continuou dançando ao redor do melhor amigo, enquanto a música tocava.

— Você sabia que vinha pra uma festa só de garotas. — Ele empurrou-a levemente. — Me trate como tal, ok?

— Só se trouxer uma bebida. — Ela pôs a mão no cinto do garoto. — Prometo que convenço o Phillip a considerar um sexo casual contigo.

— Você não presta. — Ele retrucou e saiu dali em direção ao freezer.

— Eu sei. — Hannah deu um sorriso vitorioso e continuou dançando e filmando tudo.

Terry acompanhou a assistente de rádio na dança, enquanto falava em seu gravador. No sofá, Miles sorriu para Jacqueline. A ruiva permanecia quieta ainda.

Tory voltou da cozinha com uma taça de coquetel com vodka e cereja, propondo um brinde. Atrás dela surgiu Brenda com dois copos. Um deles, a gótica deu para Jacqueline, que sorriu tímida em agradecimento:

— Obrrigada.

— Quero dedicar esta noite à Gabriella King, a maior vadia de todas! — Tory ergueu a taça e Hannah fez o mesmo com o copo que Wendel acabara de trazer de maneira desengonçada. A loira obrigou o rapaz a fazer o mesmo que ela com sua bebida.

Brenda lançou um olhar fulminante para Victorya, enquanto Miles olhou incrédula a expressão de Hannah.

— O que pensa que está fazendo? — A garota de cabelos curtos perguntou.

— O que foi? Não concorda comigo? Gabriella King era capaz de tudo, ela era uma de nós. Poderia não assumir isso publicamente, mas todos sabíamos de sua capacidade. — Tory bebeu um gole de seu coquetel.

Brenda não agüentou e jogou sua bebida no rosto da capitã das cheerleaders. Victorya partiria para cima dela, se as luzes não tivessem se apagado subitamente. A música desapareceu e deu lugar apenas aos gritinhos histéricos de Terry e Hannah.

x-x-x

— Que ta acontecendo? — Miles perguntou, ainda sentada no sofá.

A morena encolheu os ombros e mesmo na escuridão conseguia fitar Jacqueline. A ruiva estava assustada, olhando para os lados. O grupo de pé se entreolhava.

— Que merda de vadia rica é você que não paga a conta de luz? — Hannah perguntou. Wendel abraçou-a pela cintura.

— A energia foi paga, perdedora! — Tory retrucou. — Com certeza não foi esse o problema.

— Quer dizer que... Alguém fez isso? — Uma voz apavorada murmurou. Fora Terry.

— Vamos ficar calmas, ok? — Brenda pediu.

O barulho vindo da porta arrancou gritos de metade das garotas. Wendel também gritou, mas ninguém teve coragem de se aproximar.

— Ninguém sai daqui! — Victorya se pôs na frente das outras.

Uma, duas, três batidas enlouquecidas na porta. Wendel se pôs atrás de Hannah, enquanto Jacqueline encolheu-se no sofá. Miles estava tremendo quando deu a mão à ruiva e agarrou um travesseiro com a outra. Brenda foi rápida em pegar um castiçal que estava sobre uma estante de madeira próxima.

— Quem é? — Tory perguntou.

— O quê? — Brenda olhou-a incrédula. — Como pergunta uma coisa dessas? Não assiste filmes de terror?

— Claro que assisto, sua noiva cadáver!

— Não é hora pra brigas, meninas! — Miles disse.

Gritos começaram a vir do lado de fora.

— ABRAM A PORRA DA PORTA!!!

— Kat? — Tory aproximou-se correndo da porta e abriu-a. — Até que fim você chegou! Onde estava?

— Eu fui atacada! O assassino me atacou no playground do parque! Eu tenho medo dele ter me seguido, ele tentou me atacar e... — O choro não deixou Kat concluir a fala. Tory abraçou-a.

— Tranquem a porta, rápido! — Miles berrou.

Brenda girou a chave na porta e colocou as trancas. Em seguida, socou o alarme. Sem energia ele não funcionaria.

Terry pigarreou:

— Deixem que eu ligo pra polícia!

— O maldito usa bloqueador de sinal. — Tory retrucou, sentindo-se rendida.

— O que vamos fazer agorra? — A pergunta veio de Jacqueline.

Repentinamente o celular de Tory tocou. Vinha do celular de Kat. A negra olhou confusa ao seu lado e pediu que ela dissesse quem era. A capitã das líderes de torcida atendeu com a mão tremendo:

— Alô?

Ponha no viva-voz, Victorya!

Assim o fez, e quando pode ser ouvido por todos ali presente, a voz modificada continuou:

Boa noite, senhoras. Bem-vindas à Noite do Massacre às Vadias!

— Seu doente, vai se ferrar! — Hannah gritou.

Quem vai se ferrar são vocês. — Respondeu. — Sabia que meu passatempo preferido é caçar loiras peitudas e burras?

— Eu tenho cento e trinta e cinco de QI, seu otário! — Hannah cuspiu.

Independente disso, agora é a vez de vocês sofrerem na ponta da minha faca. Vou arrancar os órgãos de vocês e expor na praça principal, vou arrancar cada dente, até que vocês não possam mais pedir socorro!

Jacqueline chorava copiosamente, agarrando as pernas. Miles estava com os olhos marejados e Terry suava.

— Qual a história slasher favorita de vocês?

— Qualquer uma em que o assassino se foda. — Wendel rebateu. — De preferência, da forma mais lenta e dolorosa possível.

Obrigado Wendy, você escolheu bem a morte deste capítulo. Bela sugestão! Adoro mortes lentas e dolorosas! Vocês conseguem adivinhar em menos de cinco minutos quem será a sortuda que terá uma morte digna da vadia das histórias slasher? Juro que dessa vez não haverá nada envolvendo garagens ou chaves de roda.

— Ninguém vai participar do seu jogo, Reaperface! — Tory berrou.

Menos de cinco minutos. O tempo está correndo. Se eu fosse vocês, iria para a varanda, dentro de casa não passam apenas de iscas vivas.

— Varanda?

O assassino desligou.

x-x-x

O grupo de oito passou pela porta de vidro e chegou até a varanda. O cenário era um pouco diferente dos demais. Havia uma luz vermelha pousando sobre a grama às margens da piscina. Haviam algumas espreguiçadeiras e coqueiros. Uma pequena neblina pairava por ali, aumentando o clima sombrio.

— Vamos logo, não podemos perder tempo. Tentem achar uma saída! — Tory gritou. — Se espalhem!

— Ué, Tory. É sua casa, não sabe onde fica a saída? — A loira no meio do grupo indagou.

— Precisamos ficar unidas agora! — Brenda gritou.

— Está surda? — Hannah pigarreou. — Não está vendo que se nos separarmos acharem a porra da saída mais rápido? Que droga!

Brenda bufou e ajudou-as a procurar algo que pudessem tirá-las dali.

Foi aí que o assassino surgiu atrás da porta de vidro e puxou Miles pela cintura. A garota gritou, sentindo seus músculos doerem. Ela deu uma cotovelada no mascarado, que recuou. Então, conseguiu correr na direção das outras. Brenda apareceu e acertou um vaso de plantas contra Reaperface que tonteou. Hannah atingiria outro vaso, se o assassino não tivesse deferido uma facada em seu braço.

A facada não fora profunda, mas foi o bastante para Hannah urrar de dor. Com a ferida aberta, ela correu pelo gramado. A neblina impedia que ela visse muita coisa, e apenas a luz vermelha, somada à luz da lua ajudavam no momento. Wendel e Terry corriam para longe, passando por um portão de metal e escondendo-se no que parecia ser uma pequena estufa.

x-x-x

Reaperface começou a correr atrás de Hannah. A loira gritava sem parar, sentindo a dor no braço aumentar. Não viu quando Kat passou correndo na sua frente. As duas tropeçaram e rolaram pela grama. O assassino aproveitou para erguer a faca e atingir a coxa da cheerleader. A faca entrou na carne de Kat com força e a negra gritou. Hannah saiu rastejando, aproveitando que o assassino concentrava-se em Kat.

— Eu não posso morrer... Não agora... — Ela murmurou.

Kat continuou gritando, enquanto tentava esquivar-se das investidas do Reaperface.

De repente, Brenda apareceu, segurando o que parecia ser uma barra de ferro. O assassino percebeu antes e chutou seu abdômen. Brenda foi ao chão em um baque surdo, agarrando a barriga.

Quando abriu os olhos, viu Reaperface arrastando Kat pelos cabelos. Olhou para o resto do quintal e não viu ninguém. Provavelmente todos tinha se escondido ou achado a saída. Não houve nada que Brenda pudesse fazer para impedir que Reaperface levasse a líder de torcida.

— Ele pegou a Kat, ele capturou ela! — Saiu gritando e correndo pela varanda.

Logo encontrou Jacqueline e Miles. E então, Tory apareceu. O restante não apareceu, então as quatro passaram pela neblina e chegaram a uma parede de vidro. Lá dentro, podiam ver Reaperface deferindo outra facada contra o peito de Kat, que gritava e debatia-se freneticamente. Ela pedia que ele parasse, mas o assassino não dava ouvidos. Ele continuava esfaqueando-a como uma boneca de pano.

O sangue espirrava na máscara de ossos e o som da lâmina entrando e saindo da carne era audível de onde elas estavam.

— Kat, não!!! — Victorya batia no vidro impotente.

Jacqueline soluçava de tanto chorar. Seus olhos já estavam inchados de vermelhos.

— O que é aquilo? O que ele vai fazer? — Miles perguntou.

Victorya sabia o que tinha naquela sala de vidro. As máquinas de bronzeamento de sua mãe.

O choro de Kat fora abafado com uma oitava facada e ela já estava sem forças para gritar. Parte de seu corpo ficara dormente, enquanto as vidraças e o piso ficavam tingidos com seu sangue. Reaperface deixou o corpo caído e caminhou lentamente até uma das máquinas brancas, abrindo-a e colocando o corpo da cheerleader negra dentro.

Kat apenas gemia, sentindo as feridas abrirem ainda mais.

Reaperface fechou a tampa e foi em direção do painel que controlava a temperatura da máquina. Então, ligou-a e pôs a intensidade da temperatura do último botão.

Não tardou para que as bolhas estourassem na pele de Kat, que com as forças que ainda restavam, batia na tampa, desesperada. Ela gritava, enquanto o rosto enchia-se de bolhas e inflamações. As bolhas estouravam e seus olhos e boca já estavam completamente irreconhecíveis. O rosto ficou vermelho em questão de segundos, enquanto os membros superiores e inferiores tinha o tecido epidérmico derretido.

Reaperface sorria atrás da máquina, saindo dali por uma porta que as garotas não puderam enxergar, por conta da luminosidade, embora a energia ali dentro não tivesse sido cortada. Os gritos de Kat diminuíam e davam lugar ao gemido fraco. A carne tostada já estava toda exposta.

Do lado de fora, Victorya batia no vidro, chorando. Miles tapava a boca horrorizada e Jacqueline não poderia fazer nada além de chorar, ouvindo os gemidos invadirem seus tímpanos. Tory ajoelhou-se, pondo as mãos no vidro, imponente.

Subitamente a máquina de bronzeamento artificial pegou fogo, incendiando o corpo da líder de torcida. Kat não gritou mais, não gemeu mais. As últimas bolhas de pus estouraram, antes do corpo ser completamente devorado pelas chamas.

x-x-x

O grupo de garotas e Wendel estavam na sala de estar da casa dos Levin. O assassino conseguira levar mais uma vítima. Então, as primeiras viaturas surgiram com suas sirenes ensurdecedoras e a porta abriu-se. Lucky, Johnny e Peter surgiram, completamente suados e vermelhos. Pareciam ter corrido muito. Os três encararam o grupo reunido na sala e Tory disparou:

— O que estão fazendo aqui?

Todos se entreolharam.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Não esqueçam de comentar!



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