Hunter - A caçada começou escrita por Julia Prado


Capítulo 24
Lei Marcial


Notas iniciais do capítulo

My people!! So sorry por demorar uma semana!! No Carnaval eu meio que trabalhei e por isso não tive tempo para postar. Vocês me perdoam??
Aqui está o capítulo, nos falamos lá embaixo tbm ;*



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Eu olhava ansiosamente seu rosto, tentando decifrar o que viria a seguir. Estava com uma expressão pensativa, daquele tipo que delibera se te perdoa ou não. Não era como se eu estivesse temerosa, mas sofrer a ira de Naomi não estava nos meus planos tão cedo. Eu tinha me esquecido completamente que dia era hoje e quando ela chegava. Não só pela noite anterior... O que com certeza era um bom motivo para esquecer... Mas durante toda a semana. Lidei com a vinda de Naomi algo tão distante que nem me liguei que estávamos entrando em fevereiro.

Naomi olhou de canto quando Jacob andava de um lado para o outro na cozinha, completamente relaxado e despreocupado. Parecia não se importar em estar sem camisa enquanto terminava de guardar a louça do nosso café da manhã mal sucedido. Ela estreitou seus olhos para ele e então me encarou. Os olhos azuis claros traziam perguntas nítidas de como isso tinha acontecido e o que significava.

— Então, me perdoa? – perguntei cuidadosamente, não querendo sua ira.

Eu tinha dito, mais em troca de olhares do que palavras, o que tinha acontecido na noite anterior que me fez esquecer. Também expliquei que estava sem o carregador do celular, John esquecera de colocar na mala, e por isso não atendi nenhuma de suas ligações. Não precisei de muito para convencê-la sobre a negligencia do povo de La Push com a tecnologia. Ela tinha passado pelo centro.

— Eu não sei... Tem algo de muito errado acontecendo aqui. – ela sussurrou para mim.

Atrás dela, vi Jacob rolar os olhos e então piscar malicioso para mim enquanto ia em direção ao seu quarto e fechava a porta. Ele estava nos dando privacidade... Ou o máximo que conseguia, eu sabia que ele ainda podia nos escutar.

— Oh meu Deus! – ela disse assim que ele saiu. – Você não me disse que ele era tão mal caminho.

— Pare com isso – falei rolando os olhos e corando. Só de saber que Jacob ouvia do outro lado já era constrangedor o bastante.

Os olhos ávidos de Naomi vasculharam ao redor, buscando por mais informações sobre Jacob. Eu sabia que era isso o que ela estava fazendo não só por ser sua melhor amiga, mas também por sua curiosidade ser mais explícita que a minha. Seus cabelos estavam mais curtos desde que sai, pendiam brilhantes e lisos na altura de seus ombros, com leves ondas louras escuras.

Naomi era totalmente o meu oposto. Alta, corpo mais curvilíneo, pele bronzeada e cabelos louros escuros. Tinha uma pequena argola no nariz e algumas tatuagens tribais espalhadas pelo corpo. Era destoante a sua presença em La Push. Fiquei imaginando se, quando cheguei, também era assim.

— Então vocês...?

— Sim.

— E foi...? – ela ergueu as sobrancelhas.

— Exatamente.

— Isso é muito bom. – ela assentiu como se fosse perita no assunto. – Michael Davis foi... – e ergueu as sobrancelhas novamente.

— Ah sim, eu imaginei. A fama dele nunca foi muito boa – comentei me lembrando dos comentários machistas de quantas meninas ele tinha conseguido levar para seu quarto e os comentários desgostosos delas. – Meio precipitado, não acha?

— Romantismo não é a minha. – deu de ombros. – Nem a sua.

Rolei os olhos. Não era, mas isso não significava muita coisa. Eu nunca transaria com Michael Davis só para me livrar da virgindade. De fato, nossas concepções de mundo eram muito diferentes. E no entanto éramos melhores amigas... Coisa estranha.

— Então... É aqui que eu vou ficar?

— Imagino que sim. A não ser que queira ficar no mesmo quarto de Austin. – propus. – Lá na casa do meu pai.

— Ew, não. Tô de boa. – ela abanou a mão, seu ciúme por Austin ainda mais evidente. Eu estava prestes a argumentar, mas me lembrei o que nos unia era o gênio forte e a facilidade em se meter em encrencas com planos idiotas.

— Tudo bem, Jacob não vai se importar... Eu acho – olhei duvidosamente para a porta fechada de seu quarto. Ele não gostava de visitas, o que diria de uma visita permanente?

E, ah, e logo agora que as coisas tinham finalmente acontecido? Naomi não poderia ter vindo em outra data? Bom, o que estava feito, estava feito. Eu não podia mudar e estava feliz pela vinda dela. Era como se um pedaço da minha antiga vida fosse colocado de novo em meu coração. Eu podia ser normal com ela. Não precisava haver mentiras, nem sobrenatural. Seria apenas nós duas novamente.

— O que é que ele faz da vida? – ela perguntou enquanto nos levantávamos e levávamos a mala dela para o quarto de hóspedes.

— Tem a própria oficina e cuida de alguns assuntos... De utilidade pública.

— Uh, isso parece chato. – ela falou e jogou a mala na cama.

Seus olhos varreram ao redor, novamente absorvendo o ambiente. Eu sentia as dúvidas dela crescendo o tempo todo em seus olhos e temia o que e quando ela iria finalmente despejar tudo isso. Eu só gostaria de não precisar mentir.

— E aí, o que vamos fazer hoje? Deve ter alguma coisa para fazer, não é mesmo?

E aí é que tinha um problema. Ontem nós não chegamos exatamente a um acordo, e a última coisa que eu queria agora era brigar novamente com ele. Mas também não queria ficar presa na casa e muito menos com Naomi, que aproveitaria desse tempo a sós para arrancar tudo o que quisesse saber.

Houve uma leve batida na porta. Jacob a abriu e colocou a cabeça para dentro, depois sorriu de maneira maliciosa e abriu mais a porta.

— É muito bom finalmente te conhecer, Naomi. Gaele fala muito de você. – ele disse de forma despreocupada, encostando-se no beiral da porta e cruzando os braços. Eu escutei a respiração de Naomi falhar. – Imagino que vocês queiram sair. Posso pedir para Seth acompanha-las durante o passeio.

— Seth? Quem é Seth? – Naomi perguntou me olhando.

Meu novo guarda-costas fixo. É, isso com certeza quebraria o gelo.

— Meu amigo. – falei despreocupada. – Eu ainda não sei andar muito por aqui, podemos facilmente nos perder.

— Ah... – ela disse estreitando seus olhos. – Ele é gato?

Senti minhas bochechas corarem. Eu estava prestes a dizer que sim, mas não acho que Jacob gostaria desse comentário sobre seu braço esquerdo. Pressionei meus lábios e olhei para Jacob, que tinha uma expressão divertida no rosto, mas bem de leve. Só podia ser visto por uma boa leitora. No caso, eu já estava me tornando especialista.

Jacob coçou o queixo, ele fazia muito isso quando pensava bem nas palavras ou quando mentia.

— Acredito que sim. – e deu de ombros.

— Em uma escala de 0 a 10? – ela perguntou. Esse era o problema/ a graça de Naomi. Ela não tinha nenhum pudor, não parecia se incomodar com as perguntas inconvenientes.

— Acho melhor você se trocar. – cortei ela ao rolar os olhos. – Colocar uma roupa mais quente.

Eu sai do quarto junto com Jacob para deixa-la mais confortável. Assim que fechei a porta, o braço quente e forte de Jacob rodou minha cintura e eu me vi girando, tendo as costas apertadas contra a parede ao lado da porta. Por um breve momento eu fiquei preocupada que Naomi pudesse sair do quarto e nos pegar. Seria, no mínimo, embaraçoso. Mas isso se passou tão rápido como uma estrela cadente.

Ergui meu rosto, pronta para beijá-lo. Jacob envolveu minha boca com a sua, quente e desejosa. Era puro deleite. Torci minhas mãos até sua nuca e abracei seu pescoço, aprofundando o beijo e curtindo o máximo possível. Eu não sabia como seria a nossa semana, se ficaríamos juntos e teríamos o nosso momento. Por isso, curti cada momento. Torci minha língua na sua, belisquei seu lábio inferior.

Um gemido abafado saiu do fundo da garganta de Jacob. Enviou uma corrente elétrica pelo meu corpo. Fui pressionada ainda mais na parede, sentindo a respiração quente e acelerada dele bater em meu rosto e me inebriar. Eu não conseguia pensar direito.

Com um suspiro pesado de raiva reprimida, Jacob se afastou um pouco, pressionando nossos lábios uma última vez. Então ele se afastou ao mesmo tempo que Naomi saia do quarto com uma calça jeans e moletom.

— Tô pronta para alguma aventura. – ela bateu as mãos feliz.

Rolei os olhos e fui me trocar. Coloquei calças jeans pretas, um suéter cinza escuro e minha jaqueta de couro. Calcei as botas de chuva e sai do quarto. Naomi olhava insistente para Jacob, que tinha os braços cruzados no peito e estava encostado na bancada, parecendo completamente alheio a minha melhor amiga.

Suspirei. Isso ia ser uma dor de cabeça.

Ergui a mão direita para Naomi. Ela bufou.

— Ah, qual é. Cadê o seu carro?

— Divido com Austin. – falei e agitei os dedos. A contragosto, ela colocou a chave grossa e sofisticada nas minhas mãos. Encarei aquilo com o cenho franzido. Que tipo de carro ela tinha alugado?

— Seth encontrará com você na entrada da Reserva. – Jacob disse e saiu de sua posição, vindo me dar um beijo suave nos lábios.

Naomi fez um barulho impaciente em sua garganta. Como quem quer apressar as coisas. O ciúmes dela não tinha limite. Reprimindo um sorriso, passei por Jacob nós fomos até a saída. O carro que Naomi tinha alugado era um Range Rover branco.

Minha boca se abriu em choque. Como ela alugava algo tão caro e branco? Ele ia ficar sujo no primeiro dia! Ela sorriu amplamente ao passar a mão pelo capo do carro, olhando com júbilo.

— Acho que vou pedir um para o meu pai. – disse desejosa. – É tão macio.

— É branco – falei chocada. – Eu te avisei que aqui era lamacento.

Naomi deu de ombros, como se esse fato não fosse realmente um problema. Entramos no carro e dei a partida. Por ser automático, eu não tinha muito o que fazer. Tamborieli meus dedos de leve no volante, um pouco temerosa pelo tempo a sós que tínhamos pela frente. Eu amava Naomi, mas ela poderia ser bem inconveniente às vezes.

Como todos os outros dias, a chuva caia constante e fina. Eu tinha que admitir o prazer em ter uma SUV tão potente como essa. Ela deslizava sem problemas pela lama, com uma firmeza e aderência que meu carrinho não teria feito sem derrapar um pouco, quiçá ficar atolado. Ao passar pelas casinhas simples e abertas dos la pushianos, notei o olhar crítico de Naomi, a boa levemente comprimida como se quisesse segurar as palavras dentro de sua boca. Percebi, um pouco tardiamente, o quão difícil era para Naomi estar aqui em suas férias. Provavelmente seus pais estavam na França, fazendo uma linda viagem de férias. E ela estava aqui, comigo.

Deixei meu corpo relaxar um pouco mais. Naomi era minha melhor amiga, não tinha motivos para me sentir tensa. Eu odiava ter que mentir para ela, mas isso seria o melhor. Ainda assim eu aproveitaria ao máximo sua vinda.

Encontramos com Seth na entrada da Reserva, ele estava diferente desde  a última vez que o vi. Passei meus olhos criticamente por ele, tentando entender o que era. Ah sim, ele estava de camiseta.

— Minha nossa Senhora – Naomi chiou ao meu lado. Observei seus olhos azuis brilharem de travessura para Seth. – Agora eu entendo o motivo por você estar morando aqui. Todo mundo é assim?

— Sh – fiz assim que a porta detrás se abriu e um Seth sorridente e calmo entrou no carro. – Oi, Seth.

— E aí, Gaele? – cumprimentou, sua voz suave e pacífica. – Você deve ser Naomi. É um prazer.

— Todo meu – Naomi se virou no banco para estender a mão. Eu tentei não rir com o olhar cobiçoso que ela lançava no pobre Seth. Se ele não fosse comprometido, ela provavelmente o teria ainda hoje.

Franzi o cenho. Isso era algo que eu não sabia. Sobre a vida de Seth. Jacob sempre pareceu tranquilo e até prédisposto a falar sobre todos no bando, mas sempre teve algumas reservas quando se tratava de Seth.

— E aí, para onde vamos? – Seth perguntou.

— Pensei nas piscinas. – falei virando pela Ocean Drive para estacionar o carro na frente da praia.

— Vocês têm uma praia com esse tempo? Puxa, que desperdício – Naomi disse e eu ri, tinha sido exatamente o mesmo pensamento que eu tivera quando vim para cá.

Parei o carro e saímos. Naomi olhou brava para o céu, provavelmente irritada com a chuva em suas roupas e rosto. Eu podia ver o rímel nos cílios e o delineador a preocupando.

Seth andou na frente para afastas as samambaias e galhos do nosso caminho enquanto estávamos na trilha. Naomi não deixava de sempre lhe lançar um olhar de esguelha. Ela segurou meu braço para diminuirmos o ritmo e deixar Seth ir na frente.

Eu gostaria que ela não o fizesse, isso não impediria ele de nos ouvir. Mas como eu diria isso para ela? Olhei preocupada para Seth, desejando que ele pudesse apenas desligar a superaudição.

— Atualize-me. – ela pediu.

Suspirei.

— Eu não sei muito sobre Seth. – tentei ser evasiva. – Ele é um grande amigo de Jacob e trabalha na oficina de vez em quando, ajuda o tio em uma loja de CD em Forks. Não sei se namora ou não, Jake nunca me disse.

— Hm. – ela analisou. – Essa merda de chuva vai acabar com qualquer chance de flerte. Estou borrada?

— Nem um pouco.

— Que bom. Comprei a prova d’água, mas vai saber né.

— Achei que estivesse com o Beau.

Naomi bufou e rolou os olhos.

— Que nada, ficou me enrolando até o último dia de aula. Uma história sobre não querer apressar as coisas. Não fode e não sai de cima, sabe?

Eu ri pelo nariz. As pessoas aqui eram sempre tão... Comedidas nas formas que falavam que eu constantemente me corrigia ao falar. Era engraçado eu me surpreender com esse tipo de linguagem tão espontânea. Abracei os ombros de Naomi e ela sorriu para mim.

— Senti sua falta, baixinha. – ela disse olhando para frente determinada a não se emocionar.

— Você não tem ideia, Mi. – suspirei. Se ela soubesse pelo o que eu tinha passado nesses meses em La Push...

Chegamos as piscinas marinhas e fomos brindadas por uma trégua da chuva. A maré estava alta, batendo nas pedras com força e trazendo o mundo marinho para dentro das piscinas. Ali, tinha um caranguejo que esperava a maré voltar para poder sair novamente. As algas balançavam no fundo rochoso, suas cores vibrantes na água clara e rasa.

As estrelas do mar grudavam em cada canto das rochas, de diferentes cores e tamanhos. Se focalizasse melhor o fundo da piscina, era possível ver os cavalos marinhos também.

Eu esperava que Naomi conseguisse se encantar com essa beleza simples e cinzenta de La Push. Não eram muitos que conseguiam. Se ela tivesse uma automática aversão ao local, nada que eu pudesse pensar em fazer a deixaria feliz.

— Isso é bonito. – ela disse franzindo o cenho, como se não acreditasse que tinha acabado de elogiar La Push. – De um jeito triste e melancólico, meio que preto, branco e cinza, mas bonito.

Bom... Era um começo, né?

— Podemos entrar? – ela perguntou animada.

— Com esse tempo? Dificilmente – Seth disse de braços cruzados.

Alguns moradores de La Push andavam pelas piscinas, com seus casacos de chuva nos ombros agora com a trégua do temporal. Riam e brincavam, mas nenhum deles entrava na água. O tempo aqui nunca iria permitir isso.

— Que graça tem, então? – Naomi sussurrou para mim.

E lá se foi todas as minhas esperanças que ela pudesse se divertir aqui. Eu lhe dei o meu melhor sorriso compreensivo. Não compartilhava do mesmo pensamento que ela. Naomi era uma pessoa muito hiperativa, sentar e admirar e refletir sobre o mar não era com ela.

Passei um tempo tentando distrair Naomi com algumas histórias que eu sabia sobre as piscinas marinhas. Aos poucos consegui vencer a barreira de preconceito dela, na qual seus olhos azuis foram criando um tom de interesse e curiosidade. Passamos mais um tempo nas piscinas coletando estrelas do mar, que eram tão raras em Los Angeles.

Comparávamos as mais bonitas e, no final de tudo, dávamos risada. Não era nem pela atividade em si, era só por estarmos finalmente juntas depois de quase oito meses longe. A felicidade de estar lado a lado, de compartilhar um momento bobo e sem diversão nenhuma. Não importava. Poderíamos ter ficado em casa sem fazer nada e mesmo assim ela estaria feliz.

Eu notei isso tardiamente. Minha mente tão preocupada com os julgamentos de Naomi que eu me esqueci completamente como ela poderia ser fiel e bondosa. Depois disso decidimos ir para a praia, mesmo que fosse para andar ou sentar nas pedras. O local não importava muito, eu estava leve por ter minha melhor amiga ao meu lado. Alguém que não sabia sobre nada do que eu tinha passado nos últimos dias, nem que soubesse sobre o meu futuro incerto em La Push.

Não, ao lado de Naomi nenhum desses assuntos poderia fazer parte. Eu queria aquele pedaço solar que Naomi representava na minha vida. Um pedaço que não tinha nada de estranho além da cueca larga de Michael e sua inabilidade no sexo.

— É sério! – ela disse depois de eu cair na risada quando ela escreveu, com muitos detalhes, os sons que Michael fez. – Parecia que tinha uma morsa sendo sacrificada em cima de mim. Foi horrível.

Eu estava curvada de tanto rir, andando aos trôpegos com meus braços dados ao dela. Naomi riu também e eu podia jurar que escutei a risada de Seth mais atrás de nós.

Ter Seth o tempo todo ao nosso lado não foi tão horrível, por que eu tinha a desculpa dele ser muito bonito, por isso não incomodou Naomi e não a fez fazer perguntas sobre a situação. Mas eu gostaria que ele fosse embora, se divertir, sei lá. Tê-lo como guarda-costas não era nada prazeroso. Era meio invasivo.

Eu teria que conversar com Jacob sobre isso.

— Agora você é a minha inspiração. – Naomi disse após meu acesso de riso terminar. – Vou me focar em caras mais velhos, mais experientes sabe. Por que tô fora de ensinar um marmanjo de 18 anos a colocar a camisinha.

— Bom, não é surpresa que Michael não sabia usar uma. Quantas meninas da escola alegam estar grávida dele?

— Duas, da última vez que parei para prestar atenção nisso. – ela fungou, puxando o capuz de seu moletom mais para frente.

— Isso é horrível.

Naomi deu de ombros.

— Acho que sim... Embora elas também poderiam ter obrigado ele a colocar a camisinha. É um erro de ambos, né?

— E você contou para a sua mãe?

— Você contou para a sua? – ela perguntou com as sobrancelhas erguidas, como que isso respondesse a minha pergunta.

— Não é como se eu tivesse tido tempo para isso. – murmurei baixinho, constrangida por ter Seth logo atrás de nós, a quase vinte passos.

E era por isso que eu teria uma conversinha com Jacob. Não tinha como falar dessas coisas com um integrante do bando logo atrás de mim. Vai que no meio da ronda ele lembrasse... Tentei não pensar sobre isso, para não morrer de vergonha.

— Bom. Tenho certeza que sua mãe seria muito mais compreensível que a minha. – ela disse. – Camille tem essa ideia maluca de que experiência sexual é sinônimo de vagabunda.

— Ela deveria seguir o próprio conselho – falei sombriamente.

Naomi riu, jogando a cabeça para trás.

— Nem me fale sobre. A viagem deles para Praga é para tentar consertar o casamento. – rolou os olhos. – Como se fosse possível. O tanto que os dois pulam a cerca é de cair o queixo.

— Monogamia já era. Seus pais são mais modernos que nós – analisei.

Naomi riu de novo, então chutou algumas pedrinhas. Sua boca se contraiu involuntariamente. Observei seu rosto e me senti mal. Esse era o tipo de situação que seria melhor se eu estivesse ao lado dela.

— Eu sinto muito pelos seus pais serem uns babacas. – falei

— É, eu também. – ela fungou. – Às vezes penso em fazer o mesmo que você. Dar no pé sabe. – ela olhou ao redor, analisando o local. – Não acho que me importaria muito em morar em um lugar como esse por um tempo. Tirar a cabeça da confusão que está lá em casa.

— Duvido. – balancei a cabeça. – Você não conseguiria passar uma semana aqui.

Ela riu.

— É... Mas faria um esforço em uma cidade pequena na França. – disse maliciosamente. – Hm, os franceses...

Eu ri.

— Acho que Michael não sabia do monstro que estava criando quando tirou sua virgindade, Mi.

— Vá se foder. – rolou os olhos. – Vamos voltar? Estou congelando aqui.

Nós voltamos para o carro. Fiz questão de deixar Seth na casa dele, mesmo com ele negando no banco de trás. Era o mínimo que eu poderia fazer... É claro que desconfio ter sido um erro revelar o endereço para Naomi. Ela tinha um olhar de caçadora quando ele saiu do carro.

Finalmente confortável sem a supervisão de Seth, ela destrinchou elogios maliciosos sobre a forma física evidente dele, sobre os olhos, a voz suave. Tudo ficou meio pervertido quando nos aproximávamos da casa de Jacob. Eu tentava me concentrar na estrada, embora meus olhos estivessem marejados de tanto rir.

Nós saímos do carro e entramos na casa quente. Jacob não estava, deixou um bilhete dizendo que ia para a oficina.

— Hei, o que é isso? – Naomi perguntou me mostrando um papel.

Ela tinha ido atrás de leite condensado para fazermos alguma coisa doce para comer, abria e fechava as gavetas, pois eu também não sabia onde Jacob guardava as coisas. Ela tirou o papel de uma gaveta.

— Tem mais um monte desses aqui. – ela indicou.

Pareciam centenas de impressões com um aviso: “O Conselho Tribal de La Push decreta que, a partir da próxima segunda-feira (25 de Janeiro), os cidadãos de La Push deverão estar em suas casas até às 19h. O comércio local deve ser fechado antes dessa hora, também. Diante dos últimos atentados, é uma medida preventiva do Conselho”.

Eu encarei a folha sem saber o que dizer, por que também não sabia que um aviso marcial iria ser distribuído. Isso só significava que a situação em La Push não era tão calma quanto eu imaginava. Então era por isso que Jacob andava tão irritado? Mais mortes aconteceram?

De uma forma estranha, isso não me surpreendia. Farad deveria estar furioso com a minha fuga. Uma retaliação em pessoas que não tinham nada a ver com essa história era previsível... Ou será que elas tinham?

— É normal em uma cidade pequena como essa. – a mentira saiu tão automática de meus lábios, que minha voz parecia sem expressão enquanto eu ainda olhava para a folha e analisava o nível de periculosidade que La Push se encontrava agora. – Os animais às vezes atacam. Nos últimos meses uma caçada tem sido feita para pegar o animal, ele pegou algumas pessoas.

— E eu achando que a vida aqui era chata. – Naomi disse se virando para continuar sua busca por leite condensado.

Analisei por mais um tempo a folha, tentando lembrar se Jacob havia comentado alguma coisa por telefone sobre mortes, ataques ou qualquer coisa do tipo. Mas nada vinha na minha cabeça e eu sabia o porquê. Andei tão preocupada em esquecer o que tinha acontecido na cabana com Farad e Dakota, que só conseguia enxergar o estresse de Jacob e a forma como ele me afetava.

O quanto eu tinha perdido?

Mecanicamente, voltei a procurar pelo pote na casa. Até que encontramos no fundo de um dos armários superiores. Naomi ia fazer mousse de chocolate. Como eu era uma péssima doceira, fiquei apenas observando e ajudando ocasionalmente enquanto ela se mexia completamente a vontade em uma cozinha estranha.

Eu tentava me prender a sua conversa, mas não tive muito sucesso com isso. Volta e meia minha mente disparava para o folheto que seria distribuído. Também não conseguia deixar de imaginar quem tinha sido morto... E qual a história dele. Teria, também, relação com a floresta, com o turismo ou eram pessoas aleatórias?

— Tem algum lugar aqui para comprar roupas de frio? Eu não trouxe o suficiente. É verão em Los Angeles, sabia?

— É sempre verão em Los Angeles. – falei distraidamente. – Podemos ir à Forks. A cidade vizinha. Tem algumas lojas lá.

— Ótimo. – ela sorriu enquanto batia no liquidificador tudo.

Depois de pronto, Naomi deixou a vasilha grande de mousse de chocolate descansando na geladeira. Estouramos pipocas e sentamos em frente a televisão, procurando por filmes ou qualquer outra coisa para assistir.

Acabamos parando na metade de “Uma Linda Mulher”, que passava na HBO. Deixei que a história de amor me levasse para longe da bizarrice que eu sentia. Era como se eu já estivesse vacinada com a morte. Não tinha o mesmo efeito opressor de antes. Era apenas mais um fato, mais uma pessoa.

Incomodava-me mais do que tudo esse sentimento. Eu queria me sentir mal, queria sentir desespero e pânico... Mas parecia que esses meses sofrendo tudo o que sofri tiraram esse poder de mim, ou eu estava mais forte, ou estava me tornando insensível.

Jacob chegou quase de noite. Naomi dormia a sono alto em meu colo, cansada da viagem que tinha feito. Eu queria conversar com ele, mas não dava para fazer isso enquanto Naomi ainda estivesse deitada em meu colo.

Sutilmente, a despertei e ofereci o quarto de hóspedes. Ela não negou, arrastou seus pés até o quarto e fechou a porta. Recolhi a vasilha de pipoca fazia e os pratinhos sujos de mousse de chocolate (esperar para comer doce não era muito o estilo de Naomi). Levei tudo para a pia e comecei a lavar.

— O que fizeram hoje? – Jacob perguntou abraçando minha cintura enquanto eu lavava a louça.

Seu toque quente fez meu corpo estremecer perante as imagens que invadiram a minha mente. E elas não tinham nada a ver com o folheto na gaveta. Forcei minha mente ao presente, tentando tirar a sensação de queimação na pele.

— Como se você não soubesse – falei rolando os olhos. – Não encontrou com Seth?

Jacob beijou minha cabeça.

— Estava tentando ser educado. – falou com a voz grave.

Ele me soltou e se encostou na pia ao meu lado, os braços cruzados e os olhos fixos em mim. Suspirei, me chutando mentalmente por ser uma vaca com ele. Não é como se eu estivesse brava por não saber o que tinha acontecido no meu período pós-sequestro. Eu até agradecia, por não me deixar ainda mais sobrecarregada.

— Foi mal. – falei. – Nós fomos às piscinas e depois andamos na praia. Voltamos e ficamos assistindo filmes e seriados.

— Ela se divertiu?

Ergui minhas sobrancelhas comicamente para ele. Jacob quase abriu um sorriso, seus olhos negros cravados nos meus.

— Está se esforçando para gostar daqui. – admiti. – Ah, nós encontramos isso enquanto procurávamos por leite condensado.

Abri a gaveta e mostrei o folheto para ele. Jacob o pegou mecanicamente, mas não olhou. Ele sabia o que tinha na gaveta assim que a abri. Coloquei a pequena louça para secar e sequei minhas mãos.

— E eu achando que poderia ser pornografia escondida. Uma decepção – brinquei, para ele ver que eu não tinha ressentimentos sobre isso.

— Não olhe debaixo da minha cama – aconselhou com um sorriso de canto agora.

Eu ri, incapaz de manter a expressão séria.

— O que você disse para ela?

— Menti. – franzi o cenho, nem um pouco orgulhosa disso. – A mesma história do animal enlouquecido. Ela engoliu, Naomi não questiona muito... A não ser que seja muito estranho.

— Sinto muito por ter mentindo para ela. – ele realmente parecia sentir.

Dei de ombros.

— Acho que é melhor do que a história original, não é? Menos arrepiante.

— Pode apostar.

— Quantas pessoas?

Jacob ficou em silencio por um tempo. Eu podia ver a hesitação flutuando na margem de seus olhos. Ele debatia se iria me contar ou não. Seria besteira não o fazer, agora que eu já tinha visto o folheto.

— Quatro.

— Meu Deus. – soltei sem pensar. Quatro pessoas? Isso era muita coisa. Tinha se passado o que...? Duas semanas desde o rapto. Acho que menos. Quatro pessoas em quase duas semanas. Isso era muita coisa.

Não me admirava que Jacob não tinha me contado antes. Isso teria sido um peso na época. Novamente, estranhei a falta de pânico e desespero crescendo no meu peito. Ao invés, senti raiva. Eu queria fazer algo a respeito. Queria aprender logo o que tinha para aprender e ajudar de alguma forma.

Como eu ajudaria era algo invisível para mim ainda. Minha mente não conseguia trabalhar com essa imaginação, ela sempre partia para filmes da Marvel e DC Comics. Nada muito útil no mundo real.

— Não se preocupe. – ele me abraçou. – Vamos dar um jeito.

— Como? – perguntei. – Não quero ser a estraga-prazeres, mas não é como se vocês estivessem conseguindo fazer algum progresso. As pessoas continuam morrendo o os responsáveis continuam livres.

— Sei disso. – a voz dele secou um pouco.

— Não tem nenhum meio de pará-los?

— Estamos vendo sobre isso. Carlisle tem muitos amigos. Talvez eles possam nos ajudar.

— Como?

— Alguns deles são rastreadores. – Jacob explicou. – Possuem um sexto sentido sobre onde as pessoas estão. Ele está tentando convencer alguns a virem, mas não é como se a ideia de nos ajudar seja apelativa.

— Mas as pessoas estão morrendo! – protestei.

— Eles não são amantes dos humanos, anjo. – disse suavemente. – Só os veem como presas, fonte de alimento.

Fiquei em um silencio raivoso. Será que se tornar um vampiro automaticamente elimina qualquer sentimento de compaixão por outra pessoa, mesmo que não seja de sua própria espécie? Afinal de contas, todos eles um dia foram humanos.

— Você parece cansada. – ele analisou.

— Eu estou bem. – era tão aparente assim? Eu me sentia cansada, mas mais mental do que fisicamente.

— Vem, vamos deitar. – ele disse, a voz suavemente rouca com uma persuasão desnecessária.

Eu tentei entender o que aquelas palavras poderiam ter por trás. O lado mais racional da minha mente alertou para Naomi estar dormindo logo no quarto ao lado. Não seria sensato e nem respeitoso. No entanto, o lado menos racional estava em expectativa.

No quarto escuro, Jacob tirou meu suéter e eu me senti esquentar. Os olhos dele estavam longe dos meus, focados na tarefa que tinham a frente. Viajavam da minha barriga lisa até meu busto. Ele se ajoelhou e abriu o fecho de meu jeans. Senti a boca seca e a respiração mais densa.

Meu coração batia tão forte e alto que até eu estava escutando, imaginava o próprio Jacob. Os olhos dele estavam controlados e concentrados. Ele deslizou o jeans para fora. Seus lábios quentes beijaram a minha coxa, próximo a minha virilha. A respiração engasgou na minha garganta e eu estremeci, fechando os olhos.

Então ele se levantou. Abri meus olhos em expectativa, mas ele tinha uma camiseta simples sua nas mãos. A camiseta que eu tinha usado de manhã. Franzi meu cenho.

— Posso ter pouca experiência em sexo, mas acho que ele é feito sem roupas. – falei, minha voz mais rouca e profunda.

O sorriso travesse de Jacob enviou uma descarga de energia direto para meu baixo ventre.

— Nós vamos dormir. – ele disse. – Você está cansada e sua amiga está no quarto do lado.

Meu rosto caiu um pouco em decepção, embora eu entendia.

— Eu fico quietinha. – tentei.

Ele abriu mais o sorriso e se inclinou para mim, a boca próxima do meu ouvido.

— E qual é a graça nisso? – perguntei.


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Notas finais do capítulo

Queria agradecer aos comentários de Sandrinha, Jayne Stark, Amando, Terumy M W Lahote, a nova leitora ThayBlack e Lilian Blackwell.
Adorei o comentário de todas. ThayBlack, seja bem-vinda e espero que continue a acompanhar a história.
Aos que passam por aqui e não comentam, mas os vejo na visualização dos capítulos também agradeço.
Vamos que vamos gente!
Beijoos ;*



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