Hunter - A caçada começou escrita por Julia Prado


Capítulo 23
Brilho, chamas e escuridão


Notas iniciais do capítulo

Nos falamos lá embaixo ;*



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A visita finalmente cessou e eu pude começar a minha reabilitação solitária. Todas as noites, antes de dormir, eu procurava eliminar as lembranças da minha mente, torna-las menos dolorosas. Eram sentimentos completamente opostos e conflitantes. Acordada, eu me sentia tão segura quanto em qualquer outro lugar com Jacob Black ao meu lado. De noite, o terror vinha e era como se eu me encontrasse sozinha naquela casa desconhecida. Talvez seria mais fácil se eu estivesse na minha casa, perto do Quilaute River. Seria um conforto a mais. Aqui, eu não me sentia completamente confortável. Não era minha casa.

No início da semana as visitas estavam se tornando descontroladas. Tão descontroladas que, de uma única vez, vieram Graham, Lali, Austin, John, Jane, Billy, Brady, Emily e Sue. Eu não era a única incomodada com tanta atenção, embora tentasse ser o mais delicada possível com todos (talvez tenha sido isso o motivo de tanta preocupação, a minha estranha delicadeza e bondade), mas Jacob estava a ponto de estourar. Ele nunca teve visitas em sua casa – pelo menos não tão constantes e nem tão repentinas. Era um lugar no qual ele sempre teve paz de espírito. Ninguém poderia culpa-lo por ter surtado. Quando a segunda visita em massa aconteceu, Jacob colocou todo mundo para correr, alegando que eu precisava descansar (mas todo mundo sacou que ele estava de saco cheio).

Não foi de todo ruim, embora eu tenha sentindo um pouco de pena pelos meus amigos. Eu realmente precisava de um tempo para mim, um tempo para fazer minha cabeça dura assimilar as novas informações e encontrar espaço para as memórias doloridas do sequestro-não-tão-sequestro – afinal de contas eu tinha permitido que me levassem.

O tempo com Jacob também poderia ser melhor. Ele estava tão focado em caçar Farad e Dakota, garantir a minha segurança, a segurança do bando e de La Push, que eu não entendia como não surtava – embora ele definitivamente tivesse seus momentos de loucura. Pelo o que Brady dizia, ele não estava sendo o líder tão calmo e compreensivo como era antes, estava exigindo muito mais do bando – e, de quebra, uma leve cisma com Brady.

Eu gostaria de fazer algo a respeito, de fazer Jacob Black entender que a culpa nunca tinha sido de Brady. Mas eu tinha tantos problemas para lidar também, que por muitas vezes nem tocava no assunto, e quando tocava sempre acabava em briga.

Acho que alguém já havia me alertado sobre a vida a dois. Provavelmente Vahiné. Algo que ela não mencionou era o quão difícil estava sendo. Eu sabia o motivo disso: estresse. Eu estava pilhada, morrendo de medo a cada sombra que se movia ao meu redor, e Jacob estava pilhado com o meu medo adicionado ao seu medo. Era uma constante bolha de tensão, que parecia que a qualquer momento iria estourar.

Eu conseguia driblar isso de vez em quando.

Tecnicamente, eu não tinha permissão de sair da casa de Jacob sem alguém me acompanhando – uma proibição vinda de Jacob e de John. Eles tinham vindo com uma ideia maluca de, pelo menos, três pessoas comigo. É claro que eu não deixei isso acontecer, nunca que eu teria guarda-costas. Dar escapada não era algo que se passava pela minha cabeça – da última vez que menosprezei a segurança terminou com Brady quase sendo morto e eu raptada -, mas eu driblava as regras. Deixava que Seth ou Embry me escoltassem até a casa de Emily e ficava lá boa parte do meu dia.

Ainda era muito recente para que eu começasse a me preocupar com o futuro que estava a minha frente, acenando avidamente. Eu andava preocupada demais em primeiro eliminar as experiências ruins para depois me focar em outras. Era quase impossível. Jacob contou a todos – por motivos de segurança, ele havia me dito – sobre o que aconteceu durante os dois dias em que fiquei fora. Era óbvio que Emily e Sue estavam ansiosas para me ensinar o pouco que sabiam.

O mais difícil era o que se passava na minha cabeça quando elas mencionavam “aulas de curandeira”. Era uma mistura de Harry Potter com bruxaria-lixo da internet. Eu não tinha ideia do que esperar. Mas, pela primeira vez em um bom tempo, não me importei com isso. Estava se tornando tão comum não saber o que esperar do dia seguinte, que deixei de tentar controlar o que acontecia ao meu redor. Agora eu estava deixando a maré me levar, as vezes lutava contra, as vezes não.

No entanto, não era nada do que eu esperava. Emily e Sue não me ensinaram nada sobre magia. Ensinaram-me coisas que eu já sabia, pelo menos a parte técnica. A cada dia me ensinavam as propriedades de algumas plantas e flores. Falavam durante horas sobre a espiritualidade de cada uma delas.

Depois de um tempo – quando eu passei a aceitar melhor as lições de espiritualidade – elas me ensinaram a misturar algumas ervas e o resultado para aquilo.

— Os lobos se curam com muita rapidez, quase não precisamos fazer nada. – Sue disse enquanto estávamos agachadas na horta de Emily embaixo da chuva rala. – Mas há alguns ferimentos que não se curam com tanta facilidade. Tudo depende da profundidade do machucado e do motivo por trás dele.

— Por serem uma constante fonte de magia, os lobos podem absorver os ferimentos de uma forma diferente da maioria das pessoas. – Emily continuou, com um sorrio enrugando o rosto marcado por garras. – Se, em uma brincadeira, um deles acaba se machucando, não haverá problemas muito sérios na cicatrização. Agora, se o ferimento foi causado por ira, raiva, tortura ele levará mais tempo, precisará de energização para poder curar.

— Foi por isso que não conseguimos curar Collin. – Sue disse de forma triste, mas solene. Sua voz suave retumbava acima do leve barulho de chuva. – Para o veneno dos frios não existe cura. Para os lobos, é mortal. Mas isso depende de até onde o veneno foi. Por ser algo tão horrível e brutal, um humano só se torna frio a partir do momento em que o veneno se apodera do coração, fonte de amor do homem.

— Quando Collin nos foi entregue, o veneno ainda corria por seu braço. Sua distribuição não tinha sido feita totalmente. – Emily continuou – Mas ele foi mordido com tanta ira, com tanta sede de vingança, que não conseguimos agir a tempo. O corpo tentava se curar, mas a raiva não permitia. Trabalhamos durante horas nele.

Eu abaixei minha cabeça, olhando para a terra enquanto elas falavam. Não fazia tanto tempo que Collin havia morrido, e mesmo assim eu sentia como se tivesse sido há anos. Era uma saudade distante, dolorida e profunda.

— Aprendemos tudo isso não só por nossas mães, mas pelo o que foi deixado para nós. – Sue disse e então puxou um pequeno livro de bolso de seu casaco de chuva. – Foi escrito por Sahale Umi durante sua vida. Você vai perceber que é mais como um diário do que um livro de cura. São as experiências dela como curandeira, seus experimentos com ervas, o que deu certo e o que não deu. Vai lhe ser útil.

Franzi o cenho ao pegar no pequeno livro, que tinha muitas páginas e mal chegava a fechar. O último livro de anotações que me foi dado me meteu em toda essa roubada, ninguém poderia me culpar por estar me sentindo tão desconfiada.

Fora que, o que é que eu ia fazer com ele? Ler e testar em casa?

— Há sempre animais feridos na floresta. – Emily disse, lendo com facilidade a minha expressão. – Podemos treinar neles primeiro. Vamos ajudar você com isso.

— Não tenho mais permissão para ir a floresta. – murmurei infeliz. Era o lugar que eu mais sonhava em ir desde que voltei para La Push. Por que, de uma vez por todas, entendi a minha conexão e me manter longe da floresta estava se tornando doloroso.

— Nós podemos convencer Jacob. – Sue passou a mão suavemente pelo meu ombro em forma de consolo. – Ele ouvirá a voz da razão quando explicarmos o motivo.

***

“Não” foi pouco para descrever a resposta de Jacob ao meu pedido de ir à floresta. Até John concordou com ele! Para falar a verdade, isso estava acontecendo com mais frequência nos últimos dias. Tudo bem, eu sabia que era cedo demais para andar por ai desprotegida, mas não era o fim do mundo também! Será que ele não entendia que a floresta poderia ser o local mais seguro para mim agora? Sem falar no mais apropriado.

O problema é que a resposta de Jacob só despertou em mim algo controlado nos últimos dias. Eu odiava quando me tratavam com criança, ou pior, quando me prendiam. Tinha sérios problemas em obedecer, isso não era novidade, mas pior ainda é quando a ordem vem do seu namorado. E isso gerou uma confusão sem precedentes.

Não vou mentir que no início esperava outro tipo de convívio com Jacob. Algo mais calmo, mais sereno e que pudesse nos aproximar ainda mais. Mas com toda a tensão que o bando se encontrava e que o próprio Jacob estava, não havia espaço para isso. Essa situação me magoava e irritava. Era para as coisas serem diferentes. Era para eu me sentir bem, em meu retiro espiritual ou qualquer coisa desse gênero.

Quando Sue e Emily saíram, escoltadas por John, eu tomei fôlego para iniciar uma briga e percebi que Jacob fez o mesmo. Estava parado de frente para a porta de vidro que dava para o deck, todos os seus músculos travados e esperando pela briga, seus olhos em uma chama negra nada feliz. E eu vi que não queria aquilo.

Como eu poderia? Como poderia discutir com Jacob em um momento que era tão ruim para ele quanto para mim? Ele não estava cooperando, mas eu também não. Os dois, cabeças duras demais para colocar de lado os seus argumentos e chegar em um acordo. Os dois querendo provar suas teorias e suas ideias, sem nunca dar para trás. Eu estava tensa, estava com medo e escapava da casa de Jacob para tentar sair dessa tensão, mas ele também estava. Ele tinha coisas piores para se preocupar. O peso de um bando, de um povoado nas costas. Parte desse peso também deveria ser meu, não era isso o que fora destinando?, mas eu o estava negando, ou melhor, me acostumando ainda.

Sim, eu não estava ajudando, mas ele também não.

Murchei o meu peito e desisti da briga. Não ia levar a lugar algum. Eu não tinha ainda a coragem de sair de casa contra vontade de Jacob, de sair escondida. Mas também não conseguia admitir que meu namorado estava controlando a minha vida de um modo nada positivo. Nunca faria parte de mim prestar contas, pedir permissão. E o fato de começar a fazer isso me irritava.

No entanto, antes de tentar explicar isso para ele, eu precisava me acalmar. Assim como Jacob.

Sai da sala sem dizer absolutamente nada. Fui para o quarto de hóspedes, que agora tinha se tornando o meu quarto. Tomei um banho e tentei relaxar nele, lavando os cabelos com cuidado. A raiva foi passando e uma leve diversão a substituiu, quando lembrei da expressão confusa de Jacob assim que sai, sem comprar a briga. Eu poderia admitir só para mim mesma que era um pouco encrenqueira. Só um pouquinho.

Terminei o banho e sequei meus cabelos com a toalha, para depois passar a escova. Ao voltar para o quarto, abri a minha mala – eu ainda não a tinha desfeito e colocado as coisas nas cômodas – e peguei minha calça de moletom escura, uma regata top cropped estampada e uma blusa de frio do moletom. Apertei meus cabelos com a toalha em frente ao espelho para poder não só adiar um pouco mais a minha ida à sala como para emoldurar os cachos corretamente. Pendurei as toalhas e coloquei a roupa no cesto de roupa suja e sai do quarto.

Jacob não estava e escutei o barulho do chuveiro em seu quarto. Provavelmente buscando o mesmo efeito que eu. Abri a porta do deck e deixei o vento gelado entrar. O tempo estava melhorando nos últimos dias, embora a chuva continuasse incessante. Ontem tinha batido 9ºC, o que era muito em comparação ao que tínhamos no inverno. Sentei em um dos bancos e enrolei uma manta em meus ombros, eu via a chuva molhar tudo ao redor, tornar o ar mais puro e agradável.

Então havia beleza na chuva.

Acho que era uma das primeiras vezes que eu percebia isso, o quão bonito a chuva era. Provavelmente eu só estava me acostumando à La Push e todo o seu clima contraditório. Mesmo assim era bom não ter que me preocupar mais com a reclamação perante a chuva.

Senti sua presença mais do que ouvi seus passos, o que era quase impossível. Eram sussurrados demais. Jacob sentou-se ao meu lado e encarou o mesmo ponto que eu. Seu corpo grande e forte ao meu lado, gerando ondas de calor que batiam na lateral direita do meu corpo. Nos últimos dias era como uma barreira entre nós, que só se quebrava durante a noite, quando ele dormia ao meu lado protegendo meu sono. Isso quando ele dormia, eu o sentia se remexer durante a madrugada, incomodado com os pensamentos que não paravam de rodar em sua mente.

— Você tem que parar de me controlar dessa forma. – falei suavemente, ainda olhando para a chuva que caia mais forte agora. – Eu não preciso que meu namorado seja meu pai, Jacob. Não posso permitir que você me controle dessa forma, nem se eu quisesse. Não faz parte de mim. Pedir permissão, obedecer cegamente... Essa não sou eu e não posso deixar que me transformem ao ponto de ser.

— Às vezes sinto que você não entende o risco que corre.

Olhei para ele, buscando seus olhos, mas ele não me olhou. Encarava firme e sério a floresta na nossa frente. Toda aquela expressão suave e quente que ele costumava me olhar tinham sumido no decorrer dessas semanas, sendo substituída por essa fisionomia séria e perigosa que aprendi a não gostar.

— Eu entendo. Agora eu entendo. – afirmei – Mas não posso deixar que o medo domine a minha vida. Eu já tenho deixado isso acontecer por tempo demais. No início medo do que você era, depois medo do que eu sentia por você e agora medo do que me cerca. Não posso viver com medo.

— Não quero que viva com medo. – disse mais firme. – E é isso que estou tentando evitar! Odeio ver seus medos se transformando em pesadelos enquanto dorme e não poder fazer nada a respeito.

— Essa situação com Farad não vai acabar tão cedo, você querendo ou não. – toquei sua mão com a minha. Automaticamente seus dedos se viraram e entrelaçaram as pontas nos meus. Fiquei olhando nossas mãos. – Jacob eu tenho minha melhor amiga chegando a alguns dias, tenho o ano letivo que irá iniciar, tenho minha família e amigos... Não posso deixar de viver. Não vou dar a Farad esse poder sobre mim e você também não deveria.

Jacob finalmente virou seus olhos para mim. Eu via o quão perturbado ele estava nessa semana, mas notei que não era um terço do que ele me deixava ver. Agora havia profundidade, dor, desespero, medo, preocupação, perturbação. Era um olhar cansado e sem saída. Jacob não tinha para onde correr. Ele poderia ir além das nossas fronteiras, mas isso seria me deixar para trás e vulnerável.

Eu o segurava aqui.

Odiei isso, mas sabia que não importava o que eu falasse, ele não iria acatar. Ele havia feito isso no dia em que fui às cavernas e não chegou a tempo. Eu só podia imaginar o desespero que ele sentiu naquele dia. Acho que seria o mesmo desespero que eu sentiria caso me deparasse com a mesma situação.

Sua mão entrelaçada a minha se levantou e traçou meu rosto. Os dedos quentes e suaves.

— Eu sinto muito. – falei sussurrando ao fechar os olhos. Eu nunca me desculpei apropriadamente por tudo o que nos infringi. – Por tudo.

O meu pedido sendo aceito não veio em forma de palavras. A boca de Jacob estava na minha antes mesmo de eu assimilar. Era uma fome que tinha sido velada a semana inteira, uma fome que parecia muito com a minha. Reprimida por tudo o que estava acontecendo.

E, como eu estava fazendo durante toda a semana, deixei o momento me levar.

Talvez não fosse o momento mais propício para isso, talvez nem o mais adequado. Mas quando seria? E por que esperar?

Jacob era tudo o que eu queria e ainda mais do que eu algum dia pedi – se é que já pedi. Não havia nada de errado em querer isso agora, de um modo meio desesperado. E pela primeira vez não senti diferença entre nós. Ele não era mais velho que eu, mais forte, mais ágil, mais experiente. Ele era apenas Jacob, me amando a sua forma.

Passei minhas pernas ao redor de sua cintura, deixando que a manta caísse de meus ombros e ficasse pendurada nas pernas dele. Embrulhei meus braços em seu pescoço e o apertei o mais forte que conseguia... O que não era muito. Em meus lábios ele sorriu. Suas mãos deslizaram de meus ombros para a minha cintura. Apertando e amassando no processo. Eu estava sem folego e um pouco apressada.

Em um de seus movimentos rápidos, aqueles em que eu geralmente perco o início dele, Jacob estava de pé. Enrolei mais apertado minhas pernas em sua cintura e senti vento passando suavemente ao meu redor.

Nunca estive em seu quarto, geralmente ele dormia comigo no quarto de hóspedes. Ele era grande e bonito. Tinha uma cama espaçosa e grande no centro – devia ser difícil achar uma cama em que seus pés não ficassem balançando para fora. Ela era de mogno com lençóis negros. O armário, as cômodas e o criado mudo acompanham a mesma cor, mas havia algo de belo neles. Talvez em sua forma simples e delicada. As paredes eram de madeira, como o resto da casa. A janela atrás da cama era grande, quase pegando do teto ao chão.

A chuva ainda castigava La Push, batendo contra a janela alta. Os dedos suaves de Jacob abaixaram meu blusão com cuidado, beijando cada parte desnuda de minha nuca e meus braços. Um sorriso involuntário e nervoso apareceu em meus lábios. Eu não era perita nesse assunto, nem sabia por onde começar – a não ser por referências pornográficas, mas não acho que esse era o caso.

A insegurança escapou assim que suas mãos acharam a pele de minha barriga, circulando suavemente. Virei-me e fui beijada. A cada simples movimento parecia ter uma sincronia silenciosa, um ritmo delicado soando ao nosso redor. Não havia o romantismo vendido por Hollywood ou por amigas. Não havia mais a minha inexperiência e supra experiência de Jacob. Parecia certo, normal, comum, especial ao nosso próprio modo.

E notei o quão especial era e o que era. Era Jacob. O momento era o certo e era o especial por que Jacob estava nele. Seria errado com qualquer outra pessoa.

A casa poderia estar em chamas e eu não notaria. Todavia, talvez estivesse mesmo em chamas. Talvez o calor que eu sentia, o calor ele sentia não fossem nosso, fosse da casa em chamar.  Eu não via problema em morrer queimada por esse calor. Desde que ele não parasse de me beijar, desde que não parasse de sussurrar, de me tocar.

Era como se eu fosse avançando níveis de uma consciência sobrenatural. O primeiro de tudo foi a insegurança, sendo superada pelas chamas que agora abriam espaço para os brilhos, que estavam sendo substituídos por sensações mais intensas. Eu nunca me senti assim antes e não entendia o porquê nunca busquei por isso.

A coragem foi ganhando espaço conforme a noite seguia e ele era maravilhoso. Em toda sua forma física e espiritual. Não havia pessoa melhor que Jacob. Naquele momento eu vi o rapaz que um dia amou desesperadamente uma outra pessoa, que colocou seus próprios sentimentos em jogo repetidas vezes, que sofreu pelo o pior que alguém pode sofrer. Vi também o homem que se tornou, a experiência, o amadurecimento e o amor em outro nível.

Então não era apenas o ato sexual que impelia em mim sentimentos tão desconhecidos e intensos. Era o sentimento por trás dele. Era o amor que crescia em meu peito e saia de meus lábios, que corria pelo quarto como fogo, que atingia Jacob em cheio e onde ele correspondia com mais beijos, com mais toques. E eu tive, sem precisar falar muito, as minhas vontades sendo feitas, como se ele também quisesse aquilo.

Não me cansava de apertar seus braços, sua cintura. Era impossível não me deliciar com o cheiro amadeirado e terroso de Jacob, que agora parecia impregnado em cada canto, cada pele de meu corpo.

Em um determinado momento, onde meu corpo estava tenso, onde o quarto estava mesmo em chamas, que tudo ao redor borrou. Eu escapei pelas bordas, escorregando em um mar feito apenas de Jacob Black. Havia brilho, chama e escuridão ao mesmo tempo. E não havia nada que eu pudesse comparar, nenhuma palavra era forte o suficiente para tentar descrever o que aconteceu. Talvez aquele fosse o paraíso, feito de pontos brilhantes e de chamas. Ou talvez fosse o inferno, pelas chamas que ainda varriam meu corpo provocando espasmos. Eu não me importava, aceitava os dois.

Fui abraçada por braços fortes, braços que agora eu conhecia muito bem. Deixei que o cansaço me fizesse dormir. Pela primeira vez não tendo pesadelos.

***

Uma luz incomodava meus olhos. Não era direta, mas era chata. No entanto, não foi isso o que me acordou. As cobertas estavam quentes demais ao meu redor. Abri os olhos, tentando chutá-las para longe. Assim que vi o lençol negro e macio eu percebi onde estava o que tinha me levado até lá.

Meu rosto corou enquanto ainda sentia o corpo de Jacob ao meu lado. Seu braço estava pesadamente em minha barriga, provocando um aquecimento no local. Eu já tinha acordado com Jacob sem camisa antes, mas não nu. Era uma visão tentadora, no entanto.

Os músculos eram bem delineados, a barriga se contraia em forma a cada respiração que ele soltava. O braço, mesmo descansado em minha barriga, tinha suas linhas bem visíveis. Ela ressoava baixo ao meu lado, completamente adormecido. Acho que nunca acordei com Jacob dormindo ao meu lado.

Olhei seu belo rosto, ficando mais gentil e suave enquanto dormia. Menos severo, menos perigoso ou malicioso. Era um Jacob diferente. Quantos Jacob mais eu iria conhecer? Porém, eu gostava desse.

Minha mente enviou imagens desparelhadas da noite anterior. A gentileza, a paciência com minha inexperiência, o amor, o desejo. Tudo misturado em uma massa confusa que Jacob soube como guiar.

Então não me surpreendia quando as conquistas femininas de Jacob ainda suspiravam por ele. Certamente era algo que valia a pena ser feito novamente.

Meus pensamentos matutinamente depravados foram anulados com o ronco da minha barriga. Notei que não tínhamos jantado na noite anterior. Eu gostaria de levantar sem acordá-lo, mas seu braço era pesado demais. Mesmo assim tentei e fiquei surpresa por sem bem sucedida. Deslizei da cama com cuidado e fui até o chão. Eu tentava achar pelo menos a minha roupa íntima, mas não estava tendo muito sucesso. Onde estava a minha blusa também?

Ah, que se dane. Puxei a camiseta preta de Jacob e a vesti. Ela ficou um pouco abaixo dos meus quadris, mas se eu me esticasse demais a camisa relevaria mais do que eu gostaria... Do que é que eu estava falando? Nós passamos a noite juntos! Jacob fez muito mais do que só me ver pelada.

Eu estava para caminhar até a porta quando ele se mexeu e abriu os olhos, indo direto para mim. Fiquei por um breve momento constrangida, por tudo o que aconteceu na noite passada – ou teria sido até a madrugada?, eu não sabia muito bem. O sentimento logo foi embora conforme os olhos negros de Jacob iam das minhas pernas até sua camiseta e então para o meu rosto. Um sorriso malicioso e predatório surgiu em seus lábios.

— Escapando de fininho? – perguntou, a voz um pouco mais rouca do que o usual. Eu senti um breve arrepio passar por minha espinha. – Não devia ser eu quem faz isso?

Ergui uma sobrancelha para ele.

— Mulheres também escapam de fininho, sabe. – falei. – Nós também sabemos fazer sexo casual.

— Uh, começamos bem. Não sabia que tinha sido apenas um sexo casual para você. – ele brincou, seu sorriso ainda mais malicioso.

Senti meu rosto corar e minhas mãos começaram a tremer, como não tremiam há muito tempo.

— Vem até aqui. – ele disse me chamando com o dedo.

Como negar? Como fazer com que minhas pernas me sustentem também? Caminhei com passos cuidadosos para não cair e estragar o clima, seria o fim e algo muito provável para uma pessoa como eu. Fui até a cama e engatinhei devagar.

Jacob me puxou, não exibindo tanto a paciência da noite passada, e me beijou com mais vontade. Abracei seu pescoço e deixei que ele me colocasse parcialmente em cima de seu corpo. Entrelacei minhas penas nas suas e meu corpo se arrepiou ao sentí-lo tão próximo novamente.

Então ele se afastou e suspirou, parecendo irritado.

— O que foi? – perguntei tentando recuperar o folego.

— Escuto um carro se aproximando.

— Ah. – eu disse um pouco mais triste. Gostaria que ele continuasse. – Visitas?

— Não sei, está longe da nossa rota para eu descobrir. – ele também parecia abalado.

Meu estomago roncou novamente e ele riu.

— Vamos, deixe que eu a alimente primeiro.

Meu sorriso em resposta foi esperançoso.

— Então vamos voltar para a cama?

Jacob riu ainda mais e fiquei feliz com isso. Fazia tempo que eu não o via tão animado assim. Era como o sol raiando em plena chuva. Não tinha como não ficar feliz.

— Vai ser difícil ser útil para algo hoje. – ele disse beijando a ponta de meu nariz.

Um dia inteiro juntos? Isso era mais do que eu poderia pedir! E nós teríamos muito tempo para...

— Vou preparar alguma coisa – falei quando meu estomago roncou de novo, só que agora eu estava ansiosa para comer de uma vez.

Jacob se levantou também e tentei, juro que tentei, não olhar para ele. Mas era impossível. Senti uma pontada de inveja, Jacob era magnificio.

— Aqui, acho que você estava procurando por isso. – ele disse e balançou minha calcinha em seu dedo indicador.

Puxei a calcinha de sua mão e a vesti, e depois puxei minha calça de moletom também, mas fiquei com a blusa. Fui até o banheiro do meu quarto e escovei os dentes rápido demais, querendo agilizar o possível.

Na cozinha, Jacob fazia o suco enquanto eu colocava os ovos na frigideira. Era como se uma nova casa estivesse ao meu redor. Não havia mais tensão, eu não tinha mais motivos para escapar até a casa de Emily e nem para brigar com Jacob.

Ele suspirou mais uma vez.

— É sério, essas visitas têm que acabar. Todo mundo já sabe que você está bem!

Eu concordava com ele, mas por outros motivos.

Dois segundos depois e alguém bateu na porta com um pouco mais de força que o necessário. Franzi o cenho, imaginando por que alguém bateria com evidente impaciência e raiva. E quem seria.

Fui até a porta e a abri. Minha boca se escancarou e meus olhos arregalaram.

— Eu espero que você tenha a porra de um bom motivo para não ter ido me pegar no aeroporto, feito com que eu alugasse um carro de merda e dirigido por quatro horas!, me perdendo duas vezes, alias.

Era Naomi, bem na minha frente com suas melhores roupas de verão, nas quais evidenciavam o seu bronzeamento natural vindo de dias e dias na praia.

— E que porra de clima é esse?!

Eu estava FU-DI-DA.


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Notas finais do capítulo

Entãoooo, o que acharam???
Naomi finalmente chegou!! E aguentem que ela vai aprontar muuuito em La Push, hein!
Vou admitir que senti um pouco (muito) de calor ao escrever esse capítulo. Não gosto de nada muito explícito, mas espero que vocês tenham gostado!!!
Gostaria de saber, entretanto, se alguém conhece alguma amiga que faça capas de fanfic. O meu photoshop tá ferrado e não consigo mais montar. Alguém pode ajudar??

Quero agradecer a Sandrinha (obrigada por comentar, amore!!); Pinky (amore, você gosta de uma briga de casal hein hahaha, obrigadaaa!); Lilian Blackwell (fico mega feliz que esteja gostando da evolução de Gaele, obrigada por tudo amore!); Livinhacsa (obrigada por comentar! Feliz por você estar gostando) e Unicórnio (seja super bem vinda, espero que continue por aqui! Adorei seu comentário carinhoso e construtivo!!).
É isso gente, até o próximo cap!

Beijooos ;*