No dia seguinte a Dona Renê voltou pra casa, ela está com a perna engessada e está andando com o auxílio de uma muleta. Passei o resto do dia em casa fazendo companhia a ela. Estou começando a sentir saudade das minhas caminhadas na praia. O Dr. Richard tem nos visitado com maior freqüência, em geral não tocamos no assunto do namoro de Dona Renê, tão pouco na minha tentativa de suicídio. O que tornou as coisas bem mais fáceis.

- Richard, o Sr. Poderia me levar ao orfanato esse fim de semana? Er, eu não gostaria de ir sozinha e como Dona Renê falou que o Sr. iria a Port Townsend esse fim de semana, achei que não teria problema. – falei tentando parecer convincente.

- “Claro Bella! Sem problemas, é até melhor, Renê não gosta quando eu pego a estrada sozinho.”

- Ótimo!

- “Partimos no sábado de manhã!”

- Perfeito, vou ligar para a Irmã Agnes e avisar sobre nossa visita.

O resto dos dias passaram rápido, quando me dei conta já era sexta. Separei algumas roupas e uma lembrancinha que eu havia comprado para Alice no dia anterior.

(...)

A visagem até Port Townsend foi tranquila, Richard e eu conversamos durante todo o caminho. Segundo ele, mesmo com a diminuição dos pesadelos, ele acredita ser necessário continuar com a medicação até que a Dra. Angela a suspenda. Ao chegar no orfanato pude ver de longe a figura da minha pequena correndo até o portão.

-  “Bellaaaaaaaaaaa...” – gritou alice ao me ver.

- Oi flor! – falei enquanto a abraçava.

- Que saudade de você linda! Te trouxe um presente. – falei enquanto tirava o embrulho da bolsa. – Espero que goste.

- “Bella!” – disse Richard fechando a porta do carro. – “Eu venho te buscar amanhã a tarde.”

- Ok! – falei me despedindo e voltando o olhar para Alice.

Ela rasgou o papel em um instante.

- “É lindo Bells!”- disse segurando o cordão.

- Olha tem a nossa foto dentro.

Ela abriu o medalhão, sorriu e me deu o abraço mais gostoso do mundo.

- Que bom que você gostou. Agora me leve até a Irmã Agnes, preciso falar com ela.

(...)

Quando encontrei a Irmã Agnes, nos nós sentamos na capela e eu contei a ela o que tinha acontecido nos últimos dias. Nos conversamos, ela me abraçou e me ouviu chorar, me disse que Deus sabe de todas as coisas e que eu não posso deixar isso me abater. Mais tarde me levou ao dormitório em que eu dormia antes de sair do orfanato. O lugar não havia mudado em nada, as paredes continuavam cinzas e o cheiro de lavanda continuava do jeito que eu me lembrava.

- “Bella, eu sei que nada o que eu disser fará você se sentir melhor, mas não esqueça que esse lugar foi e sempre será o seu lar, e que nós estaremos sempre aqui, não importa o que aconteça.” – Eu fiz que sim com a cabeça.

-  Sua benção Irmã.- disse beijando a sua mão.

- “Deus te abençoe minha menina!”- falou me dando um beijo na testa.

A pelo menos duas semanas eu não dormia tão bem. Pensei na possibilidade de ficar, mas a Dona Renê precisava de mim. Sem falar que eles foram tão gentis comigo, não podia permitir que esse problema me tirasse dos meus objetivos. Se desistisse agora não conseguiria juntar dinheiro bastante para poder adotar Alice, e isso era inadmissível. Levantei cedo fui ver as crianças e no fim da tarde já estava me despedindo de todos.

- Alice, eu te ligo durante a semana, não esqueça de obedecer a Irmã Agnes. Agora vai brincar! – falei dando um beijo em sua testa antes de entrar no carro.

A volta pra casa foi tranqüila, quando cheguei fui contar a Dona Renê sobre meu fim de semana. O Sr. Williams estava sentado ao seu lado, desde que assumiram esse namoro, os dois não se desgrudam um só minuto. Antes do jantar eu liguei pro Mike.

- Alô Mike, é a Bella.

- "Oi Bella, chegou bem"?

- Cheguei, e aí vai fazer alguma coisa amanhã?

- "À tarde eu vou levar o meu primo pra jogar boliche, tá afim"?

- À tarde eu não sei, tenho que falar com a Dona Renê antes!

- "Beleza, qualquer coisa vamos estar no Boliche do Joe a partir das 17h. Ok"?

- Ok, a gente se fala.

- "Até".

- Até.

Desliguei o telefone e fui terminar o jantar, depois me arrastei até o meu quarto e cai na cama que nem uma pedra. O dia foi agitado, eu estava morta de cansada, não demorou nada e eu já estava dormindo.

No dia seguinte, levantei cedo, arrumei a casa e liguei pra Alice. A tarde depois do almoço perguntei a Dona Renê se ela ia precisar de mim, já que o Sr. Williams viria passar a tarde com ela, é evidente que ela não se importou. Então me arrumei e saí. Quando estava perto  do Boliche me abaixei pra amarrar o tênis e ao levantar me deparei com o Jake do outro lado do estacionamento. Pensei em ignorar e entrar no Boliche como se não tivesse visto mas depois de tudo o que aconteceu sem dúvida é uma boa hora pra recomeçar, até por que fugir não vai adiantar nada. Caminhei em sua direção e fiquei surpresa por ele não me espezinhar, ainda mais depois de tudo o que eu falei pra ele.

- Jake, você tem um minuto?

- “Claro”! – falou encostando-se na moto.

O meu celular tocou. Era o Mike, eu olhei por cima do ombro e pude ver ele e um rapaz de cabelo castanho jogando na pista de Boliche. Voltei a olhar para Jake então desliguei o telefone.

- Eu queria pedir desculpas pelo que eu disse. Eu fui injusta com você! – antes que eu pudesse continuar ele me interrompeu.

- “Bella, não que isso importe agora, mas eu queria que você soubesse que quando eu fui falar com a Nessie foi pra dizer que eu tinha escolhido você e não a ela. E que eu sinto muito por tudo o que aconteceu. Se eu soubesse que ia te causar tanto problema jamais teria me atrasado”. – o meu coração ficou acelerado.

Eu o interrompi com um abraço e ele se calou. Eu não sabia o que falar então fiquei ali por um tempo tentando compreender a situação. Eu sabia que seria difícil, mas se eu não abdicasse do Jake agora, não o faria nunca mais.

- Jake você não tem que se desculpar por nada, foi uma fatalidade, você não tinha como adivinhar. – ele tentou falar mas eu continuei. – As coisas mudaram, nós nos precipitamos, talvez se tivéssemos ido mais devagar...

- "Mas eu escolhi você"! – disse pegando no meu queixo.

- Eu sei, mas não é certo. Você gosta dela, sempre gostou. Tá na cara Jake, só você não percebeu! Eu não vou dizer que não sinto a sua falta por que seria mentira. Na verdade no momento tudo o que eu mais quero e preciso é da sua amizade e que se você não puder, então tudo bem. Por que você vai continuar sendo o meu melhor amigo. – falei meio a contra gosto e enfiei o meu rosto novamente em seu peito, aquele que um dia foi meu e que jamais voltaria a ser.

- "Se é isso que você quer. Então tudo bem"!

Ficamos abraçados mais um pouco, aquilo sem dúvida não era um fim, e sim um recomeço de uma amizade.

- "Vem, eu te levo em casa"!

Eu olhei para traz pensando no Mike e no seu primo, mas achei melhor ir com o Jake, até por que seria pedir demais forçar a convivência de Mike e Jake justo hoje.

-  Tudo bem.

Eu subi na moto, coloquei o capacete, e dei uma ultima olhada pra pista de Boliche. Sem dúvida teria que arrumar uma boa desculpa para explicar o bolo. Mas tudo bem por que eu estava feliz demais pra me preocupar com isso agora.